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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

UTOPIA E UTOPIAS - 1





Em 1516 Thomas More (1477/78-1535) publica De optimo republicae statu deque nova ínsula Utopia, criando um novo género literário e político: como realizar na terra a cidade ideal, isto é, uma sociedade igualitária, justa e feliz. Prefixo privativo ou, e topos, lugar; outopos, o não-lugar, parte nenhuma como indicava o primeiro título latino antes da publicação, Nusquama. O título completo é o seguinte: A nova forma de comunidade política e a nova ilha da Utopia. Um verdadeiro livro de oiro não menos salutar que agradável pelo muito célebre e muito eloquente THOMAS MORE cidadão e chanceler da ilustre cidade de Londres. Outopos, o não-lugar, pode ler-se também eutopos, o lugar da felicidade.


A exemplaridade deste livrinho reside nos dispositivos que impedem o dogmatismo: utiliza a dialéctica (paradoxos e contradições, até nos nomes), a ironia, a sátira, o humor. As utopias, portanto, transportam elas próprias a sua crítica, quando elas são boas, são dogmáticas quando não o fazem, e são ideológicas quando não querem ou são incapazes de fazê-lo. Referimo-nos particularmente aos textos escritos (romances de viagens, programas edificantes, etc.).


No sentido geral, como sonho racional acordado, a utopia é recorrente, universal e inevitável. Mas é histórica, ou seja, traduz anseios e os limites da sua época. É assim que surgem utopias camponesas, utopias industriais, utopias ecológicas, políticas, estéticas, etc.


Os filósofos e os artistas contribuem para forjar utopias fortes, tão racionais ou persuasivas quanto maior o seu talento e a capacidade para interpretar os sinais dos tempos. O termo aplica-se a estes casos, com rigor, embora se haja generalizado para os messianismos e milenarismos de cariz religioso, porém aqui erradamente. Um projecto racional utópico (normalmente filosófico) pode transformar-se numa força material, quando é popularizado sob a forma de ideologia e de propaganda. Não descartamos a possibilidade de determinadas utopias conterem ou promoverem elementos de cariz religioso.


No nosso tempo existem várias utopias, fortes e fracas. Podemos categorizar as correntes principais:


1. Utopias ecológicas- De modo geral criticam os males que associam às revoluções científicas e industriais; retomam antigos mitos de sociedades «naturais», camponesas; tendem a defender os culturalismos, ou seja, cada povo merece a cultura que tem; nesse sentido, todas são úteis. Tentam conciliar uma atitude conservadora (preservar o que ainda existe de «natural») com opções mais amigas do ambiente. Preocupações contemporâneas que atravessam os partidos políticos situados mais à esquerda do espectro político das democracias (sociais-democratas e comunistas) ou dão substância e corpo a novos partidos ( Os Verdes) na cena europeia. A corrente dita «holista» é uma utopia típica. Como também o é, segundo a nossa opinião, a corrente dita »New Age».


2. Utopias industriais e/ou científico-tecnológicas – Tendem a entrever nos progressos da Ciência possibilidades grandiosas e inesgotáveis de melhorias do género humano: maior liberdade individual ou colectiva, mais tempo livre, melhores costumes. Nestas existem variantes: umas são conservadoras, isto é, o que temos é bom, trata-se apenas de melhorar e regular ( as teorias neo-capitalistas do «fim da História», do «comunitarismo», da «Comunicação Universal» e das «sociedades em-rede», do «Governo Mundial»; outras, são reformistas: introduzir reformas nos sistemas económicos de produção e distribuição e nos sistemas políticos sem alterá-los no essencial; outras, são revolucionárias: substituir o sistema capitalista por um outro que finalmente igualize, liberte, distribua, e potencie as vantagens do desenvolvimento científico e industrial.






Nas utopias fracas encontram-se uma grande variedade, mas que se resumem ao seguinte: mitos de consumo, de saúde, de juventude, de viagens, sexuais, etc. Normalmente estão capturados pelo marketing, quando não são puramente seus produtos.











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