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Publicado em 2014/03/08 em: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Venezuela-osfilhotes-
da-reacao/6/30399
Colocado em linha em: 2014/03/17
Venezuela: os filhotes da reação1
Os vínculos entre os jovens dirigentes estudantis venezuelanos e agências de
cooperação de direita vão muito mais além da aliança Otpor/Canvas.
Luis Hernández Navarro *
Lorent Saleh é um jovem venezuelano de 25 anos, de língua flamejante, que estudou
comércio exterior. É uma das cabeças visíveis da coalizão para derrubar o presidente
Nicolas Maduro. Ele dirige a Organização Operação Liberdade, que aponta o castrocomunismo
cubano como o principal inimigo da Venezuela.
Lorent começou seu trabalho contra a revolução bolivariana em 2007. Desde então, ele
não desiste. Promoveu greves de fome e campanhas para denunciar as “mentiras de
Chávez”. Embora tenha abandonado as salas de aulas há anos, ainda se apresenta como
um líder estudantil. E, ainda que não tenha nenhum emprego conhecido, viaja pela
América Latina para tentar isolar o governo de Maduro.
O jovem Saleh tem bons amigos em diversos países. Na Colômbia, por exemplo, é
cobiçado e promovido pela Aliança Nacionalista pela Liberdade e Terceira Força,
agrupações neonazistas (El Espectador, 21/7/2013).
Vanessa Eisig é uma simpática jovem ruiva de 22 anos, que usa óculos e se descreve em
sua conta no Twitter como uma “guerreira de luz e bígama, casada com minha carreira
e com a Venezuela”. Estuda comunicação na Universidade Andrés Bello e confessa que,
ao participar dos protestos, sente que está fazendo história. Vanessa é militante da
Juventude Ativa Venezuela Unida (JAVU). Exige a deposição do “usurpador” Nicolás
Maduro e de todo o seu gabinete. A organização tem como emblema um punho direito de
cor branca que, segundo ela, “é símbolo de resistência e de crítica ao socialismo”.
JAVU, que promove a Operação Liberdade, desempenhou um papel relevante nos
distúrbios de rua das últimas semanas na Venezuela. Fundada em 2007, a organização se
define como uma plataforma juvenil de resistência, que busca derrubar os pilares que
sustentam um governo que “menospreza a Constituição, atinge nossos direitos e entrega
nossa soberania ao comando dos decrépitos irmãos Castro”.
1 Manteve-se a variante do português do Brasil. – [NE]
2
Em seu comunicado de 22 de fevereiro deste ano, a JAVU denunciou que forças
estrangeiras sitiaram militarmente a Venezuela. “Seus mercenários nos atacam de
maneira vil e selvagem. Seu objetivo é nos escravizar”. Para conseguir sua liberdade,
assinalam, é vital defender a soberania da nação expulsando os comunistas cubanos que
estão usurpando o governo e as Forças Armadas.
A JAVU está inspirada e mantém estreita relação com Otpor (Resistência) e com o Centro
para a Aplicação de Ações e Estratégias Não-Violentas (Canvas, na sigla em inglês). Otpor
foi um movimento estudantil criado na Sérvia para remover do governo o presidente
Slobodan Milósevic em 2000, que recebeu financiamento de agências governamentais
dos Estados Unidos. Canvas é a face renovada de Otpor.
O guru desses grupos é Gene Sharp, que reivindica a ação não violenta para derrubar
governos. Sharp fundou o Instituto Albert Eisntein, promotor das chamadas revoluções
coloridas em países que não estão alinhados aos interesses da OTAN e de Washington.
Documentos divulgados por Wikileaks tornaram público que Canvas – presente na
Venezuela desde 2006 – elaborou para a oposição desse país um plano de ação, no qual
propõe que os grupos estudantis e os atores não formais são os mais capacitados a
construir uma infraestrutura e explorar sua legitimidade na luta contra o governo de
Hugo Chávez.
A relação entre JAVU, Otpor e Canvas é muito estreita. Como confessou Maria lvic
Olivares, militante de um grupo de extrema-direita: as organizações internacionais que
estão nos ajudando neste momento sempre estiveram conosco, não somente apoiando os
protestos, mas também ajudando na formação. Sempre nos estenderam a mão. Não
temos vergonha nem medo de dizê-lo.
Mas os vínculos entre os jovens dirigentes estudantis venezuelanos e os think tanks e
agências de cooperação de direita vão muito mais além da aliança com Otpor/Canvas.
Diversas fundações estadunidenses financiam abertamente o movimento dissidente.
Também contam com o apoio do Partido Popular, da Espanha, e da organização de
juventude de Silvio Berlusconi, da Itália.
É o caso do jovem advogado Yon Goicoechea, estrela rutilante dos protestos de 2007, e
que agora estuda na Universidade Columbia, depois de se filiar ao partido de Henrique
Capriles e de abandoná-lo quando não lhe deram o cargo que queria. Em 2008, foi
generosamente recompensado por seu compromisso de luta contra Chávez. O Instituto
Cató deu a ele o prêmio Milton Friedman para a Liberdade, no valor de meio milhão de
dólares.
Outra força que desempenha um papel relevante na tentativa de derrubar Maduro é o
Movimento Social Universitário 13 de Março, organização estudantil que atua na
Universidade dos Andes.
Seu dirigente mais conhecido é Nixon Moreno, ex-estudante de Ciências Políticas,
acusado de violentar a policial Sofia Aguilar, e que hoje está foragido e exilado no Panamá.
Estes jovens sabem o que fazem: promover a desestabilização política. Recebem
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financiamento internacional. Militam nas fileiras da extrema-direita e do anticomunismo.
São xenófobos. Estão vinculados com organizações neonazistas e conservadoras em
vários países. E marcham lado a lado com políticos da direita radical como Leopoldo
López, María Corina Marchado e Antonio Ledezma.
Apesar de contar com todos esses apoios, Lorent Saleh, da Operação Liberdade, se
lamenta: “Estamos tremendamente sós”. Em parte tem razão. Entre os jovens
latinoamericanos não despertam simpatia nem solidariedade. Pelo contrário, suscitam
desconfiança e repúdio. É por que sua plumagem está à vista. Sua causa não tem nada a
ver com o ideário do movimento estudantil popular mexicano de 1968, por exemplo. Não
por acaso, receberam o repúdio público dos estudantes chilenos. Para eles, os filhotes da
reação na Venezuela são inaceitáveis.
Tradução:Louise Antonia León
* Luis Hernández Navarro nasceu na Cidade do México, em 1955; é jornalista e
coordenador da secção de Opinião do diário La Jornada
(http://es.wikipedia.org/wiki/Luis_Hern%C3%A1ndez_Navarro). – [NE]
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