Juíza argentina aceita investigar desaparecimento do poeta García Lorca
Granada (Espanha), 17 ago (EFE).- A juíza argentina María Romilda Servini de Cubría, que há anos investiga violações dos direitos humanos na Espanha durante o regime comandado pelo general e ditador Francisco Franco, aceitou a denúncia pelo desaparecimento do poeta Federico García Lorca apresentada pela Associação para a Recuperação da Memória Histórica (ARMH).
O presidente
deste coletivo, Emilio Silva, explicou nesta quarta-feira para a
Agência Efe que a juíza aceitou este caso e que já enviou um precatório à
Espanha para iniciar diligências.
O início
desta investigação judicial coincide com o octogésimo aniversário do
assassinato do poeta e dramaturgo nascido em Fuente Vaqueros, na
província de Granada, no sul da Espanha, e após a descoberta de
documentos que a associação tinha guardado.
A denúncia, à
qual teve acesso a Efe e que foi formalizada em abril deste ano,
transferia à juíza argentina um relato que comprovava “de maneira
indubitável” as circunstâncias da detenção e do assassinato de Federico
García Lorca, a partir de um documento da Chefia Superior de Polícia de
Granada datado de 9 de julho de 1965.
O referido
relatório, que mostrou pela primeira vez a versão oficial do regime
franquista sobre a morte do poeta, assinalava que García Lorca foi
fuzilado junto com outra pessoa e definia o poeta como “socialista e
maçom”, além de lhe atribuir “práticas de homossexualidade, aberração
que se tornou vox populi”.
Em agosto de
1936, García Lorca se encontrava em Granada, aonde havia chegado alguns
dias antes, vindo de Madri, cidade na qual residia, de acordo com o
documento, que acrescentava que, no lapso de poucos dias, duas buscas
tinham sido feitas em seu domicílio.
Depois
dessas diligências policiais, Lorca se refugiou na casa de seus amigos,
os irmãos Rosales Camacho, vinculados, por sua afiliação ao movimento
Falange, aos rebeldes que pegaram em armas contra o governo da
República.
Ali
permaneceu até sua detenção, que o documento situou entre os últimos
dias de julho e os primeiros de agosto de 1936 e que foi resultado de
uma ordem procedente do governo civil.
Uma vez
efetuada a detenção, García Lorca foi conduzido para os calabouços do
governo civil e os irmãos Rosales Camacho se interessaram por ele, assim
como o chefe local e o chefe de milícias da Falange, que não
conseguiram a liberdade do detido após uma reunião com o governador
civil da época.
A denúncia
afirma que García Lorca foi retirado do governo civil “por forças
dependentes do mesmo” e conduzido em um carro até o município de Víznar,
junto com outro detido, cujas circunstâncias pessoais se desconhecem e
que, nas imediações de um lugar conhecido como Fuente Grande, “ambos
foram fuzilados”.
A partir
desse relato, a ARMH transferiu para juíza a importância deste caso para
a configuração do que considera um “contexto de crimes contra a
humanidade” e que “é indispensável” contar com toda a documentação
relacionada a estes fatos que possa ser encontrada nos arquivos do
Ministério do Interior espanhol.
Como medida
de prova, solicitaram a remissão de uma comissão rogatória ao Juizado de
Instrução de Madri para que recebesse do ministério cópias certificadas
do expediente da Chefia Superior de Polícia de Granada de 1965, assim
como toda documentação existente em seus arquivos relativa à detenção e
ao homicídio de García Lorca. EFE
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