Um bom ano 2011 para cada um dos amigos.
O regime democrático, tal como está, representa os interesses das classes dominantes. É uma espécie de antecâmara dos grandes accionistas. O povo está alheado, a soberania não mais reside nele. As eleições, enquanto alternância dos dois partidos que se revezam no poder, não mais exprimem os reais interesses e aspirações de muitos que neles votam. É de toda a evidência. Portanto, algo vai pôdre no reino da dinamarca.
As potências europeias controlam os países periféricos, a economia material e imaterial, regulamentam-nos, limitam-nos, tal qual se obriga um náufrago a manter-se apenas à tona da água. É o imperialismo com nova face, mas, na essência, sempre o mesmo.
Se a História ensina alguma coisa, é a lição mestra da vida: se o mais fraco não resiste, cabe-lhe a sorte de ser escravo do senhor.
Resistamos, pois. Seja com mitos, crenças, utopias, esperanças, desde que sejam fraquezas que se transformam em forças, pequenas cobardias que se transfiguram em coragem, sonhos que sejam punhos que batem nas rochas como as ondas bravas do mar. 1792, 1917, 1974. Quem vê apenas a permanência, anda cego. Nada permanece idêntico e invariante. Jamais filósofo algum houve que tivesse sido completa e verdadeiramente pessimista. Aos optimistas fez Voltaire uma sátira definitiva.
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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Miguel de Unamuno
"Este é o templo da inteligência. E eu sou o seu sacerdote mais alto. Sois vós que profanais este sagrado recinto. Ganhareis, porque possuis mais do que a força bruta necessária. Mas não convencereis. Porque para convencer é necessário persuadir. E para persuadir é necessário possuir o que vos falta: razão e direito em vossa luta."
- Miguel de Unamuno citado em "O conflito das idéias" - Página 117, Voltaire Schilling - Editora AGE Ltda, 1999
- Miguel de Unamuno citado em "O conflito das idéias" - Página 117, Voltaire Schilling - Editora AGE Ltda, 1999
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
GOYA
O Pai devorando os seus próprios filhos. Agamémnon sacrificando a sua filha Ifigénia. O homem triturando os seus descendentes. O inventor destruindo a espécie com as suas invenções. O Eixo do Bem massacrando, o Eixo do Mal aterrorizando. Pode escrever-se a História como uma longa lista de sofrimentos, crueldades, replicações, repetições, invariantes. Contudo, o que parece sempre vertival, declina-se, o que parece sempre contínuo, quebra-se, e tudo que parece sólido se dissolve no ar. O formato, o programa, a tese; mas eis que irrompe a antítese...
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Intervenção Social
Ainda as autarquias. Com um Orçamento restrictivo como o que temos, com a pobreza que alastra, com os deveres sociais a cargo de um Governo que as enjeita, resta a caridade pública...e as Associações de Solidariedade Social e as Autarquias agirem nessa área, embora estejam a ser atingidas fortemente pelas medidas de austeridade. As famílias passam dificuldades, as crianças passam fome, os estudantes não recebem ajudas. Refeições gratuitas nas escolas é uma medida urgente para os carenciados, assim como os transportes (tanto mais porque as suas residências ficam muitas vezes afastadas agora com os novos agrupamentos). Eis uma prioridade para os novos Planos 2011 das autarquias.
AUTRQUIAS
A indignação das autarquias perante o Orçamento do Estado para 2011 manifesta-se nos últimos Boletins da Associação Nacional Municípios Portugueses. O Governo retira-lhes mais 5% no valor das transferências, mas, na realidade, no espaço de cinco meses retira-lhes 227 milhões de euros, correspondentes a 8,6% das transferências. Os municípios em nada contribuiram para o défice público e é tanto mais injusta a medida governamental quanto a administração local realiza metade do investimento público com mais de 10% das receitas. Em alguns municípios a austeridade imposta pode vir a ser um autêntico garrote (tendo em conta os limites do endividamento regulamentados). O Conselho Geral da ANMP, reunido em Coimbra no dia 20 de Outubro, considerou "desastrosa para o Poder Local e para os Munícipes a Proposta de Lei do Orçamento de Estado para 20011", rejeitando, em absoluto, "as novas reduções de receitas municipais" contidas naquele diploma - lê-se. Como se sabe, a proposta de lei é já lei, aprovada pelo PS e viablizada pelo PSD. Como se conciliam os interesses das autarquias PS e PSD com um Orçamento que viablizaram ems ede da Assembleia da República??
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
MANUEL GUSMÃO, um Poeta militante
HAVIA SÉCULOS
Havia séculos
e eram florestas sobre florestas escritas.
O canto cantava: era o incêndio do vento
folheando a memória da terra
essa maranha de raízes aéreas que nasciam enterrando
mais fundo as árvores anteriores;
essa teia nocturna de troncos e lianas, de ramos e folhas,
nervuras que os versos enervam irrespiráveis;
esse mapa em relevo lavrado pela paciência da luz
que atrasando-se recorta
estas estranhas esculturas do tempo:
os poemas selvagens
o máximo excesso de uma rosa aquática e frágil
sempre a nascer desfiladeiros
e falésias, fendas, quebradas, ravinas
vulcões que deflagram em écrans sucessivos
Havia séculos
e o cinema dos astros
acendia ampolas e bagas, campânulas, cápsulas, lâmpadas;
punha em música a infinita noite dos versos que longamente
escutam
aqueles que muito antes ou muito depois vieram ou virão
até estes anfiteatros que os desertos invadem.
Havia séculos
e / atravessando as ruínas dessa terra quente, as páginas
de água dessa rosa alucinada / havia esse:
o comum de nós que dos seus se dividindo, verso
a verso, procura ainda alguém. E assim
era de novo o início.
A grande migração das imagens — havia séculos —
desde há muito começara, desde sempre, já.
E sem cessar migrávamos nós, inquietos e perdidos
sem paz e sem lei, sem amos nem destino.
Migrações do Fogo, Editorial Caminho, Lisboa,2004
in Poemas & Poetas, blogspot.com
Havia séculos
e eram florestas sobre florestas escritas.
O canto cantava: era o incêndio do vento
folheando a memória da terra
essa maranha de raízes aéreas que nasciam enterrando
mais fundo as árvores anteriores;
essa teia nocturna de troncos e lianas, de ramos e folhas,
nervuras que os versos enervam irrespiráveis;
esse mapa em relevo lavrado pela paciência da luz
que atrasando-se recorta
estas estranhas esculturas do tempo:
os poemas selvagens
o máximo excesso de uma rosa aquática e frágil
sempre a nascer desfiladeiros
e falésias, fendas, quebradas, ravinas
vulcões que deflagram em écrans sucessivos
Havia séculos
e o cinema dos astros
acendia ampolas e bagas, campânulas, cápsulas, lâmpadas;
punha em música a infinita noite dos versos que longamente
escutam
aqueles que muito antes ou muito depois vieram ou virão
até estes anfiteatros que os desertos invadem.
Havia séculos
e / atravessando as ruínas dessa terra quente, as páginas
de água dessa rosa alucinada / havia esse:
o comum de nós que dos seus se dividindo, verso
a verso, procura ainda alguém. E assim
era de novo o início.
A grande migração das imagens — havia séculos —
desde há muito começara, desde sempre, já.
E sem cessar migrávamos nós, inquietos e perdidos
sem paz e sem lei, sem amos nem destino.
Migrações do Fogo, Editorial Caminho, Lisboa,2004
in Poemas & Poetas, blogspot.com
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Bananas
Para o patronato os despedimentos vão tornar-se mais fáceis. O FMI, a OCDE e os donos da União Europeia estão sempre de acordo, porque a mão que os alimenta é sempre a mesma: o grande capital. A sociologia "pós-modernista" anda por aí a afirmar que as classes sociais já não existem. As políticas neo-liberais demonstram o contrário. Ele há "pensadores" que pensam o que os donos querem.
D.José Policarpo, cardeal e chefe da Igreja, confessa que «Não percebe porque hão de ser os funcionáios públicos a pagar a fatura». É sempre de aplaudir quando a Igreja se coloca do lado dos mais fracos. Ganha o respeito dos que deixaram de nela acreditar.
Os documentos publicados pela Wikileaks demonstram o que já se sabia: os governos de Portugal permitiram que o nosso território fosse sobrevoado por aviões da CIA com prisioneiros de Guantánamo. Portanto, os nossos governantes mentiram. Hoje, quando estão à vista de todos os documentos secretos, continuam a mentir. Não é de admirar quando eles próprios apoiaram (ilegalmente) a invasão do Iraque a fizeram-nos acreditar na patranha das «armas de destruição maciça». Mentam à vontade, pois sabem que ninguém os responsabilizará. Pelo contrário, ascendem a altas chefias na União Europeia. Portugal é uma República das bananas.
D.José Policarpo, cardeal e chefe da Igreja, confessa que «Não percebe porque hão de ser os funcionáios públicos a pagar a fatura». É sempre de aplaudir quando a Igreja se coloca do lado dos mais fracos. Ganha o respeito dos que deixaram de nela acreditar.
Os documentos publicados pela Wikileaks demonstram o que já se sabia: os governos de Portugal permitiram que o nosso território fosse sobrevoado por aviões da CIA com prisioneiros de Guantánamo. Portanto, os nossos governantes mentiram. Hoje, quando estão à vista de todos os documentos secretos, continuam a mentir. Não é de admirar quando eles próprios apoiaram (ilegalmente) a invasão do Iraque a fizeram-nos acreditar na patranha das «armas de destruição maciça». Mentam à vontade, pois sabem que ninguém os responsabilizará. Pelo contrário, ascendem a altas chefias na União Europeia. Portugal é uma República das bananas.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
A implosão de mais uma utopia reaccionária
«Ora, o que tem acontecido-sobretudo com o euro e as suas regras demasiado rígidas- é que os mais ricos têm beneficiado milhões, talvez biliões por ano, enquanto os menos desenvolvidos crescem pouco (ou nada), veem definhar os fundos de coesão e o investimento europeu, e estão condenados ao défice orçamental excessivo e a um endividamento cada vez maior». Quem escreveu isto não foi um partido ou cidadão da Esquerda, português ou de outro país dependente, mas Diogo Freitas do Amaral (in «Visão»). Basta ser inteligente e não mentiroso, e não se estar enfeudado à meia dúzia de grupos económicos que têm sacado fabulosos lucros com a crise do euro e a crise de solvência dos países dependentes. Basta um pouco de respeito pela soberania nacional. Claro que censura a partir de posições da Direita: congratula-se com a Cimeira da NATO e os seus resultados e encara a China como um inimigo económico -"desleal"- de que a Europa precisa de se defender. É o imperialismo, senhor Professor! Da Alemanha (que tão bem você estigmatiza), neste caso.
domingo, 12 de dezembro de 2010
Dizem-nos: Desiste Não vale a pena A maioria decidiu A democracia é isto A legitimidade do voto.
Além disso, Quem manda são os de fora E é de fora que a crise veio. Dizem-nos.
Também nos diziam quando eu era petiz Que o inferno existia para os maus
E que o Pai Natal descia pela chaminé abaixo.
Quando me fiz grande Ainda me diziam: O Salazar salvou-nos da guerra A ditadura não cairia jamais Era melhor ficar quietinho.
Sempre o medo, a ignorância, a apatia. O que ontem era o terror da ditadura
É hoje a mentira da democracia.
Simplesmente não gosto de ficar quietinho Com a alma a apodrecer.
Além disso, Quem manda são os de fora E é de fora que a crise veio. Dizem-nos.
Também nos diziam quando eu era petiz Que o inferno existia para os maus
E que o Pai Natal descia pela chaminé abaixo.
Quando me fiz grande Ainda me diziam: O Salazar salvou-nos da guerra A ditadura não cairia jamais Era melhor ficar quietinho.
Sempre o medo, a ignorância, a apatia. O que ontem era o terror da ditadura
É hoje a mentira da democracia.
Simplesmente não gosto de ficar quietinho Com a alma a apodrecer.
sábado, 11 de dezembro de 2010
Os nossos sucessos
Os resultados escolares comparativos organizados pela PISA e OCDE e divulgados recentemente, permitiram ao eng. Sócrates um auto-elogio (num político já se tolera) e um elogio aos professores portugueses. Neste caso é intolerável, porque é de um cinismo descarado, vindo de um chefe de um governo que lançou o caos nas escolas portuguesas e converteu boa parte dos mestres em ovelhas domesticadas e medrosas. Quanto ao primeiro caso os resultados referem-se a anos anteriores aos efeitos das políticas da educação, portanto, não as avaliam, não há lugar para auto-elogios.
Qualquer professor desperto sabe que os alunos não melhoraram a sua perfomance escolar ultimamente, senão por meros estratagemas para manter a fachada e cumprir ordens ou requisitos de avaliação dos professores Este ensino orienta-se por critérios desumanizantes e completamente elitistas. As escolas privadas que alcançam os tops dos rankings (falando assim à modernaça) são fábricas de robots. Este capitalismo de casino o que quer é mão de obra barata, acéfala, inculta e obediente, com palas nos olhos como se faziam às mulas.
Qualquer professor desperto sabe que os alunos não melhoraram a sua perfomance escolar ultimamente, senão por meros estratagemas para manter a fachada e cumprir ordens ou requisitos de avaliação dos professores Este ensino orienta-se por critérios desumanizantes e completamente elitistas. As escolas privadas que alcançam os tops dos rankings (falando assim à modernaça) são fábricas de robots. Este capitalismo de casino o que quer é mão de obra barata, acéfala, inculta e obediente, com palas nos olhos como se faziam às mulas.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
WIKILEAKS
Não matem o mensageiro por revelar verdades incómodas
por Julian Assange [*]
WIKILEAKS merece protecção, não ameaças e ataques.
Em 1958 o jovem Rupert Murdoch, então proprietário e editor do jornal The News, de Adelaide, escreveu: "Na corrida entre o segredo e a verdade, parece inevitável que a venda sempre vença".
A sua observação talvez reflicta o desmascaramento feito pelo seu pai, Keith Murdoch, de que tropas australianas estavam a ser sacrificadas inutilmente nas praias de Galipoli por comandantes britânicos incompetentes. Os britânicos tentaram calá-lo mas Keith Murdoch não foi silenciado e os seus esforços levaram ao término da desastrosa campanha de Galipoli.
Aproximadamente um século depois, WikiLeaks está também a publicar destemidamente factos que precisam ser tornados públicos.
Criei-me numa cidade rural em Queensland onde as pessoas falavam dos seus pensamentos directamente. Elas desconfiavam do governo como de algo que podia ser corrompido se não fosse vigiado cuidadosamente. Os dias negros de corrupção no governo de Queensland antes do inquérito Fitzgerald testemunham do que acontece quando políticos amordaçam os media que informam a verdade.
Estas coisas ficaram em mim. WikiLeaks foi criado em torno destes valores centrais. A ideia, concebida na Austrália, era utilizar tecnologias da Internet de novas maneiras a fim de relatar a verdade.
WikiLeaks cunhou um novo tipo de jornalismo: jornalismo científico. Trabalhamos com outros media para levar notícias às pessoas, assim como para provar que são verdadeiras. O jornalismo científico permite-lhe ler um artigo e então clicar online para ver o documento original em que se baseia. Esse é o modo como pode julgar por si próprio: Será verdadeiro este artigo? Será que o jornalista informou com rigor?
Sociedades democráticas precisam de meios de comunicação fortes e WikiLeaks faz parte desses media. Os media ajudam a manter o governo honesto. WikiLeaks revelou algumas verdades duras acerca das guerras do Iraque e Afeganistão, e desvendou notícias acerca da corrupção corporativa.
Há quem diga que sou anti-guerra: para que conste, não sou. Por vezes os países precisam ir à guerra e há guerras justas. Mas não há nada mais errado do que um governo mentir ao seu povo acerca daquelas guerras, pedindo então a estes mesmos cidadãos para porem as suas vidas e os seus impostos ao serviço daquelas mentiras. Se uma guerra é justificada, então digam a verdade e o povo decidirá se a apoia.
Se já leu algum dos registos da guerra do Afeganistão ou do Iraque, algum dos telegramas da embaixada dos EUA ou algumas das histórias acerca das coisas que WikiLeaks informou, considere quão importante é para todos os media ter capacidade para relatar estas coisas livremente.
WikLeaks não é o único divulgador dos telegramas de embaixadas dos EUA. Outros media, incluindo The Guardian britânico, The New York Times, El Pais na Espanha e Der Spiegel na Alemanha publicaram os mesmos telegramas.
Mas é o WikiLeaks, como coordenador destes outros grupos, que tem enfrentado os ataques e acusações mais brutais do governo dos EUA e dos seus acólitos. Fui acusado de traição, embora eu seja australiano e não cidadão dos EUA. Houve dúzias de apelos graves nos EUA para eu ser "removido" pelas forças especiais estado-unidenses. Sarah Palin diz que eu deveria ser "perseguido e capturado como Osama bin Laden", um projecto de republicano no Senado dos EUA procura declarar-me uma "ameaça transnacional" e desfazer-se de mim em conformidade. Um conselheiro do gabinete do primeiro-ministro do Canadá apelou na televisão nacional ao meu assassinato. Um bloguista americano apelou a que o meu filho de 20 anos, aqui na Austrália, fosse sequestrado e espancado por nenhuma outra razão senão a de atingir-me.
E os australianos deveriam observar com nenhum orgulho o deplorável estímulo a estes sentimentos por parte de Julia Gillard e seu governo. Os poderes do governo australiano parecem estar à plena disposição dos EUA quer para cancelar meu passaporte australiano ou espionar ou perseguir apoiantes do WikiLeaks. O procurador-geral australiano está a fazer tudo o que pode para ajudar uma investigação estado-unidense destinada claramente a enquadrar cidadãos australianos e despachá-los para os EUA.
O primeiro-ministro Gillard e a secretária de Estado Hillary Clinton não tiveram uma palavra de crítica para com as outras organizações de media. Isto acontece porque The Guardian, The New York Times e Der Spiegel são antigos e grandes, ao passo que WikiLeaks ainda é jovem e pequeno.
Nós somos os perdedores. O governo Gillard está a tentar matar o mensageiro porque não quer que a verdade seja revelada, incluindo informação acerca do seu próprio comportamento diplomático e político.
Terá havido alguma resposta do governo australiano às numerosas ameaças públicas de violência contra mim e outros colaboradores do WîkLeaks? Alguém poderia pensar que um primeiro-ministro australiano defendesse os seus cidadãos contra tais coisas, mas houve apenas afirmações de ilegalidade completamente não fundamentadas. O primeiro-ministro e especialmente o procurador-geral pretendem cumprir seus deveres com dignidade e acima da perturbação. Fique tranquilo, aqueles dois pretendem salvar as suas próprias peles. Eles não conseguirão.
Todas as vezes que WikiLeaks publica a verdade acerca de abusos cometidos por agências dos EUA, políticos australianos cantam um coro comprovadamente falso com o Departamento de Estado: "Você arriscará vidas! Segurança nacional! Você põe tropas em perigo!" Mas a seguir dizem que não há nada de importante no que WikiLeaks publica. Não pode ser ambas as coisas, uma ou outra. Qual é?
Nenhuma delas. WikiLeaks tem um historial de publicação quatro anos. Durante esse tempo mudámos governos, mas nem uma única pessoa, que se saiba, foi prejudicada. Mas os EUA, com a conivência do governo australiano, mataram milhares de pessoas só nestes últimos meses.
O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, admitiu numa carta ao congresso estado-unidense que nenhumas fontes de inteligência ou métodos sensíveis haviam sido comprometidos pela revelação dos registos de guerra afegãos. O Pentágono declarou que não havia evidência de que as informações do WikiLeaks tivessem levado qualquer pessoa a ser prejudicada no Afeganistão. A NATO em Cabul disse à CNN que não podia encontrar uma única pessoa que precisasse de proteger. O Departamento da Defesa australiano disse o mesmo. Nenhuma tropa ou fonte australiana foi prejudicada por qualquer coisa que tivéssemos publicado.
Mas as nossas publicações estavam longe de serem não importantes. Os telegramas diplomáticos dos EUA revelam alguns factos estarrecedores:
Os EUA pediram aos seus diplomatas para roubar material humano pessoal e informação de responsáveis da ONU e de grupos de direitos humanos, incluindo DNA, impressões digitais, escanerização de íris, números de cartão de crédito, passwords de Internet e fotos de identificação, violando tratados internacionais. Presumivelmente, diplomatas australianos na ONU também podem ser atacados.
O rei Abdula da Arábia Saudita pediu que os EUA atacassem o Irão.
Responsáveis na Jordânia e no Bahrain querem que o programa nuclear do Irão seja travado por quaisquer meios disponíveis.
O inquérito do Iraque na Grã-Bretanha foi viciado para proteger "US interests".
A Suécia é um membro encoberto da NATO e a partilha da inteligência dos EUA é resguardada do parlamento.
Os EUA estão a agir de forma agressiva para conseguir que outros países recebam detidos libertados da Baia de Guantanamo. Barack Obama só concordou em encontrar-se com o presidente esloveno se a Eslovénia recebesse um prisioneiro. Ao nosso vizinho do Pacífico, Kiribati, foram oferecidos milhões de dólares para aceitar detidos.
Na sua memorável decisão no caso dos Pentagon Papers, o Supremo Tribunal dos EUA declarou: "só uma imprensa livre e sem restrições pode efectivamente revelar fraude no governo". Hoje, a tempestade vertiginosa em torno do WikiLeaks reforça a necessidade de defender o direito de todos os media revelarem a verdade.
08/Dezembro/2010
[*] Editor-chefe do WikiLeaks.
( do blog ANOVIS ANOPHELIS)
por Julian Assange [*]
WIKILEAKS merece protecção, não ameaças e ataques.
Em 1958 o jovem Rupert Murdoch, então proprietário e editor do jornal The News, de Adelaide, escreveu: "Na corrida entre o segredo e a verdade, parece inevitável que a venda sempre vença".
A sua observação talvez reflicta o desmascaramento feito pelo seu pai, Keith Murdoch, de que tropas australianas estavam a ser sacrificadas inutilmente nas praias de Galipoli por comandantes britânicos incompetentes. Os britânicos tentaram calá-lo mas Keith Murdoch não foi silenciado e os seus esforços levaram ao término da desastrosa campanha de Galipoli.
Aproximadamente um século depois, WikiLeaks está também a publicar destemidamente factos que precisam ser tornados públicos.
Criei-me numa cidade rural em Queensland onde as pessoas falavam dos seus pensamentos directamente. Elas desconfiavam do governo como de algo que podia ser corrompido se não fosse vigiado cuidadosamente. Os dias negros de corrupção no governo de Queensland antes do inquérito Fitzgerald testemunham do que acontece quando políticos amordaçam os media que informam a verdade.
Estas coisas ficaram em mim. WikiLeaks foi criado em torno destes valores centrais. A ideia, concebida na Austrália, era utilizar tecnologias da Internet de novas maneiras a fim de relatar a verdade.
WikiLeaks cunhou um novo tipo de jornalismo: jornalismo científico. Trabalhamos com outros media para levar notícias às pessoas, assim como para provar que são verdadeiras. O jornalismo científico permite-lhe ler um artigo e então clicar online para ver o documento original em que se baseia. Esse é o modo como pode julgar por si próprio: Será verdadeiro este artigo? Será que o jornalista informou com rigor?
Sociedades democráticas precisam de meios de comunicação fortes e WikiLeaks faz parte desses media. Os media ajudam a manter o governo honesto. WikiLeaks revelou algumas verdades duras acerca das guerras do Iraque e Afeganistão, e desvendou notícias acerca da corrupção corporativa.
Há quem diga que sou anti-guerra: para que conste, não sou. Por vezes os países precisam ir à guerra e há guerras justas. Mas não há nada mais errado do que um governo mentir ao seu povo acerca daquelas guerras, pedindo então a estes mesmos cidadãos para porem as suas vidas e os seus impostos ao serviço daquelas mentiras. Se uma guerra é justificada, então digam a verdade e o povo decidirá se a apoia.
Se já leu algum dos registos da guerra do Afeganistão ou do Iraque, algum dos telegramas da embaixada dos EUA ou algumas das histórias acerca das coisas que WikiLeaks informou, considere quão importante é para todos os media ter capacidade para relatar estas coisas livremente.
WikLeaks não é o único divulgador dos telegramas de embaixadas dos EUA. Outros media, incluindo The Guardian britânico, The New York Times, El Pais na Espanha e Der Spiegel na Alemanha publicaram os mesmos telegramas.
Mas é o WikiLeaks, como coordenador destes outros grupos, que tem enfrentado os ataques e acusações mais brutais do governo dos EUA e dos seus acólitos. Fui acusado de traição, embora eu seja australiano e não cidadão dos EUA. Houve dúzias de apelos graves nos EUA para eu ser "removido" pelas forças especiais estado-unidenses. Sarah Palin diz que eu deveria ser "perseguido e capturado como Osama bin Laden", um projecto de republicano no Senado dos EUA procura declarar-me uma "ameaça transnacional" e desfazer-se de mim em conformidade. Um conselheiro do gabinete do primeiro-ministro do Canadá apelou na televisão nacional ao meu assassinato. Um bloguista americano apelou a que o meu filho de 20 anos, aqui na Austrália, fosse sequestrado e espancado por nenhuma outra razão senão a de atingir-me.
E os australianos deveriam observar com nenhum orgulho o deplorável estímulo a estes sentimentos por parte de Julia Gillard e seu governo. Os poderes do governo australiano parecem estar à plena disposição dos EUA quer para cancelar meu passaporte australiano ou espionar ou perseguir apoiantes do WikiLeaks. O procurador-geral australiano está a fazer tudo o que pode para ajudar uma investigação estado-unidense destinada claramente a enquadrar cidadãos australianos e despachá-los para os EUA.
O primeiro-ministro Gillard e a secretária de Estado Hillary Clinton não tiveram uma palavra de crítica para com as outras organizações de media. Isto acontece porque The Guardian, The New York Times e Der Spiegel são antigos e grandes, ao passo que WikiLeaks ainda é jovem e pequeno.
Nós somos os perdedores. O governo Gillard está a tentar matar o mensageiro porque não quer que a verdade seja revelada, incluindo informação acerca do seu próprio comportamento diplomático e político.
Terá havido alguma resposta do governo australiano às numerosas ameaças públicas de violência contra mim e outros colaboradores do WîkLeaks? Alguém poderia pensar que um primeiro-ministro australiano defendesse os seus cidadãos contra tais coisas, mas houve apenas afirmações de ilegalidade completamente não fundamentadas. O primeiro-ministro e especialmente o procurador-geral pretendem cumprir seus deveres com dignidade e acima da perturbação. Fique tranquilo, aqueles dois pretendem salvar as suas próprias peles. Eles não conseguirão.
Todas as vezes que WikiLeaks publica a verdade acerca de abusos cometidos por agências dos EUA, políticos australianos cantam um coro comprovadamente falso com o Departamento de Estado: "Você arriscará vidas! Segurança nacional! Você põe tropas em perigo!" Mas a seguir dizem que não há nada de importante no que WikiLeaks publica. Não pode ser ambas as coisas, uma ou outra. Qual é?
Nenhuma delas. WikiLeaks tem um historial de publicação quatro anos. Durante esse tempo mudámos governos, mas nem uma única pessoa, que se saiba, foi prejudicada. Mas os EUA, com a conivência do governo australiano, mataram milhares de pessoas só nestes últimos meses.
O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, admitiu numa carta ao congresso estado-unidense que nenhumas fontes de inteligência ou métodos sensíveis haviam sido comprometidos pela revelação dos registos de guerra afegãos. O Pentágono declarou que não havia evidência de que as informações do WikiLeaks tivessem levado qualquer pessoa a ser prejudicada no Afeganistão. A NATO em Cabul disse à CNN que não podia encontrar uma única pessoa que precisasse de proteger. O Departamento da Defesa australiano disse o mesmo. Nenhuma tropa ou fonte australiana foi prejudicada por qualquer coisa que tivéssemos publicado.
Mas as nossas publicações estavam longe de serem não importantes. Os telegramas diplomáticos dos EUA revelam alguns factos estarrecedores:
Os EUA pediram aos seus diplomatas para roubar material humano pessoal e informação de responsáveis da ONU e de grupos de direitos humanos, incluindo DNA, impressões digitais, escanerização de íris, números de cartão de crédito, passwords de Internet e fotos de identificação, violando tratados internacionais. Presumivelmente, diplomatas australianos na ONU também podem ser atacados.
O rei Abdula da Arábia Saudita pediu que os EUA atacassem o Irão.
Responsáveis na Jordânia e no Bahrain querem que o programa nuclear do Irão seja travado por quaisquer meios disponíveis.
O inquérito do Iraque na Grã-Bretanha foi viciado para proteger "US interests".
A Suécia é um membro encoberto da NATO e a partilha da inteligência dos EUA é resguardada do parlamento.
Os EUA estão a agir de forma agressiva para conseguir que outros países recebam detidos libertados da Baia de Guantanamo. Barack Obama só concordou em encontrar-se com o presidente esloveno se a Eslovénia recebesse um prisioneiro. Ao nosso vizinho do Pacífico, Kiribati, foram oferecidos milhões de dólares para aceitar detidos.
Na sua memorável decisão no caso dos Pentagon Papers, o Supremo Tribunal dos EUA declarou: "só uma imprensa livre e sem restrições pode efectivamente revelar fraude no governo". Hoje, a tempestade vertiginosa em torno do WikiLeaks reforça a necessidade de defender o direito de todos os media revelarem a verdade.
08/Dezembro/2010
[*] Editor-chefe do WikiLeaks.
( do blog ANOVIS ANOPHELIS)
Oração
Vinte anos depois o seu corpo está intacto.
Não é o cadáver de uma santa,
mas o corpo vivo de uma mulher pecadora.
(Ó, que gostosa pecadora!)
Mais pequei eu
nela
como um herege, um iconoclasta,
pequei não sei quantas vezes,
sem mágoa e sem arrependimento.
(Ó, a fogueira do seu cabelo!)
o céu é testemunha
muda.
Vinte anos depois e pecaria outra vez
sem remorso, sem ciúme, sem medo.
Ajoelharia a seus pés como um crente
O céu abrir-se-ia num largo sorriso de compaixão
porque sabe que somos assim
feitos de terra, água e fogo.
Sem remissão.
Não é o cadáver de uma santa,
mas o corpo vivo de uma mulher pecadora.
(Ó, que gostosa pecadora!)
Mais pequei eu
nela
como um herege, um iconoclasta,
pequei não sei quantas vezes,
sem mágoa e sem arrependimento.
(Ó, a fogueira do seu cabelo!)
o céu é testemunha
muda.
Vinte anos depois e pecaria outra vez
sem remorso, sem ciúme, sem medo.
Ajoelharia a seus pés como um crente
O céu abrir-se-ia num largo sorriso de compaixão
porque sabe que somos assim
feitos de terra, água e fogo.
Sem remissão.
sábado, 4 de dezembro de 2010
Sá Carneiro
Faz trinta anos que Sá carneiro morreu num desastre de aviação. Com ele morreu Adelino Amaro da Costa, seu ministro da Defesa, contra o qual o atentado foi muito provavelmente dirigido. Atentado homicida com toda a certeza, conforme indiciam os relatórios. Causas obscuras relacionadas com armamentos e negócios com o dito, que o Ministro da Defesa estaria a a comprometer.
Sá Carneiro foi morto em plena campanha eleitoral para a presidência da República, na qual apoiava um candidato reaccionário, millitar e militarista, autoritário e com um passado político nebuloso. Venceu Ramalho Eanes e a ofensiva ultra-direitista foi travada.
Sá Carneiro, depois de uma aproximação calculista à Oposição Democrática e ao 25 de Abril, revelou-se logo a seguir um político ambicioso, manobrador, voluntarista, colado a todos os golpismos de Spínola e forçando pelo seu arrivismo um estado de guerra civil. Sá Carneiro representou a contra-revolução.
Por isso surpreendeu-me o texto do secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, no último número da revista "Visão". Qual o propósito?
Sá Carneiro foi morto em plena campanha eleitoral para a presidência da República, na qual apoiava um candidato reaccionário, millitar e militarista, autoritário e com um passado político nebuloso. Venceu Ramalho Eanes e a ofensiva ultra-direitista foi travada.
Sá Carneiro, depois de uma aproximação calculista à Oposição Democrática e ao 25 de Abril, revelou-se logo a seguir um político ambicioso, manobrador, voluntarista, colado a todos os golpismos de Spínola e forçando pelo seu arrivismo um estado de guerra civil. Sá Carneiro representou a contra-revolução.
Por isso surpreendeu-me o texto do secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, no último número da revista "Visão". Qual o propósito?
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Eric Hobsbawm
Eric Hobsbawm é um historiador incontornável. «A Era das Revoluções», «A Era do Capital», «A Era do Imperio» e «A Era dos Extremos», constituem obras de leitura obrigatória. Na "Relógio D'Água" saíu recentemente mais um título: «Ensaios sobre a Hstória», compilação de conferências, algumas de há muitos anos. Neste encontramos um penetrante texto :« Que devem os historiadores a Karl Marx?», onde se pode ler:« ...só posso afirmar a minha convicção de que a abordagem de Marx é ainda a única que nos permite dar conta de toda a extensão da história humana, formando por isso o ponto de partida mais fecundo para as nossas análises contemporâneas». A conferência é de 1968, em plena efervescência social. Contudo, a exposição não se deixa ofuscar pela conjuntura e conserva uma honestidade e rigor que ainda hoje se lê com perfeita actualidade. Em toda a sua extensa bibliografia não se vislumbra um parti-pris, que acomete quantas vezes os historiadores. Isto não significa que a historiografia tenha de ser neutra e eclética (é para desconfiar quando o pretende): o grande historiador - Eric Hobsbawm- conserva, julgo eu, ele que goza de grande longevidade, ( os últimos escritos, autobiográficos atestam), um humanismo crítico e despojado de utopias, racionalista, que ele sempre tomou como legado da Modernidade, isto é, do Iluminismo. O pós-modernismo que despreza a Modernidade, não passou por ele.
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