Manhã
O homem contorce-se numa tosse seca.
Na praça pela manhã os pombos aquecem-se.
A mulher dos pombos espalha as migalhas
Guardando a fome para si,
Novos e velhos sentam-se nos bancos,
Quem espera nunca alcança,
Uma garota brinca com uma boneca coçada,
Um achado que lhe alegrou o dia.
Um solista arranca do acordeão uma melodia
No chão um prato vazio agradece
E um cão lambe as feridas aos pés do dono.
Deus vela pelos desvalidos?
Intervir não está na sua condição.
Homens muito ricos conservam-no crucificado
Para que as mãos soltas não façam milagres.
Crucificadas multidões. Cautela!
O poder de multiplicar só ao capital foi concedido,
esse apetite insaciável canibal.
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