Autores utópicos
A viagem a uma ilha - UTOPIA- que o livro de Tomás More (1516) nos relata teve um êxito que chegou aos nossos dias. Depois dele vários autores lhe seguiram os passos: Tommaso Campanella (1568-1639) publica A Cidade do Sol; Savinien Cyrano de Bergerac, a História Cómica dos Estados e Impérios da Lua (1657); Nova Atlândida, de Francis Bacon, (dispomos delas em português); de Samuel Hartlib, La Description du Fameux Royaume de Macaria, de 1641; Oceana, de James Harrington, 1656 (que servirá de inspiração ao abade Sieyès para redigir o seu projecto de Constituição, em 1800, em plena Revolução); Fontenelle publica a sua Relation de l’Île de Bornéo, em 1688, e Fénelon, em 1699, publica Aventures de Télémaque. No século XVIII, lemos o Testamento e as Memórias, de Jean Meslier, um pároco que abdicou da Igreja e de Deus; O Verdadeiro Sistema, do monge Dom Deschamps, que fez outro tanto (de ambos as edições são póstumas), imaginando uma sociedade exclusivamente camponesa (tal como Meslier) e absolutamente igualitária em que tudo é comum; as Viagens de Guliver (1726), de J. Swift, obra celebérrima, pouco optimista, dura crítica dos europeus; A Fábula das Abelhas, de Mandeville, editada em 17º5, apenas em 1723 atraiu a atenção, fábula igualmente pessimista; Cartas Persas (1721), de Montesquieu, em que relata os costumes dos Trogloditas (tal como as abelhas de Mandeville acabamos por ser nós todos); Morelly publica a «Basiliade» (1753) e o «Código da Natureza» (1755), a primeira obra é uma história utópica típica (dá-nos a conhecer um país de igualdade e felicidade completas), a segunda apresenta-se como um programa doutrinário e político de governo, retomando um género filosófico-literário que remonta a Platão, e teve grande influência nas facções de esquerda da Revolução Francesa, ainda neste século a obra inovadora de Mercier, o «Ano 2440», 1770 e 1786, que localiza a Cidade Da Igualdade não no passado ou no presente, mas no futuro longínquo (promissora para a literatura de ficção-científica do século XX).
No século XIX são de destacar os seguintes autores e obras: Goethe, «Wilhelm Meister», que influenciou o período florescente romântico e revolucionário; Robert Owen, que aplicou os seus princípios socialistas nas escolas de New-Lanark, com os operários das suas fábricas e funda a comunidade da New-Harmony, em Indiana, Estados Unidos. Saint-Simon (1760-1825), cujos escritos doutrinários converterão em discípulos personagens importantes da França: Jean-Baptiste Say (figura célebre da Revolução Francesa), o grande sábio Cuvier, o historiador Auguste Thierry, o inventor do termo «Sociologia», Auguste Comte. Karl Marx não fica imune à influência dele. O «Socialismo» é uma criação saint-simoniana, tanto o termo como algumas das suas finalidades. O «Profeta» Saint-Simon (oriundo da aristocracia, era conde) é a figura incontornável da difusão dos ideais socialistas, típico utópico que apelava aos industriais para se «suicidarem» como classe social, ou, noutros termos, para impulsionarem eles mesmos as reformas sociais.
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