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domingo, 11 de dezembro de 2022

Novas considerações sobre a moral

 A) O materialismo histórico fundado por Marx e Engels admite evidentemente a existência de valores éticos ou morais e estuda-os servindo-se de métodos científicos adequados incluindo o método dialético. E é assim porque os valores têm mudado no decurso do tempo, desde há dezenas de milénios ou tão longe quanto conhecemos ou supomos. São diferentes nos diferentes espaços habitados pelos seres humanos. Durante períodos muito longos os seres que habitavam diferentes lugares do planeta nem sequer se conheciam uns aos outros. 

B) As questões fundamentais são as seguintes - entre outras mais- resumidamente: a relação dos valores morais com as formas materiais de vida dos seres. Entre estas formas aquela que é determinante porque se encontra na base da vida, é o modo como se produzem os bens necessários à própria vida; a função social dos valores morais, para que servem e para quem servem; a autonomia relativa da sua existência considerando-se cientificamente que o determinante é a base biológica e social dos comportamentos humanos e entre os determinantes sociais, o económicos são os mais determinantes, seguindo-se que não existe uma história da Moral independente, mas quase sempre dependente; sendo diferentes ao mesmo tempo em diferentes lugares e transformando-se todos eles- os comportamentos guiados por valores-  no decurso do tempo histórico, é possível descobrir-se valores comuns - idênticos ou parecidos- numa mesma época em todas as sociedades?  São possíveis valores universais não transcendentes à historicidade de todas as coisas e imbricados com as relações económico-políticas? Serão universais porém abstratamente, não cumpridos e motivo de discórdia? Universalidade dependente das lutas de classes? 

C) A Ética ou Moral não é uma ciência. A sua capacidade de revelar e categorizar cientificamente é-lhe fornecida pelos acervo (evolutivo) dos conhecimentos conseguidos pelas ciências, sobretudo a História vista à luz do materialismo e da dialética. Assim pode descobrir e expor as origens bio-psico-sociais das diversas morais (com minúsculas). Pode descobrir na sua relativa evolução uma lógica material e histórica, imbricada com as divisões de classe das sociedades humanas, o progresso relativo dos valores éticos ou morais ou o seu alcance universal conseguido pelas lutas de classe, pelas conquistas e regressões civilizacionais. Digo regressões porque muito do progresso (relativo) de valores de alcance universal têm sido conseguidos depois de catástrofes. "Depois da porta arrombada, trancas na porta", diz o povo. 

D) O marxismo possui uma Ética, no sentido de teoria analítica e sintética da natureza social das múltiplas e diferentes morais que existiram e que se transformaram. É um ramo da filosofia materialista, a qual é a única que tem em conta a ciência. Materialismo histórico e materialismo chamado evolucionista (é uma conceção naturalista distinta do materialismo histórico). O marxismo, ao desenvolver a investigação com categorias filosóficas e conceitos científicos, expõe por isso mesmo a natureza predatória, destrutiva, egoísta, opressora, do modo de produção capitalista. Ao fazê-lo, necessariamente que doa categorias de avaliação moral. Assim, o marxismo pode construir uma moral. Uma moral antagónica face à moral dominante, a moral capitalista. O comunismo é também uma moral. As lutas contra o Capital são também lutas morais. Possui valores morais, com os quais avalia os fundamentos e os atos de qualquer forma de regime capitalista. O que não significa que não reconheça, e não recolha, valores universais promovidos pela civilização capitalista com a suas lutas internas, em boa parte conquistados pelas massas populares. Porque se aprovaram os Direitos Universais em 1949? 

  A luta para que estes direitos universais - que constituem deveres dos Estados- se cumpram, é de fundamental importância para as lutas políticas. Ao mesmo tempo que se  deve constantemente denunciar a hipocrisia e o estratagema usado pelo inimigo com a sua propaganda dos chamados "direitos humanos". Com essa arma ideológica e os poderosos meios de mentalização que possuem, conseguem "legitimar" (termo ético por costume) os seus ataques desumanos e manipular as instituições internacionais, contornar leis e direitos e criar uma opinião pública favorável aos seus intentos. 

  A conceção comunista do mundo, que deriva das conquistas das ciências e das práticas sociais, é uma Ética superior à moral que a ideologia do Capital tornou dominante no mundo. Vale a pena lutar por ela, porque é a melhor alternativa no mundo atual.

 Contudo, não devemos concluir que, sendo uma Ética claramente mais humanista, claramente superior, que os comunistas são indivíduos que se regem por regras ou valores que lhe garantem só por declaração que são superiores aos que não são e não querem ser comunistas.

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