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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

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Pelo Socialismo
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
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Publicado em: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=156889
Tradução do castelhano de MF
Colocado em linha em: 2012/10/14
Entrevista com o Dr. Ammar Bagdache, Secretário-geral do Partido Comunista Sírio e membro do Parlamento da República Árabe da Síria
“As forças revolucionárias e progressistas internacionais devem apoiar os governos e partidos anti-imperialistas e antissionistas”
Ernesto Gómez Abascal*
Rebelión
02-10-2012
EGA – Como é que o Partido Comunista da Síria qualifica o governo de Bashar Al Assad?
AB – Para o Partido Comunista de Síria, trata-se de um governo patriótico, anti-imperialista e antissionista, apesar, claro, de na ordem económica ser capitalista. Ainda que proclamasse o socialismo árabe, o Partido Baas (do renascimento árabe socialista), que era e é a força dirigente no governo, não era socialista no sentido marxista da palavra. Não obstante, o PCS faz parte da Frente Progressista, agora integrada por 10 partidos.
Temos um ministro no governo e consideramos que é, nesta etapa, a melhor opção. Estamos e sempre estivemos, para melhorar o sistema. Em 2005, opusemo-nos a transformações de cariz neoliberal, que depois se comprovou terem facilitado o caldo de cultura para a criação de uma camada marginal, de que a oposição armada beneficiou. Cometeu-se erros que se procura agora corrigir.
EGA – Entre os que combatem para derrubar o governo de Bashar Al Assad há forças e partidos de esquerda? Existe uma opção de esquerda ao atual governo?
AB – Existem algumas personalidades, há algum tempo já no exterior, que foram de esquerda, inclusive marxistas, mas que depois mudaram. Alguns estiveram presos na Síria, mas hoje renunciaram ao marxismo, aliaram-se inclusive aos Irmãos Muçulmanos, outros tornaram-se agentes das monarquias do Golfo.
Há pessoas que permanecem na Síria que se consideram de esquerda e que pretendem mudanças e reformas, mas não são partidos ou forças políticas organizadas, são individualidades, e opõem-se à intervenção estrangeira. O governo
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que temos na Síria tem uma posição construtiva para com a realização de alterações importantes – já se começaram a adotar –, mas a intervenção estrangeira armada impede, neste momento, a sua execução com normalidade.
Se o governo atual cair, a única opção é o poder dos Irmãos Muçulmanos, o que constituiria um grande retrocesso para o povo, que durante muitos anos desfrutou de um sistema secular moderno, que não conhece o sectarismo e que viveu sem tensões deste tipo. Somos, contudo, optimistas e, embora a luta vá durar ainda algum tempo, estamos certos de que não poderão derrotar-nos.
EGA – Como avalia a situação militar?
AB – Com o passar do tempo, torna-se mais claro que não poderão derrotar-nos. Não puderam, como era o seu plano, controlar qualquer cidade importante, apesar de terem chegado milhares de mercenários extremistas e salafistas, que contam com o apoio dos serviços especiais dos Estados Unidos e dos seus aliados da NATO, que trabalham a partir da Turquia, país com que partilhamos uma longa fronteira. Contam também com os recursos económicos e militares dados pelo Qatar e pela Arábia Saudita. É evidente que o nosso governo conta com o apoio da maioria da população. As forças armadas e as milícias populares mantêm-se unidas e dispostas a combater. Apesar da situação complicada do país, as instituições funcionam.
EGA – Pensa que na Líbia existia a possibilidade de apoiar alguma força revolucionária ou progressista como alternativa ao governo de Kadafi?
AB – O caso da Líbia era completamente diferente do da Síria. Mesmo quando o povo líbio gozava do melhor nível de vida de África e tinha o maior PIB per capita, a personalidade de Kadafi era muito questionada, era muito incoerente nas suas posições e manteve algumas vezes atitudes anticomunistas. Tinha-se reconciliado com o Ocidente, mas não existia nenhum partido ou força organizada conhecida, com um programa revolucionário, progressista ou anti-imperialista, que se pudesse apoiar como alternativa ao governo de Kadafi.
A posição correcta dos revolucionários era deixar que os líbios resolvessem os seus problemas e opusemo-nos por todos os meios à intervenção da aliança imperialista e da reação árabe. O nosso partido não simpatizava com Kadafi, mas quem o derrotou foi a NATO, não o povo líbio, e o governo que agora existe em Tripoli está subordinado aos interesses imperialistas.
EGA – Como é que o PCS caracteriza o Hezbollah e o Irão, que são um partido e um país de caráter islâmico?
AB – Consideramos que mantêm posições patrióticas contra o imperialismo e o sionismo e portanto vemo-los como nossos aliados. No movimento que é liderado pelo Hezbollah, no Líbano, também participam partidos e organizações cristãs, sunitas e até marxistas. Existem muçulmanos de diferentes posições políticas e o nosso partido considera que na actual situação da região o que define uma força política é estar ao lado dos interesses do povo, ser anti-imperialista e antissionista. Neste sentido, consideramos Hassan Nasrallah, dirigente do Hezbollah, um verdadeiro revolucionário.
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EGA – Existe a possibilidade de que um partido ou força de esquerda alcance o poder em algum país da região?
AB – Não excluímos essa possibilidade, tudo depende das massas, do povo. Em 1958, julgo que quase ninguém no mundo previa que fosse triunfar uma revolução em Cuba, que dois anos depois proclamaria o socialismo. O papel de uma liderança é também importante e isso não se pode excluir totalmente.
EGA – O presidente egípcio Mohamed Mursi, dos Irmãos Muçulmanos, pelos passos que dá e pelas suas palavras, por exemplo, no discurso que recentemente pronunciou na Assembleia-geral da ONU, parece estar a imprimir um rumo independente à política externa desse importante país. Que opinião tem sobre isto?
AB – Penso que está a atuar de acordo com o sentimento das massas, do povo egípcio, que não pode desconhecer. Nem aos EUA nem muito menos a Israel lhes deve agradar o que está a dizer. Talvez Mursi esteja a trabalhar para recuperar o papel dirigente do Egito no mundo árabe. Aliás, é impossível ser mais fantoche do imperialismo do que Mubarak, isso seria muito difícil. Talvez tenha declarado na Assembleia-geral das Nações Unidas que estava contra uma intervenção externa no meu país, porque observou a resistência do povo sírio contra a agressão a que é submetido pelo Ocidente e pelos países do Golfo – isso pode influenciar as suas posições. É necessário observar a sua atuação futura para ver se se mantém numa linha de discrepância com os EUA e Israel.
EGA – Qual a posição que julga dever ser a da esquerda internacional, dos revolucionários, relativamente à clara intervenção do imperialismo e da reacção árabe para provocar alterações de regime?
AB – O nosso partido defende que as forças revolucionárias e progressistas internacionais devem apoiar os governos e partidos anti-imperialistas e antissionistas perante a agressão da reação, do imperialismo e da sua política intervencionista e de ingerência, violadora da legalidade internacional. É isso que define uma posição revolucionária e de princípios nos nossos dias.
Não é possível ser de esquerda ou dizer que se é progressista e revolucionário e concordar com o que diz e faz Hillary Clinton, os monarcas corruptos do Golfo ou os dirigentes da NATO.
* Ernesto Gómez Abascal é escritor e jornalista cubano, ex-embaixador em vários países do Próximo Oriente.
Rebelión publicou este artigo com a autorização do autor, através de uma licença de Creative Commons, respeitando a sua liberdade para publicá-lo noutras fontes.

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