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quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Uma nova moral antes que o mundo acabe

 TESES

   O que conduz às mudanças de tipo moral é o processo histórico: as transformações no modo de vida material das coletividades humanas. A moral é um fenómeno embebido na e pela historicidade de todos os fenómenos, sociais e naturais. Estas morais relativas não possuem um núcleo a que possamos chamar de “essência da moral”. A essência, isto é, o núcleo de uma ontologia materialista e científica, encontra-se fora da cultura e da Ideologia. Segundo G. Lukács a categoria essencial numa ontologia do ser social é o trabalho. Ora, seja o trabalho seja outra categoria sociológica somente foi e é possível pela existência essencial da natureza, da materialidade do mundo, incluindo a espécie humana.

 Sendo que, como se disse, as mudanças nas diversas morais históricas são profundamente condicionadas pelas realidades a que chamamos Economia, Política, Antropologia, verifica-se que o modo de produção capitalista (desenvolvimento das forças produtivas que criam determinadas relações sociais e que se interinfluenciam) criou condições materiais e culturais (nomeadamente as ciências) que permitiriam uma nova moral completamente oposta. Uma moral para a qual efetivamente todos os seres humanos devem ser tratados como fins e não como meios ; o que significa o fim da exploração da força de trabalho pelos capitalistas. Com o termo da exploração (dita económica, mas que é simultaneamente moral e política) desapareceria a alienação do trabalhador. Sem esta exploração do assalariado desapareceria o mercado e, portanto, o fetichismo (feiticismo) da mercadoria.

  Podem novos Estados políticos, reformas revolucionárias na economia, experimentar justamente formas de democracia popular avançadas que coexistam com o modo d eprodução capitalista dominando-o, extraindo do mercado rendimentos que beneficiem populações trabalhadoras nomeadamente de áreas pobres. Contudo, a moral nova somente se implantará quando desaparecer qualquer forma de exploração do homem pelo homem. Entretanto, coexistem em conflito e contradição uma moral antiga, a capitalista, e elementos de uma moral não capitalista, normalmente designada como socialista, embora o termo seja muito controverso nessas condições.

  Consideradas estas teses só se pode concluir que os socialismos existentes no século passado não criaram uma nova moral, pelo menos no seu todo, que merecesse o termo socialista, tal como este se depreende dos textos de Marx. É verdade, não tenho dúvidas e reservas sobre isto, que construíram (algumas dessas experiências, e falamos nomeadamente da extinta URSS) elementos que cabem perfeitamente no termo socialismo , como sejam; saúde e ensino gratuito e universal, pleno emprego, habitação liberta do mercado, grande promoção da literacia, etc. Porém, em todas essas experiências mais ou menos longas a existência de liberdades coletivas e individuais foi sempre muito precária (damos como exemplo maior a existência de uma censura intoleravelmente policial) . Em algumas dessas experiências existentes ainda, tal como aquelas que se extinguiram rapidamente nas antigas colónias, muito embora não sejam (ainda??)  permitidas grandes empresas capitalistas, o tratamento do homem como um meio e não um fim permanece  ou adquiriu novas formas, particularmente sob a forma de um elite de partido que goza de benesses e de privilégios incompatíveis com uma nova moralidade. Refira-se a praga da corrupção que varreu Estados que se formaram com a independências das colónias. Factos que se chocam com qualquer moral existente no mundo desde séculos. As sociedades capitalistas vivem com a corrupção, como é evidente, porém mesmo elas proíbem-na ou censuram-na.

Assim a moral socialista e comunista ficou demasiado desacreditada para agora constituir uma dura tarefa reconvertê-la em credível. Para isso, há que demonstrar que esses socialismos não foram no rigor do termo ; foram, pelo contrário desvios muito graves. Tão profundos que continham a própria autonegação dos programas ditos socialistas (nalguns casos nada nesses programas foi cumprido). E tão graves que nenhum contexto conturbado permite justificar. A República Popular da Coreia (do Norte) contem, segundo julgo, importantes transformações económicas e sociais (ensino, saúde, habitação, ciência técnica) que seriam benéficas se fossem aplicadas em todo o mundo ; porém, não há retóricas que justifiquem que aquele Estado é democrático e muito menos socialista. E nunca virá a sê-lo se os ataques dos países imperialistas-colonialistas não cessarem. 

Devemos aprender com o passado pois ele é o único grande livro de aprendizagem. Mas nunca repeti-lo.

----Nozes Pires-----15/12/2022

   (Todos textos que publico são da minha exclusiva autoria, exceto os que vêm assinados por outros autores)

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