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quarta-feira, 30 de março de 2011

ERNST BLOCH

1885: Nasce Ernst Bloch, filósofo da utopia e da esperança




Ernst Bloch
A 8 de julho de 1885 nascia o filósofo do "princípio esperança" e da "utopia concreta" e um dos mentores do movimento estudantil. Décadas depois, o pensamento do alemão Ernst Bloch permanece vivo.

Um punho esquerdo cerrado; abaixo do polegar, uma estrela. No ano da morte de Ernst Bloch, o diretório acadêmico da Universidade de Tübingen propôs que a instituição adotasse o nome do filósofo, acompanhado desta logomarca.

A homenagem lembra que Bloch foi um dos pais intelectuais do movimento estudantil. O punho fechado em protesto evoca um gesto muito repetido por ele em suas palestras, expressando resistência contra a injustiça existente.

"Utopia concreta"

Ernst Bloch nasceu em 8 de julho de 1885, numa família judaica de Ludwigshafen. Muitos anos mais tarde, ele ainda definiria como constitutivo para seu pensamento o contraste entre a cidade natal, industrial e operária, e a vizinha Mannheim, burgo da cultura burguesa herdada.

Em 1905, iniciou seus estudos de Filosofia, Germanística, Física e Música em Munique e Würzburg, doutorando-se em Filosofia três anos mais tarde. Já em 1918 publicou a obra Espírito da utopia, onde afirma: "O mundo existente é o mundo passado, porém o anseio humano, em ambas suas formas – como inquietude e como sonho acordado – é a vela que leva ao outro mundo".

 Bloch no congresso 'A grave situação da democracia', em 30/10/1966, Frankfurt, defendendo-se das acusações de perseguir o irrealizável, desenvolverá o conceito, aparentemente paradoxal, da "utopia concreta", distanciando-se assim tanto do puro sonho quanto do banimento de todas as esperanças para um mundo melhor, para o além.

À idéia freudiana do inconsciente como algo "não-mais-consciente", o filósofo justapõe a existência do "ainda-não-consciente". "Sobretudo nos dias de expectativa, em que predomina não o que já foi, mas sim o que está por vir, na dor indignada, na gratidão da felicidade, na visão do amor [...], transpomos claramente as fronteiras de um saber ainda-não-conhecido."

Nasce o "Princípio Esperança"

Após seu doutoramento, Bloch torna-se amigo do filósofo húngaro Georg Lukács e freqüenta os círculos de Max Weber em Heidelberg. Na década de 20, vivendo como autor autônomo em Berlim, aproxima-se tanto de Walter Benjamin, Theodor Adorno e Siegfried Kracauer como dos artistas Bertolt Brecht, Kurt Weill e Otto Klemperer.

Já em 1924, Bloch se manifestara contra a ameaça nazista num artigo intitulado "A violência de Hitler". A ascensão ao poder do Partido Nacional-Socialista em 1933 obriga o filósofo ao exílio. Após permanências em Paris e Praga, passa a viver, a partir de 1938, nos Estados Unidos. Lá ele inicia, entre muitos outros projetos, o manuscrito de sua obra máxima, O princípio esperança, cujo primeiro de três volumes só será lançado em 1954.

Música e esperança

Para o pensador judeu, a precondição para que se supere a servidão e as estruturas hierárquicas da sociedade é o princípio vital da esperança. Este não se deixa abalar por uma decepção qualquer, pois o ser humano precisa de coragem e de disposição à luta, um "otimismo militante".

Esperança e utopia dirigem-se, para Bloch, a alvos concretos: um humanismo real; uma sociedade cujos membros façam valer seu direito de recusar a posição de humilhados e ofendidos, onde possam ousar "andar eretos". Ao contrário de seus colegas marxistas, para ele a superação do capitalismo não passava de trabalho preparatório, a caminho desse alvo maior.

Nesse longo caminho, as artes, em especial a música, desempenham um papel ativo: "A relação com este mundo torna a música um sismógrafo social, ela reflete fraturas sob a superfície social, expressa desejos de transformação, convida à esperança. [...] O som exprime o que ainda está mudo no ser humano", afirma Bloch em O Princípio Esperança.

"Revisionista" na RDA

Em 1949, Bloch retorna à terra natal, visando "cooperar com todas as forças para a construção democrática da Alemanha", e assume a cátedra de Filosofia na Universidade de Leipzig, na então República Democrática Alemã (RDA).

O conflito com o Partido Socialista Unitário (SED), latente desde o início, explode em 1956, quando sua obra é classificada como "antimarxista e revisionista".

Durante uma viagem à Alemanha Ocidental, cinco anos mais tarde, ele e sua família são surpreendidos pela construção do Muro de Berlim, que dividirá o país fisicamente em duas metades, duas visões de mundo. Bloch decide permanecer, passando a lecionar na Universidade de Tübingen.

Revolução, movimento estudantil e terrorismo

Bloch saudou o movimento estudantil do final dos anos 60 como uma "rebelião contra a repressão primária", capaz de pôr em desordem e movimento uma sociedade estagnada. "Nossos senhores fazem, eles próprios, que o homem comum se torne seu inimigo e se indigne, e a isso eles chamam de rebelião."

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Logotipo da 'Universidade Ernst Bloch'. Entretanto o filósofo distinguia estritamente entre protestos estudantis e o terrorismo desgovernado à maneira da Facção do Exército Vermelho (RAF). "Não se deve confundir revolução com exibição barata de força. Espernear sem cessar porque nada nos agrada, jogar tudo fora por ter visto algo melhor [...], isso não é revolução. É claro que revolução é um estado de maturidade."

O filósofo faleceu em 4 de agosto de 1977, em Tübingen. E a "Universidade Ernst Bloch" é uma utopia: ela só existiu no mundo palpável por um curto espaço de tempo e sob pressão estudantil. Porém a assembleia geral dos estudantes reivindicou para si o nome e a logomarca, e os preserva, mais de 30 anos depois. Movida a esperança, a resistência contra o jeito como as coisas são – mas não deveriam ser – continua, nem que seja apenas em algumas cabeças.

Augusto Valente

www.dw-world.de/dw.   Ernst Bloch

NÃO ESTOU DE ACORDO

Já aqui o disse e insisto: façam-se todas as tentativas, com dignidade e sinceridade, para um possível, mas necessário e urgente, entendimento entre o PCP, o BE e os Verdes, aos quais se possam associar cidadãos sem partido que foram apoiantes do PS mas que hoje não se reconhecem na orientação deste partido.
Não estou de acordo com declarações anti isto e anti aquilo, ou seja, rejeitando a priori quaisquer entendimentos. Omitam-se por agora os defeitos e os pecados que cada um aponta ao outro, as ambições mútuas. Tente-se ao menos, caramba! Ou prefere-se dar como garantida a vitória do PSD? Há dezenas de anos que andamos nisto, neste vira e torna a virar. Ao menos que se saiba quem o tentou e foi rejeitado.

terça-feira, 29 de março de 2011

Republicanismo e socialismo em Portugal (elementos para a história das ideias socialistas

Por influência da revolução de 1848, que instaurou a II República Francesa, surgiu em Portugal, no princípio da segunda metade do século XIX, uma nova ideologia, ao mesmo tempo republicana e socialista. Esta ideologia inspirava-se nas teorias do socialismo utópico e gozava da simpatia da pequena burguesia e do proletariado urbanos, sobretudo de Lisboa e Porto. O republicanismo socialista, ou socialismo republicano, tinha algumas ideias principais. Pretendia a descentralização administrativa com base na organização do município, a criação de associações com vista à implantação do cooperativismo, e a federação dos povos peninsulares, previamente convertidos em repúblicas assentes na descentralização municipal. Republicanismo, municipalismo, federalismo e associativismo eram as ideias-força desta nova ideologia.


A proclamação da III República Francesa (1870), após a derrota do imperador Napoleão III, que, tendo sido o primeiro presidente da II República, se convertera em ditador, assim como o fracasso da Comuna de Paris (1871), que se propunha instaurar o socialismo na França, e a implantação da República Espanhola (1873), foram acontecimentos políticos que, a partir da década de 70, contribuíram para a separação ideológica entre republicanismo e socialismo. O republicanismo passou apenas a defender a democracia política, isto é, os princípios de igualdade de todos perante a lei e de soberania nacional. O socialismo, que se manteve com forte pendor utópico, defendia essencialmente a democracia económica e social.

Os ideais socialistas e republicanos e a influência dos grandes acontecimentos políticos na Europa da época tiveram eco numa nova geração de intelectuais que então se formava em Portugal - a chamada Geração de 70, que reuniu alguns dos nomes mais significativos da vida portuguesa do século XIX. Nome igualmente importante no movimento socialista português é o de José Fontana.
www.portugal-tchat.com/.../3649-republicanismo-socialismo-portugal.html -

Rosa Luxemburgo

Foto de Luxemburgo

Rosa Luxemburgo


1871 - 1919

Entrou para o movimento revolucionário ainda estudante. Em 1893, colaborou na fundação do Partido Social Democrata Polaco. Entrou para o Partido Social Democrata Alemão em 1898. Em 1907, em Londres, na conferência do Partido Social Democrata Russo, apoiou os bolcheviques contra os mencheviques em todos os problemas mais importantes da Revolução russa. No mesmo ano, no Congresso de Stuttgart da II Internacional, juntamente com Lenin, apresentou a proposta revolucionária contra a guerra e que foi adotada, na essência, pelo Congresso. Após a Revolução de Novembro de 1918 na Alemanha, juntou-se a Karl Liebknecht e fundaram o Partido Comunista Alemão.

Actualmente estão disponíveis em Português as seguintes obras - seja diretamente no arquivo ou através de ligações para outros locais da rede:

1894 - Fev

Quais São as Origens do Dia dos Trabalhadores?

1898 - Set

Oportunismo e a Arte do Possível

1898 - Out

Congresso de Stuttgart do Partido Social Democrata Alemão

1899

Liberdade de Crítica

1900

Reforma ou Revolução

1901 - Mai

Ao Conselho Nacional do Partido dos Trabalhadores Francês

1902 - Set

A Jornada de Oito Horas no Congresso do Partido

1902

A Causa da Derrota

1903 - Mar

A Teoria Marxista e o Proletariado

1904 - Mai

Na Tempestade

1905 - Fev

A Revolução na Rússia

1905

O Socialismo e as Igrejas

1908 - Mar

25° Aniversário da Morte de Marx

1911 - Set

Um Equívoco Engraçado

1911 - Set

À Conferência de União das Organizações Socialistas em Manchester

1913 - Abr

Em Marcha com a Idéia do Dia dos Trabalhadores

1915 - Mai

A Crise da Social-Democracia (Folheto Junius)

1918 - Dez

O Que Quer a Liga Espartaco?

1918 - Dez

Assembléia Nacional ou Governo dos Conselhos?

1918 - Dez

A Socialização da Sociedade

1919 - Jan

O Que os Líderes Estão Fazendo?
1919 - Jan

A Ordem Reina em Berlim

domingo, 27 de março de 2011

Entendimento

A Esquerda devia entender-se entre ela. O PCP, o BE, os Verdes. Face à Direita que está unida (não aprece, mas está) e quer o mesmo, a Esquerda devia elaborar uma Resolução, ou uma plataforma de entendimento, contendo exclusivamente os objectivos e as soluções comuns (quando os seus porta-vozes falam em público não se vislumbram grandes diferenças). Se agora, juntos, valem um pouco mais que 20% (1/5 do eleitorado), é possível, seria possível, que valessem bastante mais.
Os militantes desses parrtidos deviam ser consultados sobre essa questão.
A Direita e o PS (cuja orientação sempre foi, no governo, de direita) são responsáveis pela situação que vivemos. Contudo, os sectarismos também têm a sua dose.
Do PS não se espera diálogos com a sua Esquerda, nunca os fez, não os fará. O PCP, pelo contrário, na sua longa vida de noventa anos, mostrou ser capaz, em circunstâncias muito difíceis, de estabelecer programas comuns ( o programa que apresentou no célebre Congresso de Aveiro antes do 25 de Abril, é um bom exemplo). A situação é hoje tão grave que merece esta reflexão.

Os sonhos imperiais

Ninguém que siga os acontecimentos na Líbia através dos media (ou até de de jornais de referência estrangeiros e portugueses) conhece o programa político dos revoltosos. Muito menos os países atacantes dão a conhecer os seus verdadeiros propósitos. Todas as guerras de rapina têm esta característica : parecem ser por causa de qualquer coisa. A coisa é também aparência.

A França foi a primeira a atacar. Percebe-se: a Argélia ficou-lhe entalada na garganta (perdeu-a, levou uma sova e saíu de lá humilhada). A França sempre teve um problema com a África: comeu-lhe uns bocados, gostou, está lá metida até aos ombros (grandes negócios), cobiça mais do que a boca lhe permite, detesta a crescente presença da China.
Se a França sempre foi colonialista mas nunca conseguiu um verdadeiro império, a Inglaterra sempre foi imperialista. Sobram-lhe recordações no seu álbum de família (o avôzinho com grandes bigodes, heróico militar da Ìndia) e umas ilhas àsperas chamadas Maldivas ( a que os ingleses baptizaram com um nome diferente) em cuja defesa obstinada investiram todo o seu potencial patriótico imperialista. Tornaram-se a muleta dos E.U.A., porque a língua em que os negócios se exprimem é a mesma.

Colonialismo e manipulação

1. O ataque continuado das forças da NATO às forças terrestres dos apoiantes de Kadhafi demonstram em absoluto os propósitos colonialistas: a decisão da ONU era exclusivamente impôr a "exclusão aérea".

 2. De uma mega-maifestação de meio milhão de pessoas em Londres contra as políticas anto-populares os media retiram apenas o episódio da violência de um pequeno grupo: os manifestantes "semearam o caos" (!!) e as "forças da ordem" esforçaram-se por instalar a "ordem". Bonito.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Actos coloniais

Uma impostura criminosa


por Danilo Zolo [*]



Mesmo uma leitura rápida da resolução 1973 de 17 de Março, com a qual foi decidida a "zona de interdição de voo" contra a Líbia, é suficiente para encontrar uma violação gravíssima da Carta das Nações Unidas, além da do direito internacional geral.

O vento de revolta que sopra sobre os países do Maghreb e do Mashrek, da Tunísia à Líbia, ao Egipto, ao Iémen e ao Bahrein, não anuncia uma nova Primavera para as populações árabe-muçulmanas. A liberdade, a democracia, a justiça, um mínimo de bem-estar são um sonho ainda muito longínquo. Os seus inimigos são poderosos. A guerra que desencadearam ante ontem os aliados europeus, França e Grã-Bretanha, com os Estados Unidos contra a Líbia é a prova da sua vontade de por sob o seu controle a área mediterrânica, todo o Golfo e, em perspectiva, a África.

A exaltação dos direitos humanos, a garantia da segurança e da paz, são pura retórica, uma enésima impostura sanguinária após as agressões trágicas contra o Iraque e o Afeganistão e após os massacres que o Estado de Israel – aliado muito estreito dos EUA – efectua e continua a efectuar contra o povo palestino.

Os Estados Unidos, desta vez numa confusão aberta com seus aliados e provavelmente no interior da sua própria administração, tentam com grande esforços esconder a sua vocação neo-colonial e neo-imperial sob o hábito da enésima intervenção humanitária. A violação desenvolta da Carta das Nações Unidas e a utilização oportunista do Conselho de Segurança das Nações Unidas são a prova da sua irreprimível vontade de poder. Repete-se à letra o modelo da agressão criminosa da NATO contra a Sérvia em 1999, desejada pelo presidente Clinton para a "libertação" do Kosovo. Tratou-se de uma intervenção "humanitária" que massacrou, a partir do céu, milhares de pessoas inocentes. Mesmo uma leitura rápida da resolução 1973 de 17 de Março, com a qual foi decidida a "zona de interdição de voo" contra a Líbia, é suficiente para encontrar uma violação gravíssima da Carta das Nações Unidas, além da do direito internacional geral. A violação da Carta é evidente se se pensa que a cláusula 7 do artigo 2 estipula que "nenhuma disposição do presente Estatuto autoriza as Nações Unidas a intervirem em questões que pertencem à competência interna de um Estado". É portanto indiscutível que a "guerra civil" da competência interna da Líbia não é um acontecimento de que o Conselho de Segurança se possa ocupar militarmente.

Além disso, o artigo 39 da Carta das Nações Unidas prevê que o Conselho de Segurança pode autorizar a utilização da força militar só após ter verificado a existência de uma ameaça internacional à paz, uma violação da paz ou um acto de agressão (da parte de um Estado contra outro Estado). Trata-se portanto de uma segunda razão, absoluta, que torna criminoso o massacre de pessoas inocentes que os voluntaristas aliados europeus e os Estados Unidos se preparam para fazer na Líbia. E cobre de vergonha o governo italiano empenhado, com as suas bases e seus aviões militares, em contribuir para derramar o sangue de povo de que ele enfaticamente declarava-se amigo até às últimas semanas. Já não há qualquer sentido em servir-se – como o faz em várias ocasiões a resolução 1973 do Conselho de Segurança – da dita "responsabilidade de proteger" (Responsability to protect). Trata-se da muito contestada resolução 1674 de 28 de Abril do Conselho de Segurança. Em caso de violação grave confirmada dos direitos humanos por parte de um Estado, o Conselho de Segurança – sustenta-se – pode declarar que se trata de uma ameaça à paz e à segurança internacional. E pode assim adoptar todas as medidas militares que julgar oportunas. Não há necessidade de gastar muitas palavras para argumentar que o Conselho de Segurança não é competente para dar origem a novas normas de direito internacional. E também é evidente que a "guerra civil" interna na Líbia não representava e não representa uma ameaça à paz e à segurança internacional, como de resto cinco membros do Conselho de Segurança (Alemanha, Rússia, Índia, China e Brasil) sustentaram implicitamente ao recusar votar a favor da resolução. Além disso, estes deploraram a agressão que a França, Inglaterra e Estados Unidos desencadearam contra a população líbia em nome da vigilância sobre os direitos humanos. Assim como a Liga Árabe que sustentou que, de qualquer modo, seu objectivo é "salvar os civis e não matar outros". Doravante é evidente que outras vias podiam ser tomadas para a busca de uma mediação e para uma solução do conflito.

Até há pouco tempo estávamos convencidos de que os Estados Unidos haviam mudado de rosto graças ao novo presidente Barack Obama. Mas actualmente estamos certos de que o rosto não basta e que pode mesmo servir de máscara, como mostram a continuidade da guerra no Afeganistão, o silêncio aquiescente sobre o desastre do povo palestino, o encerramento falhado – apesar de prometido – de Guantanamo. Tudo a propósito de direitos humanos.

Nada mudou na estratégia hegemónica dos Estados Unidos e isso terá consequências muito graves exactamente em relação ao povo líbio que pareceu querer salvar-se da violência de um ditador. É fácil prever que a guerra não cessará enquanto Kadafi não for feito prisioneiro ou morto (tal como o líder iraquiano Saddam Hussein foi enforcado pela vontade do presidente dos Estados Unidos George W. Bush). E também é fácil prever que, acaba a guerra, os Estados Unidos exercerão o seu poder para garantir o controle da Líbia – ou do "Estado" da Cirenaica, tal como controlam hoje militarmente e estrategicamente o Kosovo – para explorar seus recursos energéticos muito ricos, tal como ocorreu no Iraque.

Esta é, e será, a "guerra justa" do Mediterrâneo de Barack Obama e da "falcoa" Hillary Clinton.

[*] Professor de filosofia do direito internacional na Universidade de Florença e director do Jura Gentium Journal, Rivista di filosofia del diritto internazionale e della politica globale.

O original encontra-se em il manifesto , edição de 22/Março/2011. A versão em francês em

http://www.legrandsoir.info/Une-imposture-criminelle.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

quinta-feira, 24 de março de 2011

Os imperadores

O discurso da chanceler Ângela Merckel vituperando o parlamento português por haver chumbado o PEC IV é uma afronta à soberania de um país, um abuso intolerável, uma intromissão que denuncia a prepotência do regime do grande capital que governa a Alemanha e impõe as regras em Bruxelas. Tão intolerável quanto nós sabemos como esse regime, a Alemanha em particular, tem beneficiado com a estagnação das economias dos países devedores. Em rigor não devemos dinheiro à Alemanha, mas aos mercados financeiros. Sócrates desloca-se a Bruxelas para engraxar as botas dos imperadores.
Entretanto, os media portugueses (replicando os media estrangeiros) já preparam o caminho para a necessidade da convergência (que sempre existiu, de resto) entre os partidos da Direita (onde incluo o PS). Influenciam já despudoradamente o eleitorado. A manobra é esta: Bruxelas exige isso, portanto obedeçamos. E lá vai o povinho eleger quem eles querem.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Morreu o Rei! Viva o Rei!

Esperemos que este grito que perdurou durante séculos e séculos não ecoe depois das eleições que se anteciparam. "Sócrates,Rua!" já era o grito unânime que centenas de milhar de portugueses, trabalhadores e sofridos, fizeram ecoar nas ruas em vezes sucessivas e suficientemente alto. Esperemos, então, que não tenhamos mais do mesmo (pior não é possível). Sócrates livrou-se de aplicar este pacote último (verdadeiramente infernal para os trabalhadores - empregados, desempregados, reformados) e, se calhar, foi esse o seu propósito, para se apresentar nas eleições com um discurso populista e aldrabão. Mas em aldrabice e hipocrisia o PSD não fica atrás. Pois não aprovou todos os pacotes e principalmente o Orçamento Geral do Estado? Acusa o Governo de não ter sabido aplicar as medidas. E isto diz tudo. Só será enganado quem quer.

A estupidez

O que espanta não é a maldade humana, claramente expressa num capitalismo de bandidos. Essa já se exibe há séculos, já exterminou os índios das Américas, os aborígenes da Austrália e Nova Zelândia, traficou milhões de negros, destruíu nações em duas guerras mundiais que, em conjunto, mataram mais do que vinte séculos de história da humanidade. Nada disso espanta já. O que espanta é a estupidez, a cegueira, a tolice, de uma opinião pública que não reage, senão aplaude mesmo, este atentado vil da NATO contra a Líbia. Enquanto, ao mesmo tempo, os sionistas matam em Gaza. O que vale a vida de uma criança para estes bandoleiros da NATO e seus chefes políticos? Nada.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Chantagem

É uma pura chantagem cumprirem-se as ordens de Bruxelas (dominada pela Direita) e propagandear-se que não há alternativa senão obedecer àqueles que nos emprestam o dinheiro. Posto assim o argumento:"Se não cumprirmos não recebemos, ou pagamos ainda mais caro", não parece haver alternativa. Porém, é uma descarada chantagem, uma gigantesca mentira, uma ameaça inqualificável contra o povo português. Manipulada a opinião pública, tanto faz este governo como um governo PSD. A nossa longa história como povo e nação está cheia de chantagens deste tipo (foi com uma assim que Portugal entrou na 1ª Guerra Mundial com carne-para-canhão; foi com chantagem que a ditadura militar e depois fascista se instalou no nosso país). Primeiramente entra a propaganda, a seguir a repressão, ou vice-versa. Quem governa, quem lucra, não são as "multidões", nem as "massas", nem os assalariados.

A opinião pública

Um amigo enviou uma entrevista que foi feita ao Dr. Manuel Sobrinho Simões, não referindo qual o periódico, em meados de Dezembro último. O Dr. Sobrinho Simões é um profissional emérito, galardoado com o prémio Pessoa. Contudo, as opiniões de um profissional de gabarito não têm que ser, por isso, exemplares e absolutamente certeiras. São as suas opiniões. É o caso que aponta causas históricas ou remotas para a situação social e política portuguesa que são banais, desde o século XIX que as conhecemos. Sente-se triste com as desigualdades sociais, enfatiza a baixa produtividade como uma causa principal ( sem explicá-la), o hábito dos portugueses viverem acima das suas possibilidades (qual a responsabilidade dos Bancos??), o colapso inevitável do Estado Social. A mim surpreende-me que numa longa entrevista onde ele pôde explanar todo o seu pensamento, não haja referido uma única vez o regime capitalista que desde sempre tem vigorado em Portugal e cujas características específicas explicam em boa parte os atrasos, as contradições e as desigualdades. Ou seja, de modo geral, o monopólio da coroa durante o Antigo Regime, o capitalismo monopolista sob os Cabrais, os novos monopólios sob a ditadura de Salazar, os oligopólios reorganizados durante a contra-revolução (de resto, esqueceu-de de dizer que Portugal sofreu a ditadura mais longa da Europa). Entre as causas para o "colapso" do Estado Social julga ver os excessos das mordomias (sic) e o peso das corporações profissionais (sic), isto é, nem uma palavra sobre o neo-liberalismo. Finalmente, sobre as políticas de austeridade (que já se conheciam em Dezembro) nada disse, admitindo que se conclua que não as desaprovou (aliás, afirma que as reduções dos salários na Função Pública eram inevitáveis e indigna-se contra os que apelam aos direitos adquiridos).
O Dr. Sobrinho Simões pertence a uma elite, no sentido que lhe atribuíu o sociólogo Bourdieu. Provavelmente é por isso que pensa assim.

domingo, 20 de março de 2011

À rasca

O filósofo José Gil escreve uma crónica no último nº da revista Visão, sempre com interesse. Analisa o fenómeno da megamanifestação dos "precários" ou da "geração à rasca". ou...sabe-se lá o quê. Conclui que "As condições de vida impostas pelo capitalismo global estão a tornar obsoletos os discursos e práticas dos sindicatos e partidos. Surgem novas linhas de fuga que abrem fendas nos dispositivos do poder." A interpretação, a meu ver, está "contaminada" pelas teses pioneiras de Faucault e Deleuze, perseguidas por A. Negri, por exemplo, no seu famoso livro «O Império». Não reside aqui, para mim, matéria de completa discordância, mas de controvérsia. Afloram no discurso pós-modernistas se não expressões pelo menos "filosofemas" muito antigos, que lembram utopias do século XIX. A tese do "espontaneísmo" é uma delas. A expresssão "Multidão", tão glosada por Negri, vem de maquiavel e de Espinosa. Subjaz um certo neo-anarquismo. Afirma J. Gil que o novo discurso (sic) alimenta-se de "estabilidade e segurança", sem utopias e ideologias. É a tese central de um certo pós-modernismo. O fim das ideologias. Se as "multidões", ajuntadas "espontaneamente", desejam somente a segurança, encontram-se, então, a nível baixo de democracia, muito perto da despolitização (ou, pior, do desprezo pela política). Se fosse assim, ou se assim for, não vamos longe.

Líbia - A perspectiva de uma esquerda consequente

Lybie : déclaration du PRCF




Non à toute intervention impérialiste et néocolonialiste en Libye. Sarkozy, BHL, Obama, Cameron, bas les pattes !

Il est impossible d’idéaliser Khadafi, dont la politique fluctuante a oscillé entre un anti-impérialisme inconséquent et, suite à la chute de l’URSS, un ralliement non déguisé aux politiques occidentales. Le PRCF a maintes fois exprimé son analyse et ses positions sur la crise en Libye. Mais aujourd’hui, la question qui est posée est d’empêcher une recolonisation ouverte de la Libye sous couvert d’ingérence humanitaire, d’empêcher l’impérialisme de reprendre la main que la révolution tunisienne lui a fait perdre au mois de janvier, et de condamner catégoriquement les frappes décidées par Sarkozy, dont la politique liberticide et xénophobe en France même, le disqualifie pour parler de « droits de l’homme ».

Rappelons par ailleurs que BHL et Sarkozy n’ont jamais réclamé de « zone d’exclusion aérienne » ou de « frappes ciblées » et « humanitaires » quand l’armée israélienne strangulait et bombardait criminellement Gaza. Rappelons que ces mêmes personnages restent de marbre quand les sbires des dirigeants esclavagistes de Riyad, alliés stratégiques de Washington et parrains de l’intégrisme international, massacrent le peuple de Bahreïn ou celui du Yémen. Compter sur l’impérialisme pour « libérer la Libye », comme le fait la social-démocratie suivie par le « vert Cohn-Bendit », c’est un peu comme si on demandait à un pédophile de venir rétablir l’ordre dans une école maternelle !

Il est bien triste que la Chine, qui dispose d’un droit de veto au Conseil de sécurité, et qui est elle-même, à terme, dans le collimateur de l’impérialisme américain, n’ait pas utilisé son droit dans ces graves circonstances où l’indépendance de la Libye est ouvertement violée.

Au niveau national français, il est lamentable que le Parti « socialiste », fidèle à sa honteuse tradition impérialiste datant d’août 1914, appuie les frappes françaises alors même que Sarkozy espère que la nouvelle « union sacrée » réalisée autour de sa politique belliciste au parlement, parviendra à remettre en selle son régime de boue délégitimé par les luttes sociales de l’automne. Il est lamentable que Mélenchon, qui joue parfois les matamores de la « gauche radicale », approuve les frappes en les trouvant seulement trop tardives. En quoi le peuple français, qui voit son pays mourir à petit feu étranglé par la « construction européenne » et par la politique de l’UMP, a-t-il mandaté ses hommes politiques pour envoyer l’armée française dans ce qui peut devenir un nouvel Afghanistan ou un nouvel Irak ?

Quant au PRCF il rappelle la position de toujours du Mouvement communiste international : l’émancipation des peuples sera l’œuvre des peuples eux-mêmes, aidés par la solidarité internationale des opprimés, et non par la politique de la canonnière des oppresseurs. En réalité, la politique sarkozyste en Afrique et dans le pourtour méditerranéen est totalement contraire aux intérêts de notre pays qu’elle place encore un peu plus à la remorque de l’impérialisme américain. Au moment où l’indépendance et l’existence même de la nation française sont directement menacés, les progressistes doivent se garder de soutenir tout ce qui porte atteinte au droit des peuples à disposer d’eux-mêmes et qui peut habituer les esprits au droit d’ingérence à sens unique des puissances impérialistes.

Non seulement Sarkozy et Cameron ne peuvent pas « libérer » le peuple libyen, mais la tâche des peuples français et britannique est au contraire de se libérer eux-mêmes de leurs oppresseurs respectifs et de l’oligarchie « nationale » et européenne qu’ils représentent sous le drapeau usurpé de la « démocratie ».

Plus que jamais l’impérialisme est l’ennemi principal des peuples, oui à l’émancipation sociale et nationale des peuples arabes, non à la recolonisation de la Libye, mercenaires saoudiens hors de Bahreïn, vive la lutte de tous les peuples arabes pour le mieux-être, l’indépendance nationale et la démocratie populaire !

Le PRCF appelle à engager partout l’action unitaire contre l’intervention impérialiste de Sarkozy et à participer aux actions qui seront décidées sous le drapeau de l’internationalisme et de l’anti-impérialisme. Il presse les organisations et les camarades communistes, auxquels il vient de faire une proposition largement amendable, de s’exprimer ENSEMBLE sur cette question.

Daniel ANTONINI


Pôle de Renaissance Communiste en France

http://www.initiative-communiste.fr

O imperialismo

Em vez de intervir contra Israel para obrigar o regime sionista a não atacar brutalmente os palestinianos, a "comunidade internacional" (leia-se: o imperialismo) ataca a Líbia, onde não há quaisquer provas de genocídio, antes uma guerra civil que compete aos líbios resolver. Porque interessa a Líbia?

quinta-feira, 17 de março de 2011

O Bahrein foi invadido!

Conselho Português para a Paz e Cooperação

e-mail : conselhopaz@netcabo.pt

Comunicado:

Fez um mês que se iniciou um movimento de rebelião civil pacífica no Bahrein, monarquia Árabe no Golfo Pérsico, contra o regime oligárquico vigente.

O rei Hamad e o seu governo não abriu diálogo com a oposição, tendo antes recorrido à repressão por via das forças de segurança, enquanto a oposição manteve durante semanas a fio o seu protesto e a exigência de mudanças políticas, por progresso social e democracia.

Terça-feira, o monarca declarou o estado de emergência. Aparentemente terá também sido conivente à abertura da fronteira à entrada de tropas da Arábia Saudita e dos Emiratos Árabes que, Quarta-feira, ocuparam militarmente a capital, Manama, tendo já causado um número ainda indeterminado de mortes.

A situação no Bahrein, que se sucede no quadro de inquietação social e revolta política que abala os países Árabes do Magreb e Médio Oriente, tomou assim uma feição particularmente grave, ao incluir a intervenção estrangeira directa e violenta. O desenvolvimento da situação é agora ainda mais imprevisível, e passível de se alargar a mais estados na região, e até à intromissão aberta de grandes potências estrangeiras. Recorde-se que o Bahrein alberga a maior base militar norte-americana no Golfo Pérsico.

O CPPC condena vivamente a invasão do Bahrein por forças militares estrangeiras, apela à ONU para a sua intervenção diplomática nesta acção de guerra contrária à lei internacional, e espera do governo português a tomada de posição firme no Conselho de Segurança, na defesa da integridade deste país e da soberania do seu povo.

Comentários avulsos sobre a situação política

1. O país caíu numa depressão que é já recessão económica. A responsabilidade cabe por inteiro aos governos das últimas décadas, PS e Direita coligada ou não, que enveredaram pelo neo-liberalismo, doutrina monetarista do «mercado livre» que erradicou o "Estado de Bem-Estar" de Keynes e o Estado Social europeu. Tal doutrina e tais políticas provocaram um quase colapso do Sistema, agravaram as contradições que se tornaram insanáveis no mesmo quadro (economistas de renome e insuspeitos declaram a morte do Sistema a continuar-se este rumo). Políticas monetaristas (exclusivamente de combate ao déficit), sem o fomento do crescimento, conduziram ao país a um desastre sem controlo possível nas próximas décadas se não cessarem.
2. O afundamento do nosso país (juntamente com outros países periféricos e dependentes) é, em parte, provocado pelas economias mais fortes (Alemanha, França) e, em outra parte, devido ao descontrolo inerente ao neo-liberalismo.
3. A eliminação do Estado Social e dos códigos de trabalho atiram a Europa para o século XIX. É a regressão civilizacional. O "liberalismo" com ou sem "neo".
4. O grande capital germânico ou outro está interessado na regressão pois que assim julga competir com as economias emergentes da China, Índia, Brasil, etc. As potências imperialistas ocidentais (com os E.U.A. à cabeça) temem as novas potências, ao mesmo tempo que as cobiçam. Os mais visionários pintam o nosso século como aquele em que os E.U.A. entrarão em choque violento com a China (uma nova "Guerra Fria"?).
5. A proposta apregoada pelo Prof Marcelo R. de Sousa - um Governo de "Salvação Nacional" constituído pelo PS, PSD e CDS- traria as mesmas políticas com a vantagem, julga ele, dos "mercados" (da União Europeia ou de Bruxelas) se tranquilizarem, ou seja: o grande capital e os especuladores acreditariam, enfim, no aprofundamento das reformas neo-liberais. A submissão dos trabalhadores à sobre-exploração e à centralização e acumulação do capital.
6. Quem manda no país são os grandes grupos económicos. Pressionam o governo e já se posicionam por detrás do programa do PSD (que o ex-ministro e homem de mão do grande capital, sr. Catroga, superintende).
7. A esquerda parlamentar (PCP; BE e Verdes) têm consecutivamente apresentado propostas exequíveis que solucionariam muitos dos graves problemas do endividamento e da estagnação. Só ignora quem não quer ouvir nem ler. Certamente que se elas se unissem seria bem melhor.
8. Sair ou não da U.E. não é uma questão imediata. Acusar-se a Esquerda de querer isolar o país imediatamente, é agitar-se um papão contra ela, impedir-se de se fazer ouvir. É uma táctica da "Guerra Fria". Do que se trata é disto: a zona Euro encontra-se descontrolada e em profunda crise (não há união alguma entre os países da U.E.); as políticas ditadas por Bruxelas não estão a resolver os problemas dos povos; é preciso re-negociar e reformar os termos em que assentou ultimamente a U.E., afastando-se ou mesmo violando os princípios que estiveram na sua origem. Os países do Sul precisam de se unir contra os interesses egoístas dos países mais poderosos (que têm enriquecido também à custa dos mais pobres, isto é, que os empobrecem).
9. Que há de utópico (neste caso: de impossível) nas palavras-de-ordem de "Mais e Melhor Estado Social", "Mais impostos para os especuladores e para os grandes grupos económicos que têm lucrado com a crise"? «Mais investimento na economia através do papel-motor do Estado»? «Mais justiça social, isto é, distribuição da riqueza mais equitativamente»? »Melhorar, e não afundar, o poder de compra dos portugueses, para salvar as pequenas e médias empresas, os empregos, a produção nacional»? «Investir na produção nacional: agricultura, pescas, indústria»? Etc, etc. Não cabem aqui todas as propostas avançadas pelas esquerdas parlamentares...Na realidade, muitas destas propostas são tão revolucionárias como os programas antigos das sociais-democracias e do economista Keynes...Serão de novo exequíveis quando os povos (porque razão alguns têm medo da palavra «povo»?) o quiserem. Para isso, os partidos políticos e outras forças sociais existem e têm de existir se desejarmos mais democracia. Porque, no funo, bem no fundo, do que se trata é de democracia - política e social -, mais e melhor. A democracia que a Direita não quer, como se pode provar facilmente. A soberania, dizem as doutrinas, reside no povo, não num capitalismo de bandidos.

terça-feira, 15 de março de 2011

A Líbia e as esquerdas europeias

por Jean Bricmont [*]



Doze anos depois, é a história do Kosovo que se repete. Centenas de milhares de mortos iraquianos, a NATO colocada numa posição insustentável no Afeganistão, e eles nada aprenderam! A guerra do Kosovo foi lançada para travar um genocídio inexistente, a guerra afegã para proteger as mulheres (vá verificar a sua situação actualmente) e a guerra do Iraque para proteger os curdos. Quando é que eles vão compreender que sempre se afirmou que as guerras são justificadas por razões humanitárias? Mesmo Hitler "protegia as minorias" na Checoslováquia e na Polónia.

Todos eles estão lá: os "Verdes" com José Bové, agora aliado a Daniel Cohn-Bendit, que sempre apoiou as guerras da NATO e, naturalmente, Bernard-Henry Levy e Bernard Kouchner, apelando a uma espécie de "intervenção humanitária" na Líbia, mas também, por vezes, os partidos da esquerda europeia (que reagrupa os partidos comunistas europeus "moderados"); diferentes grupos "radicais" censuram a esquerda da América Latina, cujas posições são bem mais sensatas, por agirem como idiotas úteis do tirano líbio. Um artigo recente da Liga Comunista Revolucionária (belga), falando do "fracasso do chavismo", é um bom exemplo desta atitude. Embora os trotsquistas nunca tenha conhecido a responsabilidade do poder e nunca tenham tido a obrigação de responder ao povo que pretendem representar, lançam-se em críticas virulentas a Chavez, que é regularmente eleito à frente de um grande país (e os trotsquistas não adoram a democracia?) sem procurar compreender porque a esquerda latino-americano vê, com razão, a ingerência americana como "o inimigo principal" e, sem dúvida porque ela está mal informada, não confia nos trotsquistas europeus para travar a NATO.

Doze anos depois, é a história do Kosovo que se repete. Centenas de milhares de mortos iraquianos, a NATO colocada numa posição insustentável no Afeganistão, e eles nada aprenderam! A guerra do Kosovo foi lançada para travar um genocídio inexistente, a guerra afegã para proteger as mulheres (vá verificar a sua situação actualmente) e a guerra do Iraque para proteger os curdos. Quando é que eles vão compreender que sempre se afirmou que as guerras são justificadas por razões humanitárias? Mesmo Hitler "protegia as minorias" na Checoslováquia e na Polónia.

E, como no Kosovo, opõem-se à intervenção com todas as más razões possíveis e imagináveis: por exemplo, que uma intervenção vai reforçar Kadafi – mas também se disse isso para Milosevic e Saddam e não foi exactamente o que se passou. O que é preciso "apoiar a insurreição" mas opor-se à intervenção, quando é evidente que um apoio puramente verbal não tem efeito. Ou ainda que os insurrectos não nos pedem para intervir; primeiro, isso parece não ser mais verdadeiro e, se eles perdem, certamente não nos pedirão para intervir. Mas devemos nós intervir em toda a parte do mundo se nos for pedido? Isso é feito com os palestinos?
Em contrapartida, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Robert Gates, declarou que "deve-se examinar a cabeça" de todo futuro secretário de Estado que aconselhasse o presidente americano a enviar tropas à Ásia ou à África. O almirante McMullen igualmente aconselhou prudência. O grande paradoxo da nossa época é que o QG do movimento da paz encontra-se no Pentágono e no Departamento de Estado ao passo que o partido pró guerra é constituído por uma coligação de neo-conservadores e de intervencionistas de toda espécie, compreendendo a esquerda da ingerência humanitária assim como certos Verdes ou comunistas arrependidos. A mesma combinação encontra-se igualmente no caso do Irão. São os militares que aconselham a prudência e os "humanitários" que lançam gritos de guerra em nome dos direitos do homem (ou da mulher).
Evidentemente, os Estados Unidos farão ou não a guerra por razões que são independentes das opiniões da esquerda pró guerra. Ao contrário do quer é muitas vezes afirmados, o petróleo não é o factor principal que afecta a sua decisão pois qualquer futuro governo líbio deverá vender petróleo e a Líbia não produz bastante para pesar significativamente na cotação do petróleo. Naturalmente, o caos na Líbia leva à especulação que por si mesma afecta os preços, mas isso é outro problema. Toda ideia de "guerra pelo petróleo" sofre de simplismo. No Iraque, por exemplo, as companhias chinesas podem investir tanto quanto as outras e a China compra petróleo um pouco por toda a parte do mundo aos preços do mercado, sem gastar um cêntimo em intervenções militares. Se os Estados Unidos fizeram a guerra para "controlar o petróleo" e enfraquecer a China, eles realmente saíram-se mal! E mais: todo o dinheiro que eles gastam com as suas guerras é, na prática, tomado emprestado à China, o que contribui ainda mais para o seu declínio. Estranha maneira de manter a sua hegemonia.
O argumento principal em favor da guerra, do ponto de vista dos Estados Unidos, é que, se tudo ocorrer rápida e facilmente, isso reabilitará a NATO e a ingerência humanitária, cuja imagem foi empanada pelo Iraque e pelo Afeganistão. Uma nova Granada ou um novo Kosovo é exactamente o que é preciso. Um outro motivo de intervenção é controlar melhor os rebeldes vindo "salvá-los" na sua marcha para a vitória. Mas isso tem pouca probabilidade de êxito: Karzai no Afeganistão, os nacionalistas kosovares, os xiitas do Iraque e naturalmente Israel ficam perfeitamente satisfeitos por beneficiar da ajuda americana quando têm necessidade mas, depois disso, prosseguem a sua própria agenda. E uma ocupação militar total da Líbia após a "libertação" é pouco realista, o que, certamente, do ponto de vista dos Estados Unidos torna a intervenção menos atraente.

Mas se as coisas correrem mal, isso provavelmente será o começo do fim do Império americano, daí a prudência das pessoas que o gerem e que não se contentam e escrever artigos no Le Monde ou vituperar ditadores diante das câmaras.
É difícil para cidadãos comuns saber exactamente o que se passa na Líbia, pois os media ocidentais desacreditaram-se completamente no Iraque, no Afeganistão, no Líbano e na Palestina e as fontes de informação alternativas nem sempre são críveis. Isso não impede naturalmente a esquerda pró guerra de estar absolutamente convencida da verdade das piores informações sobre Kadafi, tal como há doze anos a propósito de Milosevic.

O papel negativo da Corte Penal Internacional é manifesto, como o foi o do Tribunal Penal Internacional para a Jugoslávia no caso do Kosovo. Uma das razões porque houve relativamente pouco sangue derramado na Tunísia e no Egipto é que havia uma porta de saída possível para Ben Ali e Mubarak. Mas a "justiça internacional" quer tornar impossível uma tal saída para Kadafi e provavelmente para as próximas dele, pressionando-as assim a combater até o fim.

Se "um outro mundo é possível", como proclama sem cessar a esquerda europeia, então um outro Ocidente também deveria ser possível e a esquerda europeia deveria começar a construí-lo. O encontro recente da Aliança Bolivariana poderia servir de exemplo: a esquerda da América Latina quer a paz e quer impedir a intervenção dos Estados Unidos pois sabe que está na sua linha de mira e que o seu processo de transformação social exige primeiro e antes de mais nada a paz e a soberania nacional. Portanto, ela sugeriu enviar uma delegação internacional dirigida eventualmente por Jimmy Carter ou Lula (que não se pode acusar de serem marionetes de Kadafi) para começar um processo de negociação entre o governo e os rebeldes. A Espanha diz-se interessada nesta ideia, que naturalmente é rejeitada por Sarkozy. Esta proposta pode parecer utópica, mas se a ONU nela pusesse todo o seu peso, talvez não fosse o caso. E seria um modo para a ONU de cumprir sua missão, o que actualmente é tornado impossível pela influência dos Estados Unidos e do Ocidente. Contudo, não é impensável que agora, ou aquando de uma próxima crise, uma coligação de países não intervencionistas, por exemplo, a Rússia, a China ou a América Latina e talvez outros possam trabalhar em conjunto para construir alternativas críveis ao intervencionismo ocidental.
Ao contrário da esquerda da América Latina, a esquerda europeia perdeu completamente o sentido do que quer dizer fazer política. Ela não tenta propor soluções concretas para os problemas e só é capaz de adoptar posições morais, em particular denunciar de modo grandiloquente os ditadores e as violações dos direitos do homem. A esquerda social-democrata segue a direita com alguns anos de atraso e não tem nenhuma ideia independente. A esquerda "radical" consegue muitas vezes denunciar ao mesmo tempo os governos ocidentais de todas as maneiras possíveis e pedir que estes mesmos governos intervenham militarmente por toda a parte do mundo para defender a democracia. Um dos argumentos mais ridículos avançados por esta esquerda é que Kadafi colaborou com os europeus para limitar a imigração africana e que, em consequência, há que "denunciá-lo" (um dos desportos favoritos da esquerda radical é "denunciar" todos aqueles que não lhe agradam, manobra puramente verbal e destituída de efeitos positivos). Mas são evidentemente estas viciosas potências europeias, ou americanas, que vão intervir na Líbia, não a esquerda radical que não tem qualquer força militar à sua disposição. E se, em vez de denunciar Kadafi, esta esquerda se fixasse a tarefa (um pouco mais árdua, é verdade) de convencer as opiniões públicas europeias da necessidade de abrir as suas fronteiras a alguns milhões de africanos?
A esquerda radical não tem qualquer programa coerente e não saberia o que fazer mesmo se um deus a pusesse no poder. Em vez de "apoiar" Chavez e a Revolução Venezuelana, uma afirmação despida de sentido que alguns se satisfazem em repetir, deveria humildemente seguir a sua escola e, acima de tudo, reaprender o que quer dizer fazer política.

[*] Professor de física na Bélgica e membro do Tribunal de Bruxelas. O seu livro "Humanitarian Imperialism" foi publicado pela Monthly Review Press, a versão francesa "Impérialisme Humanitaire" pelas edições Aden.

O original encontra-se em www.legrandsoir.info/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

sábado, 12 de março de 2011

Este ano comemora-se o nascimento do escritor neo-realista Manuel da Fonseca


Manuel da Fonseca
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Manuel Lopes Fonseca, mais conhecido como Manuel da Fonseca (Santiago do Cacém, 15 de Outubro de 1911 — Lisboa, 11 de Março de 1993) foi um escritor (poeta, contista, romancista e cronista) português.

Após ter terminado o ensino básico, Manuel da Fonseca prosseguiu os seus estudos em Lisboa. Estudou no Colégio Vasco da Gama, Liceu Camões, Escola Lusitânia e Escola de Belas-Artes. Apesar de não ter sobressaído na área das Belas-Artes, deixou alguns registos do seu traço sobretudo nos retratos que fazia de alguns dos seus companheiros de tertúlias lisboetas como é o caso do de José Cardoso Pires. Durante os períodos de interregno escolar, aproveitava para regressar ao seu Alentejo de origem. Daí que o espaço de eleição dos seus primeiros textos seja o Alentejo. Só mais tarde e a partir de Um Anjo no Trapézio é que o espaço das suas obras passa a ser a cidade de Lisboa.

Membro do Partido Comunista Português (PCP), Manuel da Fonseca fez parte do grupo do Novo Cancioneiro e é considerado por muitos como um dos melhores escritores do neo-realismo português. Nas suas obras, carregadas de intervenção social e política, relata como poucos a vida dura do Alentejo e dos alentejanos.

A sua vida profissional foi muito díspar tendo exercido nos mais diferentes sectores: comércio, indústria, revistas, agências publicitárias, entre outras.
Era presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores quando esta atribuiu o Grande Prémio da Novelística a José Luandino Vieira pela sua obra Luuanda, o que levou ao encerramento desta instituição.

Em sua homenagem, a escola secundária de Santiago do Cacém, chama-se "Escola Secundária Manuel da Fonseca".


[editar] Jornais e revistas onde colaborouAfinidades


Árvore

Vértice

Altitude

O Diabo

O Diário

O Pensamento

Sol Nascente

Seara Nova

[editar] Obras[editar] PoesiaRosa dos ventos – 1940 - Edição do autor

Planície – 1941

Poemas dispersos – 1958

Poemas completos – 1958

Obra poética

O Largo

[editar] ContosO Retrato - 1953

Aldeia Nova – 1942

O Fogo e as cinzas – 1953 - Edição Três Abelhas

Um anjo no trapézio – 1968

Tempo de solidão – 1973

Tempo de solidão - Edição especial dos Estúdios Cor (edição limitada e oferecida pela editora no Natal de 1973).

quinta-feira, 10 de março de 2011

You Tube - Nicolas Guillen - Poema El apellido -

O impossível

É muito mais fácil para vós


Fazer passar um elefante por um buraco de agulha,


Ou pescar peixe frito no céu,


Arar os mares


Ou fazer falar um crocodilo,


Do que matar, com vossa tirania,


O brilho de uma idéia,


Ou nos afastar um passo apenas


Do caminho que traçamos…




Autor: Tawfiq Zayyad

quarta-feira, 9 de março de 2011

Confesiones de un "gángster" económico 1 de 2

Como EUA interfere nos países - parte1 - Entrevista John Perkins

Um Partido com noventa anos

O PCP faz noventa anos de existência. De um indivíduo diriamos que é muito, mas mesmo muito idoso (alguns idosos ainda realizam obras notáveis, mas são raros; raramente, porém são inovadoras, o seu génio -se o tiveram - ficou para trás, resta a repetição, a teimosia, a replicação astuta ou a recusa da morte inclemente). De uma matéria corruptível, diremos que está em fase terminal de decomposição, decrepitude. Tudo que é material se corrompe, disse Aristóteles parafraseando o seu mestre Platão. Que dizemos de uma instituição (política, artística)? que ela se apura ou envelhece irremediavelmente, se imortaliza ou se esquece. Que dizemos de uma Ideia? Que algumas não morrem, que não são matéria consumível, intuição passageira, profecia desmentida se no tempo aprazado não se confirmou. Permanecem controvertidas mas irrecusáveis, despidas da poeira do tempo, das limitações e dos propósitos do contexto do seu nascimento. É assim que sistemas filosóficos perduram inteiriços e enigmáticos, continuamente interpretados, continuamente inspiradores, libertos das fraquezas humanas do seu autor. É o imaterial, o simbólico que se move - e remove - no sem espaço e tempo da virtualidade.
Não é religião: aqui o que impera é a fé e a obediência. É a crença, mas racional e justificada (como diria D.Hume). Não é matéria de dogma, mas espaço aberto de argumentação e contra-argumentação. Não é uma ciência (nem particular nem interdisciplinar), é Dialéctica, como insistia Aristóteles.
É uma interpretação dialéctica do movimento da vida social. Da vida. Exprime um movimento da realidade, mas é, ao mesmo tempo, uma actividade sobre o real (práxica, prática). É com certeza uma "narrativa", como o são todas as filosofias, doutrinas, obras de arte, insusceptível de ser falsificável (Karl Popper dixit), como também o não são a soma e a súmula da arquitectura de Corbusier, a escultura de Rodin ou Moore, a dramaturgia de S. Beckett, o sistema platónico ou hegeliano.
Ultrapassado pela vida? Qual vida mudou assim tanto?

terça-feira, 8 de março de 2011

WALTER BENJAMIN


Por Ana Lucia Santana


Walter Benedix Schönflies Benjamin, mais conhecido como Walter Benjamin, nasceu em Berlim, a 15 de julho de 1892,  de uma família judia, filho dos comerciantes Emil Benjamin e Paula Schönflies. Posteriormente ele se tornaria ensaísta, crítico de literatura, tradutor, filósofo e sociólogo da cultura, sendo um dos membros mais importantes da Escola de Frankfurt.

Foi profundamente influenciado por doutrinas aparentemente díspares, como o materialismo marxista, o idealismo de Hegel e a mística judaica de Gershom Scholem. Ainda adolescente, simpatizava com o socialismo, integrando o Movimento da Juventude Livre Alemã e escrevendo para a publicação deste grupo. É possível perceber então uma certa inspiração nietzscheana no jovem Benjamin. Enquanto adepto da Teoria Crítica foi marcado tanto por Georg Lukács, quanto pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht, gosto que traduz sua natureza por um lado artística, por outro intelectual.

Adorno (Theodor Adorno) já chamava a atenção para sua personalidade austera, quase inflexível, mas também muito educada, tendendo mais para a vibração artística que para a insensibilidade científica, embora ele valorizasse muito a esfera da razão. Seu grande amigo, Gerschom Gerhard Scholem, com quem ele trava conhecimento em 1915, logo percebeu no jovem alguns traços inequívocos de melancolia, tema, aliás, muito presente na teoria benjaminiana. Além disso, para completar a caracterização deste grande filósofo, é preciso acrescentar também sua veia poética e sua natureza mística.

Benjamin foi um intenso admirador da língua e da cultura francesas, as quais dominava perfeitamente. Traduziu para a língua alemã obras fundamentais de Charles Baudelaire e de Marcel Proust. Sua produção literária foi também um espelho de suas crenças, à primeira vista paradoxais. As obras mais célebres são A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica (1936) e a incompleta Paris, Capital do século XIX. A Tarefa do Tradutor é essencial para quem estuda Literatura.

Logo cedo o filósofo se dá conta de que sua jornada intelectual não passa pela Academia, pois em 1925 sua tese de livre-docência, Origem do Drama Barroco Alemão, é recusada pelos membros do Departamento de Estética da Universidade de Frankfurt. Antes disso, em 1919, havia apresentado com sucesso sua tese de Doutorado, A Crítica de Arte no Romantismo Alemão, indicada para publicação.

Em 1934, Benjamin foge para a Itália, onde permanece por um ano, tentando fugir da ascensão do Nazismo na Alemanha. Neste período já haviam se estabelecido algumas divergências entre Benjamin e a Escola de Frankfurt. Em 1940, na margem espanhola da fronteira entre França e Espanha, tentando atravessar os Pireneus, possivelmente com medo de ser capturado pelos nazistas, proibido de seguir adiante, Benjamin se suicida (realmente é preso pela polícia fascista espanhola que ameaça entregá-lo à Gestapo, suicida-se com uma overdose de morfina). O filósofo não resiste à intensidade da pressão emocional e, movido pelo ardor de seu lado melancólico e apaixonado, opta pela morte. Seu aspecto racional não é forte o bastante para contê-lo. Neste mesmo ano ele cria sua última obra, Teses Sobre o Conceito de História. Sua produção intelectual marcou a produção de vários filósofos que o sucederam, principalmente de Giorgio Agamben, influenciando principalmente sua noção de ‘Estado de Exceção’.

in «Infoescola»

sábado, 5 de março de 2011

Crise financeira...ou de superprodução?

" (...) A grande depressão dos anos 1930 colocou em evidência os limites da teoria neoclássica dominante na época. Sua explicação sobre o funcionamento do capitalismo se fundamenta na lei de Say, duramente criticada por Keynes [17] na Teoria Geral, e sobre o equilíbrio dos mercados através de um ajuste automático dos preços, impedindo teoricamente o surgimento espontâneo de uma crise. Como esta última crise – que muitos insistem em classificá-la de financeira – uma realidade que é difícil de negar. A maior parte dos autores neoclássicos (e dos comentaristas econômicos que a vulgarizaram na grande imprensa) interpreta a crise a partir de fatores externos aos mercados, em particular a intervenção do Estado ou a influência dos sindicatos dos trabalhadores, ou pelos excessos no comportamento dos agentes econômicos, que vai da cobiça desmesurada às fraudes, passando pela governança corporativa, que perturbam o livre jogo das forças do mercado. A lógica da concentração da propriedade e da riqueza privada assim como a da maximização, não são problemáticas, somente os casos de incompetência ou de corrupção são questionados.


As políticas neoliberais estão, portanto, em declínio, mas ainda exibem muita força e vigor. A gravidade da crise recolocou em cena as teses de John Maynard Keynes, crítico agudo da visão neoclássica de um ajustamento autoregulado do capitalismo. Há alguns anos, uma parte dos teóricos neoclássicos começou a abandonar certas posições mais duras da teoria, não para converterem-se ao keynesianismo, mas para relançarem a ambição da absorção dele pelo paradigma walrasiano, através da chamada segunda síntese neoclássica, realizada desde os anos 1940 por Sir John R. Hicks e Paul A. Samuelson. Encontramos, atualmente, entre os seus herdeiros mais eminentes, que permanecem fiéis à teoria neoclássica padrão, mesmo ao preço de algumas adaptações (sobre os ajustamentos de preços, as antecipações ou à concorrência imperfeita) Joseph Stiglitz, Paul Krugman e Olivier Blanchard. O primeiro, prêmio Nobel de economia em 2008, foi vice-presidente do Banco Mundial e não precisa de maiores apresentações. Krugman, prêmio Nobel em 2008, encerra seu livro, "A crise de 2008 e o retorno da depressão econômica", escrevendo que "Keynes – que compreendeu a Grande Depressão [dos anos 1930] está atualmente, mais do que nunca, na ordem do dia". [18] O terceiro, durante muito tempo professor no MIT, assessora ao mesmo tempo o diretor gerente socialista do FMI, Dominique Strauss-Kahn, como economista-chefe dessa instituição, e o prêmio Nobel da Paz de 2009, Barack Obama, como conselheiro dos Federal Reserve Banks de Nova Iorque e de Boston.

Todavia, é forçoso reconhecer que, apesar deles frequentemente divergirem quanto às proposições relativas ao grau de intervenção do Estado, as interpretações desses "novos keynesianos" e dos neoclássicos "tradicionais" fazem parte da mesma matriz político-ideológica da teoria econômica. Para os mais avançados dentre eles, apesar das nuances, variantes e sutilezas que os diferenciam, as propostas que eles apresentam são apenas a introdução de pequenas modificações no funcionamento do capitalismo, para que esse sobreviva o maior tempo possível (esse foi também o objetivo de Keynes). Quase todos aceitaram, temporariamente, uma intervenção direta e maciça do Estado através da compra de ações dos bancos, de companhias de seguros e de caixas de poupança à beira da falência, isso sem mesmo reivindicar direito de voto e muito menos de controle das empresas estatizadas. Pode-se perceber algumas medidas keynesianas nos pacotes anti-crise aprovados pelos governos dos Estados Unidos, desde o primeiro plano proposto pela equipe de George W. Bush no primeiro semestre de 2008 (como a devolução de uma parte do imposto de renda que havia sido pago, como tentativa de estimular a demanda de consumo) até, sobretudo, no programa do presidente Barack Obama (obras de renovação de infra-estruturas). Entretanto, a predominância é, claramente, de medidas de políticas neoliberais visando salvar o máximo de riqueza financeira, quer dizer, do capital fictício acumulado pelos oligopólios da alta finança [19] .


A conversão dos planos emergenciais de salvamento do capitalismo em um intervencionismo do Estado através dos Bancos Centrais, acionados de forma muito pouco democráticas pelos dirigentes dos governos neoliberais do Norte, não deve trazer ilusões. A combinação de fortes reduções nas taxas de juros com a abertura de gigantescas linhas de crédito e de compra de ativos bancários permanecem dentro das concepções ortodoxas e seus idealizadores estão muito longe de escaparem dos dogmas da teoria dominante. O "Relatório da Comissão Stiglitz" [20] fornece uma boa ilustração. Redigido entre 2008 e 2009 a pedido do presidente da Assembléia Geral das Nações Unidas, Miguel d´Escoto, o documento final não questiona verdadeiramente os fundamentos da ideologia neoliberal, apesar dela estar debilitada pela crise. Segundo este relatório, as antigas certezas do neoliberalismo devem ser revistas, mas certamente não devem ser abandonadas. Os regimes cambiais devem permanecer flutuantes, as virtudes do livre comércio são reafirmadas frente ao perigo do protecionismo, as falhas da governança corporativa devem ser corrigidas, a gestão dos riscos financeiros continua a ser confiada aos próprios oligopólios privados e a regulação do sistema mundial continua submetido ao imperialismo estadunidense. Assim, estamos cada vez mais longe das manifestações de rejeição expressas cada vez mais pelos países do Sul, da China à Venezuela, contra a liberalização financeira mundial claro que dentro de certos limites, dificuldades e contradições, é verdade.


Por outro lado, uma parte dos economistas liberais, minoritária mas significativa, continua a se radicalizar e se aproximam das teses ultra-liberais austríacas inspiradas em Ludwig Von Mises e Friedrich August Von Hayek. Tendo como fundamento a reafirmação sobre o caráter do equilíbrio automático dos mercados essas análises da crise, das quais encontramos uma bela amostra na página internet do Instituto Von Mises [21] , são embaraçosas para nossos neoliberais "novos keynesianos" na medida em que elas defendem, desde o início, que a crise é o resultado do excesso de intervenção do Estado e que o Estado não deveria, de forma alguma, salvar os bancos e empresas problemáticas [22] . O que deveria ser feito, segundo eles, seria acabar com todas as regulamentações estatais que limitam a livre ação dos agentes econômicos nos mercados. As políticas públicas de habitação, financiadas por Fannie Mae e Freddie Mac , pretendiam, de maneira populista, que todos os cidadãos tivessem acesso ao mercado imobiliário. O mercado demonstrou que é impossível, nem todos podem ter sua casa própria. Os ultra-liberais desenvolvem seus argumentos contra os planos anti-crise e, em particular, contra a regulamentação externa das taxas de juros pelo Banco Central. Os mais radicais dentre eles chegam a defender a supressão pura e simples das instituições estatais, instituições públicas, do banco central e da moeda estatal [23] . Eles estão conscientes de que tais medidas conduziriam o sistema capitalista ao caos, mas sua confiança nos mecanismos de mercado os conduzem à defesa de que esse caos será benéfico para o capitalismo e que o capital se reconstituirá muito mais rapidamente e mais vigorosamente do que se for apoiado pelas intervenções estatais artificiais, que tomam a forma de diferentes auxílios públicos às empresas condenadas à falência.


Nenhuma dessas correntes de pensamento sugere uma reflexão sobre as condições de um processo que permita a superação do capital enquanto relação social de exploração e opressão – inclusive as propostas da esquerda que demandam a reforma do FMI, do Banco Mundial ou a criação de uma nova "moeda mundial". Entretanto, existem vários defensores de que a crise atual conduzirá, provavelmente, ao colapso do capitalismo.



No início dos anos 1990, Robert Kurz [24] , em diversas obras, já defendia que o modo de produção capitalista estava em vias de extinção e que o século XXI abriria um período de transição para uma nova forma de sociedade. Immanuel Wallerstein, que estuda as tendências longas do capitalismo a partir das teorias do sistema mundo, declarou em uma entrevista ao Le Monde em outubro de 2008: "Eu penso que há 30 anos entramos na fase terminal do sistema capitalista. A situação torna-se caótica, incontrolável pelas forças que a dominavam até agora, e vemos a emergência de uma luta, não entre os detentores e os adversários do sistema, mas entre todos os agentes para determinar o que vai substituí-lo. Eu reservo a palavra 'crise' à esse tipo de período. Bem, estamos em crise. O capitalismo atinge o seu fim." [25] Ele acrescentou, em outra entrevista, ao jornal Público de Madri: "Nós podemos estar seguros que em 30 anos não viveremos mais sob o sistema-mundo capitalista." [26] Essas interpretações alinham-se com certas análises da conjuntura mundial do capitalismo, principalmente a equipe do Global Europe Anticipation Bulletin (GEAB – LEAP), cujas previsões sobre a crise continuam cada vez mais pessimistas. "Desde fevereiro de 2006, o LEAP/E2020 tinha avaliado que a crise sistêmica global se desenrolaria segundo quatro grandes fases estruturantes, a saber as fases de eclosão, de aceleração, de impacto e de decantação. Esse processo descreveu bem os acontecimentos até hoje [15/02/2009]. Mas, [...] a incapacidade dos dirigentes mundiais em medir a crise, caracterizada principalmente pela sua obstinação há mais de um ano em tratar das conseqüências da crise ao invés de atacar radicalmente suas causas, fará com que a crise sistêmica global entre em uma 5ª fase a partir do 4º trimestre de 2009: a fase chamada de deslocamento geopolítico mundial." [27] Em seu boletim mais recente, GEAB 39 de 15/11/2009, avaliam que: "Para o ano de 2010, tendo como pano de fundo uma depressão econômica e social, e de um maior protecionismo, essa evolução vai condenar um grande número de Estados à escolher entre três opções brutais, a saber: a inflação, a forte alta da pressão fiscal ou a cessação de pagamentos. Um crescente número de países (USA, Reino Unido, Eurolândia, Japão, China...), tendo gasto todos seus cartuchos orçamentários e monetários na crise financeira de 2008/2009, com efeito não podem mais ter outra alternativa." (...)
Esta é uma versão modificada e atualizada do artigo "Crise financière ou crise de surproduction? Éléments pour une critique marxiste des mesures anti-crise", elaborado para publicação na revista La Pensée (no prelo).


[*] Professor do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Política Social da UFES. Presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política .

[**] Pesquisador do CNRS (UMR 8174 – Centro de Economia da Sorbonne, Universidade de Paris 1, Panthéon-Sorbonne) e Coordenador do Fórum Mundial das Alternativas .

O artigo completo encontra-se em http://resistir.info/ .

terça-feira, 1 de março de 2011

Líbia: O que os media escondem

Líbia: O que os media escondem


por Miguel Urbano Rodrigues

Transcorridas duas semanas das primeiras manifestações em Benghazi e Tripoli, a campanha de desinformação sobre a Líbia semeia a confusão no mundo.

Antes de mais uma certeza: as analogias com os acontecimentos da Tunísia e do Egipto são descabidas. Essas rebeliões contribuíram, obviamente, para despoletar os protestos nas ruas do país vizinho de ambos, mas o processo líbio apresenta características peculiares, inseparáveis da estratégia conspirativa do imperialismo e daquilo que se pode definir como a metamorfose do líder.

Muamar Kadhafi, ao contrário de Ben Ali e de Hosni Mubarak, assumiu uma posição anti-imperialista quando tomou o poder em 1969. Aboliu uma monarquia fantoche e praticou durante décadas uma politica de independência iniciada com a nacionalização do petróleo. As suas excentricidades e o fanatismo religioso não impediram uma estratégia que promoveu o desenvolvimento económico e reduziu desigualdades sociais chocantes. A Líbia aliou-se a países e movimentos que combatiam o imperialismo e o sionismo. Kadhafi fundou universidades e industrias, uma agricultura florescente surgiu das areias do deserto, centenas de milhares de cidadãos tiveram pela primeira vez direito a alojamentos dignos.

O bombardeamento de Tripoli e Benghazi em l986 pela USAF demonstrou que Reagan, na Casa Branca identificava no líder líbio um inimigo a abater. Ao país foram aplicadas sanções pesadas.

A partir da II Guerra do Golfo, Kadhafi deu uma guinada de 180 graus. Submeteu-se a exigências do FMI, privatizou dezenas de empresas e abriu o país às grandes petrolíferas internacionais. A corrupção e o nepotismo criaram raízes na Líbia.

Washington passou a ver em Kadhafi um dirigente dialogante. Foi recebido na Europa com honras especiais; assinou contratos fabulosos com os governos de Sarkozy, Berlusconi e Brown. Mas quando o aumento de preços nas grandes cidades líbias provocou uma vaga de descontentamento, o imperialismo aproveitou a oportunidade. Concluiu que chegara o momento de se livrar de Kadhafi, um líder sempre incómodo.

As rebeliões da Tunísia e do Egipto, os protestos no Bahrein e no Iémen criaram condições muito favoráveis às primeiras manifestações na Líbia.

Não foi por acaso que Benghasi surgiu como o pólo da rebelião. É na Cirenaica que operam as principais transnacionais petrolíferas; ali se localizam os terminais dos oleodutos e dos gasodutos.

A brutal repressão desencadeada por Kadhafi após os primeiros protestos populares contribuiu para que estes se ampliassem, sobretudo em Benghazi. Sabe-se hoje que nessas manifestações desempenhou um papel importante a chamada Frente Nacional para a Salvação da Líbia, organização financiada pela CIA. É esclarecedor que naquela cidade tenham surgido rapidamente nas ruas a antiga bandeira da monarquia e retratos do falecido rei Idris, o chefe tribal Senussi coroado pela Inglaterra após a expulsão dos italianos. Apareceu até um "príncipe" Senussi a dar entrevistas.

A solidariedade dos grandes media dos EUA e da União Europeia com a rebelião do povo da Líbia é, porem, obviamente hipócrita. O Wall Street Journal, porta-voz da grande Finança mundial, não hesitou em sugerir em editorial (23 de Fevereiro) que "os EUA e a Europa deveriam ajudar os líbios a derrubar o regime de Kadhafi".

Obama, na expectativa, manteve silêncio sobre a Líbia durante seis dias; no sétimo condenou a violência, pediu sanções. Seguiu-se a reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU e o esperado pacote de sanções.

Alguns dirigentes progressistas latino americanos admitiram como iminente uma intervenção militar da NATO. Tal iniciativa, perigosa e estúpida, produziria efeito negativo no mundo árabe, reforçando o sentimento anti-imperialista latente nas massas. E seria militarmente desnecessária porque o regime líbio aparentemente agoniza.

Kadhafi, ao promover uma repressão violenta, recorrendo inclusive a mercenários tchadianos (estrangeiros que nem sequer falam árabe), contribuiu para ampliar a campanha dos grandes media internacionais que projecta como heróis os organizadores da rebelião enquanto ele é apresentado como um assassino e um paranóico.

Os últimos discursos do líder líbio, irresponsáveis e agressivos, foram alias habilmente utilizados pelos media para o desacreditar e estimular a renúncia de ministros e diplomatas, distanciando Kadhafi cada vez mais do povo que durante décadas o respeitou e admirou.

Nestes dias é imprevisível o amanhã da Líbia, o terceiro produtor de petróleo da África, um país cujas riquezas são já amplamente controladas pelo imperialismo.

Vila Nova de Gaia, 28/Fevereiro/2011


O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=1993

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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