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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Fernando Savater
Fernando Fernández-Savater Martín nació en San Sebastián, España, el 21 de junio de 1947. Voraz lector desde pequeño, se licenció en Filosofía en la Universidad Complutense de Madrid. Fue docente en la Universidad Autónoma de Madrid hasta 1971. Tuvo que exiliarse durante los últimos años del régimen franquista debido a sus ideas políticas y filosóficas (que quedaron patentes en sus dos ensayos de 1972: Nihilismo y acción y La filosofía tachada). Ha estado fuertemente influido por filósofos como Nietzsche, Cioran y Spinoza. Tras su regreso a España ha sido profesor de Ética y Sociología de la UNED , catedrático de Ética de la Universidad del País Vasco y catedrático de Filosofía de la Complutense de Madrid. Colaborador del diario El País, codirige junto a Javier Pradera la revista Claves para la razón práctica.
Ensayista, filósofo y escritor, quedó finalista del premio Planeta por su novela El jardín de las dudas; ha recibido el Premio Nacional de Ensayo, el Premio Cuco Cerecedo y el Premio Anagrama, entre otros galardones. Especialmente crítico con el nacionalismo vasco y el terrorismo de ETA, su postura política ha suscitado numerosas polémicas, al igual que su Manifiesto por la lengua común y su defensa del laicismo.
in Lecturalia
Ensayista, filósofo y escritor, quedó finalista del premio Planeta por su novela El jardín de las dudas; ha recibido el Premio Nacional de Ensayo, el Premio Cuco Cerecedo y el Premio Anagrama, entre otros galardones. Especialmente crítico con el nacionalismo vasco y el terrorismo de ETA, su postura política ha suscitado numerosas polémicas, al igual que su Manifiesto por la lengua común y su defensa del laicismo.
in Lecturalia
sábado, 26 de fevereiro de 2011
F. SAVATER (filósofo)- Uma perspectiva
(vista por F. Savater)
Especialistas reunidos em Espanha
Aumento da violência nas escolas reflecte crise de autoridade familiar
Especialistas em educação reunidos na cidade espanhola de Valência defenderam hoje que o aumento da violência escolar deve-se, em parte, a uma crise de autoridade familiar, pelo facto de os pais renunciarem a impor disciplina aos filhos, remetendo essa responsabilidade para os professores.
Os participantes no encontro 'Família e Escola: um espaço de convivência', dedicado a analisar a importância da família como agente educativo, consideram que é necessário evitar que todo o peso da autoridade sobre os menores recaia nas escolas.
'As crianças não encontram em casa a figura de autoridade', que é um elemento fundamental para o seu crescimento, disse o filósofo Fernando Savater.
'As famílias não são o que eram antes e hoje o único meio com que muitas crianças contactam é a televisão, que está sempre em casa', sublinhou.
Para Savater, os pais continuam 'a não querer assumir qualquer autoridade', preferindo que o pouco tempo que passam com os filhos 'seja alegre' e sem conflitos e empurrando o papel de disciplinador quase exclusivamente para os professores.
No entanto, e quando os professores tentam exercer esse papel disciplinador, 'são os próprios pais e mães que não exerceram essa autoridade sobre os filhos que tentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os', acusa..
'O abandono da sua responsabilidade retira aos pais a possibilidade de protestar e exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no seu ambiente, não tem razão para depois se ir queixar', sublinha.
Há professores que são 'vítimas nas mãos dos alunos'.
Savater acusa igualmente as famílias de pensarem que 'ao pagar uma escola' deixa de ser necessário impor responsabilidade, alertando para a situação de muitos professores que estão 'psicologicamente esgotados' e que se transformam 'em autênticas vítimas nas mãos dos alunos'.
A liberdade, afirma, 'exige uma componente de disciplina' que obriga a que os docentes não estejam desamparados e sem apoio, nomeadamente das famílias e da sociedade.
'A boa educação é cara, mas a má educação é muito mais cara', afirma, recomendando aos pais que transmitam aos seus filhos a importância da escola e a importância que é receber uma educação, 'uma oportunidade e um privilégio'.
'Em algum momento das suas vidas, as crianças vão confrontar-se com a disciplina', frisa Fernando Savater.
Em conversa com jornalistas, o filósofo explicou que é essencial perceber que as crianças não são hoje mais violentas ou mais indisciplinadas do que antes; o problema é que 'têm menos respeito pela autoridade dos mais velhos'.
'Deixaram de ver os adultos como fontes de experiência e de ensinamento para os passarem a ver como uma fonte de incómodo. Isso leva-os à rebeldia', afirmou.
Daí que, mais do que reformas dos códigos legislativos ou das normas em vigor, é essencial envolver toda a sociedade, admitindo Savater que 'mais vale dar uma palmada, no momento certo' do que permitir as situações que depois se criam.
Como alternativa à palmada, o filósofo recomenda a supressão de privilégios e o alargamento dos deveres.
Especialistas reunidos em Espanha
Aumento da violência nas escolas reflecte crise de autoridade familiar
Especialistas em educação reunidos na cidade espanhola de Valência defenderam hoje que o aumento da violência escolar deve-se, em parte, a uma crise de autoridade familiar, pelo facto de os pais renunciarem a impor disciplina aos filhos, remetendo essa responsabilidade para os professores.
Os participantes no encontro 'Família e Escola: um espaço de convivência', dedicado a analisar a importância da família como agente educativo, consideram que é necessário evitar que todo o peso da autoridade sobre os menores recaia nas escolas.
'As crianças não encontram em casa a figura de autoridade', que é um elemento fundamental para o seu crescimento, disse o filósofo Fernando Savater.
'As famílias não são o que eram antes e hoje o único meio com que muitas crianças contactam é a televisão, que está sempre em casa', sublinhou.
Para Savater, os pais continuam 'a não querer assumir qualquer autoridade', preferindo que o pouco tempo que passam com os filhos 'seja alegre' e sem conflitos e empurrando o papel de disciplinador quase exclusivamente para os professores.
No entanto, e quando os professores tentam exercer esse papel disciplinador, 'são os próprios pais e mães que não exerceram essa autoridade sobre os filhos que tentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os', acusa..
'O abandono da sua responsabilidade retira aos pais a possibilidade de protestar e exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no seu ambiente, não tem razão para depois se ir queixar', sublinha.
Há professores que são 'vítimas nas mãos dos alunos'.
Savater acusa igualmente as famílias de pensarem que 'ao pagar uma escola' deixa de ser necessário impor responsabilidade, alertando para a situação de muitos professores que estão 'psicologicamente esgotados' e que se transformam 'em autênticas vítimas nas mãos dos alunos'.
A liberdade, afirma, 'exige uma componente de disciplina' que obriga a que os docentes não estejam desamparados e sem apoio, nomeadamente das famílias e da sociedade.
'A boa educação é cara, mas a má educação é muito mais cara', afirma, recomendando aos pais que transmitam aos seus filhos a importância da escola e a importância que é receber uma educação, 'uma oportunidade e um privilégio'.
'Em algum momento das suas vidas, as crianças vão confrontar-se com a disciplina', frisa Fernando Savater.
Em conversa com jornalistas, o filósofo explicou que é essencial perceber que as crianças não são hoje mais violentas ou mais indisciplinadas do que antes; o problema é que 'têm menos respeito pela autoridade dos mais velhos'.
'Deixaram de ver os adultos como fontes de experiência e de ensinamento para os passarem a ver como uma fonte de incómodo. Isso leva-os à rebeldia', afirmou.
Daí que, mais do que reformas dos códigos legislativos ou das normas em vigor, é essencial envolver toda a sociedade, admitindo Savater que 'mais vale dar uma palmada, no momento certo' do que permitir as situações que depois se criam.
Como alternativa à palmada, o filósofo recomenda a supressão de privilégios e o alargamento dos deveres.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Assim demonstra o que é a NATO
A NATO prepara-se para intervir na Líbia. O programa adoptado no seu encontro recente em Lisboa "permite-lhe". Isto é, a NATO permite-se intervir sempre e onde lhe apetece. A pretexto de qualquer coisa (o pretexto é a justiticação do seu papel de polícia). Certo é que o regime de Kadhafi está fornecer-lhe de bandeja o pretexto. A intervenção militar na Líbia é um antigo desejo da NATO. Faltava-lhe a oportunidade e um bom pretexto (mesmo assim, interveio - os E.U.A.-, bombardeando a residência de Kadhafi).
Pelo seu lado, Kadhafi agita o papão da Al-Kaheda para afugentar a NATO (e para justificar o terror que instalou).
Pelo seu lado, Kadhafi agita o papão da Al-Kaheda para afugentar a NATO (e para justificar o terror que instalou).
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
O crepúsculo dos deuses
O auto-intitulado "Líder da Revolução", o autor do famoso "Livro Verde", ditador paternalista da Líbia, ocupante do poder há quarenta anos, descendente da dinastia que realizou a revolução nacionalista da Líbia nos anos cinquenta, está em maus lençóis. Os "de baixo" já não suportam os "de cima", e "os de cima" já não aguentam os "de baixo". O livrinho "verde", se não chega a ter a triste memória do famigerado livrinho "Vermelho" do falecido Mao, tem, no entanto, feias manchas negras (a tragédia do avião britânico de passageiros tem causas mais do que suspeitas). Kadhafi fomentou em tempos passados muitas expectativas e até elogios de variados quadrantes das esquerdas do Ocidente e do Extremo Oriente. Nacionalizara os recursos nacionais (a imensa e cobiçada riqueza petrolífera), expulsara os abutres do imperialismo, afrontara com firmeza os E.U.A. e as potências neo-colonialistas europeias, desempenhara um papel decisivo na unidade africana que tentou sacudir o jugo colonial e neo-colonial, transformou um país desértico e escassamente povoado numa potência regional, canalizou a água de um lençol friático e irrigou as areias, não cometeu as barbaridades de que era acusado pelo imperialismo e suas agências mundiais de contra-informação, foi alvo de um bombardeamento assassino que quase o matou no seu próprio palácio. Em suma: o imperialismo odiava-o e, ao que parecia, o povo amava-o, ou, pelo menos, consentia-o.
O lado mau da história, porém, não pára nunca: um autoritarismo cada vez mais megalómano e ditatorial, uma dinastia corrupta (a ver pelos filhos e enteados), um Corpo de legionários ferozes, um isolamento internacional sem remédio...Kadhafi, o visionário, passou à história (pelo lado mau). O seu discurso televisionado contra os opositores é uma peça inesquecível de maldade, ressentimento e loucura desesperada.
Neste entretanto o imperialismo mostra a sua ganância e a sua ânsia de invadir a Líbia a pretexto de. Gostava de Mubarak, seu fantoche preferido, odeia Kadhafi.
Todavia, Kadhafi, hoje, não merece o amor de ninguém. Exceto dos seus apoiantes fanáticos que percorrem as ruas como um exército fantasma, de sombras e de zombies. O horror de um fim de festa.
O lado mau da história, porém, não pára nunca: um autoritarismo cada vez mais megalómano e ditatorial, uma dinastia corrupta (a ver pelos filhos e enteados), um Corpo de legionários ferozes, um isolamento internacional sem remédio...Kadhafi, o visionário, passou à história (pelo lado mau). O seu discurso televisionado contra os opositores é uma peça inesquecível de maldade, ressentimento e loucura desesperada.
Neste entretanto o imperialismo mostra a sua ganância e a sua ânsia de invadir a Líbia a pretexto de. Gostava de Mubarak, seu fantoche preferido, odeia Kadhafi.
Todavia, Kadhafi, hoje, não merece o amor de ninguém. Exceto dos seus apoiantes fanáticos que percorrem as ruas como um exército fantasma, de sombras e de zombies. O horror de um fim de festa.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Wall Street contra os pobres e a classe média: O orçamento 2012 de Obama é uma ferramenta da guerra de classe
O novo orçamento de Obama é uma continuação da guerra de classe da Wall Street contra os pobres e as camadas médias.
A Wall Street não acabou connosco quando os banksters venderam os seus derivativos fraudulentos aos nossos fundos de pensão, arruinaram as perspectivas de empregos e planos de aposentação dos americanos, asseguraram um salvamento de US$700 mil milhões a expensas dos contribuintes enquanto arrestavam os lares de milhões de americanos e sobrecarregavam o balanço da Reserva Federal com vários milhões de milhões de dólares papel financeiro lixo em troca de dinheiro recem criado para escorar os balanços dos bancos.
O efeito da "facilidade quantitativa" da Reserva Federal sobre a inflação, as taxas de juro e o valor cambial do dólar ainda está para nos atingir. Quando o fizer, os americanos obterão uma lição do que é a pobreza.
As oligarquias dominantes atacaram novamente, desta vez através do orçamento federal. O governo dos EUA tem um enorme orçamento militar e de segurança. Ele é tão grande quanto os orçamentos do resto do mundo somados. Os orçamentos do Pentágono, da CIA e da Segurança Interna representam US$1,1 milhão de milhões do défice federal que a administração Obama prevê para o ano fiscal de 2012. Este gasto deficitário maciço serve apenas a um único propósito – o enriquecimento de companhias privadas que servem o complexo militar/securitário. Estas companhias, juntamente com aquelas da Wall Street, são quem elege o governo dos EUA.
Os EUA não têm inimigos excepto aqueles que os próprios EUA criam ao bombardearem e invadirem outros países e pelo derrube de líderes estrangeiros e instalação de fantoches americanos no seu lugar.
A China não efectua exercícios navais ao largo da costa da Califórnia, mas os EUA efectuam jogos de guerra junto às suas costas no Mar da China. A Rússia não concentra tropas nas fronteiras da Europa, os EUA instalam mísseis nas fronteiras da Rússia. Os EUA estão determinados a criar tantos inimigos quanto possível a fim de continuar a sangrar a população americana para alimentar o voraz complexo militar/securitário.
O governo dos EUA gasta realmente US$56 mil milhões por ano a fim de que os americanos que viajam de avião possam ser porno-rastreados e sexualmente tacteados de modo a que firmas representadas pelo antigo secretário da Segurança Interna Michael Chertoff possam ganhar grandes lucros vendendo o equipamento de rastreamento (scanning).
Com um défice orçamental perpétuo conduzido pelo desejo de lucros do complexo militar/securitário, a causa real do enorme défice do orçamento dos EUA está fora dos limites para discussão.
O secretário belicista da Guerra, Robert Gates, declarou: "Se evitarmos as nossas responsabilidades da segurança global é sob o nosso risco". As altas patentes militares advertem contra o corte de qualquer dos milhares de milhões de ajuda a Israel e ao Egipto, dois dos funcionários da sua "política" para o Médio Oriente.
Mas o que são as "nossas" responsabilidades globais de segurança? De onde vieram? Por que a América ficaria em perigo se cessasse de bombardear e invadir outros países e de interferir nos seus assuntos internos? Os riscos que a América enfrenta são criados por ela própria.
A resposta a esta pergunta costumava ser que do contrário seríamos assassinados nas nossas camas pela "conspiração comunista mundial". Hoje a resposta é que seremos assassinados nos nossos aviões, estações de comboios e centros comerciais por "terroristas muçulmanos" e por uma recem criada ameaça imaginária – "extremistas internos", isto é, manifestantes contra a guerra e ambientalistas.
O complexo militar/securitário dos EUA é capaz de criar qualquer número de invencionices (false flag) a fim de fazer com que estas ameaças pareçam reais para um público cuja inteligência é limitada à TV, experiências em centros comerciais e jogos de futebol.
Assim os americanos estão fincados em enormes défices orçamentais que a Reserva Federal deve financiar imprimindo dinheiro novo, dinheiro que mais cedo ou mais tarde destruirá o poder de compra do dólar e o seu papel como divisa de reserva mundial. Quando o dólar se for, o poder americano também irá.
Para as oligarquias dominantes, a questão é: como salvar o seu poder.
A sua resposta é: fazer o povo pagar.
E isso é o que o seu mais recente fantoche, o presidente Obama, está a fazer.
Com os EUA na pior recessão desde a Grande Depressão, uma grande recessão que John Williams e Gerald Celente, assim como eu próprio, afirmaram estar a aprofundar-se, o "orçamento Obama" tem como objectivo programas de apoio para os pobres e os desempregados. As elites americanas estão a transformar-se em idiotas quando procuram replicar na América as condições que levaram aos derrubes de elites analogamente corruptas na Tunísia e no Egipto e a desafios crescentes aos demais governos fantoches.
Tudo o que precisamos é de uns poucos milhões mais de americanos sem nada a perder a fim de trazer as perturbações no Médio Oriente para dentro da América.
Com os militares estado-unidenses atolados em guerras lá fora, uma revolução americana teria óptima oportunidade de êxito.
Políticos americanos têm de financiar Israel pois o dinheiro retorna em contribuições de campanha.
O governo dos EUA deve financiar os militares egípcios para haver alguma esperança de transformar o próximo governo egípcio em outro fantoche americano que servirá Israel pelo bloqueio contínuo dos palestinos arrebanhados no gueto de Gaza.
Estes objectivos são de longe mais importantes para a elite americana do que o Pell Grants que permite a americanos pobres obterem educação, ou água limpa, ou block grants comunitários, ou o programa de assistência em energia aos baixos rendimentos (cortado na mesma quantia em que os contribuintes americanos são forçados a dar a Israel).
Também há US$7.700 milhões de cortes no Medicaid e outros programas de saúde ao longo dos próximos cinco anos.
Dada a magnitude do défice orçamental dos EUA, estas somas são uma ninharia. Os cortes não terão qualquer efeito sobre as necessidades de financiamento do Tesouro. Eles não interromperão a necessidade de imprimir dinheiro do Federal Reserve a fim de manter o governo dos EUA em operação.
Estes cortes servem apenas uma finalidade: reforçar o mito do Partido Republicano de que a América está em perturbação económica por causa dos pobres. Os pobres são preguiçosos. Eles não querem trabalhar. A única razão porque o desemprego é alto é que os pobres preferem confiar no estado previdência.
Um novo acréscimo ao mito do estado previdência é que membros da classe média saídos recentemente de faculdades não querem os empregos que lhes são oferecidos porque os seus pais têm demasiado dinheiro e os rapazes gostam de viver em casa sem terem de fazer nada. Uma geração mimada, eles saem da universidade recusando qualquer emprego que não seja para começar como executivo principal de uma companhia da Fortune 500. A razão porque licenciados em engenharia não conseguem entrevistas de emprego é que não os querem.
Tudo isto leva a um assalto aos "direitos adquiridos", o que significa Segurança Social e Medicare. As elites programaram, através do seu controle dos media, uma grande parte da população, especialmente os que se consideram conservadores, a assimilar o conceito de "direitos adquiridos" ao de estado previdência. A América está a ir para o inferno não por causa de guerras externas que não servem qualquer objectivo americano, mas porque o povo, que durante toda a sua vida pagou 15% das suas remunerações para pensões de velhice e cuidados médicos, quer "dádivas" nos seus anos de aposentação. Por que estas pessoas egocêntricas pensam que trabalhadores americanos deveriam ser forçados através de contribuições sobre remunerações a pagar as pensões e cuidados médicos dos afastados do trabalho? Porque os afastados não consomem menos e preparam a sua própria aposentação?
A linha da elite, e a dos seus porta-vozes contratados em "think tanks" e universidades, é de que a América está perturbada devido aos afastados do trabalho.
Demasiados americanos tiveram os seus cérebros lavados a fim de acreditar que a América está em perturbação por causa dos seus pobres e afastados do trabalho. A América não está perturbada porque coage um número decrescente de contribuintes a suportarem os enormes lucros do complexo militar/securitário, governos fantoche americanos lá fora e Israel.
A solução da elite americana para os problemas da América não é simplesmente arrestar as casas dos americanos cujos empregos foram exportados, mas aumentar o número de americanos aflitos com nada a perder, de doentes, afastados do trabalho e privados de tudo e de licenciados das universidades que não podem encontrar os empregos que foram enviados para a China e a Índia.
De todos os países do mundo, nenhum necessita uma revolução tão urgentemente quanto os Estados Unidos, um país dominado por um punhado de oligarcas egoístas que têm mais rendimento e riqueza do que pode ser gasto durante toda uma vida.
Ver também: Obama's Budget is a Fantastic Comedy
[*] Ex-editor do Wall Street Journal e ex-secretário assistente do Tesouro dos EUA. Seu livro mais recente, HOW THE ECONOMY WAS LOST , acaba de ser publicado pela CounterPunch/AK Press. PaulCraigRoberts@yahoo.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/roberts02182011.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
A Wall Street não acabou connosco quando os banksters venderam os seus derivativos fraudulentos aos nossos fundos de pensão, arruinaram as perspectivas de empregos e planos de aposentação dos americanos, asseguraram um salvamento de US$700 mil milhões a expensas dos contribuintes enquanto arrestavam os lares de milhões de americanos e sobrecarregavam o balanço da Reserva Federal com vários milhões de milhões de dólares papel financeiro lixo em troca de dinheiro recem criado para escorar os balanços dos bancos.
O efeito da "facilidade quantitativa" da Reserva Federal sobre a inflação, as taxas de juro e o valor cambial do dólar ainda está para nos atingir. Quando o fizer, os americanos obterão uma lição do que é a pobreza.
As oligarquias dominantes atacaram novamente, desta vez através do orçamento federal. O governo dos EUA tem um enorme orçamento militar e de segurança. Ele é tão grande quanto os orçamentos do resto do mundo somados. Os orçamentos do Pentágono, da CIA e da Segurança Interna representam US$1,1 milhão de milhões do défice federal que a administração Obama prevê para o ano fiscal de 2012. Este gasto deficitário maciço serve apenas a um único propósito – o enriquecimento de companhias privadas que servem o complexo militar/securitário. Estas companhias, juntamente com aquelas da Wall Street, são quem elege o governo dos EUA.
Os EUA não têm inimigos excepto aqueles que os próprios EUA criam ao bombardearem e invadirem outros países e pelo derrube de líderes estrangeiros e instalação de fantoches americanos no seu lugar.
A China não efectua exercícios navais ao largo da costa da Califórnia, mas os EUA efectuam jogos de guerra junto às suas costas no Mar da China. A Rússia não concentra tropas nas fronteiras da Europa, os EUA instalam mísseis nas fronteiras da Rússia. Os EUA estão determinados a criar tantos inimigos quanto possível a fim de continuar a sangrar a população americana para alimentar o voraz complexo militar/securitário.
O governo dos EUA gasta realmente US$56 mil milhões por ano a fim de que os americanos que viajam de avião possam ser porno-rastreados e sexualmente tacteados de modo a que firmas representadas pelo antigo secretário da Segurança Interna Michael Chertoff possam ganhar grandes lucros vendendo o equipamento de rastreamento (scanning).
Com um défice orçamental perpétuo conduzido pelo desejo de lucros do complexo militar/securitário, a causa real do enorme défice do orçamento dos EUA está fora dos limites para discussão.
O secretário belicista da Guerra, Robert Gates, declarou: "Se evitarmos as nossas responsabilidades da segurança global é sob o nosso risco". As altas patentes militares advertem contra o corte de qualquer dos milhares de milhões de ajuda a Israel e ao Egipto, dois dos funcionários da sua "política" para o Médio Oriente.
Mas o que são as "nossas" responsabilidades globais de segurança? De onde vieram? Por que a América ficaria em perigo se cessasse de bombardear e invadir outros países e de interferir nos seus assuntos internos? Os riscos que a América enfrenta são criados por ela própria.
A resposta a esta pergunta costumava ser que do contrário seríamos assassinados nas nossas camas pela "conspiração comunista mundial". Hoje a resposta é que seremos assassinados nos nossos aviões, estações de comboios e centros comerciais por "terroristas muçulmanos" e por uma recem criada ameaça imaginária – "extremistas internos", isto é, manifestantes contra a guerra e ambientalistas.
O complexo militar/securitário dos EUA é capaz de criar qualquer número de invencionices (false flag) a fim de fazer com que estas ameaças pareçam reais para um público cuja inteligência é limitada à TV, experiências em centros comerciais e jogos de futebol.
Assim os americanos estão fincados em enormes défices orçamentais que a Reserva Federal deve financiar imprimindo dinheiro novo, dinheiro que mais cedo ou mais tarde destruirá o poder de compra do dólar e o seu papel como divisa de reserva mundial. Quando o dólar se for, o poder americano também irá.
Para as oligarquias dominantes, a questão é: como salvar o seu poder.
A sua resposta é: fazer o povo pagar.
E isso é o que o seu mais recente fantoche, o presidente Obama, está a fazer.
Com os EUA na pior recessão desde a Grande Depressão, uma grande recessão que John Williams e Gerald Celente, assim como eu próprio, afirmaram estar a aprofundar-se, o "orçamento Obama" tem como objectivo programas de apoio para os pobres e os desempregados. As elites americanas estão a transformar-se em idiotas quando procuram replicar na América as condições que levaram aos derrubes de elites analogamente corruptas na Tunísia e no Egipto e a desafios crescentes aos demais governos fantoches.
Tudo o que precisamos é de uns poucos milhões mais de americanos sem nada a perder a fim de trazer as perturbações no Médio Oriente para dentro da América.
Com os militares estado-unidenses atolados em guerras lá fora, uma revolução americana teria óptima oportunidade de êxito.
Políticos americanos têm de financiar Israel pois o dinheiro retorna em contribuições de campanha.
O governo dos EUA deve financiar os militares egípcios para haver alguma esperança de transformar o próximo governo egípcio em outro fantoche americano que servirá Israel pelo bloqueio contínuo dos palestinos arrebanhados no gueto de Gaza.
Estes objectivos são de longe mais importantes para a elite americana do que o Pell Grants que permite a americanos pobres obterem educação, ou água limpa, ou block grants comunitários, ou o programa de assistência em energia aos baixos rendimentos (cortado na mesma quantia em que os contribuintes americanos são forçados a dar a Israel).
Também há US$7.700 milhões de cortes no Medicaid e outros programas de saúde ao longo dos próximos cinco anos.
Dada a magnitude do défice orçamental dos EUA, estas somas são uma ninharia. Os cortes não terão qualquer efeito sobre as necessidades de financiamento do Tesouro. Eles não interromperão a necessidade de imprimir dinheiro do Federal Reserve a fim de manter o governo dos EUA em operação.
Estes cortes servem apenas uma finalidade: reforçar o mito do Partido Republicano de que a América está em perturbação económica por causa dos pobres. Os pobres são preguiçosos. Eles não querem trabalhar. A única razão porque o desemprego é alto é que os pobres preferem confiar no estado previdência.
Um novo acréscimo ao mito do estado previdência é que membros da classe média saídos recentemente de faculdades não querem os empregos que lhes são oferecidos porque os seus pais têm demasiado dinheiro e os rapazes gostam de viver em casa sem terem de fazer nada. Uma geração mimada, eles saem da universidade recusando qualquer emprego que não seja para começar como executivo principal de uma companhia da Fortune 500. A razão porque licenciados em engenharia não conseguem entrevistas de emprego é que não os querem.
Tudo isto leva a um assalto aos "direitos adquiridos", o que significa Segurança Social e Medicare. As elites programaram, através do seu controle dos media, uma grande parte da população, especialmente os que se consideram conservadores, a assimilar o conceito de "direitos adquiridos" ao de estado previdência. A América está a ir para o inferno não por causa de guerras externas que não servem qualquer objectivo americano, mas porque o povo, que durante toda a sua vida pagou 15% das suas remunerações para pensões de velhice e cuidados médicos, quer "dádivas" nos seus anos de aposentação. Por que estas pessoas egocêntricas pensam que trabalhadores americanos deveriam ser forçados através de contribuições sobre remunerações a pagar as pensões e cuidados médicos dos afastados do trabalho? Porque os afastados não consomem menos e preparam a sua própria aposentação?
A linha da elite, e a dos seus porta-vozes contratados em "think tanks" e universidades, é de que a América está perturbada devido aos afastados do trabalho.
Demasiados americanos tiveram os seus cérebros lavados a fim de acreditar que a América está em perturbação por causa dos seus pobres e afastados do trabalho. A América não está perturbada porque coage um número decrescente de contribuintes a suportarem os enormes lucros do complexo militar/securitário, governos fantoche americanos lá fora e Israel.
A solução da elite americana para os problemas da América não é simplesmente arrestar as casas dos americanos cujos empregos foram exportados, mas aumentar o número de americanos aflitos com nada a perder, de doentes, afastados do trabalho e privados de tudo e de licenciados das universidades que não podem encontrar os empregos que foram enviados para a China e a Índia.
De todos os países do mundo, nenhum necessita uma revolução tão urgentemente quanto os Estados Unidos, um país dominado por um punhado de oligarcas egoístas que têm mais rendimento e riqueza do que pode ser gasto durante toda uma vida.
Ver também: Obama's Budget is a Fantastic Comedy
[*] Ex-editor do Wall Street Journal e ex-secretário assistente do Tesouro dos EUA. Seu livro mais recente, HOW THE ECONOMY WAS LOST , acaba de ser publicado pela CounterPunch/AK Press. PaulCraigRoberts@yahoo.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/roberts02182011.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
domingo, 20 de fevereiro de 2011
José BARATA-MOURA (Filósofo)
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
José Adriano Rodrigues Barata-Moura (Lisboa, 26 de Junho de 1948) é um filósofo e cantor português.
Apesar de ter feito todos os estudos pré-universitários em França, foi em Portugal que obteve a licenciatura e o doutoramento em Filosofia, em 1970 e 1980, respectivamente. Reitor da Universidade de Lisboa, entre 1998 e 2006, é professor catedrático da respectiva Faculdade de Letras, desde 1986, onde foi também presidente do Conselho Directivo, de 1981 a 1982. Membro de várias sociedades científicas, foi presidente da Internationale Gesellschaft für dialektische Philosophie, de 1996 a 2000, é membro da Direcção da Internationale Gesellschaft Hegel-Marx für dialektisches Denken, desde 2000, integra o Senado Convent für Europäische Philosophie und Ideengeschichte, desde 1997, e o Conselho de Administração do Portal Universia Portugal, desde 2002. Foi eleito membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa (Classe de Letras), em 2008. Tem vários ensaios publicados, entre eles Kant e o conceito da Filosofia (1972), Da redução das causas em Aristóteles (1973), Estética da canção política (1977), Ideologia e prática (1978), Episteme – Perspectivas gregas sobre o saber. Heraclito, Platão, Aristóteles (1979), A realização da razão. Um programa hegeliano? (1990), Marx e a crítica da Escola Histórica de Direito (1994), Materialismo e subjectividade (1998) ou Estudos de Filosofia Portuguesa (1999).
Livros Publicados
Kant e o conceito de Filosofia, Lisboa, Sampedro, 1972.
Da redução das causas em Aristóteles, Lisboa, FUL, 1973.
Estética da canção política, Lisboa, Horizonte, 1977.
Totalidade e contradição, Lisboa, Horizonte, 1977.
Ideologia e Prática, Lisboa, Caminho, 1978.
EPISTEME. Perspectivas gregas sobre o saber. Heraclito-Platão-Aristóteles, Lisboa, ed. de autor (distrib. Cosmos), 1979.
Para uma crítica da "Filosofia dos valores", Lisboa, Horizonte, 1982.
Da representação à "práxis", Lisboa, Caminho, 1986.
Ontologias da "práxis", e idealismos, Lisboa, Caminho, 1986.
A "realização da razão" - um programa hegeliano?, Lisboa, Caminho, 1990.
Marx e a crítica da "Escola Histórica do Direito", Lisboa, Caminho, 1994.
Prática, Lisboa, Colibri, 1994.
Materialismo e subjectividade, Lisboa, Avante, 1998.
Estudos de Filosofia Portuguesa, Lisboa, Caminho, 1999.
O Outro Kant, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2007.
Estudos sobre a Ontologia de Hegel. Ser, Verdade, Contradição, Edições «Avante!», Lisboa, 2010.
Sobre Lénine e a Filosofia. A Reivindicação de uma Ontologia Materialista Dialéctica com Projecto, Edições «Avante!», Lisboa, 2010.
[editar] Discografia
(incompleta)
Vamos Brincar à Caridadezinha, LP, 1977
Balada do Bidonville, Single
Olha a Bola Manel, EP
Fungagá da Bicharada
A Charanga do Zé
A Mudança do Macaco Zacarias
Joana Come a Papa "Colecção de Maravilhas", edição da Strauss de 1993 - Colectânea com algumas músicas de discos anteriores.
Obra Infantil Completa de José Barata Moura, 4 CD's, 2005
José Adriano Rodrigues Barata-Moura (Lisboa, 26 de Junho de 1948) é um filósofo e cantor português.
Apesar de ter feito todos os estudos pré-universitários em França, foi em Portugal que obteve a licenciatura e o doutoramento em Filosofia, em 1970 e 1980, respectivamente. Reitor da Universidade de Lisboa, entre 1998 e 2006, é professor catedrático da respectiva Faculdade de Letras, desde 1986, onde foi também presidente do Conselho Directivo, de 1981 a 1982. Membro de várias sociedades científicas, foi presidente da Internationale Gesellschaft für dialektische Philosophie, de 1996 a 2000, é membro da Direcção da Internationale Gesellschaft Hegel-Marx für dialektisches Denken, desde 2000, integra o Senado Convent für Europäische Philosophie und Ideengeschichte, desde 1997, e o Conselho de Administração do Portal Universia Portugal, desde 2002. Foi eleito membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa (Classe de Letras), em 2008. Tem vários ensaios publicados, entre eles Kant e o conceito da Filosofia (1972), Da redução das causas em Aristóteles (1973), Estética da canção política (1977), Ideologia e prática (1978), Episteme – Perspectivas gregas sobre o saber. Heraclito, Platão, Aristóteles (1979), A realização da razão. Um programa hegeliano? (1990), Marx e a crítica da Escola Histórica de Direito (1994), Materialismo e subjectividade (1998) ou Estudos de Filosofia Portuguesa (1999).
Livros Publicados
Kant e o conceito de Filosofia, Lisboa, Sampedro, 1972.
Da redução das causas em Aristóteles, Lisboa, FUL, 1973.
Estética da canção política, Lisboa, Horizonte, 1977.
Totalidade e contradição, Lisboa, Horizonte, 1977.
Ideologia e Prática, Lisboa, Caminho, 1978.
EPISTEME. Perspectivas gregas sobre o saber. Heraclito-Platão-Aristóteles, Lisboa, ed. de autor (distrib. Cosmos), 1979.
Para uma crítica da "Filosofia dos valores", Lisboa, Horizonte, 1982.
Da representação à "práxis", Lisboa, Caminho, 1986.
Ontologias da "práxis", e idealismos, Lisboa, Caminho, 1986.
A "realização da razão" - um programa hegeliano?, Lisboa, Caminho, 1990.
Marx e a crítica da "Escola Histórica do Direito", Lisboa, Caminho, 1994.
Prática, Lisboa, Colibri, 1994.
Materialismo e subjectividade, Lisboa, Avante, 1998.
Estudos de Filosofia Portuguesa, Lisboa, Caminho, 1999.
O Outro Kant, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2007.
Estudos sobre a Ontologia de Hegel. Ser, Verdade, Contradição, Edições «Avante!», Lisboa, 2010.
Sobre Lénine e a Filosofia. A Reivindicação de uma Ontologia Materialista Dialéctica com Projecto, Edições «Avante!», Lisboa, 2010.
[editar] Discografia
(incompleta)
Vamos Brincar à Caridadezinha, LP, 1977
Balada do Bidonville, Single
Olha a Bola Manel, EP
Fungagá da Bicharada
A Charanga do Zé
A Mudança do Macaco Zacarias
Joana Come a Papa "Colecção de Maravilhas", edição da Strauss de 1993 - Colectânea com algumas músicas de discos anteriores.
Obra Infantil Completa de José Barata Moura, 4 CD's, 2005
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
NOBERTO BOBBIO
Qual socialismo?
Filosofia e Questões Teóricas
Leandro Konder (filósofo)
Dom, 19 de Outubro de 2008 14:57
A experiência histórica do movimento socialista, em suas formas cada vez mais variadas, ensina que o socialismo só avança quando consegue se renovar. E, atualmente, ela já ensina, também, que a reflexão socialista precisa de interlocutores “externos”, quer dizer, precisa ─ para renovar-se ─ do diálogo com linhas de pensamento não comprometidas com os projetos socialistas.
Renovar-se não é uma operação simples, automática; é um processo nque passa por autocríticas intranqüilizadoras, freqüentemente dolorosas. Em sociedades politicamente complexas, os sujeitos empenhados em transformar as relações sociais precisam se criticar mutuamente, se reeducar, uns aos outros. A eficácia da autocrítica depende da liberdade de crítica assegurada aos outros. A verdadeira renovação passa a depender, cada vez mais, do pluralismo.
Por isso, a vanguarda do pensamento marxista está muito empenhada, hoje, numa revalorização do pluralismo. E os marxistas de vanguarda, na Itália, já se deram conta da extrema importância de um interlocutor como Noberto Bobbio.
Bobbio, pensador político, professor de filosofia do direito, é um homem de imensa cultura e estupenda honestidade intelectual. É um liberal que estudou Marx, conhece os meandros do pensamento marxista e não se sente nem um pouco constrangido em acolher tudo o que nele lhe parece bom. É exatamente essa abertura em face de Marx que lhe permite, por outro lado, questionar de maneira bastante despreconceituosa e fecunda uma série de aspectos da perspectiva filosófica e política do pensador alemão.
A história do século XX mostra que a conquista do poder, nas revoluções, não resolve o problema de como exercê-lo. Nenhuma revolução, até agora, enfrentou seriamente a questão das garantias contra os abusos do poder. A teoria da ditadura do proletariado deu no que deu. Bobbio, então, nos incita a refletir sobre a concepção do Estado em Marx: uma concepção que precisa de desenvolvimentos, complementações e ─ também ─ correções, revisões.
Não temos o direito de nos esquivar ao exame das questões relativas a como o poder se exerce. Os riscos de uma omissão, nas condições atuais, seriam enormes. A humanidade está duplamente ameaçada de extinção, diz Bobbio: pela guerra atômica e pelo esgotamento dos recursos do planeta. Seríamos sumamente insensatos se não nos dispuséssemos a aprender um pouco sobre as condições ─ não necessariamente mais humanas, porém menos ferozes ─ que podemos criar para o exercício do poder.
A tarefa é grave e delicada. Cumpre enfrentá-la com prudência. Bobbio sabe disso e evita se4 apresentar como “dono da verdade”. Seu método lembra o do velho Sócrates: ele aparece diante de nós como um arguto perguntador. Não é casual que todos os ensaios deste volume tenham títulos interrogativos. Qual Socialismo? ─ como notou Celso Láfer ─ contém perguntas “incisivas e bem formuladas”, relativas a temas para os quais Bobbio não pretende ter “respostas definitivas”.
[Texto de orelha de Leandro Konder In BOBBIO, Noberto. Qual socialismo?: debate sobre uma alternativa. Tradução de Iza de Salles Freaza. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.]
Leandro Konder é filósofo marxista e escritor.
(in Fundação Lauro Campos - Socialismo e Liberdade)
Filosofia e Questões Teóricas
Leandro Konder (filósofo)
Dom, 19 de Outubro de 2008 14:57
A experiência histórica do movimento socialista, em suas formas cada vez mais variadas, ensina que o socialismo só avança quando consegue se renovar. E, atualmente, ela já ensina, também, que a reflexão socialista precisa de interlocutores “externos”, quer dizer, precisa ─ para renovar-se ─ do diálogo com linhas de pensamento não comprometidas com os projetos socialistas.
Renovar-se não é uma operação simples, automática; é um processo nque passa por autocríticas intranqüilizadoras, freqüentemente dolorosas. Em sociedades politicamente complexas, os sujeitos empenhados em transformar as relações sociais precisam se criticar mutuamente, se reeducar, uns aos outros. A eficácia da autocrítica depende da liberdade de crítica assegurada aos outros. A verdadeira renovação passa a depender, cada vez mais, do pluralismo.
Por isso, a vanguarda do pensamento marxista está muito empenhada, hoje, numa revalorização do pluralismo. E os marxistas de vanguarda, na Itália, já se deram conta da extrema importância de um interlocutor como Noberto Bobbio.
Bobbio, pensador político, professor de filosofia do direito, é um homem de imensa cultura e estupenda honestidade intelectual. É um liberal que estudou Marx, conhece os meandros do pensamento marxista e não se sente nem um pouco constrangido em acolher tudo o que nele lhe parece bom. É exatamente essa abertura em face de Marx que lhe permite, por outro lado, questionar de maneira bastante despreconceituosa e fecunda uma série de aspectos da perspectiva filosófica e política do pensador alemão.
A história do século XX mostra que a conquista do poder, nas revoluções, não resolve o problema de como exercê-lo. Nenhuma revolução, até agora, enfrentou seriamente a questão das garantias contra os abusos do poder. A teoria da ditadura do proletariado deu no que deu. Bobbio, então, nos incita a refletir sobre a concepção do Estado em Marx: uma concepção que precisa de desenvolvimentos, complementações e ─ também ─ correções, revisões.
Não temos o direito de nos esquivar ao exame das questões relativas a como o poder se exerce. Os riscos de uma omissão, nas condições atuais, seriam enormes. A humanidade está duplamente ameaçada de extinção, diz Bobbio: pela guerra atômica e pelo esgotamento dos recursos do planeta. Seríamos sumamente insensatos se não nos dispuséssemos a aprender um pouco sobre as condições ─ não necessariamente mais humanas, porém menos ferozes ─ que podemos criar para o exercício do poder.
A tarefa é grave e delicada. Cumpre enfrentá-la com prudência. Bobbio sabe disso e evita se4 apresentar como “dono da verdade”. Seu método lembra o do velho Sócrates: ele aparece diante de nós como um arguto perguntador. Não é casual que todos os ensaios deste volume tenham títulos interrogativos. Qual Socialismo? ─ como notou Celso Láfer ─ contém perguntas “incisivas e bem formuladas”, relativas a temas para os quais Bobbio não pretende ter “respostas definitivas”.
[Texto de orelha de Leandro Konder In BOBBIO, Noberto. Qual socialismo?: debate sobre uma alternativa. Tradução de Iza de Salles Freaza. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.]
Leandro Konder é filósofo marxista e escritor.
(in Fundação Lauro Campos - Socialismo e Liberdade)
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
As contra-revoluções emergentes na Tunísia e no Egipto
por Mahdi Darius Nazemroaya
Um faraó arrogante caiu. Os egípcios podem estar a cantar que o seu país é livre, mas a sua luta está longe de terminada. A República Árabe Unida do Egipto ainda não é livre. O velho regime e o seu aparelho ainda estão ali e à espera de que assente o pó. Os militares egípcios estão oficialmente a controlar o país e a contra-revolução está a emergir. Uma nova fase da luta pela liberdade iniciou-se.
As chamadas "fases de transição" pretendidas para os regimes na Tunísia e no Egipto estão a ser usadas para comprar tempo a fim de fazer três coisas. O primeiro objectivo é desgastar e finalmente as exigências populares. A segunda meta é actuar para preservar políticas económicas neoliberais, as quais serão utilizadas para subverter o sistema político e reforçar o colete-de-forças das dívidas externas. Finalmente, a terceira motivação e objectivo é a preparação da contra-revolução.
Os auto-seleccionados "homens sábios" do Egipto
Figuras desqualificadas estão a emergir, as quais afirmar estar a falar ou a liderar o povo árabe. Isto inclui o chamado comité de "homens sábios" no Egipto. Estas figuras não eleitas estão supostamente a negociar com o regime de Mubarak em nome da população egípcia, mas eles não têm legitimidade como representantes do povo. O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, está entre eles. O secretário-geral Moussa disse também que está interessado em tornar-se ministro num futuro gabinete no Cairo. Todas estas figuras são ou de dentro do regime ou agentes do status quo.
Dentre estes indivíduos auto-designados está também o chefe da Orascom Telecom Holdings (O.T.H.) S.A.E., o multimilionário egípcio Naguib Sawiris. A Bloomberg Newsweek tinha isto a dizer acerca de Sawiri: "A maior parte dos homens de negócio egípcios estão a comportar-se discretamente nestes dias. Os manifestantes na Praça Tahrir do Cairo culpam-nos pelos males do Egipto e multidões até destruíram algumas das suas propriedades. Mas o mais eminente magnata do Egipto, Naguib Sawiris, presidente da Orascom Telecom Holding, a maior companhia de telecomunicações do Médio Oriente, está no Cairo a receber chamadas no seu telemóvel, a aparecer na TV e (como membro de um comité informal de "homens sábios") a negociar com o recém nomeado vice-presidente Omar Suleiman uma transferência gradual de poder do presidente Hosni Mubarak. Longe de desanimado, o multimilionário pensa que uma economia egípcia mais vibrante pode emergir da tempestade". [1]
Os chamados "homens sábios" no Egipto estão envolvidos em bravatas. Para quem está o poder a ser "gradualmente transferido"? Uma outra figura não eleita, como Suleiman?
Qual é a natureza das negociações? Partilha de poder entre um regime não eleito e uma nova casta? Não há nada a negociar com déspotas não eleitos. O papel que os "homens sábios" desempenham é o de uma "oposição fabricada" que manterá em vigor os interesses por trás do regime Mubarak e diluirá também os movimentos de oposição real no Egipto.
Poderes ditatoriais dados a Al-Mebazaa enquanto militares da reserva tunisina são mobilizados
Na Tunísia, militares da reserva estão a ser convocados para administrar os manifestantes. [2] A mobilização dos militares tunisinos foi justificada com o pretexto de combater o desrespeito à lei e a violência. O próprio regime tunisino tem estado por trás da maior parte destes desrespeitos e violências.
Em simultâneo com a mobilização de reservistas tunisinos, ao presidente interino da Tunísia, Fouad Al-Mebazaa, foram atribuídos poderes ditatoriais. [3] Al Mebazaa foi o homem que Ben Ali escolheu como porta-voz parlamentar da Tunísia e foi uma figura de proa dentro do partido Constitutional Democratic Rally (CDP) de Ben Ali. Os manifestantes tentaram pacificamente impedir os membros do parlamento tunisino de votarem a concessão de poderes ditatoriais a Al-Mebazaa bloqueando a entrada no parlamento tunisino.
Todos os membros do parlamento tunisino são do "velho regime". Em meio a protestos, o parlamento tunisino ainda conseguiu avançar com o plano: "Legisladores finalmente contornaram os manifestantes entrando na sala de votação através de uma porta de serviço, informou a agência de notícias TAP . Numa votação de 177 a 16, a câmara baixa aprovou o plano de dar ao presidente interino Fouad Mebazaa poderes temporários para aprovar leis por decreto". [4] No dia seguinte, o senado tunisino ratificou isto. [5]
Al-Mebazza agora pode escolher governadores e responsáveis à vontade, mudar leis eleitorais, conceder amnistia a quem quer que seja e contornar todas as instituições do estado tunisino através dos seus decretos. A aprovação da moção para dar a Al-Mebazaa esta quantidade de poderes ditatoriais é uma ilustração das facetas da "democracia cosmética". Este acto do parlamento canguru da Tunísia faz-se passar como um acto democrático de votação, mas na realidade todos os seus membros foram escolhido não democraticamente pelo regime Ben Ali.
Os generais egípcios e o vice-presidente Suleiman são uma continuação de Mubarak
No Egipto, os comandantes militares declararam não permitir que as manifestações continuem por muito mais tempo. As lideranças militares do Egipto estão fortemente envolvidas no status quo cleptocrático do regime Mubarak. Os generais egípcios ou os oficiais condecorados são todos membros ricos da classe capitalista egípcia. Sem quaisquer distinções, a lideranças dos militares egípcios e o regime Mubarak são uma e a mesma coisa. Todas as figuras chave no regime Mubarak saíram das fileiras dos militares.
Omar Suleiman, o recém-nomeado vice-presidente do Egipto e o general que foi antigo chefe dos serviços de inteligência do Egipto, começou por voltar atrás nas promessas feitas pelo regime Mubarak e ele próprio. O New York Times informou que "Omar Suleiman do Egipto afirma que não pensa ser tempo de suspender a velha lei de emergência com 30 anos que tem sido utilizada para suprimir e aprisionar líderes da oposição". [6] Poucos dias antes da resignação de Mubarak, Suleiman declarara: "Ele não pensa que o presidente Hosni Mubarak precise resignar antes do fim do seu mandato em Setembro [2011]. E não pensa que [o Egipto] esteja pronto para a democracia". [7]
Foram ganhas batalhas, mas a luta continua...
Os riscos estão a ficar mais altos. O povo da Tunísia e do Egipto deveria estar consciente de que os governos dos EUA e da União Europeia estão a cobrir politicamente as suas apostas. Eles apoiam as contra-revoluções dos velhos regimes, mas também estão a trabalhar para cooptar e controlar os resultados dos movimentos de protesto. Em outro desenvolvimento, os EUA e a NATO também estão a fazer posicionamentos navais no Mediterrâneo Oriental. Especificamente com o Egipto em mente, isto também poderia significar ajuda à contra-revolução, mas também poderá ser utilizada contra uma revolução com êxito.
Os acontecimentos na Tunísia e no Egipto demonstraram estarem erradas todas as falsas suposições acerca dos povos árabes. Os povos tunisino e egípcio actuaram pacificamente inteligentemente. Eles também provaram que a suposição de uma cultura política avançada na Europa Ocidental, América do Norte ou Austrália é simplesmente um contra-senso absoluto utilizado para justificar a repressão de outros povos.
12/Fevereiro/2011
Notas
[1] Stanley Reed, "Egypt's Telecom Mogul Embraces Uprising," Bloomberg Businessweek, February 10, 2011.
[2] "Tunisia calls up reserve troops amid unrest," Associated Press (AP), February 7, 2011.
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] Kaouther Larbi, "Tunisia Senate grants leader wide powers," Agence France-Presse (AFP), February 10, 2011.
[6] Helene Cooper and David E. Sanger, "In Egypt, US Weighs Push For Change With Stability," The New York Times, February 8, 2011, A1.
[7] Ibid.
The CRG grants permission to cross-post original Global Research articles on community internet sites as long as the text & title are not modified. The source and the author's copyright must be displayed. For publication of Global Research articles in print or other forms including commercial internet sites, contact: crgeditor@yahoo.com
Global Research Articles by Mahdi Darius Nazemroaya
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23179
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Um faraó arrogante caiu. Os egípcios podem estar a cantar que o seu país é livre, mas a sua luta está longe de terminada. A República Árabe Unida do Egipto ainda não é livre. O velho regime e o seu aparelho ainda estão ali e à espera de que assente o pó. Os militares egípcios estão oficialmente a controlar o país e a contra-revolução está a emergir. Uma nova fase da luta pela liberdade iniciou-se.
As chamadas "fases de transição" pretendidas para os regimes na Tunísia e no Egipto estão a ser usadas para comprar tempo a fim de fazer três coisas. O primeiro objectivo é desgastar e finalmente as exigências populares. A segunda meta é actuar para preservar políticas económicas neoliberais, as quais serão utilizadas para subverter o sistema político e reforçar o colete-de-forças das dívidas externas. Finalmente, a terceira motivação e objectivo é a preparação da contra-revolução.
Os auto-seleccionados "homens sábios" do Egipto
Figuras desqualificadas estão a emergir, as quais afirmar estar a falar ou a liderar o povo árabe. Isto inclui o chamado comité de "homens sábios" no Egipto. Estas figuras não eleitas estão supostamente a negociar com o regime de Mubarak em nome da população egípcia, mas eles não têm legitimidade como representantes do povo. O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, está entre eles. O secretário-geral Moussa disse também que está interessado em tornar-se ministro num futuro gabinete no Cairo. Todas estas figuras são ou de dentro do regime ou agentes do status quo.
Dentre estes indivíduos auto-designados está também o chefe da Orascom Telecom Holdings (O.T.H.) S.A.E., o multimilionário egípcio Naguib Sawiris. A Bloomberg Newsweek tinha isto a dizer acerca de Sawiri: "A maior parte dos homens de negócio egípcios estão a comportar-se discretamente nestes dias. Os manifestantes na Praça Tahrir do Cairo culpam-nos pelos males do Egipto e multidões até destruíram algumas das suas propriedades. Mas o mais eminente magnata do Egipto, Naguib Sawiris, presidente da Orascom Telecom Holding, a maior companhia de telecomunicações do Médio Oriente, está no Cairo a receber chamadas no seu telemóvel, a aparecer na TV e (como membro de um comité informal de "homens sábios") a negociar com o recém nomeado vice-presidente Omar Suleiman uma transferência gradual de poder do presidente Hosni Mubarak. Longe de desanimado, o multimilionário pensa que uma economia egípcia mais vibrante pode emergir da tempestade". [1]
Os chamados "homens sábios" no Egipto estão envolvidos em bravatas. Para quem está o poder a ser "gradualmente transferido"? Uma outra figura não eleita, como Suleiman?
Qual é a natureza das negociações? Partilha de poder entre um regime não eleito e uma nova casta? Não há nada a negociar com déspotas não eleitos. O papel que os "homens sábios" desempenham é o de uma "oposição fabricada" que manterá em vigor os interesses por trás do regime Mubarak e diluirá também os movimentos de oposição real no Egipto.
Poderes ditatoriais dados a Al-Mebazaa enquanto militares da reserva tunisina são mobilizados
Na Tunísia, militares da reserva estão a ser convocados para administrar os manifestantes. [2] A mobilização dos militares tunisinos foi justificada com o pretexto de combater o desrespeito à lei e a violência. O próprio regime tunisino tem estado por trás da maior parte destes desrespeitos e violências.
Em simultâneo com a mobilização de reservistas tunisinos, ao presidente interino da Tunísia, Fouad Al-Mebazaa, foram atribuídos poderes ditatoriais. [3] Al Mebazaa foi o homem que Ben Ali escolheu como porta-voz parlamentar da Tunísia e foi uma figura de proa dentro do partido Constitutional Democratic Rally (CDP) de Ben Ali. Os manifestantes tentaram pacificamente impedir os membros do parlamento tunisino de votarem a concessão de poderes ditatoriais a Al-Mebazaa bloqueando a entrada no parlamento tunisino.
Todos os membros do parlamento tunisino são do "velho regime". Em meio a protestos, o parlamento tunisino ainda conseguiu avançar com o plano: "Legisladores finalmente contornaram os manifestantes entrando na sala de votação através de uma porta de serviço, informou a agência de notícias TAP . Numa votação de 177 a 16, a câmara baixa aprovou o plano de dar ao presidente interino Fouad Mebazaa poderes temporários para aprovar leis por decreto". [4] No dia seguinte, o senado tunisino ratificou isto. [5]
Al-Mebazza agora pode escolher governadores e responsáveis à vontade, mudar leis eleitorais, conceder amnistia a quem quer que seja e contornar todas as instituições do estado tunisino através dos seus decretos. A aprovação da moção para dar a Al-Mebazaa esta quantidade de poderes ditatoriais é uma ilustração das facetas da "democracia cosmética". Este acto do parlamento canguru da Tunísia faz-se passar como um acto democrático de votação, mas na realidade todos os seus membros foram escolhido não democraticamente pelo regime Ben Ali.
Os generais egípcios e o vice-presidente Suleiman são uma continuação de Mubarak
No Egipto, os comandantes militares declararam não permitir que as manifestações continuem por muito mais tempo. As lideranças militares do Egipto estão fortemente envolvidas no status quo cleptocrático do regime Mubarak. Os generais egípcios ou os oficiais condecorados são todos membros ricos da classe capitalista egípcia. Sem quaisquer distinções, a lideranças dos militares egípcios e o regime Mubarak são uma e a mesma coisa. Todas as figuras chave no regime Mubarak saíram das fileiras dos militares.
Omar Suleiman, o recém-nomeado vice-presidente do Egipto e o general que foi antigo chefe dos serviços de inteligência do Egipto, começou por voltar atrás nas promessas feitas pelo regime Mubarak e ele próprio. O New York Times informou que "Omar Suleiman do Egipto afirma que não pensa ser tempo de suspender a velha lei de emergência com 30 anos que tem sido utilizada para suprimir e aprisionar líderes da oposição". [6] Poucos dias antes da resignação de Mubarak, Suleiman declarara: "Ele não pensa que o presidente Hosni Mubarak precise resignar antes do fim do seu mandato em Setembro [2011]. E não pensa que [o Egipto] esteja pronto para a democracia". [7]
Foram ganhas batalhas, mas a luta continua...
Os riscos estão a ficar mais altos. O povo da Tunísia e do Egipto deveria estar consciente de que os governos dos EUA e da União Europeia estão a cobrir politicamente as suas apostas. Eles apoiam as contra-revoluções dos velhos regimes, mas também estão a trabalhar para cooptar e controlar os resultados dos movimentos de protesto. Em outro desenvolvimento, os EUA e a NATO também estão a fazer posicionamentos navais no Mediterrâneo Oriental. Especificamente com o Egipto em mente, isto também poderia significar ajuda à contra-revolução, mas também poderá ser utilizada contra uma revolução com êxito.
Os acontecimentos na Tunísia e no Egipto demonstraram estarem erradas todas as falsas suposições acerca dos povos árabes. Os povos tunisino e egípcio actuaram pacificamente inteligentemente. Eles também provaram que a suposição de uma cultura política avançada na Europa Ocidental, América do Norte ou Austrália é simplesmente um contra-senso absoluto utilizado para justificar a repressão de outros povos.
12/Fevereiro/2011
Notas
[1] Stanley Reed, "Egypt's Telecom Mogul Embraces Uprising," Bloomberg Businessweek, February 10, 2011.
[2] "Tunisia calls up reserve troops amid unrest," Associated Press (AP), February 7, 2011.
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] Kaouther Larbi, "Tunisia Senate grants leader wide powers," Agence France-Presse (AFP), February 10, 2011.
[6] Helene Cooper and David E. Sanger, "In Egypt, US Weighs Push For Change With Stability," The New York Times, February 8, 2011, A1.
[7] Ibid.
The CRG grants permission to cross-post original Global Research articles on community internet sites as long as the text & title are not modified. The source and the author's copyright must be displayed. For publication of Global Research articles in print or other forms including commercial internet sites, contact: crgeditor@yahoo.com
Global Research Articles by Mahdi Darius Nazemroaya
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23179
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Esta é a resposta aos "sábios" encartados e a soldo que andavam a pregar o fim das revoluções e das ideologias. De repente, a Revolução; de repente, o socialismo é a alternativa ao capitalismo imperialista.
DECLARAÇÃO DE FUNDAÇÃO DA
FRENTE 14 DE JANEIRO DAS FORÇAS NACIONAIS, PROGRESSISTAS E DEMOCRÁTICAS DA TUNÍSIA
PELO SOCIALISMO
-
Para afirmar e assegurar a nossa participação na revolução do nosso povo, que lutou pelo seu direito à liberdade e à dignidade nacional – este povo que deu centenas de mártires e milhares de feridos e detidos – e para completar e garantir a vitória contra os inimigos do interior e do exterior e aqueles que tentam fazer gorar os sacrifícios do povo, constituímos a “Frente 14 de Janeiro”, como marco político para promover e assegurar a revolução, até alcançar os seus objectivos, bem como para lutar e parar as forças da contra revolução; frente (e marco) que agrupa os partidos, forças e organizações nacionais, progressistas e democráticas.
Os seus objectivos e tarefas são:
1. A queda do actual governo de Ghanouchi ou de qualquer governo que inclua pessoas do anterior regime, que ecfetuaram as políticas anti nacionais e anti populares e serviram os interesses do presidente derrubado.
2. Dissolver o partido do ex-presidente e confiscar as suas sedes, bens, activos financeiros e fundos, porque são do povo.
3. A formação de um governo de transição que expresse a confiança do povo, das suas forças políticas progressistas e das suas organizações sociais, sindicais e juvenis.
4. A dissolução da câmara de representantes, dos assessores e de todas as instituições, do conselho superior da magistratura; o desmantelamento de toda a estrutura política do antigo regime e a preparação para a eleição de uma assembleia constituinte, para a elaboração de uma nova constituição democrática e um novo marco legal da vida pública, que garanta os direitos políticos, económicos e culturais do povo.
5. A dissolução da polícia política e a promulgação de uma nova política de segurança, que respeite os direitos humanos e as leis.
6. Pedir responsabilidades a todos aqueles que se demonstre que saquearam os bens do povo e contra ele cometeram crimes, como a repressão, o encarceramento, a tortura e as decisões, ordens e execução de assassinatos, assim como àqueles de quem se prove a sua má conduta e má gestão da propriedade pública.
7. A expropriação dos bens de toda a família, das pessoas próximas e envolvidas de todos os responsáveis políticos que utilizaram a sua posição para enriquecerem à custa do povo.
8. Assegurar e gerar emprego para os desempregados e tomar medidas urgentes que garantam os subsídios de desemprego, a cobertura social e de saúde e melhorar o poder de compra do povo.
9. A construção de uma economia nacional ao serviço do povo, onde os sectores vitais e estratégicos estejam sob o controlo do estado, a nacionalização de todas as empresas que foram privatizadas e a aplicação de uma política económica e social que rompa com a perspectiva capitalista e liberal.
10. O lançamento das liberdades públicas, individuais e, especialmente, a liberdade de manifestação, organização, expressão, de imprensa, informação e crença, bem como a libertação de todos os detidos e a promulgação da lei da amnistia.
11. A “Frente 14 de Janeiro” saúda o apoio das massas populares e das forças progressistas do mundo árabe e de todo o mundo e apela a que o mantenham.
12. Rejeitar a normalização de relações com a entidade sionista e criminalizá-la e apoiar os movimentos de libertação nacional do mundo árabe e de todo o mundo.
13. A Frente apela às massas populares e às forças progressistas e patrióticas para continuarem com as mobilizações e a luta, por todas as formas legítimas – especialmente, as manifestações nas ruas -, até se alcançarem os objectivos propostos.
14. A Frente saúda todas as comissões, associações e organizações populares e apela à ampliação do seu círculo de participação em todos os assuntos públicos e da vida diária e quotidiana.
GLÓRIA AOS MÁRTIRES DA INTIFADA E A VITÓRIA PARA AS
NOSSAS MASSAS POPULARES REVOLUCIONÁRIAS
Tunísia, 20 de Janeiro de 2011
-
ASSOCIAÇÃO DE ESQUERDA – OS TRABALHADORES
MOVIMENTO UNIONISTA NASSERISTA
MOVIMENTO DOS NACIONALISTAS DEMOCRÁTICOS
NACIONALISTAS DEMOCRÁTICOS
CORRENTE BAASISTA
ESQUERDAS INDEPENDENTES
PARTIDO COMUNISTA OPERÁRIO DA TUNÍSIA
PARTIDO NACIONAL DE ACÇÃO DEMOCRÁTICA
-
Colocado em linha em: 2011/02/03
Tradução para castelhano de Hatem AK., para Corriente Roja
in «Cheira-me a Revolução»
FRENTE 14 DE JANEIRO DAS FORÇAS NACIONAIS, PROGRESSISTAS E DEMOCRÁTICAS DA TUNÍSIA
PELO SOCIALISMO
-
Para afirmar e assegurar a nossa participação na revolução do nosso povo, que lutou pelo seu direito à liberdade e à dignidade nacional – este povo que deu centenas de mártires e milhares de feridos e detidos – e para completar e garantir a vitória contra os inimigos do interior e do exterior e aqueles que tentam fazer gorar os sacrifícios do povo, constituímos a “Frente 14 de Janeiro”, como marco político para promover e assegurar a revolução, até alcançar os seus objectivos, bem como para lutar e parar as forças da contra revolução; frente (e marco) que agrupa os partidos, forças e organizações nacionais, progressistas e democráticas.
Os seus objectivos e tarefas são:
1. A queda do actual governo de Ghanouchi ou de qualquer governo que inclua pessoas do anterior regime, que ecfetuaram as políticas anti nacionais e anti populares e serviram os interesses do presidente derrubado.
2. Dissolver o partido do ex-presidente e confiscar as suas sedes, bens, activos financeiros e fundos, porque são do povo.
3. A formação de um governo de transição que expresse a confiança do povo, das suas forças políticas progressistas e das suas organizações sociais, sindicais e juvenis.
4. A dissolução da câmara de representantes, dos assessores e de todas as instituições, do conselho superior da magistratura; o desmantelamento de toda a estrutura política do antigo regime e a preparação para a eleição de uma assembleia constituinte, para a elaboração de uma nova constituição democrática e um novo marco legal da vida pública, que garanta os direitos políticos, económicos e culturais do povo.
5. A dissolução da polícia política e a promulgação de uma nova política de segurança, que respeite os direitos humanos e as leis.
6. Pedir responsabilidades a todos aqueles que se demonstre que saquearam os bens do povo e contra ele cometeram crimes, como a repressão, o encarceramento, a tortura e as decisões, ordens e execução de assassinatos, assim como àqueles de quem se prove a sua má conduta e má gestão da propriedade pública.
7. A expropriação dos bens de toda a família, das pessoas próximas e envolvidas de todos os responsáveis políticos que utilizaram a sua posição para enriquecerem à custa do povo.
8. Assegurar e gerar emprego para os desempregados e tomar medidas urgentes que garantam os subsídios de desemprego, a cobertura social e de saúde e melhorar o poder de compra do povo.
9. A construção de uma economia nacional ao serviço do povo, onde os sectores vitais e estratégicos estejam sob o controlo do estado, a nacionalização de todas as empresas que foram privatizadas e a aplicação de uma política económica e social que rompa com a perspectiva capitalista e liberal.
10. O lançamento das liberdades públicas, individuais e, especialmente, a liberdade de manifestação, organização, expressão, de imprensa, informação e crença, bem como a libertação de todos os detidos e a promulgação da lei da amnistia.
11. A “Frente 14 de Janeiro” saúda o apoio das massas populares e das forças progressistas do mundo árabe e de todo o mundo e apela a que o mantenham.
12. Rejeitar a normalização de relações com a entidade sionista e criminalizá-la e apoiar os movimentos de libertação nacional do mundo árabe e de todo o mundo.
13. A Frente apela às massas populares e às forças progressistas e patrióticas para continuarem com as mobilizações e a luta, por todas as formas legítimas – especialmente, as manifestações nas ruas -, até se alcançarem os objectivos propostos.
14. A Frente saúda todas as comissões, associações e organizações populares e apela à ampliação do seu círculo de participação em todos os assuntos públicos e da vida diária e quotidiana.
GLÓRIA AOS MÁRTIRES DA INTIFADA E A VITÓRIA PARA AS
NOSSAS MASSAS POPULARES REVOLUCIONÁRIAS
Tunísia, 20 de Janeiro de 2011
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ASSOCIAÇÃO DE ESQUERDA – OS TRABALHADORES
MOVIMENTO UNIONISTA NASSERISTA
MOVIMENTO DOS NACIONALISTAS DEMOCRÁTICOS
NACIONALISTAS DEMOCRÁTICOS
CORRENTE BAASISTA
ESQUERDAS INDEPENDENTES
PARTIDO COMUNISTA OPERÁRIO DA TUNÍSIA
PARTIDO NACIONAL DE ACÇÃO DEMOCRÁTICA
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Colocado em linha em: 2011/02/03
Tradução para castelhano de Hatem AK., para Corriente Roja
in «Cheira-me a Revolução»
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Bertold BRECHT
Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis
in http://www.astormentas/.»
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis
in http://www.astormentas/.»
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
A lembrar sempre
"Quando os nazistas venceram os comunistas fiquei em silêncio; eu não era um comunista. - Então eles vieram e levaram os os sociais-democratas, e continuei em silêncio; eu não era um social-democrata. - Quando eles assumiram o sindicato, eu não protestei; eu não era um sindicalista. - Quando eles buscaram os judeus, continuei em silêncio; eu não era um judeu. - Quando eles me escolheram, já não havia ninguém que pudesse protestar."
- Als die Nazis die Kommunisten holten, habe ich geschwiegen; ich war ja kein Kommunist. - Als sie die Sozialdemokraten einsperrten, habe ich geschwiegen; ich war ja kein Sozialdemokrat. - Als sie die Gewerkschafter holten, habe ich nicht protestiert; ich war ja kein Gewerkschafter. - Als sie die Juden holten, habe ich geschwiegen; ich war ja kein Jude. - Als sie mich holten, gab es keinen mehr, der protestieren konnte.
- "Was würde Jesus dazu sagen?: Reden, Predigten, Aufsätze 1937 bis 1980" - Página 250, de Martin Niemöller, Walter Feurich, Carl Ordnung - Publicado por Union Verlag, 1980 - 291 páginas
in wikipédia
(Há uma versão de Bertold Brecht. Não sei qual deles se inspirou no outro. Quem souber, informe p.f.)
- Als die Nazis die Kommunisten holten, habe ich geschwiegen; ich war ja kein Kommunist. - Als sie die Sozialdemokraten einsperrten, habe ich geschwiegen; ich war ja kein Sozialdemokrat. - Als sie die Gewerkschafter holten, habe ich nicht protestiert; ich war ja kein Gewerkschafter. - Als sie die Juden holten, habe ich geschwiegen; ich war ja kein Jude. - Als sie mich holten, gab es keinen mehr, der protestieren konnte.
- "Was würde Jesus dazu sagen?: Reden, Predigten, Aufsätze 1937 bis 1980" - Página 250, de Martin Niemöller, Walter Feurich, Carl Ordnung - Publicado por Union Verlag, 1980 - 291 páginas
in wikipédia
(Há uma versão de Bertold Brecht. Não sei qual deles se inspirou no outro. Quem souber, informe p.f.)
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Um enorme escritor. «2666» é o perfeito romance da nossa época.
A sua herança literária é de uma grandeza ímpar, sendo considerado o mais importante escritor latino-americano da sua geração - e da actualidade. Entre outros prémios, como o Rómulo Gallegos ou o Herralde, Roberto Bolaño já não pôde receber o prestigiado National Book Critics Circle Award, o da Fundación Lara, o Salambó, o Ciudad de Barcelona, o Santiago de Chile ou o Altazor, atribuídos a 2666, unanimemente considerado o maior fenómeno literário da última década.»
Roberto Bolaño
«Roberto Bolaño nasceu em 1953, em Santiago do Chile, filho de pai camionista e de mãe professora. A sua infância foi vivida em várias cidades chilenas (Valparaíso, Quilpué, Viña del Mar ou Cauquenes) e a passagem pela escola atormentada pela dislexia. Aos quinze anos a família mudou-se para a Cidade do México. Durante a adolescência leu vorazmente, escreveu poesia - e abandonou os estudos para regressar ao Chile poucos dias antes do golpe que depôs Salvador Allende. Ligado a um grupo trotsquista, foi preso pelos militares e libertado algum tempo depois. De volta ao México, fundou com amigos o Infrarrealismo, um movimento literário punk-surrealista, que consistia na «provocação e no apelo às armas» contra o establishment das letras latino-americanas e suas figuras de proa, de Octavio Paz a García Márquez. Nos anos setenta, Bolaño vagabundeou pela Europa - lavou pratos em restaurantes, trabalhou nas vindimas ou como guarda-nocturno de parques de campismo -, após o que se instalou em Espanha, na Costa Brava, com a mulher e os dois filhos. Aí, dedicou os últimos dez anos da sua vida à escrita. Fê-lo febrilmente, com urgência, até à morte (em Barcelona, em Julho de 2003), aos cinquenta anos.
in «WOOK-livros»
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
KARL MARX -Biografia
Filósofo e economista alemão
Treves, 05.05.1818 - Londres, 14.03.1883
Escolha de textos e breves elementos biográficos compilados por Jorge de Freitas
Figura incontornável do século XIX, as suas teorias haveriam de ter um profundo impacto no decorrer do século XX.
Karl Marx era filho de um advogado judeu que se converteu ao luteranismo. Frequentou a Universidade de Direito de Bona mas acabou por se transferir para a Universidade de Berlim, a fim de cursar Filosofia. Integrou, nesta cidade, o grupo dos Doktorklub, constiuído por jovens hegelianos de esquerda, empenhando-se em tecer críticas em relação às ideias de Estado e de Religião. Em 1841, com uma dissertação sobre Epicuro, licenciou-se, na Universidade de Iena, em Filosofia. As suas ideias radicais impediram-no de seguir a carreira de professor universitário, tendo aceite, em 1842, a direcção do jornal liberal Rheinische Zeitung. Nesta época, Karl Marx evolui de uma concepção humanístico-liberal para o socialismo comunista, sofrendo, então, a influência de Feuerbach. Em 1843, foi viver para Paris, acompanhado da sua mulher Jenny von Westphalen. Nesta cidade, conjuntamente com Ruge, publicou Os Anais Franco-Alemães ( Deutsch-französische Jahrbücher), uma síntese do radicalismo filosófico alemão e da experiência democrática francesa. Em 1845, expulso pelo governo de Guizot, desloca-se para Bruxelas. Engels, com quem travara conhecimento em Paris, ajuda-o financeiramente e acabam por realizar juntos uma viagem a Inglaterra. Karl Marx entra em contacto com a realidade económica inglesa e enceta, junto da Associação dos Operários Alemães radicados em Londres, cuja a situação de exploração pelo patronato era degradante, uma tenaz luta de propaganda e de agitação, criando comissões de ligação com outras organizações operárias europeias. Em 1847, a Liga dos Justos realiza um congresso em Londres. A divisa por estes proposta «Todos os homens são irmãos» é substituída, por influência de Karl Marx, em «Proletários de todos os países, uni-vos», já que, segundo ele próprio referenciou na altura, «existe uma infinidade de homens dos quais de maneira nenhuma me sinto irmão». Em Fevereiro de 1848, publica, conjuntamente com Hegel, o Manifesto do Partido Comunista. A 3 de Março do mesmo ano é expulso da Bélgica. Numa altura em que as agitações revolucionárias começavam a alastrar pela Alemanha, fixa residência na cidade de Colónia, onde passa a exercer o cargo de Director da Nova Gazeta (Neue Rheinische Zeitung). O triunfo da contra-revolução na Prússia obriga-o a deixar a Alemanha. Após breve passagem por Paris, é expulso pela polícia francesa. Resta-lhe refugiar-se em Londres e, mais tarde, em Manchester, onde, sem recursos, cai na mais profunda miséria. Em 1863, uma pequena herança permite-lhe sobreviver. Em 1867, publicou o primeiro volume de sua obra mais importante: O Capital.
Principais Obras
Differenz der demokritishchen und epikureischen Naturphilosophie (1843)
(Diferença da Filosofia da Natureza em Demócrito e em Epicuro)
Manifesto do Partido Comunista
O Capital
Edições em português nas Edições Avante!
Extractos de O Manifesto do Partido Comunista
O presente extracto tem por intuito levar os eventuais utilizadores do Canal de Biografias do Portal O Leme a conhecer uma breve passagem da obra do biografado, constituindo, simultaneamente, um incentivo para uma leitura mais extensa.
MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA
Manifesto publicado por Karl Marx e Friedrich Engels, em 1848
I - BURGUESES e PROLETÁRIOS
A história de toda a sociedade até aos nossos dias (*) mais não é do que a história da luta de classes.
(*) Ou mais exactamente a história escrita. Em 1847 a história da organização social que precedeu toda a história escrita, a pré-história, era quae desconhecida. Depois, Haxthausen descobriu, na Rússia, a propriedade comum da terra. Maurer demonstrou que ela é a base social donde saiem historicamente todas as tribos alemães, e descobriu-se, pouco a pouco, que a comuna rural, com posse colectiva de terra,foi a forma primitiva da sociedade desde as Índias até à Irlanda. Finalmente a estrutura desta sociedade comunista primitiva pôs a nú o que ela tem de típico graças à descoberta decisiva de Morgan que deu a conhecer a natureza verdadeira da «gens» e o seu lugar na tribo. Comm a dissolução destas comunidades primitivas começa a divisão da sociedade em classes distintas e, definitivamente, opostas (Nota de F.Engels)
Homem livre e escravo, patrício e plebeu. barão e servo, mestre-artesão e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, travaram uma guerra contínua, ora aberta, ora dessimulada, uma guerra que acabava sempre ou por uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou pela destruição das duas classes em luta.
Nas primeiras épocas históricas, constatamos quse por toda a parte, uma organização complexa da sociedade em várias classes. uma escala hierarquizada de condições sociais. Na antiga Roma, encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos, e, além disso, dentro de cada uma dessas classes, uma hierarquia particular.
A sociedade burguesa moderna, gerada nas ruínas da sociedade feudal. não aboliu os antegonismos de classes. Ela não fez mais do que substituir por novas classes, por novas condições de opressão e novas formas de luta.as que existiram outrora.
No entanto, o carácter distintivo da nossa época, da época da burguesia, é o de ter simplificado os antegonismos de classes. Cada vez mais a sociedade se diuide em dois vastos campos inimigos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.
Dos servos da Idade Média, nasceram os burgueses das primeiras comuna; desta população dos burgos sairam os primeiros elementos da burguesia.
A descoberta da América, a circum-navegação da áfrica ofereceram à burguesia nascente um novo campo de accão. Os mercados da Índia e da China, a colonização da América, o comércio colonial, o incremento dos meios de troca e, em geral, das mercadorias imprimiram um impulso, desconhecido até então, ao comércio, à indústria, à navegação, e, por conseguinte, desenvolveram rapidamente o elemento revolucionário da sociedade feudal em decomposição. A antiga organização feudal da indústria, em que esta era circunscrita a corporações fechadas, já não podia satisfazer às necessidades que cresciam com a abertura de novos mercados. A manufatura a substituiu. A pequena burguesia industrial suplantou os mestres das corporações; a divisão do trabalho entre as diferentes corporações desapareceu diante da divisão do trabalho dentro da própria oficina.
Todavia, os mercados ampliavam-se cada vez mais: a procura de mercadorias aumentava sempre. A própria manufatura tornou-se insuficiente; então, o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. A grande indústria moderna suplantou a manufatura; a média burguesia manufatureira cedeu lugar aos milionários da indústria, aos chefes de verdadeiros exércitos industriais, aos burgueses modernos.
A grande indústria criou o mercado mundial preparado pela descoberta da América: O mercado mundial acelerou prodigiosamente o desenvolvimento do comércio, da navegação e dos meios de comunicação por terra. Este desenvolvimento reagiu por sua vez sobre a extensão da indústria; e, à medida que a indústria, o comércio, a navegação, as vias férreas se desenvolviam, crescia a burguesia, multiplicando seus capitais e relegando a segundo plano as classes legadas pela Idade Média.
Vemos, pois, que a própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma série de revoluções no modo de produção e de troca. [...]
in «O Leme»
Treves, 05.05.1818 - Londres, 14.03.1883
Escolha de textos e breves elementos biográficos compilados por Jorge de Freitas
Figura incontornável do século XIX, as suas teorias haveriam de ter um profundo impacto no decorrer do século XX.
Karl Marx era filho de um advogado judeu que se converteu ao luteranismo. Frequentou a Universidade de Direito de Bona mas acabou por se transferir para a Universidade de Berlim, a fim de cursar Filosofia. Integrou, nesta cidade, o grupo dos Doktorklub, constiuído por jovens hegelianos de esquerda, empenhando-se em tecer críticas em relação às ideias de Estado e de Religião. Em 1841, com uma dissertação sobre Epicuro, licenciou-se, na Universidade de Iena, em Filosofia. As suas ideias radicais impediram-no de seguir a carreira de professor universitário, tendo aceite, em 1842, a direcção do jornal liberal Rheinische Zeitung. Nesta época, Karl Marx evolui de uma concepção humanístico-liberal para o socialismo comunista, sofrendo, então, a influência de Feuerbach. Em 1843, foi viver para Paris, acompanhado da sua mulher Jenny von Westphalen. Nesta cidade, conjuntamente com Ruge, publicou Os Anais Franco-Alemães ( Deutsch-französische Jahrbücher), uma síntese do radicalismo filosófico alemão e da experiência democrática francesa. Em 1845, expulso pelo governo de Guizot, desloca-se para Bruxelas. Engels, com quem travara conhecimento em Paris, ajuda-o financeiramente e acabam por realizar juntos uma viagem a Inglaterra. Karl Marx entra em contacto com a realidade económica inglesa e enceta, junto da Associação dos Operários Alemães radicados em Londres, cuja a situação de exploração pelo patronato era degradante, uma tenaz luta de propaganda e de agitação, criando comissões de ligação com outras organizações operárias europeias. Em 1847, a Liga dos Justos realiza um congresso em Londres. A divisa por estes proposta «Todos os homens são irmãos» é substituída, por influência de Karl Marx, em «Proletários de todos os países, uni-vos», já que, segundo ele próprio referenciou na altura, «existe uma infinidade de homens dos quais de maneira nenhuma me sinto irmão». Em Fevereiro de 1848, publica, conjuntamente com Hegel, o Manifesto do Partido Comunista. A 3 de Março do mesmo ano é expulso da Bélgica. Numa altura em que as agitações revolucionárias começavam a alastrar pela Alemanha, fixa residência na cidade de Colónia, onde passa a exercer o cargo de Director da Nova Gazeta (Neue Rheinische Zeitung). O triunfo da contra-revolução na Prússia obriga-o a deixar a Alemanha. Após breve passagem por Paris, é expulso pela polícia francesa. Resta-lhe refugiar-se em Londres e, mais tarde, em Manchester, onde, sem recursos, cai na mais profunda miséria. Em 1863, uma pequena herança permite-lhe sobreviver. Em 1867, publicou o primeiro volume de sua obra mais importante: O Capital.
Principais Obras
Differenz der demokritishchen und epikureischen Naturphilosophie (1843)
(Diferença da Filosofia da Natureza em Demócrito e em Epicuro)
Manifesto do Partido Comunista
O Capital
Edições em português nas Edições Avante!
Extractos de O Manifesto do Partido Comunista
O presente extracto tem por intuito levar os eventuais utilizadores do Canal de Biografias do Portal O Leme a conhecer uma breve passagem da obra do biografado, constituindo, simultaneamente, um incentivo para uma leitura mais extensa.
MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA
Manifesto publicado por Karl Marx e Friedrich Engels, em 1848
I - BURGUESES e PROLETÁRIOS
A história de toda a sociedade até aos nossos dias (*) mais não é do que a história da luta de classes.
(*) Ou mais exactamente a história escrita. Em 1847 a história da organização social que precedeu toda a história escrita, a pré-história, era quae desconhecida. Depois, Haxthausen descobriu, na Rússia, a propriedade comum da terra. Maurer demonstrou que ela é a base social donde saiem historicamente todas as tribos alemães, e descobriu-se, pouco a pouco, que a comuna rural, com posse colectiva de terra,foi a forma primitiva da sociedade desde as Índias até à Irlanda. Finalmente a estrutura desta sociedade comunista primitiva pôs a nú o que ela tem de típico graças à descoberta decisiva de Morgan que deu a conhecer a natureza verdadeira da «gens» e o seu lugar na tribo. Comm a dissolução destas comunidades primitivas começa a divisão da sociedade em classes distintas e, definitivamente, opostas (Nota de F.Engels)
Homem livre e escravo, patrício e plebeu. barão e servo, mestre-artesão e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, travaram uma guerra contínua, ora aberta, ora dessimulada, uma guerra que acabava sempre ou por uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou pela destruição das duas classes em luta.
Nas primeiras épocas históricas, constatamos quse por toda a parte, uma organização complexa da sociedade em várias classes. uma escala hierarquizada de condições sociais. Na antiga Roma, encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos, e, além disso, dentro de cada uma dessas classes, uma hierarquia particular.
A sociedade burguesa moderna, gerada nas ruínas da sociedade feudal. não aboliu os antegonismos de classes. Ela não fez mais do que substituir por novas classes, por novas condições de opressão e novas formas de luta.as que existiram outrora.
No entanto, o carácter distintivo da nossa época, da época da burguesia, é o de ter simplificado os antegonismos de classes. Cada vez mais a sociedade se diuide em dois vastos campos inimigos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.
Dos servos da Idade Média, nasceram os burgueses das primeiras comuna; desta população dos burgos sairam os primeiros elementos da burguesia.
A descoberta da América, a circum-navegação da áfrica ofereceram à burguesia nascente um novo campo de accão. Os mercados da Índia e da China, a colonização da América, o comércio colonial, o incremento dos meios de troca e, em geral, das mercadorias imprimiram um impulso, desconhecido até então, ao comércio, à indústria, à navegação, e, por conseguinte, desenvolveram rapidamente o elemento revolucionário da sociedade feudal em decomposição. A antiga organização feudal da indústria, em que esta era circunscrita a corporações fechadas, já não podia satisfazer às necessidades que cresciam com a abertura de novos mercados. A manufatura a substituiu. A pequena burguesia industrial suplantou os mestres das corporações; a divisão do trabalho entre as diferentes corporações desapareceu diante da divisão do trabalho dentro da própria oficina.
Todavia, os mercados ampliavam-se cada vez mais: a procura de mercadorias aumentava sempre. A própria manufatura tornou-se insuficiente; então, o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. A grande indústria moderna suplantou a manufatura; a média burguesia manufatureira cedeu lugar aos milionários da indústria, aos chefes de verdadeiros exércitos industriais, aos burgueses modernos.
A grande indústria criou o mercado mundial preparado pela descoberta da América: O mercado mundial acelerou prodigiosamente o desenvolvimento do comércio, da navegação e dos meios de comunicação por terra. Este desenvolvimento reagiu por sua vez sobre a extensão da indústria; e, à medida que a indústria, o comércio, a navegação, as vias férreas se desenvolviam, crescia a burguesia, multiplicando seus capitais e relegando a segundo plano as classes legadas pela Idade Média.
Vemos, pois, que a própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma série de revoluções no modo de produção e de troca. [...]
in «O Leme»
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Falemos de FILOSOFIA - Hegel e Karl Marx
Influência da doutrina de Hegel
Hegel foi professor da Universidade de Iena, a mesma instituição onde Marx cursou o doutorado. E, em Berlim, Marx teve contato prolongado com as ideias dos Jovens Hegelianos (também referidos como Hegelianos de Esquerda). Os dois principais aspectos do sistema de Hegel que influenciaram Marx foram sua filosofia da história e sua concepção dialética.
Para Hegel, nada no mundo é estático, tudo está em constante processo (vir-a-ser); tudo é histórico, portanto. O sujeito desse mundo em movimento é o Espírito do Mundo (ou Superalma; ou Consciência Absoluta), que representa a consciência humana geral, comum a todos indivíduos e manifesta na ideia de Deus. A historicidade é concebida enquanto história do progresso da consciência da liberdade. As formas concretas de organização social correspondem a imperativos ditados pela consciência humana, ou seja, a realidade é determinada pelas ideias dos homens, que concebem novas ideias de como deve ser a vida social em função do conflito entre as ideias de liberdade e as ideias de coerção ligadas à condição natural ("selvagem") do homem. O homem liberta-se progressivamente de sua condição de existência natural através de um processo de "espiritualização" – reflexão filosófica (ao nível do pensamento, portanto) que conduz o homem a perceber quem é o real sujeito da história.
Marx considerou-se um hegeliano de esquerda durante certo tempo, mas rompeu com o grupo e efetuou uma revisão bastante crítica dos conceitos de Hegel após tomar contato com as concepções de Feuerbach. Manteve o entendimento da história enquanto progressão dialética (ou seja, o mundo está em processo graças ao choque permanente entre os opostos; não é estático), mas eliminou o Espírito do Mundo enquanto sujeito ou essência, porque passou a compreender que a origem da realidade social não reside nas ideias, na consciência que os homens têm dela, mas sim na ação concreta (material, portanto) dos homens, portanto no trabalho humano. A existência material precede qualquer pensamento; inexiste possibilidade de pensamento sem existência concreta. Marx inverte, então, a dialética hegeliana, porque coloca a materialidade – e não as ideias – na gênese do movimento histórico que constitui o mundo. Elabora, assim, a dialética materialista (conceito não desenvolvido por Marx, que também costuma ser referida por materialismo dialético).
“ A mistificação por que passa a dialética nas mãos de Hegel não o impede de ser o primeiro a apresentar suas formas gerais de movimento, de maneira ampla e consciente. Em Hegel, a dialética está de cabeça para baixo. É necessária pô-la de cabeça para cima, a fim de descobrir a substância racional dentro do invólucro místico. ”
A respeito da influência de Hegel sobre Marx, escreveu Lenin que
“ (…) é completamente impossível entender O Capital de Marx, e, em especial, seu primeiro capítulo, sem haver estudado e compreendido a fundo toda a lógica de Hegel."
in wikipédia
Hegel foi professor da Universidade de Iena, a mesma instituição onde Marx cursou o doutorado. E, em Berlim, Marx teve contato prolongado com as ideias dos Jovens Hegelianos (também referidos como Hegelianos de Esquerda). Os dois principais aspectos do sistema de Hegel que influenciaram Marx foram sua filosofia da história e sua concepção dialética.
Para Hegel, nada no mundo é estático, tudo está em constante processo (vir-a-ser); tudo é histórico, portanto. O sujeito desse mundo em movimento é o Espírito do Mundo (ou Superalma; ou Consciência Absoluta), que representa a consciência humana geral, comum a todos indivíduos e manifesta na ideia de Deus. A historicidade é concebida enquanto história do progresso da consciência da liberdade. As formas concretas de organização social correspondem a imperativos ditados pela consciência humana, ou seja, a realidade é determinada pelas ideias dos homens, que concebem novas ideias de como deve ser a vida social em função do conflito entre as ideias de liberdade e as ideias de coerção ligadas à condição natural ("selvagem") do homem. O homem liberta-se progressivamente de sua condição de existência natural através de um processo de "espiritualização" – reflexão filosófica (ao nível do pensamento, portanto) que conduz o homem a perceber quem é o real sujeito da história.
Marx considerou-se um hegeliano de esquerda durante certo tempo, mas rompeu com o grupo e efetuou uma revisão bastante crítica dos conceitos de Hegel após tomar contato com as concepções de Feuerbach. Manteve o entendimento da história enquanto progressão dialética (ou seja, o mundo está em processo graças ao choque permanente entre os opostos; não é estático), mas eliminou o Espírito do Mundo enquanto sujeito ou essência, porque passou a compreender que a origem da realidade social não reside nas ideias, na consciência que os homens têm dela, mas sim na ação concreta (material, portanto) dos homens, portanto no trabalho humano. A existência material precede qualquer pensamento; inexiste possibilidade de pensamento sem existência concreta. Marx inverte, então, a dialética hegeliana, porque coloca a materialidade – e não as ideias – na gênese do movimento histórico que constitui o mundo. Elabora, assim, a dialética materialista (conceito não desenvolvido por Marx, que também costuma ser referida por materialismo dialético).
“ A mistificação por que passa a dialética nas mãos de Hegel não o impede de ser o primeiro a apresentar suas formas gerais de movimento, de maneira ampla e consciente. Em Hegel, a dialética está de cabeça para baixo. É necessária pô-la de cabeça para cima, a fim de descobrir a substância racional dentro do invólucro místico. ”
A respeito da influência de Hegel sobre Marx, escreveu Lenin que
“ (…) é completamente impossível entender O Capital de Marx, e, em especial, seu primeiro capítulo, sem haver estudado e compreendido a fundo toda a lógica de Hegel."
in wikipédia
sábado, 5 de fevereiro de 2011
Falemos de FILOSOFIA
Georg Wilhelm Friedrich Hegel
(Estugarda, 1770 - Berlim, 1831)
Filósofo alemão. Após passar pela Universidade de Tubinga, instala-se em Berna como preceptor. Nesta primeira época interessa-se pela teologia. Em 1796 escreve uma Crítica da Ideia da Religião Positiva. Entre 1798 e 1801 é preceptor em Francoforte e começa a interessar-se intensamente pela filosofia e pela política. Recebe a influência das ideias políticas de Rousseau. Em 1801 instala-se em Iena, onde, em contacto com Schelling, adopta a sua filosofia da natureza. Em 1807 publica a Fenomenologia do Espírito e em 1812 a Propedêutica Filosófica, que constituem uma introdução à sua doutrina, exposta com mais amplitude na sua obra capital, Ciência da Lógica (1812-1816). Em 1816 passa para Heidelberga como professor e publica em 1817 um resumo dos seus ensinamentos intitulado Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Epítome. Em 1818 aceita a cátedra de Filosofia da Universidade de Berlim, onde o seu ensino goza de um prestígio crescente. Em 1821 publica Princípios da Filosofia do Direito. Morre aos sessenta e um anos no decurso de uma epidemia de cólera.
O sistema filosófico de Hegel pode dividir-se em três partes: lógica, filosofia da natureza e filosofia do espírito.
A lógica estuda o desenvolvimento das noções universais das determinações do pensamento, que são o fundamento de toda a existência natural e espiritual e que constituem a evolução lógica do absoluto. Kant estabelece uma separação infranqueável entre o espírito e a realidade: o noumeno permanece inacessível ao pensamento, limitado aos fenómenos. Hegel identifica o real e o racional, o ser e o pensamento, que se apoiam num princípio único e universal: a ideia. Do desenvolvimento da ideia resultam todas as determinações do ser. A ciência estuda este desenvolvimento e a lógica determina as suas leis, que são a contradição e a conciliação dos contrários. Toda a ideia tem três momentos: primeiro apresenta-se (a tese); opõe-se a si mesma (a antítese); e, finalmente, regressa a si mesma conciliando tese e antítese (a síntese). O objecto da filosofia da natureza é continuar este desenvolvimento do mundo real exterior à ideia.
A filosofia do espírito tem, por sua vez, três divisões: 1) o espírito subjectivo, subdividido em antropologia, fenomenologia e psicologia; 2) o espírito objectivo, subdividido em direito, moral e costumes; e 3) o espírito absoluto, subdividido em arte, religião e filosofia propriamente dita.
Estas três grandes partes do sistema representam ao mesmo tempo os três momentos do método absoluto: afirmação, negação e unidade de ambas. O absoluto é primeiramente pensamento puro e imaterial; depois existência exterior ao puro pensamento, dissolução do pensamento no tempo e no espaço (é a natureza). Em terceiro lugar, o absoluto regressa da sua existência exterior, da sua alienação de si para si; neste regresso converte-se no pensamento que se conhece a si mesmo, que existe por si mesmo: o espírito.
O influxo exercido por Hegel foi muito considerável, sobretudo no que se refere às consequências práticas para a história e o direito que extrai da sua doutrina.
A ideia de que tudo o que é real é racional condu-lo à seguinte definição: «A história é o desenvolvimento do espírito universal no tempo.» O Estado representa a ideia; é a substância da qual os cidadãos não são senão acidente; é quem confere os direitos aos indivíduos, mas não para eles, mas para chegar com mais segurança à realização da sua ideia. As lutas entre os povos são procedimentos para a realização da ideia. A força parece triunfar e, efectivamente, triunfa, mas é apenas o símbolo, o sinal visível do direito. Esta concepção da história do direito conduz à negação da liberdade individual, à glorificação do facto consumado, à divinização do êxito.
O conceito de dialéctica é básico para o conhecimento e a compreensão do pensamento de Hegel. A dialéctica tem uma extensa tradição que vai até Platão. Mas no caso de Hegel a dialéctica é tão importante que dá nome à sua filosofia: a filosofia dialéctica.
A dialéctica expressa, pela sua parte, a contradição do mundo existente e, por outra, a necessidade de superar os limites presentes com o propósito de uma realização total e efectiva da liberdade e da infinidade. A realidade, enquanto dialéctica, está submetida a um processo, é regida e movida pela contradição, encontra-se internamente relacionada (é inter-relacional) e é constituída como oposição de contrários. Assim, cada realidade particular remete para a totalidade, para o todo, e só pode ser compreendida e explicada em relação ao todo. Por isso, Hegel expressa isto de modo breve e preciso na seguinte frase: «O verdadeiro é o todo».
Devido a esta redução do ser ao pensar, a filosofia de Hegel, já idealista, converte-se num idealismo absoluto. No fim de contas não se trata tanto da redução do ser ao pensar como da interpretação do real, do ser, como ideia ou razão. «Todo o real é racional», é outra frase de Hegel. Segundo o próprio Hegel, «que o verdadeiro seja efectivamente real unicamente como sistema ou que a substância seja essencialmente sujeito expressa-se na representação que enuncia o absoluto como espírito, o conceito mais sublime de todos, que pertence aos tempos modernos. Só o espiritual é real».
in «Vidas Lusófonas-Varanda-Sobre o tempo e o vasto mundo», on-line
(Estugarda, 1770 - Berlim, 1831)
Filósofo alemão. Após passar pela Universidade de Tubinga, instala-se em Berna como preceptor. Nesta primeira época interessa-se pela teologia. Em 1796 escreve uma Crítica da Ideia da Religião Positiva. Entre 1798 e 1801 é preceptor em Francoforte e começa a interessar-se intensamente pela filosofia e pela política. Recebe a influência das ideias políticas de Rousseau. Em 1801 instala-se em Iena, onde, em contacto com Schelling, adopta a sua filosofia da natureza. Em 1807 publica a Fenomenologia do Espírito e em 1812 a Propedêutica Filosófica, que constituem uma introdução à sua doutrina, exposta com mais amplitude na sua obra capital, Ciência da Lógica (1812-1816). Em 1816 passa para Heidelberga como professor e publica em 1817 um resumo dos seus ensinamentos intitulado Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Epítome. Em 1818 aceita a cátedra de Filosofia da Universidade de Berlim, onde o seu ensino goza de um prestígio crescente. Em 1821 publica Princípios da Filosofia do Direito. Morre aos sessenta e um anos no decurso de uma epidemia de cólera.
O sistema filosófico de Hegel pode dividir-se em três partes: lógica, filosofia da natureza e filosofia do espírito.
A lógica estuda o desenvolvimento das noções universais das determinações do pensamento, que são o fundamento de toda a existência natural e espiritual e que constituem a evolução lógica do absoluto. Kant estabelece uma separação infranqueável entre o espírito e a realidade: o noumeno permanece inacessível ao pensamento, limitado aos fenómenos. Hegel identifica o real e o racional, o ser e o pensamento, que se apoiam num princípio único e universal: a ideia. Do desenvolvimento da ideia resultam todas as determinações do ser. A ciência estuda este desenvolvimento e a lógica determina as suas leis, que são a contradição e a conciliação dos contrários. Toda a ideia tem três momentos: primeiro apresenta-se (a tese); opõe-se a si mesma (a antítese); e, finalmente, regressa a si mesma conciliando tese e antítese (a síntese). O objecto da filosofia da natureza é continuar este desenvolvimento do mundo real exterior à ideia.
A filosofia do espírito tem, por sua vez, três divisões: 1) o espírito subjectivo, subdividido em antropologia, fenomenologia e psicologia; 2) o espírito objectivo, subdividido em direito, moral e costumes; e 3) o espírito absoluto, subdividido em arte, religião e filosofia propriamente dita.
Estas três grandes partes do sistema representam ao mesmo tempo os três momentos do método absoluto: afirmação, negação e unidade de ambas. O absoluto é primeiramente pensamento puro e imaterial; depois existência exterior ao puro pensamento, dissolução do pensamento no tempo e no espaço (é a natureza). Em terceiro lugar, o absoluto regressa da sua existência exterior, da sua alienação de si para si; neste regresso converte-se no pensamento que se conhece a si mesmo, que existe por si mesmo: o espírito.
O influxo exercido por Hegel foi muito considerável, sobretudo no que se refere às consequências práticas para a história e o direito que extrai da sua doutrina.
A ideia de que tudo o que é real é racional condu-lo à seguinte definição: «A história é o desenvolvimento do espírito universal no tempo.» O Estado representa a ideia; é a substância da qual os cidadãos não são senão acidente; é quem confere os direitos aos indivíduos, mas não para eles, mas para chegar com mais segurança à realização da sua ideia. As lutas entre os povos são procedimentos para a realização da ideia. A força parece triunfar e, efectivamente, triunfa, mas é apenas o símbolo, o sinal visível do direito. Esta concepção da história do direito conduz à negação da liberdade individual, à glorificação do facto consumado, à divinização do êxito.
O conceito de dialéctica é básico para o conhecimento e a compreensão do pensamento de Hegel. A dialéctica tem uma extensa tradição que vai até Platão. Mas no caso de Hegel a dialéctica é tão importante que dá nome à sua filosofia: a filosofia dialéctica.
A dialéctica expressa, pela sua parte, a contradição do mundo existente e, por outra, a necessidade de superar os limites presentes com o propósito de uma realização total e efectiva da liberdade e da infinidade. A realidade, enquanto dialéctica, está submetida a um processo, é regida e movida pela contradição, encontra-se internamente relacionada (é inter-relacional) e é constituída como oposição de contrários. Assim, cada realidade particular remete para a totalidade, para o todo, e só pode ser compreendida e explicada em relação ao todo. Por isso, Hegel expressa isto de modo breve e preciso na seguinte frase: «O verdadeiro é o todo».
Devido a esta redução do ser ao pensar, a filosofia de Hegel, já idealista, converte-se num idealismo absoluto. No fim de contas não se trata tanto da redução do ser ao pensar como da interpretação do real, do ser, como ideia ou razão. «Todo o real é racional», é outra frase de Hegel. Segundo o próprio Hegel, «que o verdadeiro seja efectivamente real unicamente como sistema ou que a substância seja essencialmente sujeito expressa-se na representação que enuncia o absoluto como espírito, o conceito mais sublime de todos, que pertence aos tempos modernos. Só o espiritual é real».
in «Vidas Lusófonas-Varanda-Sobre o tempo e o vasto mundo», on-line
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Sobre a "Revolução" no Egipto
«"Ditadores" não ditam, obedecem a ordens
por Michel Chossudovsky
O regime Mubarak pode entrar em colapso face ao vasto movimento de protesto à escala nacional. Quais as perspectivas para o Egipto e o mundo árabe?
"Ditadores" não ditam, eles obedecem a ordens. Isto é verdade tanto na Tunísia como na Argélia e no Egipto.
Ditadores são sempre fantoches políticos. Os ditadores não decidem.
O presidente Hosni Mubarak foi o fiel servidor dos interesses económicos ocidentais e assim era Ben Ali.
O governo nacional é o objecto do movimento de protesto. O objectivo é remover o fantoche ao invés do mestre do fantoche. Os slogans no Egipto são "Abaixo Mubarak, abaixo o regime". Não há cartazes anti-americanos... A influência avassaladora e destrutiva dos EUA no Egipto e por todo o Médio Oriente permanece oculta.
As potências estrangeiras que operam nos bastidores estão protegidas do movimento de protesto.
Nenhuma mudança política significativa se verificará a menos que a questão da interferência estrangeira seja tratada de forma explícita pelo movimento de protesto.
A Embaixada dos EUA no Cairo é uma importante entidade política, sempre ofuscando o governo nacional, não é alvo do movimento de protesto.
No Egipto, em 1991 foi imposto um devastador programa do FMI na altura da Guerra do Golfo. Ele foi negociado em troca da anulação da multimilionária dívida militar do Egipto para com os EUA bem como da sua participação na guerra. A resultante desregulamentação dos preços dos alimentos, a privatização geral e medidas de austeridade maciças levaram ao empobrecimento da população egípcia e à desestabilização da sua economia. O Egipto era louvado como uma "aluno modelo" do FMI.
O papel do governo de Ben Ali na Tunísia foi impor os remédios económicos mortais do FMI, os quais num período de mais de vinte anos serviram para desestabilizar a economia nacional e empobrecer a população tunisina. Ao longo dos últimos 23 anos, a política económica e social na Tunísia foi ditada pelo Consenso de Washington.
Tanto Hosni Mubarak como Ben Ali permaneceram no poder porque os seus governos obedeceram e aplicaram efectivamente os diktats do FMI.
Desde Pinochet e Videla até Baby Doc, Ben Ali e Mubarak, os ditadores têm sido instalados por Washington. Historicamente, na América Latina, os ditadores eram nomeados através de uma série de golpes militares patrocinados pelos EUA.
Hoje eles são nomeados através de "eleições livres e justas" sob a supervisão da comunidade internacional.
Na Tunísia, a administração Obama já se posicionou. Ela pretende desempenhar um papel chave no "programa de democratização" (isto é, manutenção das chamadas eleições justas). Ela também pretende utilizar a crise política como um meio de enfraquecer o papel da França e consolidar a sua posição na África do Norte (...)
(...)
O alto enviado dos EUA para o Médio Oriente, Jeffrey Feltman, foi o primeiro responsável estrangeiro a chegar ao país depois de o presidente Zine El Abidine Ben Ali ser derrubado em 14 de Janeiro e suavemente apelou a reformas. Ele disse na terça-feira que só eleições livres e justas fortaleceriam e dariam credibilidade à liderança sob ataque do estado norte africano.
"Espero certamente que estaremos utilizando o exemplo tunisino" em conversas com outros governos árabes, acrescentou o secretário de Estado Feltman.
Ele foi despachado para o país norte africano a fim de oferecer a ajuda dos EUA na turbulenta transição de poder e encontrar-se com ministros e figuras da sociedade civil tunisina.
Feltman viaja para Paris na quarta-feira a fim de discutir a crise com líderes da França, promovendo a impressão de que os EUA está a conduzir apoio internacional a uma nova Tunísia, em detrimento da antiga potência colonial, a França. ...
Países ocidentais apoiaram por longo tempo a derrubada liderança da Tunísia, encarando-a como um baluarte contra militantes islâmicos na região norte africana.
o qual fora antes instalado pelos EUA.
Cooptação de líderes da oposição
A cooptação dos líderes dos principais partidos da oposição de organizações da sociedade civil na previsão do colapso de um governo fantoche autoritário faz parte dos desígnios de Washington, aplicados em diferentes regiões do mundo. O processo de cooptação é implementado e financiado pelos EUA com base em fundações incluindo o National Endowment for Democracy (NED) e o Freedom House (FH). Tanto o FH como o NED têm ligações ao Congresso dos EUA, ao Council on Foreign Relations (CFR) e ao establishment de negócios estado-unidense. Tanto o NED como o FH são conhecidos por terem laços com a CIA.
O NED está envolvido activamente na Tunísia, Egipto e Argélia. A Freedom House apoia várias organizações da sociedade civil no Egipto.
"O NED foi estabelecido pela administração Reagan depois de o papel da CIA nos financiamentos encobertos para derrubar governos estrangeiros ter sido trazido à luz, levando ao descrédito dos partidos, movimentos, revistas, livros, jornais e indivíduos que receberam financiamento da CIA. ... Como uma fundação bi-partidária, com participação dos dois principais partidos, bem como da AFL-CIO e da US Chamber of Commerce, o NED assumiu o comando do financiamento de movimentos para derrubar governos estrangeiros, mas abertamente e sob a rubrica da "promoção da democracia". (Stephen Gowans, January « 2011 "What's left"
Se bem que os EUA tenha apoiado o governo Mubarak durante os últimos trinta anos, fundações dos EUA com laços no Departamento de Estado e no Pentágono apoiaram activamente a oposição política incluindo o movimento da sociedade civil. Segundo a Freedom House: "A sociedade civil egípcia é tanto vibrante como constrangida. Há centenas de organizações não governamentais dedicadas a expandir direitos civis e políticos no país, operando num ambiente altamente regulado". (Freedom House Press Releases).
Numa ironia amarga, Washington apoia a ditadura Mubarak, incluindo suas atrocidades, enquanto também apoia e financia seus detractores, através das actividades do FH, NED, dentre outras.
O esforço da Freedom House para envolver uma nova geração de advogados proporcionou resultados tangíveis e o programa New Generation no Egipto ganhou proeminência tanto ao nível local como internacional. Membros visitantes egípcios de todos os grupos da sociedade civil receberam [Maio 2008] atenção sem precedentes e reconhecimento, incluindo reuniões em Washington com o secretário de Estado, o Conselheiro de Segurança Nacional e membros eminentes do Congresso.»
Ver texto completo in http://www.resistir.info/
por Michel Chossudovsky
O regime Mubarak pode entrar em colapso face ao vasto movimento de protesto à escala nacional. Quais as perspectivas para o Egipto e o mundo árabe?
"Ditadores" não ditam, eles obedecem a ordens. Isto é verdade tanto na Tunísia como na Argélia e no Egipto.
Ditadores são sempre fantoches políticos. Os ditadores não decidem.
O presidente Hosni Mubarak foi o fiel servidor dos interesses económicos ocidentais e assim era Ben Ali.
O governo nacional é o objecto do movimento de protesto. O objectivo é remover o fantoche ao invés do mestre do fantoche. Os slogans no Egipto são "Abaixo Mubarak, abaixo o regime". Não há cartazes anti-americanos... A influência avassaladora e destrutiva dos EUA no Egipto e por todo o Médio Oriente permanece oculta.
As potências estrangeiras que operam nos bastidores estão protegidas do movimento de protesto.
Nenhuma mudança política significativa se verificará a menos que a questão da interferência estrangeira seja tratada de forma explícita pelo movimento de protesto.
A Embaixada dos EUA no Cairo é uma importante entidade política, sempre ofuscando o governo nacional, não é alvo do movimento de protesto.
No Egipto, em 1991 foi imposto um devastador programa do FMI na altura da Guerra do Golfo. Ele foi negociado em troca da anulação da multimilionária dívida militar do Egipto para com os EUA bem como da sua participação na guerra. A resultante desregulamentação dos preços dos alimentos, a privatização geral e medidas de austeridade maciças levaram ao empobrecimento da população egípcia e à desestabilização da sua economia. O Egipto era louvado como uma "aluno modelo" do FMI.
O papel do governo de Ben Ali na Tunísia foi impor os remédios económicos mortais do FMI, os quais num período de mais de vinte anos serviram para desestabilizar a economia nacional e empobrecer a população tunisina. Ao longo dos últimos 23 anos, a política económica e social na Tunísia foi ditada pelo Consenso de Washington.
Tanto Hosni Mubarak como Ben Ali permaneceram no poder porque os seus governos obedeceram e aplicaram efectivamente os diktats do FMI.
Desde Pinochet e Videla até Baby Doc, Ben Ali e Mubarak, os ditadores têm sido instalados por Washington. Historicamente, na América Latina, os ditadores eram nomeados através de uma série de golpes militares patrocinados pelos EUA.
Hoje eles são nomeados através de "eleições livres e justas" sob a supervisão da comunidade internacional.
Na Tunísia, a administração Obama já se posicionou. Ela pretende desempenhar um papel chave no "programa de democratização" (isto é, manutenção das chamadas eleições justas). Ela também pretende utilizar a crise política como um meio de enfraquecer o papel da França e consolidar a sua posição na África do Norte (...)
(...)
O alto enviado dos EUA para o Médio Oriente, Jeffrey Feltman, foi o primeiro responsável estrangeiro a chegar ao país depois de o presidente Zine El Abidine Ben Ali ser derrubado em 14 de Janeiro e suavemente apelou a reformas. Ele disse na terça-feira que só eleições livres e justas fortaleceriam e dariam credibilidade à liderança sob ataque do estado norte africano.
"Espero certamente que estaremos utilizando o exemplo tunisino" em conversas com outros governos árabes, acrescentou o secretário de Estado Feltman.
Ele foi despachado para o país norte africano a fim de oferecer a ajuda dos EUA na turbulenta transição de poder e encontrar-se com ministros e figuras da sociedade civil tunisina.
Feltman viaja para Paris na quarta-feira a fim de discutir a crise com líderes da França, promovendo a impressão de que os EUA está a conduzir apoio internacional a uma nova Tunísia, em detrimento da antiga potência colonial, a França. ...
Países ocidentais apoiaram por longo tempo a derrubada liderança da Tunísia, encarando-a como um baluarte contra militantes islâmicos na região norte africana.
o qual fora antes instalado pelos EUA.
Cooptação de líderes da oposição
A cooptação dos líderes dos principais partidos da oposição de organizações da sociedade civil na previsão do colapso de um governo fantoche autoritário faz parte dos desígnios de Washington, aplicados em diferentes regiões do mundo. O processo de cooptação é implementado e financiado pelos EUA com base em fundações incluindo o National Endowment for Democracy (NED) e o Freedom House (FH). Tanto o FH como o NED têm ligações ao Congresso dos EUA, ao Council on Foreign Relations (CFR) e ao establishment de negócios estado-unidense. Tanto o NED como o FH são conhecidos por terem laços com a CIA.
O NED está envolvido activamente na Tunísia, Egipto e Argélia. A Freedom House apoia várias organizações da sociedade civil no Egipto.
"O NED foi estabelecido pela administração Reagan depois de o papel da CIA nos financiamentos encobertos para derrubar governos estrangeiros ter sido trazido à luz, levando ao descrédito dos partidos, movimentos, revistas, livros, jornais e indivíduos que receberam financiamento da CIA. ... Como uma fundação bi-partidária, com participação dos dois principais partidos, bem como da AFL-CIO e da US Chamber of Commerce, o NED assumiu o comando do financiamento de movimentos para derrubar governos estrangeiros, mas abertamente e sob a rubrica da "promoção da democracia". (Stephen Gowans, January « 2011 "What's left"
Se bem que os EUA tenha apoiado o governo Mubarak durante os últimos trinta anos, fundações dos EUA com laços no Departamento de Estado e no Pentágono apoiaram activamente a oposição política incluindo o movimento da sociedade civil. Segundo a Freedom House: "A sociedade civil egípcia é tanto vibrante como constrangida. Há centenas de organizações não governamentais dedicadas a expandir direitos civis e políticos no país, operando num ambiente altamente regulado". (Freedom House Press Releases).
Numa ironia amarga, Washington apoia a ditadura Mubarak, incluindo suas atrocidades, enquanto também apoia e financia seus detractores, através das actividades do FH, NED, dentre outras.
O esforço da Freedom House para envolver uma nova geração de advogados proporcionou resultados tangíveis e o programa New Generation no Egipto ganhou proeminência tanto ao nível local como internacional. Membros visitantes egípcios de todos os grupos da sociedade civil receberam [Maio 2008] atenção sem precedentes e reconhecimento, incluindo reuniões em Washington com o secretário de Estado, o Conselheiro de Segurança Nacional e membros eminentes do Congresso.»
Ver texto completo in http://www.resistir.info/
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Comunicado
MOVIMENTO ESCOLA PÚBLICA
IGUALDADE E DEMOCRACIA
Sobre a polémica dos contratos de associação:
Um grupo de escolas privadas autodesignado movimento SOS-Educação tem vindo a promover um conjunto de protestos contra os cortes no financiamento dos contratos de associação que estabelece com o Ministério da Educação. O Movimento Escola Pública manifesta-se contra o primado do negócio e em defesa das instituições que asseguram serviço público. Assim, defendemos:
1) A existência de contratos de associação – verbas que o Estado atribui a escolas privadas para que estas garantam turmas com ensino gratuito - só se justifica nos locais onde a rede pública de ensino é insuficiente para assegurar a frequência de todos os alunos. A portaria 1324-A/2010 não apresenta critérios objectivos para estabelecer quais as zonas “carecidas de rede pública” e que justificam a celebração de contratos de associação, pelo que se exige que o Governo esclareça, imediatamente, onde e quando é que a oferta pública não responde às necessidades das populações.
2) O custo estimado pelo governo de uma turma nas escolas públicas não corresponde ao financiamento necessário para garantir um ensino de qualidade para todos os alunos, situação que se veio agravar com as medidas aprovadas no âmbito do Orçamento de Estado e do Conselho de Ministros e que claramente prejudicam o combate ao insucesso e ao abandono escolares.
3) Os cortes nos contratos de associação, feitos a meio do ano lectivo e sem uma ponderação global dos que se justificam e dos que não se justificam, foram aplicados com o único objectivo de reduzir a despesa ao abrigo das medidas de austeridade, e não por critérios de justiça e igualdade, dado que o poder político sempre foi conivente com a proliferação destes negócios, alguns deles de utilidade pública muito duvidosa, que florescem mesmo ao lado de escolas públicas sem que estas tenham esgotado a sua capacidade.
4) São totalmente inaceitáveis as pressões, perseguições, despedimentos ou mudanças de local de trabalho perpetradas pelas direcções de algumas escolas privadas - ligadas a grupos económicos relevantes e/ou à Igreja - que atacam o elo mais fraco para conseguir manter as suas margens de lucro. Os abusos aos trabalhadores destas instituições já vêm de há muito tempo e devem merecer toda a atenção e intervenção por parte da ACT e da Inspecção do Ministério da Educação.
5) Para cumprir a Constituição, qualquer Governo tem de assegurar o direito ao ensino público a todos os(as) alunos(as), incluindo aqueles e aquelas cujas escolas actuais desejem quebrar os contratos de associação. Verifica-se que em algumas destas escolas já se sondaram as famílias para o eventual pagamento individual de uma prestação mensal avultada.
6) Finalmente, o Movimento Escola Pública denuncia a hipocrisia do governo. Não podemos acreditar na apresentação destas medidas em nome de uma espécie de defesa da centralidade da Escola Pública, ao mesmo tempo que se corta a direito no orçamento e nos recursos humanos das escolas públicas, pondo na verdade em causa o direito de todos a um ensino de qualidade.
Movimento Escola Pública, 1 de Fevereiro de 2011
www.movescolapublica.net
IGUALDADE E DEMOCRACIA
Sobre a polémica dos contratos de associação:
Um grupo de escolas privadas autodesignado movimento SOS-Educação tem vindo a promover um conjunto de protestos contra os cortes no financiamento dos contratos de associação que estabelece com o Ministério da Educação. O Movimento Escola Pública manifesta-se contra o primado do negócio e em defesa das instituições que asseguram serviço público. Assim, defendemos:
1) A existência de contratos de associação – verbas que o Estado atribui a escolas privadas para que estas garantam turmas com ensino gratuito - só se justifica nos locais onde a rede pública de ensino é insuficiente para assegurar a frequência de todos os alunos. A portaria 1324-A/2010 não apresenta critérios objectivos para estabelecer quais as zonas “carecidas de rede pública” e que justificam a celebração de contratos de associação, pelo que se exige que o Governo esclareça, imediatamente, onde e quando é que a oferta pública não responde às necessidades das populações.
2) O custo estimado pelo governo de uma turma nas escolas públicas não corresponde ao financiamento necessário para garantir um ensino de qualidade para todos os alunos, situação que se veio agravar com as medidas aprovadas no âmbito do Orçamento de Estado e do Conselho de Ministros e que claramente prejudicam o combate ao insucesso e ao abandono escolares.
3) Os cortes nos contratos de associação, feitos a meio do ano lectivo e sem uma ponderação global dos que se justificam e dos que não se justificam, foram aplicados com o único objectivo de reduzir a despesa ao abrigo das medidas de austeridade, e não por critérios de justiça e igualdade, dado que o poder político sempre foi conivente com a proliferação destes negócios, alguns deles de utilidade pública muito duvidosa, que florescem mesmo ao lado de escolas públicas sem que estas tenham esgotado a sua capacidade.
4) São totalmente inaceitáveis as pressões, perseguições, despedimentos ou mudanças de local de trabalho perpetradas pelas direcções de algumas escolas privadas - ligadas a grupos económicos relevantes e/ou à Igreja - que atacam o elo mais fraco para conseguir manter as suas margens de lucro. Os abusos aos trabalhadores destas instituições já vêm de há muito tempo e devem merecer toda a atenção e intervenção por parte da ACT e da Inspecção do Ministério da Educação.
5) Para cumprir a Constituição, qualquer Governo tem de assegurar o direito ao ensino público a todos os(as) alunos(as), incluindo aqueles e aquelas cujas escolas actuais desejem quebrar os contratos de associação. Verifica-se que em algumas destas escolas já se sondaram as famílias para o eventual pagamento individual de uma prestação mensal avultada.
6) Finalmente, o Movimento Escola Pública denuncia a hipocrisia do governo. Não podemos acreditar na apresentação destas medidas em nome de uma espécie de defesa da centralidade da Escola Pública, ao mesmo tempo que se corta a direito no orçamento e nos recursos humanos das escolas públicas, pondo na verdade em causa o direito de todos a um ensino de qualidade.
Movimento Escola Pública, 1 de Fevereiro de 2011
www.movescolapublica.net
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