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quarta-feira, 20 de julho de 2016

Desconstruindo a russofobia

Catherine Brown*    20.Jul.16    Outros autores
“A Russofobia é composta de ignorância, falha de cepticismo e raciocínio, orgulho, hipocrisia, condescendência e grosseria, tudo colocado ao serviço do complexo militar-industruial e da NATO: apoia uma Guerra Fria de um só lado, contra um país que só agora começa a erguer-se depois da queda, está mais interessada em melhorar as condições de vida do seu povo, não quer a guerra e não deseja ser nosso inimigo a menos que tenha de defender-se. “
Imaginem que Vladimir Putin não era um autocrata assassino e cleptocrata que passou os últimos catorze anos no poder a viver à conta do seu passado no KGB e a empurrar a Rússia cada vez mais para trás, para a autocracia do comunismo, iliberalismo e expansionismo. Imaginem que em vez de ele ser um dos maiores lideres que a Rússia já teve, cujas políticas tem auxiliado a produzir uma subida maciça dos níveis de vida e da esperança de vida, recuperação do orgulho nacional e reforço das leis, que se agarrou sabiamente a cleptocratas e gangsters, cuja política externa tem sido em geral realística, diplomata e pacífica, que preside a um país em que os direitos humanos estão bem melhor do que nos Estados Unidos e em que os direitos civis estão a melhorar, e que tem um apoio permanente de 65% — actualmente em relação à Ucrânia de 83% — da sua população. Na minha opinião ele está mais próximo do primeiro cenário do que do segundo — e digo isto como alguém que não tem ligações étnicas, financeiras, profissionais ou políticas com a Rússia. Na realidade não sou uma especialista na Rússia, mas também não tenho ideias preconcebidas. Sou uma observadora amigável, do país.
Deixem-me começar por explicar a história da minha ligação ao país. Quando era adolescente a minha escola um tanto tímida e sem imaginação decidiu organizar uma viagem descaracterizada a um local louco como a Rússia, onde, parecia, que tinham acontecido muitas mudanças politicas. Assim visitei a União Soviética durante o ultimo mês da sua existência, sem nenhum conhecimento dela com centenas de milhões não apenas com umas centenas. Após formação em Inglês, nem do que iria substitui-la. Alguns anos mais tarde, no meu ano antes da universidade, descobri-me a viver na margem sul do Danúbio em Ruse, Bulgária, a aprender búlgaro mas a pensar que se alguma vez aprendesse a sério uma língua eslava seria para me entender com centenas de milhões e não apenas com sete milhões. Depois de uma licenciatura em Inglês, fiz um movimento em diagonal para um mestrado em Russo e Estudos Pós-Soviéticos na Escola de Economia de Londres, onde era muito claro que os melhores kremlinologistas britânicos pouco sabiam de como e quando terminara a União Soviética — e quem, nostálgicos do czarismo ou nostálgicos soviéticos — estavam estarrecidos com o que acontecia nesse momento no país. O pior já tinha acontecido quando me mudei para Moscovo em 2002 para melhorar o meu russo aprendido nos livros, e para ensinar Inglês. Tornei-me entre outras coisas uma especialista de Literatura comparada anglo-russa e desde então tenho visitado o país todos os anos.
De Moscovo de 1991, lembro-me como era febril, quase em pânico e terrivelmente pobre. Moscovo que recordo de 2002 poderia chamar-se de «dura». Embora com uma segurança que Londres não tinha, utilizei muitas vezes carros particulares como táxis, sozinha à noite — havia muitas maneiras de morrer que Londres não tinha. Buracos abertos, bêbedos a escorregar na neve, fogo cruzado. Era o capitalismo duro — capitalismo selvagem, sem luvas. Afegãos literalmente de pernas nuas arrastavam-se pela neve, os torsos a equilibrar-se em skates rudimentares. Famílias acampavam a cantar pela ceia. Violinistas conceituados ambulantes. Ginastas profissionais a fazer strip em clubes nocturnos. Armazéns camuflados em que se vendiam marcas estrangeiras aparentemente em rublos, mas que de facto eram dólares inflacionados e ilegais. O meu patrão numa escola particular inglesa não pagava impostos sob a desculpa de que não o podia fazer porque não tinha dinheiro. Evitávamos a polícia, porque de algum modo estávamos envolvidos numa ilegalidade e porque eles eram mal pagos e aceitavam subornos.
Um ano mais tarde, de visita, a situação estava um pouco melhor. A miséria mais gritante já não aparecia. No ano seguinte, menos ainda. E a partir daí tem sempre melhorado. O capitalismo está a calçar de novo as luvas. Os transportes públicos estavam muito melhor. Nada se vende em dólares e as marcas estrangeiras tem concorrentes russas. Uma estrutura clara de impostos significa que o comércio e os assalariados podem e pagam as taxas. Não se vê ninguém bêbado em público. As mulheres moscovitas já não exageram a sua feminilidade num testemunho da sua insegurança financeira e numa imitação barata de um Ocidente pornograficamente imaginado. E o melhor de tudo, para os ocidentais habituados a isso, as pessoas devolvem-nos o sorriso. Mesmo nos casos mais difíceis — os babuskis que guardam os museus, e os guardas de fronteira para passaportes sorriem-nos. No ano passado, pela primeira vez, senti que a Rússia entrara numa nova fase — o pós-pós soviético e, em que as pessoas já não estão à espera que a normalidade seja restabelecida, ou a desejar viver num pais normal. Surgiu já uma nova normalidade e um novo optimismo.
O meu sítio de sentir o país tem sido sempre Moscovo ou até mesmo São Petersburgo, Nizhnii Novgorod e Perm — mas segundo o que ouço do resto do país, está a melhorar lenta, mas firmemente.
Ora este período de conhecimento coincidiu com a era de Putin no poder. É uma faceta dos media ocidentais que apresenta Putin metonímico do país, sendo uma das afirmações o seu controlo cada vez mais autocrático. Não acredito, mas não há duvida que Putin tem um impacto decisivo na política russa neste século. Assim o meu interesse não é apenas a Russofobia, mas a Putinfobia e considero-as semelhantes; uso aqui fobia no sentido de um preconceito negativo.
A verdade é que a Rússia que conheço e a Rússia que vejo descrita no Ocidente e principalmente nos jornais ingleses são completamente diferentes. A Rússia da minha experiência tem melhorado em relação a qualquer indicativo que possa imaginar, mas a sua imagem nos jornais estrangeiros tem piorado. Mas há muitas maneiras de melhorando o nível de vida o tornar compatível com uma autocracia crescente e beligerância internacional — caso de Hitler. Mas creio que isso não acontece com Putin.
Quero acabar esta introdução com uma anedota. No 1.o de Abril visitei o Instituto Britânico em Moscovo e falei com dois empregados russos jovens. Pensaríamos que essas pessoas se interessassem pelo Ocidente em geral e fossem anglófilas. Parte do seu trabalho era analisar a cobertura da imprensa britânica sobre a Rússia e enquanto pensaram que eu fosse uma jornalista da BBC, mantiveram-se reservados quase hostis. Quando eu expliquei que era académica e céptica das notícias britânicas sobre a Rússia, foram todos sorrisos e contaram-se como se sentiam aborrecidos com o noticiário britânico. Não conheço nenhum russo com conhecimento da representação russa na Inglaterra que não tenha muitas críticas. Também eu me sinto aborrecida, principalmente porque penso que isso é um dano moral e intelectual e de efeitos contraproducentes e perigosos.
Não vou aqui simplesmente analisar a corrente noticiosa americana e britânica em comparação com as minhas opiniões. Vou é tentar descrever algumas coisas que dão uma imagem falsa e factores que a corroboram, na esperança de que a minha descrição pareça verdadeira e contribua para uma visão correcta. Doravante, analiso os efeitos práticos da imagem dos media sobre a Rússia.
A sua origem vem das suspeitas habituais no caso de ideias feitas: distorção dos factos através do exagero, afirmações e falseamento; inferências falsas, inconsistências; e desconhecimento da língua.
Comecemos com o exagero: o argumento de que Putin domina totalmente os media russos é frequentemente exagerado. Muita da TV é estatal, mas alguns dos canais do Estado, como a RIA Novosti, criticam Putin, assim como muitas estações de rádio e jornais. Putin é muito mais criticado pela imprensa russa do que Cameron na imprensa britânica. Não fomos comparar tudo, já que no geral há mais razões para criticar Putin, mas é um facto, que entra em contradição com a imagem que se tem actualmente da Rússia. A internet é mais livre do que na Inglaterra — uma das razões por que a pirataria intelectual está disseminada — e muitos russos recebem as notícias pela Internet. O controlo governamental da imprensa não pode ser indicado como uma razão significativa para o apoio constante a Putin.
Por outro lado, os protestos contra ele, recebem boa cobertura mesmo que sejam exagerados apesar do facto de os protestos, grandes e pacíficos, indicarem o direito ao protesto. As demonstrações em Moscovo depois da eleição presidencial em Março de 2012 são a prova disso. A cobertura desses protestos também englobou declarações de muitos políticos importantes opositores – os comunistas. O apoio ao partido comunista está nuns 20% tornando-o o partido de oposição mais importante. Os media britânicos, porém, focam principalmente a oposição liberal. É compreensível que o faça, dado que é essa a tendência que apoia, mas dá também uma impressão falsa que agora a oposição «liberal» é de facto a principal. O exame das demonstrações em que a bandeira comunista predominou negou os comentários britânicos.
Este exagero do tamanho e importância, tanto dos protestos como dos componentes liberais, é claramente o produto de um modo de pensar positivo — mas se realmente houver interesse em ver a substituição de Putin por um liberal, não é bom exagerar a importância real da oposição liberal mesmo para si. Em vez disso devíamos confrontar o facto de que os partidos liberais conseguiram apenas 5% dos votos, e deveriam então tentar descobrir o que está errado com a mensagem destes partidos e/ou dos lideres, e/ou o que esta errado com a capacidade dos votantes para entender o interesse das suas mensagens.
Mas a elisão mais importante ao cobrir a Rússia é a dos melhoramentos nos indicadores democráticos, níveis de vida, afluência nacional e a regra de lei, que mencionei. Durante os seus primeiros doze anos no poder o PIB aumentou cerca de 850%. O país está quase sem dívidas, com uma grande reserva de moeda. Devido às políticas de Putin as receitas do petróleo servem agora a economia nacional. A mortalidade declinou muito, e os nascimentos aumentaram. Portanto fabricam-se notícias ou especulações são apresentadas como factos.
Um bom exemplo disso é a riqueza pessoal de Putin — que recebeu números fantásticos na Forbes e na Bloomberg, incluindo que ele é o nono homem mais rico no mundo, ou mesmo o homem mais rico do mundo. Estas teorias nascem muito de reclamações de dois homens, o analista Stanislav Belkovsky, primo de Berezovsky, e o politico liberal Boris Memtsov. As alegações são que ele tem secretamente uma grande parte da Gazprom e companhias de energia relacionadas como a Gunvor. Na verdade, quando The Economist publicou as alegações sobre o lugar de Putin na Gunvor em 2008 foi multado e obrigado a publicar uma retratação. Haverá poucas pessoas no mundo que realmente conheçam o verdadeiro estado das finanças de Putin: ele próprio e mais uma ou duas pessoas. Diria, primeiro, que alegações específicas não foram provadas; segundo, que especulações não devem ser apresentadas como factos confirmados; e terceiro, que nada do que se sabe sobre a história de Putin, o carácter orgulhoso e «workaholic» sugere alguém, a quem as coisas que o dinheiro pode comprar interessam; ele não é um Goering sibarítico.
Outras reclamações sobre corrupção na Rússia são perfeitamente absurdas. Algumas sobre a corrupção nos Olímpicos de Sochi, a serem verdade, significam que se teria perdido mais dinheiro na corrupção do que todo o PIB do país.
A credulidade destas reclamações feitas por críticos de Putin já que são feitas por críticos de Putin levam-me a uma inferência inductiva falsa que normalmente se aplica acerca de Putin: que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Quando combinada com a assunção que há uma interferência governamental na operação da lei na Rússia, tem como resultado que quando alguém é acusado de um crime na Rússia vozes de crítica a Putin surgem normalmente ao lado de protestos da sua inocência, principalmente na imprensa britânica.
Ou seja, não só o inimigo do meu inimigo é meu amigo, e não só o critico de Putin é meu amigo, mas o critico de Putin está inocente — não apenas negativamente inocente de qualquer crime imputado, mas positivamente inocente e bom, porque quem se opõe a um tirano, é dissidente e, portanto, do mesmo género de pessoa como os santos Solzhenitsyn ou Sakarov. Na realidade, um prisioneiro com ideias politicas não é o mesmo que um prisioneiro político.
É certo que o sistema legal da Rússia é menos brando que o de Inglaterra, e tem menos das suas características importantes tanto na lei civil como na criminal — por exemplo o principio de abertura das provas contrárias. O sistema é jovem, tendo sido criado pelo nosso sistema capitalista no fim do comunismo. Muitos dos advogados e juízes são assim relativamente jovens e inexperientes. E cingem-se muito à lei. A defesa ainda não está tão bem estabelecida na profissão como a acusação. Estes factores afectam a justiça de todos os julgamentos do país.
Mas devem acrescentar-se a isto duas coisas importantes. Primeiro, a situação vai gradualmente melhorando. Putin não destruiu a independência judicial e antes dele quase nada existia, e está agora a ser gradualmente criado. Segundo, a alegação de que todos os julgamentos dos críticos de Putin são injustos pelos padrões do sistema vigente pois há muito poucas provas em que se apoiar.
Nos anos 90 muita da riqueza da Rússia passou por meios violentos e corruptos para as mãos de alguns assim chamados oligarcas. Quando Putin se tornou presidente fez-lhes uma proposta que constituiu provavelmente a intersecção óptima de pragmatismo, justiça e pensamento avançado. Ou podiam pagar algumas das taxas não pagas, investir algum dinheiro em projectos regionais e não usarem a riqueza como alavanca para o poder político — ou serem perseguidos pelos crimes anteriores. Alguns, como Abramovitch, aceitaram o compromisso oferecido, e floresceram. Outros como Khodorkovsky, não quiseram. O seu julgamento por evasão fiscal foi altamente criticado pelo Ocidente como sendo irregular e uma vingança política. O que poucos sabem é que a 25 de Julho de 2013 o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (a que a Rússia como membro do Conselho da Europa pertence) declarou que o julgamento não era politicamente motivado, que Khodorkovsky era culpado, e que tinha sido devidamente sentenciado (embora se encontrassem algumas irregularidades, pelo que foi devidamente indemnizado). Noutros casos como o das Pussy e do futuro candidato presidencial Aleksei Navalny (cujos apelos ao Tribunal de Direitos Humanos ainda estão para ser ouvidos) os réus foram condenados pela lei russa com provas e receberam penas que não só se adaptavam bem às sentenças para esses crimes, como receberiam o mesmo tratamento se tivessem sido cometidos na Inglaterra. Na Inglaterra as Pussy teriam sido condenados ao abrigo do Acto Publico de 1986, por ofensas com a pena máxima de dois anos (que foi o que elas receberam). Navalny seria enquadrado no Acto Theft de 1968, por crimes com a pena máxima de seis anos (Navalny recebeu 5). Nalguns aspectos a operação da lei russa é mais benevolente do que a Britânica. Antes da prece punk na Catedral de Cristo Salvador, membros do grupo Pussy fizeram sexo público no museu e atiram gatos vivos a trabalhadores num restaurante MacDonalds. Em Inglaterra esses actos teriam resultado em sentenças de prisão de pelo menos dois anos. Enquanto que na Rússia não tiveram qualquer pena. Uma das razões porque as Pussy foram perseguidas pela «prece punk» é que interromperam e parodiaram um acto litúrgico, o que é especificamente proibido na Rússia (como também na Inglaterra) e que é particularmente repreensível num país com uma história de perseguição religiosa pelo Estado.
Finalmente, a critica da condenação de crimes políticos comprovados por aqueles que se opuseram a Putin, que deveriam estar acima da lei por essa única razão. Deveria afirma-se que os maiores aliados de Putin (como o anterior ministro da Defesa Serdyukov, cujo julgamento por fraude foi muito atrasado), se suspeito de actividades criminais, não devia ter estar acima da lei. Fazer o inverso é aceitar que a lei na Rússia está minada. Mas, é implícito discutir que Putin devia impedir a lei de seguir o seu curso no caso de alguém que o critique, que é o mesmo que pedir interferência na lei, que é precisamente o que está a ser criticado. A ser verdade que nem todos os oligarcas tiveram o mesmo tratamento, e resposta verdadeira é exigir que todos sejam responsáveis pelos seus crimes, sem excepção.
Vale acrescentar que apoiar alguém, não importa quão criminoso, desde que se oponha a Putin, nos transforma em puros idiotas, fazem-nos parecer idiotas perante muitos russos, que só assim podem entender que Boris Berezovsky recebesse asilo em Inglaterra, em vez de ser extraditado para responder pelos crimes na Rússia. Internacionalmente, algo na mesma dinâmica de apoio a um inimigo de um inimigo é aparente. A NATO é hostil à Rússia, assim, para alguns, há uma razão para apoiar a NATO. Mas em que base discordam a Rússia e a NATO? Primeiro, a Rússia opôs-se pouco ou muito à intervenção da NATO na Jugoslávia, Afeganistão, Iraque e Líbia. O que está certo dependendo da nossa atitude para com essas intervenções, mas se alguém deseja a paz em vez da guerra — civil ou outra — então a Rússia deveria ser julgada por ter agido melhor do que a NATO
Segundo, a NATO portou-se com muito maior hostilidade para com a Rússia do que a Rússia para com ela. Em 1990 tanto os Estados Unidos como a NATO prometeram à Rússia que não iam expandir-se para leste. Desde então têm continuado a fazê-lo desafiadoramente. A Rússia quase nem respondeu. Mas, protestou com veemência e com razão contra a deslocação dos interceptores dos mísseis balísticos norte-americanos na Polónia e na Roménia. Os Estados Unidos de certeza não iriam tolerar sistemas de bases semelhantes em Cuba ou na Venezuela.
Isto leva-nos à aplicação inconsistente de padrões. O governo russo é quase invariavelmente mal-entendido, com exigência de padrões mais elevados do que os outros países.
Vejamos a recente e controversa «lei gay». Com ela o governo russo granjeou por pouco tempo aos olhos dos apoiantes de Edward Snowden quando este recebeu asilo na Rússia um aspecto positivo, que logo se perdeu na campanha orquestrada pelos Estados Unidos contra a lei gay que começou logo depois.
A lei que tornava «uma ofensa administrativa» [crime menor] mostrar a homossexualidade a uma luz positiva a menores é uma lei má, porque torna uma ofensa menor de algo que quase não era praticado e que não devia ser proibido. Considera ilegal propaganda «homossexual pedófila» não fazendo menção da «propaganda heterossexual pedófila». Mas, na Rússia a homossexualidade pública e privada é tão legal como a heterossexualidade — embora haja um apoio ínfimo a um boicote por exemplo no Qatar, destinado a ter a Copa Mundial, que tem uma legislação muita mais repressiva anti-gay. De resto vários estados americanos tem uma legislação anti-gay muito mais forte do que a da Rússia, mas ninguém propôs nenhum boicote da América com base nisso. Os barmen pró-gay não deitavam o wisky escocês pelo cano abaixo entre 1988 e 2003 para protestar contra uma lei muito semelhante (Secção 28 do Acto Local do Governo) que existia então na Inglaterra. Torna-se claro que a campanha contra a lei russa anti gay floresceu por causa da Russofobia — o fenómeno que estou a descrever. Lembramo-nos que durante a cobertura dos Olímpicos de Sochy, Claire Balding respondeu muito abertamente às enormes facilidades e ao apoio fraterno dos russos locais, junto do correspondente russo da BBC Daniel Sandford, que interrompia repetidamente quase como um comissário soviético — ah, ah, mas não devemos esquecer que este é o país onde a apresentação da homossexualidade a menores numa maneira positiva é crime administrativo».
Não afirmo que qualquer número de facilidades impressionante e o apoio dos locais dê uma caiadela nas violações dos direitos humanos — a lei gay russa não é isso. O activista gay russo Nikolai Alexeyev, ficou muito aborrecido com a maneira como a campanha anti gay, liderada pelos Estados Unidos contra a Rússia estava a ser conduzida como uma ferramenta da Russofobia. A 17 de Agosto de 2013 declarou: Todos os media ocidentais querem ouvir de mim que a Rússia não presta e não quero tomar parte nessa hipocrisia. Portanto acabaram-se as entrevistas! Por essa reacção, ele um bravo campeão contra a lei gay, foi considerado um parceiro de Putin — e assim abriu-se um fosso entre os activistas russofóbicos pró-gay e os activistas gays russos, cujo trabalho é actualmente trocar opiniões sobre o assunto.
E o que acontece aos direitos gay acontece com os direitos humanos em geral. A Rússia é considerada superior por países como o Barein e a China, mas também os Estados Unidos. Segundo os media ocidental pensaríamos que a situação dos direitos humanos da Rússia era pior do que a dos Estados Unidos e pelo menos tão má como a China — sendo que as duas noções são absurdas.
Comparemos a Rússia aos Estados Unidos (sendo a China muito pior do que os dois) Os Estados Unidos têm 730 prisioneiros em comparação com os 598 da Rússia para cada 100.000 da população. Usa a pena de morte, executa menores, e dá poder ao presidente para autorizar o rapto, a tortura, a morte de cidadãos estrangeiros e nacionais sem julgamento. A Rússia não faz nada disso. O governo americano cerceou as liberdades civis com o O Patriot Act, espia ostensivamente a sua imprensa e a estrangeira, e detém centenas de pessoas sem julgamento numa rede internacional de prisões secretas. As liberdades civis da Rússia estão agora mais garantidas por lei do que as americanas; não há prova ou sugestão que a Rússia rapte indivíduos no exterior ou torture no exterior ou que mantenha um campo de tortura como Guantánamo, nem que o governo espie cidadãos russos como faz a NSA sobre os americanos ou estrangeiros. A este respeito — quanto à espionagem sobre os seus concidadãos — a Rússia e os Estados Unidos trocaram de lugar desde o fim da União Soviética. Embora a tendência das leis americanas na última década e meia seja a diminuição das liberdades civis, na Rússia a cultura legal tem-se tornado cada vez mais humana e liberal. A Rússia leva a julgamento suspeitos terroristas islâmicos capturados num tempo razoável e não lhes nega o habeas corpus. A cultura popular americana (incluindo filmes como Zero Dark Thirty) mostra que a América pratica a tortura e sugere que é justificada. A cultura popular da Rússia não aceita a prática da tortura. O contraste entre o tratamento ocidental da Rússia e dos Estados Unidos sobre os direitos humanos viu-se quando em 2012 a Amnistia Internacional levou a efeito uma campanha de Acção Prioritária sobre as Pussy, cujos membros foram declarados prisioneiros de consciência, enquanto a campanha para Bradley – actualmente Chelsea – Manning, que não tinha sido declarado prisioneiro de consciência, nem foi ainda. Os membros das Pussy foram condenados como já mencionei a dois anos de prisão, de acordo com a lei, por um crime que cometeram. Ao mesmo tempo, Bradley Manning foi submetido a um castigo cruel, desumano e degradante, antes de ter sido julgado por qualquer crime. Isso deu uma má ideia de parcialidade politica ás decisões da Amnistia, mostrando que eles consideram o tratamento relativamente humano e legal dos críticos de Putin como uma violação maior e mais flagrante dos direitos humanos do que a tortura antes do julgamento.
Acerca de duas medidas diferentes consideremos também o conselho que a América dá à Rússia. Durante os protestos na praça Maidan em Kiev lembremos John Kerry pedindo a Yanukovich para mostrar calma para com os manifestantes. Ele mostrou tanta calma que deixou a cidade em vez de ordenar à polícia que avançasse e defendesse o Presidente, como poderiam ter feito. Podem imaginar um presidente americano a ser obrigado a fugir por protestos violentos em Washington? Em Washington, os protestos de Maidan não teriam durado dois dias. Se apontar uma arma letal a um polícia pode ser legalmente abatido. Em Kiev, foram mortos cerca de vinte policiais. Podemos imaginar a resposta violenta e desdenhosa se Putin tivesse aconselhado Obama a ter calma diante de protestos violentos, e a deixar-se derrubar.
E não falemos dos ditadores com quem a Rússia tem boas relações, na Síria, Coreia do Norte e Cuba, são atacados não de uma maneira diferente dos ditadores da Arábia Saudita, Barein, Quatar, Uzebequistão, Honduras, Tailândia e Egipto mas de modo a que a Rússia também não os ataque. Em geral o Ocidente não só não pratica o que prega à Rússia, prega onde a Rússia não está — embora não veja grande mal em pregar — sou lawrenciana —, não gosto da pregação de hipócritas.
Uma coisa que está presente na nossa inconsistente aplicação de padrões é o nosso uso da linguagem. Os manifestantes em Maidan protestavam; em Slaviansk, Kramatorsk, Maiupol eram rebeldes. O governo de Putin é frequentemente conhecido como regime, e assim ligado à ditadura, onde não existe, como não existe nos Estados Unidos uma democracia perfeita, mas Putin pessoalmente tem mais 20% de aprovação do que Obama. E pelo menos mais 25% do que Cameron. Mas há essencialmente uma palavra mal utilizada no contexto russo — «liberal». Essa é uma palavra notoriamente proteana, mas parece haver acordo sobre a sua denotação num contexto russo que em relação é Rússia é unânime, onde geralmente quer dizer «promover os valores ocidentais em relação à liberdade individual, igualdade, democracia e a regra da lei». Mas, quando se consideram as politicas desses políticos e comentadores descritas como liberais, descobrimos que aquilo que se vê é a promoção de politicas económicas estrangeiras alinhadas com os interesses ocidentais, enquanto outras possivelmente não liberais se mantém. Por exemplo, Aleksei Navalny, que é frequentemente descrito como o líder liberal da oposição, tem opiniões que a maioria dos liberais ocidentais considera racistas. Como a maioria dos russos não quer que a Rússia aceite os interesses geopolíticos e económicos da NATO à sua custa, e como o capitalismo ocidental está associado aos anos 90 (um período que nunca foi muito bem aceite no Ocidente com tendo sido uma catástrofe, os chamados «liberais» estão numa proporção pequena em relação ao voto popular. Mas a narrativa russofóbica confunde «liberal» com democrático. O facto das políticas de Putin terem mais apoio do que as chamadas liberais não torna Putin num anti liberal e os que se opõem a Putin democraticamente eleito não são pró democratas por essa razão. A Russofobia, segundo a ideia de Said no Orientalismo assenta assim e gera contradições. Também constrói um inimigo agressivo e a temer, ameaçando os seus vizinhos como a Ucrânia e a Geórgia. Por outro lado, cria um inimigo risível de que a economia esta fragilmente dependente do petróleo — um ponto que não é tão importante como quando pensamos na Arábia Saudita um aliado possuidor de petróleo
Mas tanto a agressão da Rússia como a sua fraqueza são sobrestimadas ou seja, o desejo (por razões que a seguir exporei) de construir um inimigo produz uma imagem (e mesmo, uma realidade), que se receia, cujo poder precisa de ser entendido. Desde 1989, quando se retirou do Afeganistão, mandou as suas tropas apenas para a Geórgia, e isso em apoio aos habitantes de um enclave semi-autónomo em que as tropas da Geórgia tinham entrado em violação de tratados internacionais. Na realidade não ameaçou ninguém.
Mas o conhecimento do seu poder é importante. Falando para comerciantes na Rússia — russos e estrangeiros — percebi que a Rússia tem produções imensa e economicamente diversas, evitando muitas das armadilhas de divida e sistema bancário falso que aflige a nossa economia.
A L’Oreal, Danone, Peugeot e Renault estão a conseguir grandes lucros na Rússia. Longe de estar totalmente dependente da exportação de petróleo, a Rússia tem muitos produtos manufacturados como aço, produtos químicos, farmacêuticos, roupa, construção de navios, maquinaria, aviões, alimentos processados, mobiliário, computadores, tractores, produtos ópticos, carros, telemóveis. Tem uma grande indústria de construção e lidera no campo nuclear a tecnologia espacial. O Ocidente provavelmente não pensa muito nisso porque são produtos pesados, não consumíveis, e não se encontram assim nas lojas ocidentais. O imposto de renda é baixo 13%, encorajando assim o crescimento económico (embora, em minha opinião seja uma medida temporária, e será depois substituída por um imposto de renda gradualmente mais socialista. Há um juro de 10% nas contas correntes. As sanções doeram, mas levaram também a um maior investimento interno. E a história da fraqueza russa deve-se à ignorância das suas relações com o resto do mundo ocidental. Há laços sino-russos a aumentar e relações estreitas entre a Rússia e muitos países asiáticos, africanos e sul-americanos, China e Japão, Índia e Paquistão, Israel e Palestina.
Quando assisti a uma reunião de comerciantes que discutiam respostas às sanções a Moscovo em Abril foi dito que os embaixadores que decidiram vir pelos menos os que eu vi— eram da Africa do Sul, México, Peru, Benim, Indonésia e Malásia. Nenhum do «Ocidente» e isso é realmente uma metáfora pelo facto de que o Ocidente não vê e não quer ver, as boas relações que a Rússia tem com o resto do mundo.
Mas há muitos factores que favorecem a construção e persistência da Russofobia.
Um dos primeiros e mais óbvios é o contacto limitado com o próprio país.
Desde o século dezasseis quando os europeus ocidentais começaram a viajar para a Rússia, observaram que a Rússia é difícil de atravessar, de entrar, e onerosa nos requisitos de passaporte. O mesmo acontece com a política quer dizer que não é fácil chegar a são Petersburgo para uma volta rápida — na realidade há muito menos voos directos entre Londres, o centro das vias aéreas e a segunda maior cidade do maior país do mundo — que, para qualquer outra parte do mundo, o que é estranho. O contacto limitado com a Rússia, e aprendizagem limitada da língua, significam capacidade limitada para testar a validade da imagem da media na Rússia. Essa imagem é parcialmente a construção de jornalistas que eles mesmos sabem muito pouco do país, e que fazem eco uns dos outros. Mas é igualmente a construção dos correspondentes estrangeiros locais como Luke Harding do The Guardien e Ed Lucas do The Economist’s, que na minha opinião caem dentro da categoria de pessoas que podem viver num país detestando-o e interpretando-o de maneira errada, assim como certas pessoas podem viver num país amando-o, e interpretando de maneira errada no sentido oposto.
Uma das características em favor do eco de opiniões entre jornalistas residentes e outros é o inverso de um fenómeno que descobri entre pessoas que discordam deles. Em Moscovo amigos meus que aprovam Putin incluem-se Russos, Americanos, um Finlandês e um Francês. Trabalham na Rússia como jornalistas, comerciantes e advogados. A sua visão política vai de Conservadores a quase comunistas e verdes. Mas todos eles, nos seus diversos caminhos e das suas perspectivas próprias acabaram por admirar Putin, cujas políticas não podem ser facilmente descritas em termos de análise da esquerda-direita tradicional. O inverso disso é que ele pode ser criticado de todas as perspectivas, pelo que temos, portanto, uma rara unidade na Russofobia britânica, entre a ala esquerda e a ala direita e mesmo em grandes jornais e tabloides.
Outra característica que favorece a Russofobia é que a sua imagem de Rússia condiz com imagens antigas que a Rússia tinha no Ocidente — principalmente como autocrática. O principal período de contacto entre a Europa ocidental e a Rússia tem sido caracterizado pela disparidade crescente entre níveis de democracia no Ocidente e no Oriente; isso era verdadeiro até recentemente. Afirmações de que Putin é autocrático enquadram bem numa narrativa primária sobre a Rússia, não condizente com a democracia: há só dois problemas. Um, o primarismo está agora tão desacreditado na ciência politica como o racismo, e por razões semelhantes (veja-se o êxito de Martin Sixsmith em 2011: Rússia: Mil anos do Oriente Selvagem). Segundo, Putin não é autocrático. A narrativa de reversão de autocracia depois dos anos relativamente democráticos de Yelstin, é particularmente absurda dado que em 1993 Yeltsin fechou jornais e enviou tanques para a Casa Branca para dispersar o Parlamento russo, que se opunha à sua política económica profundamente antipopular. Nos escassos anos seguintes calcula-se que entre 187 a 2.000 pessoas foram mortas. Putin nunca fez nada semelhante, e claro que é possível interpretar mal alguém cujas políticas são grandemente apoiadas — dentro e fora do parlamento — como um ditador que não vai contra a oposição.
Mas temos de dizer, que a Rússia tem sido uma casa maior do pensamento primordial, principalmente por si. O que é a ideia de russkaiadusha, ou a alma russa, mas um argumento que a Rússia é a) distinta e b) imutável na sua essência? O discurso da alma russa é complicado mas parte disso condiz com a ideia que o povo russo é subserviente e sofredor. E esta ideia é reforçada desde Tolstoi e Dostoievsky. Mas, não foi a única verdade primordialistica. O eurasianismo compete com o eslavofilismo, e o ocidentalismo — os ocidentalistas dizendo claro que a Rússia podia e devia pôr-se a par do Ocidente. Mas, a Rússia acima de tudo, tem na sua literatura e filosofia, dado encorajamento suficiente ao pensamento primordialista.
Mencionei a homologia do primordialismo ao racismo — e posso garantir que há uma dimensão racial na Russofobia do que posso ter alternadamente chamado Russismo. Mais uma vez vamos através da contradição. Por um lado, os Russos são acusados de favorecer a autocracia e a subserviência. Por outro, espera-se que eles se comportem como europeus ocidentais apesar das circunstancias históricas imensamente diversas e, tenho a certeza de que uma razão disso é que os russos europeus são exactamente iguais aos europeus ocidentais, o que não acontece com os Chineses ou os Turcos. Na proporção das diferenças de pigmentação de melanina, cor de olhos, e estrutura facial, pouca diferença de comportamento político é tolerada — e quando acontece, é então por reacção essencializado.
O próprio Putin tem sido amplamente demonizado. O seu passado de KGB é frequentemente invocado de um modo que ultrapassa o facto de que o próprio KGB era uma opção de carreira para jovens soviéticos ambiciosos quando ele escolheu essa carreira. Posso mencionar o facto de que ela citar Maxim Isayev como uma influência para o seu desejo de se juntar ao KGB. Isayev é o herói da mini série de culto soviética, Dezassete Instantes de uma Primavera — a resposta soviética a James Bond. Isayevé um agente russo que pretende ser um dirigente em Berlim no fim da Segunda Guerra Mundial. Era corajoso, culto, inteligente, generoso e de uma integridade soviética — um herói soviético, que protegia a Rússia da Alemanha e a Alemanha de si própria, um tipo que pessoas como Putin gostariam de ser. Claro, que sabemos que a espionagem não é como nos filmes. Mas na nossa era de revelações pós Snowden, é estranho continuar a atacar alguém por ter espiado cidadãos de outro país, e usar isso repetidamente como uma lente de interpretação negativa sobre todas as suas acções subsequentes.
Na sua apresentação como macho man Putin não faz favores ao Ocidente. Mas acho que os russos não precisam de ligar ao nosso desprezo generalizado por esta imagem, como os Britânicos não tem de ligar aos Americanos, cuja impressão generalizada é que todos os homens britânicos são gays. A razão disso é que o comportamento normal masculino aqui é mais suave, e metafórica e literalmente menos musculado, do que é a norma na América do Norte. Na Rússia o comportamento másculo de Putin é muito menos aceitável do que aqui — principalmente em contrate com as séries de gerontocratas que governaram a União Soviética após Stalin, e Yeltsin um embaraço etílico. Devemos lembrar que não é apenas pelo seu estilo machão que ele é admirado; é também admirado por uma vida limpa, em contrate com Yeltsin e muitos outros do período de Yelstin no poder, e com boa educação — fala Russo sem erros gramaticais, de novo em contrate com Yelstin.
Mas a sua auto-projecção é enfaticamente dirigida mais ao povo russo do que ao resto do mundo, e isso deve-se ao facto de que Putin não imita o Ocidente — bate-lhes (para usar uma metáfora inglesa) com um bastão directo. Algo de um desprezo de anúncio comunista surge na sua falta de interesse em anunciar o país ou a si próprio, no que toca ao Ocidente. Foi por isso que a Geórgia teve a maior cobertura no conflito Rússia-Georgia, de uma maneira que até Martin Sixsmith admite ter sido incrementada pela BBC.
Saakashvili educado na Columbia estava pronto a fazer de PR de uma maneira que Medvedev não estava. Um contraste diferente à Rússia é a China, que responde prontamente e até agressivamente à critica pública, e que até beneficia do opróbrio amontoado sobre a Rússia, desde que afaste as atenções de si mesma, sendo uma ameaça muito mais tangível para os interesses da Europa. A Rússia, por outro lado, nada faz para atacar a Russofobia.
Dou ainda mais razões para a atração da Russofobia. A desconfiança da media na Rússia já vem de longe, e com boa razão. A má atitude dos Russos, ainda hoje, é de cepticismo e crítica. Podem votar em Putin porque gostam dele ou das suas políticas, mas isso nãos os faz acreditar mais no que leem, e há ainda muita insegurança sobre o estado do país, sobre o que se queixam. Apesar do desafecto dos votantes deste país, penso que há um nível muito mais alto de segurança do que se lê no Guardian, noEconomist, The Sun, a BBC, entre os britânicos do que canais equivalentes na Rússia. Ou seja, uma diferença entre nós e os Russos é que somos menos cépticos sobre o que lemos.
Cuyu bono? Quais são as motivações mais obvias para criar a Russofobia?
Em resumo (e as razões substantivas realmente são breves): a política estrangeira da Rússia não segue a do Ocidente. Os fabricantes de armamento ocidentais não têm interesse numa nova Guerra Fria, porque a guerra contra o terror não preenche o vazio na venda de armas — especialmente de armas nucleares — deixado pelo fim da Guerra Fria. E a NATO necessita desesperadamente de raison d’être (razão de existir).
Mas os interesses dos fabricantes de armas e da NATO não são os do Ocidente num todo. A Russofobia age de maneiras muito contraproducentes. Restringe potencialmente a sua enorme cooperação económica e cultural e intercambio com a Rússia — uma razão porque os comerciantes se opuseram às sanções — e que empurra decisivamente a Rússia para uma cooperação económica, politica e militar com a China e na verdade com o resto do mundo. As sanções tiveram o efeito de obrigar a Rússia a pensar em desenvolver a sua própria versão do VISA. Fez repatriar a riqueza da Rússia espalhada fora. E na Ucrânia, o apoio ocidental de um golpe contra um presidente eleito colocou o país à beira de uma guerra civil, e aumentou o território da Rússia. Como um amigo meu tem comentado repetidamente «as guerras começam quando os políticos mentem aos jornalistas e depois acreditam no que lêem na imprensa. A popularidade de Putin estava em 83% na véspera dos acontecimentos na Ucrânia, e o sentimento dos russos comuns contra os Estados Unidos e a União Europeia começa a aumentar. Isso torna a vida mais difícil para os Russos cuja agenda politica tem apoio no Ocidente. Um bom exemplo é o dos activistas dos direitos gay, que têm muito mais dificuldade em alcançar os seus fins já que uma atitude pró-gay se alinha com uma atitude anti russa. Os activistas gay russos são agora um grupo muito mais isolado e de quem se desconfia do que antes de receber apoio ocidental.
Todos os russos familiarizados com a Russofobia veem que a Rússia está a ser criticada por muitas coisas erradas — e essa é a ironia mais trágica. O país não é perfeito. A segurança social é miserável; há problemas no exército e nas prisões, e problemas com racismo, drogas, e violência doméstica, a educação e a saúde estão mal; o imposto de renda está mal. Mas não por isso que a Rússia é criticada, tanto pelos ocidentais como pelos seus chamados partidos liberais, que estão obcessivamente preocupados com Putin.
As pessoas que sofrem na Rússia não são os lideres da oposição com a sua cobertura abundante na imprensa ocidental, mas os pobres.
E fora os Comunistas, e mesmo Putin quem fala deles?
A Russofobia é composta de ignorância, falha de cepticismo e raciocínio, orgulho, hipocrisia, condescendência e grosseria, tudo colocado ao serviço do complexo militar-industruial e da NATO: apoia uma Guerra Fria de um só lado, contra um país que só agora começa a erguer-se depois da queda, está mais interessada em melhorar as condições de vida do seu povo, não quer a guerra e não deseja ser nosso inimigo a menos que tenha de defender-se. Desejo-lhe o melhor
* Jornalista
Este texto foi publicado em:
http://www.informationcleaninghouse.info/article44908.htm

Tradução de Manuela Antunes

in ODiario.info

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