O fim do euro em Portugal
por Pedro Braz Teixeira [*]
O euro é um projecto insustentável, por duas razões principais.
Em primeiro lugar, porque permitiu a acumulação de desequilíbrios muito
superiores ao que existiriam com moeda própria. A Grécia jamais poderia acumular
as dívidas que hoje tem, a Irlanda jamais assistiria a uma tão grande expansão
do seu sistema bancário, Portugal jamais poderia ter uma dívida externa de 100%
do PIB, Espanha nunca teria embarcado numa tão grande bolha imobiliária. Mas,
mais grave do que permitir desequilíbrios maiores, o euro deixa os países com
menos instrumentos para os corrigir, em particular o instrumento cambial, o que
torna as correcções muitíssimo mais difíceis.
Em segundo lugar, com moeda própria, a variável que sinaliza os problemas – a taxa de câmbio – ajuda a resolver esses mesmos problemas. No euro, a variável que serve de alerta – a taxa de juro de longo prazo – agrava todos os desequilíbrios. Quando percebi este aspecto, nos finais de 2010, fiquei convencido de que os dias do euro estavam contados. Há quem imagine que há soluções para os problemas do euro, mas se há soluções tecnicamente viáveis, elas são politicamente impossíveis. Dado o melindre de escrever sobre o fim do euro, adiei ao máximo isso, mas em Dezembro do ano passado comecei a escrever um livro sobre isso, que deveria estar pronto em Abril. Vicissitudes várias fizeram com que o projecto se atrasasse e só este mês deverá estar disponível, com o título "O fim do euro em Portugal?", numa edição da Actual Editora, do Grupo Almedina. Apesar do ponto de interrogação no título estou firmemente convencido, não só de que o euro deixará de ser a moeda em Portugal, como de que isso ocorrerá até ao final deste ano. Os problemas estruturais do euro estão lá, mas as autoridades europeias têm-se esmerado em tornar as coisas ainda piores. Mario Draghi, tinha-nos pedido para acreditarmos nele, que o BCE tudo faria para preservar o euro. Afinal o BCE pondera voltar a comprar obrigações dos países em dificuldades, mas apenas DEPOIS de estes pedirem ajuda, que virá sob fortes restrições. Então a intervenção do BCE não era para evitar que estes Estados chegassem ao ponto de ter de pedir auxílio? O ministro alemão da Economia e o presidente do Eurogrupo, Juncker, consideram que a saída da Grécia do euro é "gerível". Importam-se de repetir? Se a Grécia sair do euro, isso pode bem desencadear um processo de desintegração do euro. Mas, se isso não acontecer, e isto é que é um dos maiores dramas, há muitos mais acontecimentos que podem colocar em marcha a desagregação do euro: um pedido de resgate pleno de Espanha, para o qual não há fundos suficientes; subida vertiginosa das taxas de juro em Itália; na Holanda, nas eleições de 12 de Setembro, vitória do partido que defende a saída do país do euro; veto do Tribunal Constitucional alemão às condições de expansão das competências dos fundos europeus de resgate; etc, etc, etc.
08/Agosto/2012
[*] Investigador do NECEP da Católica Lisbon School of Business and Economics (as opiniões expressas no texto não vinculam o NECEP). Foi assistente na Faculdade de Economia da UNL, economista-chefe do Banco Santander Totta e adjunto da ex-ministra das Finanças Dra. Manuela Ferreira Leite. Actualmente é economista independente. Tem o blog individual Abelhudo , e colabora no blog colectivo O Cachimbo de Magritte . Email: pbteixeira3@gmail.com O original encontra-se em http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=572565 Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
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domingo, 12 de agosto de 2012
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