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segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

A epopeia palestiniana

 

"A batalha por Gaza é a batalha de todos nós"

– "A batalha por Gaza é a batalha de todos nós, tal como foi a guerra civil espanhola, a de Beirute em 1982 ou a do Líbano em 2006".

Leila Ghanem [*]

Cartoon, autor desconhecido.

1- Por que a operação militar do Hamas em 7 de outubro chocou o Oriente Médio e até o mundo todo? Qual o impacto histórico desse evento nos movimentos de resistência no Oriente Médio?

Não há dúvida de que, tanto para o povo palestino, como para o povo árabe, o "dilúvio de Al-Aqsa" de 7 de Outubro foi uma operação militar de proporções míticas; em todo caso, sem precedentes desde a ocupação da Palestina em 1948, uma espécie de épico lendário aos olhos dos povos árabes. Alguns escritores remontam a Homero para evocar a imagem da Ilíada, uma lenda heroica "em que os fracos conseguem derrotar seu colonizador em um equilíbrio de forças inimaginável". Em apenas duas horas, a maior potência do Oriente Médio, o quinto maior exército do mundo, sofreu uma derrota esmagadora nas mãos de um modesto comando apelidado de "Distância Zero" (para enfatizar o confronto da corporação contra o tanque). , composto por uma centena de homens modestamente armados, mas dotados de coragem heroica. Vinte assentamentos foram libertados, bases militares foram ocupadas, uma das quais abrigava o quartel-general das IDF no sul, um observatório militar de alta tecnologia para controlar a fronteira, a unidade de pesquisa 545 e a unidade de inteligência 414 foram neutralizadas e dois generais capturados. A lenda sionista ocidental da invencibilidade do Estado sionista foi quebrada. Em poucas horas, Gaza tornou-se Hanói. E lembramo-nos da célebre frase do general Giap durante a sua visita a Argel, em Dezembro de 1970: "Os colonialistas são maus estudantes de história ».

Para o escritor e ativista palestino Saif Dana, o exemplo mais próximo dessa vitória militar, apesar do desequilíbrio de poder entre colonizados e colonizadores, é a "Revolução Haitiana", que foi e continua a ser um símbolo importante para o povo. Em todo o mundo. Os haitianos, armados de coragem e "vontade de emancipação", lançaram-se, liderados por Dessalines, numa batalha decisiva contra os colonos franceses, que acabara de receber reforços, comandados pelo general Rochambeau. Esta batalha parecia estrategicamente impossível, mas depois de quatro ataques heroicos liderados pelo chefe negro Cabuat, os franceses foram finalmente forçados a capitular em 18 de novembro de 1803 no Forte Vertières, embora os haitianos tenham sofrido perdas consideráveis de vidas. As guarnições francesas se renderam uma a uma, permitindo que a ex-colônia proclamasse sua independência em 1º de janeiro de 1804. A partir daí, tomou o nome de Haiti. Esta batalha lendária entrou para os anais da história. Isso então inspirou revoltas de escravos em outros lugares, como a Rebelião de Aponte em Cuba em 1812 ou a Conspiração de Vesey da Dinamarca na Carolina do Sul em 1822. Essa vitória também teve uma influência decisiva sobre Simón Bolívar e outros líderes dos movimentos de independência latino-americanos, embora só após 1834 a escravidão foi abolida.

O que aconteceu em 7 de outubro na Palestina é tão lendário quanto a batalha do Haiti, e doravante permanecerá nos anais da história, como as batalhas de Hittin, El Kadissiya, etc. no tempo de Saladino.

Imagine o terremoto que abalou todo o sistema do Império do Ocidente devido à súbita derrota de seu direito, no qual investiu milhares de milhões de dólares durante quase um século. O mesmo poder ao qual o Império confiara a função de cabeça de ponte imperial para controlar rotas marítimas estratégicas, recursos vitais como petróleo, gás e urânio, e ser a chave para consolidar seu domínio, desestabilizando os inimigos do Império, introduzindo relações de classe em benefício dos opressores... Israel estava no centro desse sistema capitalista que deveria manter os países do Sul dependentes dele; Para que isso acontecesse, o povo palestino tinha que se tornar um cenário precursor, um modelo de perseguição... Para isso, foi necessário desapropriá-lo, desumanizá-lo, mantê-lo sob bloqueio, massacrar seus líderes históricos... Isso exigiu uma abordagem de status específica para seus fantoches e proteção política, institucional, financeira e de mídia...

O alarme imediato que abalou todos os líderes do mundo capitalista em 8 de outubro, que afluíram a Tel Aviv, é uma prova irrefutável do investimento do mundo ocidental neste Estado ilegal, fora de todos os direitos humanos e normas. Direitos e normas criados pelo próprio Ocidente.

O dia 7 de outubro foi uma derrota para o Ocidente imperialista. E, a partir de agora, haverá um antes e um depois do dia 7 de outubro.

2- O Hamas é uma organização terrorista?

Comecemos por dizer que, para além dos Estados Unidos e da União Europeia, nenhum outro país do mundo acusa o Hamas de terrorismo.

Se olharmos para a história, o termo "terrorista" nem sempre foi pejorativo. Os revolucionários usavam o "terror" contra seus inimigos de classe. Foi durante a Revolução Francesa que o termo "terrorista" foi usado pela primeira vez por Gracchus Babeuf ao se referir aos "patriotas terroristas do segundo ano da República". Para o marxismo, o terror não era um objetivo político, mas uma ferramenta, o instrumento de uma política, e deve ser julgado em relação aos objetivos dessa política. Isto levanta duas questões diferentes:   1ª) A questão da legitimidade dos objectivos políticos. 2ª) A adequação dos meios. Condenar o terror como um "sistema" metafísico esconde o interesse em deslegitimar os objetivos políticos que ele estabeleceu para si mesmo.

Tomemos o exemplo da Comuna de Paris, o ápice da Guerra Civil Francesa. Após a derrota, foram rotulados, para citar apenas o Le Figaro, órgão da reação de Versalhes, como "terroristas do Hôtel de Ville [do Hôtel de Ville] ou dos 'terroristas do 18 de Março' ou da 'Comuna terrorista'.

O Terror era defendido ou combatido de acordo com os objetivos perseguidos pelas diferentes classes sociais e facções políticas e que cada uma delas considerava legítimos.

Em uma carta à sua mãe, Friedrich Engels explica:   "Fala-se muito sobre os poucos reféns que foram fuzilados à maneira prussiana, os poucos palácios que foram queimados à maneira prussiana, pois tudo o mais é mentira; mas dos 40.000 homens, mulheres e crianças que os Versalhes massacraram com metralhadoras depois de serem desarmados, ninguém fala.

Parece que a descrição de Engels se refere aos acontecimentos em Gaza. Pode-se pensar que descreve como os media ocidentais avaliaram desproporcionalmente (e continuam a avaliar) o impacto do ataque do Hamas em 7 de outubro e o genocídio que se seguiu com a vingança sangrenta das IDF – o exército israelense – apoiado pela Força Delta norte-americana e seus três porta-aviões no Mediterrâneo. Aqueles que falaram da Hiroshima de Gaza não estão longe do número de 70.000 vítimas que caíram no Japão em agosto de 1945. Em Gaza, o número de civis assassinados é de 50 mil.

Os Estados imperialistas coloniais têm o hábito de denunciar o terrorismo das lutas dos povos sob seu domínio e tratar seus combatentes como terroristas. Lembremos, mais uma vez, que várias organizações terroristas, espoliadas ao longo da história, tornaram-se interlocutoras legítimas; Foi o caso do Viet Cong, do Exército Republicano Irlandês (IRA), da Frente de Libertação Nacional da Argélia, do Congresso Nacional Africano (ANC) e de muitas outras organizações que foram classificadas como "terroristas", como a OLP e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). A FPLP na Palestina.

Com esse termo, o objetivo era e é despolitizar sua luta, apresentá-la como um confronto entre o Bem e o Mal.

Toda vez que os palestinos se rebelam, o Ocidente – tão rápido em glorificar a resistência dos ucranianos – invoca o terrorismo. Fê-lo durante a primeira Intifada, em 1987, e a segunda, em 2000, durante as ações armadas na Cisjordânia ou as mobilizações para Jerusalém, durante os confrontos em torno de Gaza, sitiada desde 2007 e que sofreu seis guerras em 17 anos.

A questão da legitimidade de Israel para se defender e desarmar o Hamas continua por resolver. Alguns meios de comunicação sionistas chegam a invocar Thomas Hobbes e sua percepção do que ele chama de posse das classes dominantes do "monopólio da força física legítima". Ignora-se, assim, que essa legitimidade não pode ser aplicada a um Estado colonizador, uma legitimidade contestada em primeiro lugar pelos palestinos, pelos povos dos países ao seu redor e que foram atacados (libaneses, sírios, iraquianos, iemenitas e iranianos) e por todos aqueles que o consideram um estado colonizador. Antes da farsa dos "Acordos de Paz" de Oslo, a maioria dos países do mundo não reconhecia Israel. A sua legitimidade assenta, sem mais delongas, numa decisão das Nações Unidas, enquanto Israel tem sistematicamente rejeitado todas as decisões relativas ao povo palestino (resoluções 242, 323, 194, direito de regresso dos palestinos ao seu país).

3) Você pode explicar brevemente o conteúdo político do Eixo de Resistência, quem são seus membros e que lugar a Palestina ocupa nele?

Há dois eixos diferentes que se sobrepõem, mas não têm uma direção comum. Há o eixo dos Estados: Irão, Síria, Iêmen, Líbano (Sul) e o eixo dos movimentos de resistência, que são grupos político-militares anti-imperialistas de várias convicções que vão do xiismo dos deserdados ao marxismo. Todos eles, incluindo o Hamas, levantam a questão anticolonial e alguns defendem a justiça social em seus manifestos. São essencialmente constituídos pelo Hezbollah (Líbano), Jihad (Palestina), Houthiyeen (Iémen), Al-Mad Shaabi/"Reforços Populares" (Iraque), e a este bloco juntam-se a FPLP (Palestina), Saraya (unidade especial dos campos de refugiados palestinos no Líbano) e outras organizações comunistas, como o Partido Comunista do Líbano, que acaba de apelar aos seus militantes para se mobilizarem e treinarem nas bases do Hezbollah. Há uma coordenação significativa entre esses grupos político-militares, que atuam sob o lema "Unidade de Caminhos", uma forma que garante a independência relativa de cada organização, especialmente as sediadas na Palestina, como o Hamas. Note-se, no entanto, que a coordenação com o Hamas está mais ou menos distante, principalmente por razões ideológicas – o Hamas pertence à Irmandade Muçulmana, um grupo islâmico sunita conservador –, mas também por diferenças políticas, a aliança do Hamas com o Qatar e a Turquia, que afetou as suas relações com a Síria. Em 2014, o Hamas teve que abandonar o campo de Yarmouk, na Síria.

No entanto, é importante notar que o Hamas tem uma estrutura diferente das organizações mercenárias islâmicas criadas pela CIA, como a Al-Qaeda ou a Anossra ou o Estado Islâmico, cujo único objetivo era destruir as estruturas dos Estados árabes e combater sua resistência. Imperialista.

O Hamas é um movimento palestino enraizado nas classes trabalhadoras de Gaza, da Cisjordânia e do interior palestino do Líbano, Síria e Jordânia. O Hamas foi eleito democraticamente em eleições supervisionadas pela ONU em 2007 e, desde então, Gaza tem sido bloqueada não apenas por Israel, mas também pela Europa e pelos Estados Unidos. Não é o Islão que incomoda os imperialistas, que historicamente têm sido capazes de usar o Islão fascista perfeitamente. O que estão a confrontar com o Hamas é o facto de esta organização se recusar a depor as armas até libertar a Palestina e rejeitar os chamados tratados de paz, como os de Camp David ou Oslo, que só serviram para usurpar 78% da Palestina histórica antes da Nakba de 1948. Atualmente, o Hamas recebe treinamento e armas do Eixo de Resistência anti-imperialista e não de seus amigos ideológicos em Istambul ou no Catar. Isso explica as diferenças dentro do Hamas entre dois ramos: a ala militar, Al-Qassam, e a ala política, cujo líder vive no Catar e não em Gaza. Note-se também que a libertação da Palestina está no centro da agenda deste bloco de Resistência, assim como o fim da interferência ianque no Médio Oriente.

Apesar destas diferenças, a atual batalha por Gaza exigiu a unidade de todos os componentes acima mencionados e uma coordenação militar plena. Sua engenhosidade e coragem ficarão para a história.

4- Pode-se falar de Bloco Histórico?

Para caracterizá-lo, recorremos a Gramsci e seu conceito de bloco histórico, cuja primeira menção se encontra no Livro 4, em passagem que trata da importância das superestruturas – estas são vistas por Gramsci como a esfera em que os indivíduos tomam decisões sobre sua consciência de suas condições materiais de existência – e a necessária relação entre a base e a superestrutura.

Os movimentos anticoloniais, independentemente de sua filiação declarada, desempenham um papel progressivo na dinâmica da história e representam as aspirações emancipatórias das classes dominadas e exploradas. A sua luta no terreno radicaliza-os inevitavelmente. É o caso do Hamas, que trava uma guerra de libertação nacional e forjou alianças no campo de batalha com todos os componentes da resistência.

Em outra passagem do Caderno 7, Gramsci vincula o bloco histórico à força da ideologia e à relação entre ideologias e forças materiais; Ele insiste em que é uma relação de unidade dialética orgânica, na qual as distinções são feitas apenas por razões "didáticas".

Outra das afirmações muito significativas de Marx é que uma convicção popular muitas vezes tem o mesmo poder que uma força material. Creio que a análise dessas afirmações leva a um reforço da noção de "bloco histórico". No Livro 8, Gramsci insiste na identidade entre história e política, na identidade entre "natureza e espírito", na tentativa de elaborar "uma dialética de diferentes momentos, como os que operam no interior da luta de classes, a partir de uma perspectiva "de que o impulso revolucionário dos povos oprimidos atua sobre as relações sociais de produção".

5- A demonstração da vulnerabilidade militar do Estado sionista para a Resistência Palestina é comparável à vitória da Resistência no Líbano em 2006?

Sem dúvida, as semelhanças existem, porque em ambos os casos são comandos precariamente equipados que enfrentam um exército regular com recursos significativos. Os relatos de batalha que nos chegam todos os dias a partir de Gaza mostram que a força da determinação dos combatentes é decisiva para o resultado da batalha.

Quando os habitantes de Gaza se referem a seus combatentes como "samurais" ou falam em "distância zero", eles querem mostrar o enorme valor de um "combatente contra um tanque". Em 2006, na planície de Khiam, quando combatentes do Hezbollah tomaram 40 tanques Mer-Kaba sem destruí-los, eles usaram a mesma tática. Sayed Hassan Hasrallah então disse para encorajar seus homens: "Israel é mais fraco do que uma teia de aranha". Nas palavras de Mao, "o imperialismo é um tigre de papel".

A derrota das FDI foi tão amarga que, desde 2006, Israel, que travou seis guerras destrutivas em 25 anos, não ousa mais se aventurar no Líbano.

Hoje, em Gaza, a sua terrível e covarde vingança contra civis, especialmente mulheres e crianças, não funciona a seu favor. Militarmente, as forças fortemente armadas israelense-americanas, as IDF e a Delta, não foram capazes, em 40 dias de guerra amarga, de acalmar o fogo dos combatentes, deter o Hamas ou capturar um único de seus combatentes. A resistência de Gaza, seu povo e seus combatentes estão ressuscitando a Batalha de Stalingrado .

6 – A opinião de que o governo sionista estava ciente do ataque palestino de 7 de outubro e permitiu que ele desencadeasse o massacre tem algum fundamento real?

Muito pelo contrário. Como já observamos, Israel foi apanhado de surpresa. O comando passou a ocupar os escritórios do Quartel-General, apresentado como uma joia da tecnologia. O ataque expôs as falhas estruturais do 5º exército mais poderoso do mundo; mostrou como esse exército foi desestabilizado a ponto de começar a atirar em tudo o que se movia, inclusive nos seus próprios cidadãos. Esses factos foram revelados tanto por membros do comando palestino quanto pela imprensa israelense, que citou testemunhas. Nasrallah também aludiu em seu discurso à estupefação do exército israelense, que disparou contra civis israelenses.

7- Quais são os principais planos do imperialismo sionista que foram destruídos pelo ataque palestino?

O Hamas ainda não revelou as duas razões fundamentais da sua intervenção:   a escolha da data e do local de seu funcionamento, mas é necessário fazer algumas análises para caracterizar a situação:

  • A necessidade vital de romper o bloqueio, após o fechamento de túneis do lado egípcio durante operações conjuntas israelense-egípcias em 2019 que sufocaram Gaza ;
  • O desejo de acabar com a limpeza étnica que ocorre na Cisjordânia desde 2020 e que afetou 1.600 jovens, incluindo em Jenin, Nablus, Jerusalém e El-Hawara, onde ocorreu um progrom em 2022.
  • O desejo de salvar El-Aqsa, um santuário muçulmano e símbolo da capital da Palestina, que Netanyahu decidiu confiscar e abrir para o Muro das Lamentações. Os ataques às orações de sexta-feira tornaram-se sistemáticos.
  • Canal Eilat-Mediterrâneo.
  • Pôr fim ao processo de aproximação entre a Arábia Saudita e Israel, que incluía a construção do Canal Ben Gurion (Eilat-Mediterrâneo) [1].
  • A intenção de Israel de apossar-se das jazidas de gás natural no offshore de Gaza [2].
  • As repetidas declarações de Israel sobre a necessidade de reduzir à metade a população de Gaza e enviar a outra metade para o Sinai, bem como enviar combatentes do Hamas para Guantánamo e líderes políticos para o Catar .

8- Porque a solução de dois Estados, israelense e palestino, é inaceitável para as diferentes correntes da Resistência Palestina e porque qualificam essa proposta de colaboração com o inimigo.

Se quisermos resumir a história da ocupação da Palestina em poucas datas, diremos que a Palestina foi ocupada em três fases:   a Nakba de 1948, a Naksa ou derrota de 1967 e os Acordos de Oslo de 1993. Como reconhece Elías Sambar, chefe da delegação palestina encarregada das negociações de paz, esses chamados acordos de paz (sic), que duraram 32 anos, só serviram para reduzir gradualmente a Palestina. Hoje, resta apenas 6% da Palestina original.

Além disso, uma das razões para a "popularidade" do Hamas, eleito democraticamente em 2007 sob os auspícios de uma missão internacional de observadores da ONU, é que o povo de Gaza, contra todas as probabilidades, não o elegeu por sua "doutrina islâmica", mas porque a organização se recusa a depor as armas e negociar um acordo de "rendição". Uma posição que custou a vida de uma dúzia de seus líderes históricos, incluindo seu fundador, Sheikh Yasin, que foi brutalmente assassinado. Desde então, Israel colocou Gaza sob bloqueio como forma de punição coletiva. Um bloqueio total que dura há 17 anos, que transformou Gaza em uma prisão a céu aberto antes de se tornar um cemitério a céu aberto.

O Hamas não foi o único a rejeitar os Acordos de Oslo, conhecidos como Acordos Vergonhosos. Todas as outras organizações palestinas as rejeitam, incluindo as facções do Fatah (Conselho Revolucionário), bem como a maioria dos líderes da OLP e figuras próximas a Arafat, como Mahmoud Darwish, autor dos discursos de Arafat, ou Edward Said. O Estado-dormitório, ou Estado-tampão presidido por Mahmoud Abbas, é, antes de tudo, um Estado de segurança destinado a proteger Israel.

Na realidade, a solução de dois Estados não é mais do que uma farsa que permitiu a Israel continuar a desapropriar palestinos, acelerar a construção de centenas de colonatos e levar a cabo uma limpeza étnica sistemática na Cisjordânia. Este ano, antes de 7 de outubro, 266 jovens palestinos foram massacrados em suas casas na frente de suas famílias, em uma operação preventiva, já que por decisão das IDF "esses jovens são terroristas em potencial".

De facto, muito antes de 7 de outubro de 2023, Israel nunca havia escondido sua intenção de "reduzir à metade, ou seja, aniquilar um milhão de seres humanos – o número de palestinos na Faixa de Gaza", causando uma "Nova Nakba" e, consequentemente, o êxodo e genocídio. O que estamos a viver actualmente em Gaza faz parte de uma longa e sangrenta provação para o povo de Gaza:   em 2006, 400 mártires; em 2008-2009, 1.300 mártires; em 2012, 160 mártires; em 2014, 2.100 mártires; em 2021, quase 300 mártires; e na primavera de 2023, várias dezenas.

De acordo com Michèle Sibony [Michèle Sibony para a Agência Média Palestina, 13 de outubro de 2023] [3], uma anti-sionista declarada e porta-voz do União Judaica Francesa para a Paz (UJFP):   "Sabemos há muito tempo qual é o objetivo: "o menor número possível de palestinos no maior território anexado possível, do mar ao rio Jordão". Ou seja, uma terra esvaziada de seus habitantes palestinos e aberta à colonização, uma verdadeira "grande substituição".

Num artigo publicado no Haaretz, intitulado "Por que os palestinos estão a matar-nos", a jornalista israelense anti-sionista Amira Hass comentou os acontecimentos de 7 de outubro:   "Os palestinos não atiraram em nós porque somos judeus, mas porque somos os seus judeus". Os seus ocupantes, torturadores, carcereiros, os ladrões das suas terras e águas, os autores da demolição das suas casas, aqueles que os exilaram e bloquearam seus horizontes. "Os jovens palestinos estão dispostos a dar suas vidas e causar enorme sofrimento às suas famílias, porque o inimigo que enfrentam lhes mostra todos os dias que sua crueldade não conhece limites".

Um dos criadores de Oslo, Gideon Lévy, que foi braço direito de Simón Pérez, acaba de declarar numa conferência de imprensa em Nova York que "Israel é responsável pelo que está a acontecer em Gaza e o problema não é o actual governo", a extrema-direita, mas o facto de Israel recusar a paz e ter sempre mentido. Para ele, Israel só tem uma ideia fixa em mente:   alcançar o que começou com a guerra de 1948. Tania Reinhardt já publicou um livro com o mesmo título. Para Israel, a paz "não era senão um pretexto para ganhar tempo e terra e continuar a construir colonatos".

É claro que a "paz" de Oslo foi feita sob os auspícios dos Estados Unidos, que queriam proteger sua descendência concedendo-lhe reconhecimento internacional. Oslo deu a Israel o reconhecimento de todos os países asiáticos, incluindo China, países latino-americanos e 52 países africanos.

Segundo Ilan Pappé, a chamada paz também deu ao Estado colono "absolvição total de todos os seus crimes cometidos contra o povo palestino desde 1948".

9 – O que mudou definitivamente na região desde 7 de outubro?

Ainda é cedo para avaliar todo o significado do acontecimento, que dependerá do resultado da guerra, mas o que é certo é que a equação em que assenta o equilíbrio entre o arrogante Ocidente imperialista e os países do Sul foi abalada.

Não é por Israel ter devastado o norte de Gaza, matando 30 mil civis, 70% deles mulheres e crianças, e forçando 1,5 milhão de pessoas a fugir, que Israel venceu. Após 40 dias de ataques, seus objetivos não foram alcançados.

Também é verdade que a desocidentalização do mundo se acelerou para os países do Sul. O Ocidente bárbaro foi desmascarado diante do povo. Marcou o fim das ilusões sobre a Europa como modelo de democracia ou santuário dos direitos humanos, e a sua verdadeira face foi revelada a todo o mundo. As autoridades ocidentais são acusadas de serem criminosos de guerra.

De acordo com um jornal americano, Israel é o país mais odiado do mundo, o que terá impacto em seu status privilegiado. Num artigo de opinião intitulado "É hora de acabar com a relação especial entre os Estados Unidos e Israel", Stephen Walt, professor de relações internacionais na prestigiada Universidade de Harvard (Boston MA), acrescenta que o "apoio incondicional" ao Estado judeu começa a ser sentido, causa estragos. "O custo dessa relação estratégica está aumentando, e esse custo não é apenas político, mas também económico." E, acrescenta, "quando os EUA sozinhos exercem seu veto triplo no Conselho de Segurança da ONU sobre um cessar-fogo, na verdade estão endossando o 'direito de se defender' de Israel, um direito que apoia com uma nova transação militar que vale aproximadamente US$735 milhões. Custoso ou não, os EUA não abandonarão sua criatura Israel, mas tais vozes revelam uma nova realidade.

Quanto à posição dos BRICS, é uma decepção total para o mundo árabe e especialmente para os movimentos de resistência. Os BRICS provaram ser uma aliança exclusivamente econômica, cuidando apenas de seus próprios interesses. Isso está muito longe do espírito de não-alinhamento ou Bandung. Eles querem que os EUA se aprofundem no Médio Oriente e esperam aproveitá-lo.

10- Qual a importância da solidariedade internacional nos países que hoje estão no coração do imperialismo?

De Los Angeles ao Rio de Janeiro, de Estocolmo a Madri, da Tunísia à Cidade do Cabo e de Mumbai a Sydney, há mais de um mês a opinião pública mundial vem expressando sua revolta contra a guerra implacável de Israel contra os palestinos.

Agora que as massas se apoderaram da Internet para pô-la ao serviço da sua causa, desafiando e contornando todos os métodos repressivos das corporações multinacionais que dominam os media, uma brecha foi feita no muro mediático para mostrar o que está a acontecer no terreno e transmitir aos habitantes de Gaza a solidariedade dos povos do mundo.

Estas manifestações maciças em todas as principais cidades do mundo testemunham uma revolta contra os crimes de Israel e seus protetores envolvidos em ações militares com os Estados Unidos; uma revolta contra a hipocrisia de um Ocidente que moveu o céu e a terra contra Putin a um ponto que beira o racismo anti-russo, enquanto aqui eles permanecem em silêncio contra esses crimes sórdidos.

Assim, embora os EUA se vejam como o principal defensor de Israel, é interessante notar que imagens de protestos estudantis em apoio ao povo palestino nos campi dos EUA mostram uma mistura heterogênea de árabes, descendentes de escravos americanos e netos de emigrantes latino-americanos. A opressão sofrida pelo povo palestino encontra eco tanto nos países do Sul quanto em uma parte significativa dos cidadãos dos países do Norte, que se lembram da opressão sofrida durante séculos de colonização e dominação, até mesmo da humilhação e crueldade infligidas por seus antepassados.

Israel parece, assim, ser o último dos países "brancos" a oprimir um povo do Sul. E o palestino despojado, pobre e aterrorizado se torna um símbolo de classe.

Lendo as faixas dos manifestantes, tem-se a impressão de que a "exceção israelense", concedida pelo Ocidente em nome das vítimas do Holocausto, e que minimiza o sofrimento e a crueldade sofridos por outros povos do mundo, logo chegará ao fim.

É preciso dizer que esta solidariedade internacional é alimentada pela resistência e sacrifício de um povo martirizado que sofre três guerras ao mesmo tempo:   o terrível bloqueio total, o genocídio e o êxodo.

Esta tarde, um representante da FPLP disse que "o nosso povo recusa-se a sair, aprendeu desde a primeira Nakba que se deixar a sua terra natal, nunca mais voltará; então sua única opção é "Win or Die". Permanecer no seu país já é uma vitória.

Pessoalmente, estou convencida de que a batalha por Gaza é a batalha de todos nós, tal como foi a guerra civil espanhola, a Guerra Civil de Beirute em 1982 ou a Guerra do Líbano em 2006. As palavras de Miguel Urbano ainda ressoam em minha mente. "Onde o imperialismo concentra suas forças militares, políticas, econômicas e mediáticas, aqueles que o enfrentam fazem-no em nome da humanidade como um todo". A queda de Gaza será a queda de todos nós frente à barbárie capitalista. O mérito dessa solidariedade é ter apontado o dedo para o nosso inimigo de classe.

22/Dezembro/2023

[1] A importância estratégica do Canal Ben Gurion (Ben-Gurion é o nome do líder sionista que liderou o massacre e a espoliação do povo palestino em 1948) que iria do Mar Vermelho a Gaza, uma alternativa ao Canal de Suez e que canalizaria 30% do comércio mundial de energia pode ser encontrada aqui: es.sott.net/article/90564-Israel-se-propone-abrir-el-Canal-Ben-Gurion
[2] A importância do campo de gás do offshore de Gaza, estimado em 30 mil milhões de metros cúbicos, bem como de outros campos de gás e petróleo descobertos em terra, entre Gaza e a Cisjordânia, na atual guerra de Israel contra a Palestina, é analisada aqui: www.palestinalibre.org/articulo.php?a=51528
[3] Michèle Sibony para a Agência Média Palestina, 13 de outubro de 2023.

[*] Dirigente do Partido Comunista do Líbano.

O original encontra-se em albagranadanorthafrica.wordpress.com/2023/12/22/leila-ghanem-la-bataille-de-gaza-est-notre-bataille-a-tous/#

Este artigo encontra-se em resistir.info

Reportagem na Cijordânia

 

Desde el 7 de octubre el ejército israelí lleva a cabo un feroz ataque contra los bastiones de la resistencia armada en Cisjordania. Su reciente campaña contra el campo de refugiados de Yenín muestra que la guerra israelí en Gaza es una guerra contra la resistencia y contra la población.

Tan pronto como cae la noche en el campo de refugiados de Yenín, Zuhour Al Sadi toma a sus tres hijos, sus bolsos y sus libros escolares, y abandona el campo. Como muchos otros residentes, está tratando de escapar de las incursiones nocturnas del ejército israelí contra Yenín.

Últimamente nadie puede dormir tranquilo en la ciudad y en su campo de refugiados. Las incursiones de las fuerzas especiales israelíes en la ciudad del norte de Cisjordania han aumentado significativamente desde el 7 de octubre, y en ocasiones duran varios días.

Durante estas operaciones, las viviendas agrícolas han sido destruidas, así como las calles, la infraestructura civil y las carreteras que conducían al campo. Además, el suministro eléctrico, las tuberías de agua y el sistema de alcantarillado están dañados y las aguas residuales inundan las calles del campamento.

Cada vez que los residentes intentan comprender lo que sucede a su alrededor y reparar los daños causados ​​a las instalaciones por los ataques, las fuerzas israelíes regresan y las destruyen nuevamente.

Esta destrucción incesante y gratuita es una forma de castigo colectivo que el ejército inflige a los habitantes del campo. Zuhour explica que los residentes están abandonando sus hogares por miedo a que el fuego indiscriminado de los soldados israelíes mate a sus hijos, incluso mientras están dentro.

La destrucción de las calles dificultó el acceso de los niños a la escuela una vez finalizada la redada. Después de la escuela, Zuhour y sus hijos regresan a casa ansiosos, listos para huir tan pronto como los residentes del campo hagan sonar la alarma para advertir de una inminente incursión militar.

Los ataques israelíes contra el campo de refugiados de Yenín

Israel ha utilizado los combates en Gaza para lanzar una guerra total contra la resistencia armada en Cisjordania, que no ha logrado erradicar durante los dos últimos años de limitadas operaciones de contrainsurgencia en Nablus, Yenín, Tulkarem y Jericó. La mayor parte de las operaciones militares israelíes se están llevando a cabo actualmente en el campo de refugiados de Yenín. Estas operaciones duran varias horas y, a veces, varios días.

En todos los casos, el objetivo es claro: eliminar la resistencia establecida en el campo, en particular la Brigada Yenín, formación que reúne a varios grupos armados de la resistencia. Todos los ataques van acompañados de excavadoras militares que destruyen infraestructuras, casas y calles.

Sin embargo, la naturaleza de las incursiones en Yenín ha cambiado y ahora suelen contar con el apoyo de ataques aéreos con aviones de reconocimiento (llamados “drones suicidas” por los residentes del campo) que tienen como objetivo las reuniones de jóvenes.

Desde el 7 de octubre, 21 palestinos han muerto en Yenín a causa de ataques aéreos y redadas del ejército. Un total de 35 palestinos de Cisjordania murieron durante este período a causa de los ataques aéreos israelíes.

El primer uso de helicópteros Apache y aviones de reconocimiento para ataques aéreos tuvo lugar en Cisjordania, en la batalla de Yenín, en 2002, y también tuvo lugar en el campo de refugiados de Yenín, en junio de este año. Le siguió otro ataque aéreo durante la operación militar llevada a cabo por el ejército israelí en en julio.

Ha habido redadas desde octubre, pero su ritmo se ha acelerado durante el último mes. El 29 de noviembre las fuerzas israelíes asesinaron a dos destacados fundadores de la Brigada Yenín, Muhammad Zubeidi y Wissam Hanoun. La situación no ha hecho más que empeorar desde entonces.

La respuesta inicial a los asesinatos de Zubeidi y Hanoun tomó la forma de un tiroteo en el puesto de control de Dotan, al oeste de la ciudad de Yenín, el 8 de diciembre, en el que un soldado israelí resultó herido.

La operación fue reivindicada más tarde por la Brigada Yenín, que afirmó que más de un soldado había resultado herido. La operación fue vista como un golpe para Israel en Cisjordania, especialmente porque tuvo lugar fuera del campamento y tuvo como objetivo un puesto de control militar durante un período en el que las fuerzas israelíes estaban en alerta máxima.

En la mañana del 5 de diciembre, mientras estaba en el campo de refugiados de Yenín escribiendo un informe tras una redada nocturna el día anterior, caminé por el centro del campo con otros periodistas para documentar la última destrucción.

De repente, sonaron las sirenas de alarma, el medio por el cual los “vigías” de la resistencia y los residentes del campo alertan a los residentes de la presencia de fuerzas especiales israelíes en vehículos civiles y de una inminente incursión del ejército.

La resistencia descubrió que las fuerzas israelíes habían entrado secretamente al campo en un vehículo comercial. Este tipo de infiltración se lleva a cabo a menudo con fines de arresto o asesinato, y la detección temprana de la infiltración permite advertir al objetivo y llevarlo a un lugar seguro.

En otras palabras, esta incursión en particular fue un fracaso, ya que no logró capturar ni matar a ningún miembro de la resistencia.

La redada duró más de 11 horas, durante las cuales el ejército detuvo a decenas de civiles y familiares de mártires, algunos de los cuales fueron liberados ese mismo día. Estallaron enfrentamientos armados entre la resistencia y el ejército dentro y en las afueras del campo.

La resistencia intentó repeler la invasión lanzando granadas caseras contra vehículos militares israelíes desplegados en el campamento y en la ciudad de Yenín. Podría decirse que fue la batalla más intensa desde que el ejército afirmó haber eliminado a Zubeidi y Hanoun.

La incursión más reciente en el campo tuvo lugar el 12 de diciembre y duró tres días, provocando la muerte de 13 palestinos y heridas a otros 33 en la ciudad de Yenín y en el campo. Durante ese período, las fuerzas israelíes sitiaron el campo, restringieron las entradas y salidas, y llevaron a cabo redadas casa por casa, arrestando a cientos de personas, una operación similar a las detenciones de civiles en Gaza.

El asalto fue la mayor operación militar del ejército israelí en el campo desde la Batalla de Yenín de 2002. El ejército israelí lo considera una extensión de la guerra contra Gaza y un esfuerzo por eliminar a Hamas y otras facciones de la resistencia palestina.

La operación de tres días dio lugar a intensos enfrentamientos en varias zonas del campo y de la ciudad y sus alrededores. Siete soldados israelíes resultaron heridos, según anunciaron las fuerzas israelíes.

Sin embargo, la Brigada Yenín afirmó en un comunicado tras el ataque que sus combatientes lograron llevar a cabo varias operaciones y ataques de precisión en diferentes ejes y zonas donde se encontraban soldados y vehículos del ejército israelí.

Un miembro de la Brigada Yenín relató la invasión: “Apuntamos con un artefacto explosivo a una fuerza de infantería de soldados de ocupación estacionada en la plaza del campamento de Yenín y causamos heridos”, dijo. “Después de observar a los soldados fuera de los vehículos en la carretera entre la ciudad y el campo, los combatientes de la resistencia lograron matar a tiros al menos a dos soldados, según mostraron los informes de los medios”.

“Otro grupo de combatientes, pocos minutos después de la emboscada de los francotiradores, atacó a una unidad de soldados apostada frente a la mezquita en la zona del nuevo campamento”, continuó. “Los combatientes también cruzaron la barrera de seguridad y, a pesar de la presencia de aviones de reconocimiento y equipos de francotiradores, atacaron a los soldados ocupantes en el barrio de Khallet Al Sawha en la ciudad de Yenín”.

Afirmó que la operación del ejército israelí del 12 de diciembre fue un fracaso, ya que no condujo a la detención de los combatientes de la resistencia buscados, y la mayoría de las detenciones involucraron a civiles que fueron posteriormente liberados. La fuente confirmó que la resistencia permaneció en el campamento y en la ciudad, y que los enfrentamientos persistieron durante toda la incursión.

El militante insistió en que Israel estaba tratando de presentar una imagen de victoria al destrozar las instalaciones, escribir consignas sionistas en las paredes, derribar las fotografías de los mártires, saquear y volar casas, profanar mezquitas, transmitir oraciones judías por sus altavoces y detener a civiles sin motivo alguno.

La resistencia en Yenín no ha sido derrotada

Anas Abu Arqoub dice que las declaraciones de los dirigentes militares y políticos israelíes que afirman haber puesto fin a la resistencia en Yenín son desmentidas por la realidad sobre el terreno. Los funcionarios israelíes saben que sus declaraciones son falsas y mienten para levantar la moral de la población israelí después de que la fuerza de disuasión del ejército israelí fuera destruida el 7 de octubre.

Le preguntamos a un combatiente de la Brigada Yenín sobre la veracidad de las afirmaciones de los medios israelíes de que el equilibrio de poder cambió en el campo después de los asesinatos de Zubeidi y Hanoun. “Las afirmaciones de la ocupación son infundadas”, respondió. “En 2002, perdimos a Mahmoud Tawalbeh [un dirigente del ala militar de la Yihad Islámica, las Brigadas Al Quds] y muchos otros dirigentes prominentes. Sin embargo, ha surgido una nueva generación que ha tomado el relevo. En la Batalla de la Espada de Jerusalén [lanzada por Hamas en Gaza en 2021 en respuesta a las provocaciones de los colonos israelíes en Al Aqsa], perdimos a Jameel Al Amouri [uno de los primeros fundadores de las Brigadas de Yenín], y todos sufrimos, pero los jóvenes recogieron la antorcha. Será una nueva etapa y un nuevo comienzo; el asesinato de Muhammad Zubeidi y Wissam Hanoun nos hará más fuertes”.

“Las repetidas operaciones del ejército de ocupación tienen dos bandos”, continúa el combatiente. “Por un lado, los jóvenes están cansados ​​y hasta agotados, pero por otro, estas incursiones nos acercan a nuestro Dios. Cuanto más nos acerca la ocupación, más nos acercamos a Dios. Nos volvemos más fuertes cada vez que superamos el miedo a lo que hemos vivido antes. En el pasado, por ejemplo, teníamos miedo de los misiles [israelíes], pero ahora hemos superado ese miedo y tratamos los misiles como algo normal. Entonces teníamos miedo de los drones [de ataque israelí], pero ahora avanzamos superando el miedo”.

“Cada vez que la ocupación intenta un nuevo plan contra nosotros, al principio sentimos miedo, pero luego nos acostumbramos”, continuó. “Hay un dicho: ‘Los golpes que no nos matan nos hacen más fuertes’. Con estas incursiones ganamos más experiencia y conocimiento. Lo que significa que la ocupación no puede ganar. Utilizaron todo lo que tenían a su alcance para amenazar a los jóvenes. En el pasado nos amenazaron con misiles y drones sin usarlos, pero ahora los han usado. Usaron helicópteros Apache, aviones de reconocimiento y lanzaderas de misiles portátiles, y no les queda nada que pueda asustarnos”.

‘Lo que importa es la ideología y la conciencia que impulsa a la colectividad’

Otro miembro de la resistencia, dirigente de la Brigada Yenín, dice que “las ideas y la mentalidad revolucionarias fueron inicialmente llevadas por individuos, antes de encarnarse en una institución de seguridad o un sistema de lucha yihadista. La atención no se centra en ninguna persona en particular. Aunque algunos individuos tienen un impacto significativo, lo que importa es la ideología y la conciencia que impulsa a la colectividad. Los jóvenes ahora se esfuerzan por convertirse en dirigentes de una brigada en particular y de la resistencia en general para reemplazar a los que desaparecen”.

“La salida de Muhammad Zubeidi y Wissam Hanoun tiene sin duda un impacto significativo, pero no será el impacto deseado por la ocupación israelí en el sentido de una división o el cese de las operaciones de las brigadas”, continuó.

“La Brigada de Yenín se ha convertido en una institución; una persona puede reemplazar a otra, independientemente de su nombre e influencia pública. Continuaremos, si Dios quiere, hasta nuestro último aliento”.

Nos recordó que en su lucha “hay un gran desequilibrio de poder [entre Israel y la resistencia], y esto y esto tiene un impacto considerable”.

“Sin embargo, este desequilibrio de poder entre nosotros y la ocupación ha existido desde el comienzo de la lucha”, continuó. “Luchamos contra el ejército israelí con todas sus armas y equipos. Al principio no teníamos más de 50 combatientes, pero nuestro pensamiento, nuestra conciencia y nuestra convicción -la firme creencia en la victoria y en la legitimidad de nuestras reivindicaciones- son las que nos permiten estar presentes en el campo de batalla. Aunque hay una diferencia en el equilibrio de poder, sigo porque soy un ser humano que quiere vivir con dignidad. Si la vida es digna, vale la pena vivirla”.

Ayman Youssef dice que históricamente Yenín ha desempeñado un papel excepcional en la lucha y resistencia contra la ocupación, y eso continúa hoy. Destaca la especificidad de la experiencia de Yenín, donde todas las facciones de resistencia se coordinan y encarnan la unidad nacional en Cisjordania. Aunque Israel ha logrado llegar a algunos individuos buscados y resistentes, no puede hacer nada con respecto a la idea de resistencia porque es un concepto ideológico inquebrantable que trasciende generaciones.

“Yenin, con su carácter social y resistente, con sus campamentos y zonas rurales, es un caso muy especial”, añade Youssef. Según él, la resistencia en Yenín seguirá renovándose y reinventándose con el tiempo. Lo más importante es que enfatiza que la resistencia en Yenín no está monopolizada por una sola facción o grupo político: es todo el campo que resiste a través de las diferentes facciones. La Brigada de Yenín es la expresión actual de esta resistencia y esta tradición no desaparecerá.

Por el contrario, según Youssef, el modelo de Yenín se ha extendido en los últimos dos años y se ha replicado en los campos de refugiados del norte de Cisjordania, incluidos los campos de refugiados de Nour Shams en Tulkarem, Balata en Naplusa, Aqbat Jaber en Jericó y Al Fara en Tubas.

Los refugiados en estos campos, privados de justicia social y política, continúan impulsando, galvanizando y haciendo avanzar los movimientos nacionales. Aunque estos movimientos puedan tener altibajos, Youssef está seguro de que se renovarán continuamente.

Desde Gaza hasta Yenín: la misma guerra contra el pueblo palestino

Al inicio de cada operación militar israelí en la zona de Yenín, se envían convoyes militares a las entradas del Hospital Gubernamental de Yenín y del Hospital Ibn Sina, los dos hospitales más grandes de la ciudad, así como a otros tres hospitales. El ejército impone un bloqueo a todos esos establecimientos médicos, impidiendo a cualquiera entrar o salir de ellos, lo que dificulta la llegada de pacientes y heridos a los hospitales.

El ejército incluso realiza registros e inspecciones de ambulancias, obstaculizando y retrasando a los paramédicos, a quienes no se les permite entrar al campo sin autorización de seguridad.

Por cada herido transportado en una ambulancia, las fuerzas israelíes detienen el vehículo, lo registran y verifican la identidad del herido. Si su nombre no está en la lista de buscados, los dejan pasar después de un largo retraso. En la última incursión, el 12 de diciembre, al menos tres heridos murieron de camino al hospital debido a retrasos deliberados en los procedimientos de búsqueda del ejército. Un niño llamado Ahmad Samara, de 13 años, murió después de que las fuerzas israelíes impidieran su ingreso al hospital porque lo transportaban en un vehículo civil.

Su padre se vio obligado a cargarlo a pie y cuando llegó al hospital ya era demasiado tarde.

El director del hospital gubernamental de Yenín, Wisam Bakr, dice que a menudo disparan contra el hospital munición real y botes de gas lacrimógeno. Un día, un francotirador israelí mató con munición real a un joven que se encontraba en el patio del hospital. “La situación en los hospitales es muy crítica. A los pacientes renales les resulta difícil llegar a sus sesiones de diálisis debido a las restricciones de circulación de las personas en las calles, poniendo en riesgo sus vidas”.

Ayman Youssef cree que lo que está sucediendo hoy en Yenín es un microcosmos de la reciente guerra de Israel en Gaza: desde ataques a hospitales, escuelas e infraestructuras hasta el asesinato de periodistas, intelectuales y médicos. Asedian hospitales, erradican símbolos nacionales y destruyen calles.

Lo que Israel está haciendo en Gaza y Yenín, afirma Youssef, es implementar una estrategia de tierra arrasada. Destruyen todos los aspectos de la vida, incluidas las estructuras civiles y comunitarias, para frenar el apoyo popular a la resistencia. A veces esa estrategia implica objetivos tácticos, como descubrir trampas explosivas y artefactos improvisados, pero el objetivo general de la escala de destrucción es claro: destruir la sociedad de los campos con la esperanza de abrir una brecha entre la población y la resistencia.

Youssef cree que tales acciones no tendrán el efecto deseado. Para él, estas tácticas suelen utilizarse cuando el ejército israelí ya no ha logrado sus objetivos contra la resistencia; ahí es cuando comienza a destruir la infraestructura humana.

‘Nos sacrificamos por la resistencia’

La estrategia israelí en Yenín consiste, por tanto, en atacar tanto a la resistencia como a los habitantes del campo, con la esperanza de que estos últimos ya no toleren más la presencia de la resistencia tras un castigo colectivo.

Firas Al Ghoul, un residente del campo cuya casa fue invadida por las fuerzas israelíes, afirma que el ejército israelí entra en las casas de los civiles en el campo, destruye su contenido y lo destroza, incluso cuando los propietarios no están afiliados a la resistencia.

Las fuerzas israelíes no se detienen ahí: arrasan el terreno alrededor de las casas y las carreteras cercanas, levantando barreras de tierra delante de las tiendas y las casas y a lo largo de las carreteras. “Nada se salva, ni los árboles, ni la gente, ni las calles”, dice Al Ghoul. “Esta es una política sistemática llevada a cabo por la ocupación contra nosotros para desalojarnos de nuestros hogares y evacuar el campamento. Sin embargo, no importa lo que haga la ocupación, no abandonaremos nuestros hogares excepto para regresar a nuestras tierras, de las que fuimos expulsados ​​en 1948”.

Haniyya Hassan, una mujer de 60 años que vive con su marido de 70 en el campo, dice que no pueden salir de su casa debido a su edad a pesar de que el ejército israelí ha invadido y saqueado su casa. Las calles frente a su casa fueron arrasadas durante la última incursión y los vehículos ya no pueden acceder a su casa. “¿Por qué el ejército israelí está invadiendo y destruyendo nuestra casa?”, pregunta Haniyya. “¿Una casa que pertenece a personas mayores que viven solas, sin jóvenes ni resistentes?”

La incesante destrucción pretende agotar a los habitantes del campo, sobre todo cuando se acerca el invierno y las lluvias inundan las casas. Los residentes intentan reparar algunas carreteras y reconstruir la infraestructura, pero el ejército israelí regresa y vuelve a destruirlo todo. Sin embargo, a pesar de esta calculada política israelí, cuando caminas por las calles del campamento y preguntas a la gente, responden con una sola voz: “Nos estamos sacrificando por la resistencia. Lo importante es que los jóvenes [de la resistencia] estén vivos”.

Shatha Hanaysha https://mondoweiss.net/2023/12/little-gaza-in-jenin-refugee-camp-the-resistance-fights-for-survival

Fuente: mpr21.info

domingo, 24 de dezembro de 2023

 “Há sinais que vêm do espaço que nos dizem que há qualquer coisa ainda incompleta”
Para dar uma ideia da extensão da nossa ignorância, em números redondos, a matéria normal — que compreendemos muito bem, feita de átomos e partículas que constituem a matéria de que nós somos feitos — não passa de 5% da matéria e energia total do cosmos. Os outros 95% são constituídos pela energia escura (cerca de 75%) e pela matéria escura (cerca de 20%).
(Carlos Fiolhais, Físico Coimbra)

https://www.publico.pt/2023/06/30/ciencia/entrevista/carlos-fiolhais-ha-sinais-vem-espaco-ha-qualquer-incompleta-2055247

   Nestas condições é bem difícil resumir todo o real ou natural ao conceito de MATÉRIA. Realmente tudo que existe é ENERGIA. Nem toda energia possui massa, mas toda massa possui energia.

  Vejam-se os argumentos de V.I. Lenine no seu "Materialismo e Empiro-criticismo"

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

 

PATER NOSTER

 

Notre Père qui êtes aux cieux

Restez-y

Et nous nous resterons sur la terre

Qui est quelquefois si jolie

Avec ses mystères de New York

Et puis ses mystères de Paris

Qui valent bien celui de la Trinité

Avec son petit canal de l’Ourcq

Sa grande muraille de Chine

Sa rivière de Morlaix

Ses bêtises de Cambrai

Avec son océan Pacifique

Et ses deux bassins aux tuileries

Avec ses bons enfants et ses mauvais sujets

Avec toutes les merveilles du monde

Qui sont là

Simplement sur la terre

Offertes à tout le monde

Eparpillées

Emerveillées elles-mêmes d’être de telles merveilles

Et qui n’osent se l’avouer

Comme une jolie fille nue qui n’ose se montrer

Avec les épouvantables malheurs du monde

Qui sont légion

Avec leurs légionnaires

Avec leurs tortionnaires

Avec les maîtres de ce monde

Les maîtres avec leurs prêtres leurs traîtres et leurs reîtres

Avec les saisons

Avec les années

Avec les jolies filles et avec les vieux cons

Avec la paille de la misère pourrissant dans l’acier des canons.

 

 

Jacques Prévert

Viagem à Polónia

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.