« Já lá estavam quando ocorreu o terramoto, em 12 de Janeiro passado: eram cerca de 400, os médicos cubanos que, desde 1998, gratuitamente, levavam por diante, no Haiti, um Plano Integral de Saúde que envolveu, ao longo dos anos, cerca de 6 000 cooperantes cubanos e cerca de 400 jovens médicos haitianos formados gratuitamente em Cuba.
No próprio dia 12, dia do terramoto, juntaram-se-lhes, idos de Cuba, 60 especialistas em catástrofes e, todos, gratuitamente, protagonizaram a mais importante assistência médica e sanitária às vítimas do terramoto – que causara 250 mil mortos e mais de 1, 5 milhões de desalojados.
Os média dos EUA – e, por obediência canina, os média de todo o mundo capitalista – que se fartaram de anunciar, enaltecer, louvar e propagandear apoios e mais apoios, solidariedade e mais solidariedade, particularmente os dólares prometidos por Obama/Clinton, silenciaram cirurgicamente o mais importante de todos os apoios, a única verdadeira solidariedade: a presença e a acção, gratuita, dos médicos e enfermeiros cubanos no Haiti.
Mais do que isso: a cadeia norte-americana Fox News chegou a afirmar, mesmo, que «Cuba é dos poucos países do Caribe que não prestam qualquer apoio ao Haiti»…
Quanto aos anunciados apoios em dinheiro, além de ficarem muito aquém das verbas propagandeadas, os que chegaram tiveram destinos vários, parte deles nada tendo a ver com o apoio às vítimas do terramoto… A solidariedade capitalista tem destas coisas…
Certo, certo – e constante, e permanente – foi o sempre silenciado apoio gratuito, a sempre silenciada solidariedade de facto dos 400 médicos e enfermeiros cubanos.
Agora, desde Outubro, o martirizado povo haitiano sofre uma epidemia de cólera – doença que não era detectada no país há mais de um século – que já matou mais de 1600 pessoas e provocou a hospitalização de 30 mil das 200 mil afectadas, e que ameaça intensificar-se.
E mais uma vez… os apoios, a solidariedade…
Dos anunciados 164 milhões de dólares… chegaram uns 19 milhões… e diz-se que «os apoios «chegam a conta-gotas à espera do resultado das eleições» que hoje se realizam no Haiti…
Raio de solidariedade esta que só se concretiza se as vítimas votarem «bem»...
Certo, certo – e constante, e permanente – continua a ser o sempre silenciado e gratuito, a sempre silenciada solidariedade de facto dos médicos e enfermeiros cubanos – os 400 que já lá estavam, mais os 500 que para lá foram enviados logo que eclodiu a epidemia de cólera, mais os 300 que, por decisão do Governo de Cuba, se lhes juntarão, hoje – sejam quais forem os resultados eleitorais.»
Fernando Samuel- Cravo de Abril
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terça-feira, 30 de novembro de 2010
A casa
Já a lua se apagou sob o lençol negro
Enquanto me recolho no covil das palavras
Na chama da língua que emudece.
Fui.
Uma chuva ácida castiga o mundo
Como um deus cruel a seus filhos
Que o não amam.
Quem a mim amar possa
Ofereço um ramo de oliveira.
Inimigo meu pode dormir tranquilo
Que as minhas palavras não matam.
Inofensivo vou
Pela chuva como uma criança perdida.
Onde fica a minha casa?
Em que lugar sonhado, minha mãe, meu pai?
Que o céu se abra como um útero
E chova leite e mel sobre os submissos
E se abra a terra como uma deusa misericordiosa
Para a sementeira de um mundo novo.
Que morra eu, sim,
Que morra,
Mas a casa se habite.
Já a lua se apagou sob o lençol negro
Enquanto me recolho no covil das palavras
Na chama da língua que emudece.
Fui.
Uma chuva ácida castiga o mundo
Como um deus cruel a seus filhos
Que o não amam.
Quem a mim amar possa
Ofereço um ramo de oliveira.
Inimigo meu pode dormir tranquilo
Que as minhas palavras não matam.
Inofensivo vou
Pela chuva como uma criança perdida.
Onde fica a minha casa?
Em que lugar sonhado, minha mãe, meu pai?
Que o céu se abra como um útero
E chova leite e mel sobre os submissos
E se abra a terra como uma deusa misericordiosa
Para a sementeira de um mundo novo.
Que morra eu, sim,
Que morra,
Mas a casa se habite.
domingo, 28 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Os grevistas
O sr. ministro da economia não reconhece que houve uma greve geral, terá havido, quando muito, uma greve «minoritária e parcial». A sra. ministra do trabalho não reconhece que houve uma greve geral, se não «o país teria parado». Temos, portanto, dois ministros, pelo menos, a defender uma greve geral, a sério. Lastimam, portanto, que tivesse sido apenas parcial. Censuram os sindicatos por não serem capazes de fazer parar o país. A sra. ministra do trabalho tem autoridade na matéria: representa os trabalhadores que administram os monopólios, os accionistas dos oligopólios, os incansáveis jogadores da Bolsa, os corajosos investidores dos off-shores, os inventivos gestores das empresas públicas com ou sem parcerias com os privados, os exaustos banqueiros. O sr. ministro da economia anda atarefadíssimo com uma economia sem crescimento;por isso, exige mais trabalho de organização aos sindicatos.
Donde se conclui que o governo é que sabe fazer greves. Só eles sabem como fazer parar um país.
Donde se conclui que o governo é que sabe fazer greves. Só eles sabem como fazer parar um país.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
televisões
O modo como a SIC transmite as reportagens antes da Greve Geral são reveladoras do controlo que sobre ela exercem os seus patrões (todos os entrevistados protestam contra a greve). Da RTP nem vale a pena falar, porque é a "voz do dono" (como aqueles discos vinil antigos que traziam estampado um cão com a frase"A voz do dono"). Telenovelas medíocres, futebol à farta, publicidade, notícias facciosas, espectáculos para entreter o pagode. Os media constituem realmente um "quarto poder", sendo o primeiro o capital financeiro.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Interseccionismo
Interseccionismo
Movimento literário de vanguarda criado por Fernando Pessoa e que se caracteriza pela intersecção no poema de vários níveis simultâneos de realidade: a interior e a exterior, a objectiva e a subjectiva, o sonho e a realidade, o presente e o passado, o eu e o outro, etc. Poema paradigmático desta estética, Chuva Oblíqua exemplifica esta técnica de intercalamento que permite "o desdobramento possível de imagens vindas do exterior ou da nossa consciência, de proveniência visual ou auditiva, de experiências reais ou de sonho, etc., criando-se no poema [...] registos ou séries imagísticas objectivamente diferentes mas devidamente ordenados" (GUIMARÃES, Fernando - O Modernismo Português e a sua Poética , Lello, Porto, 1999, pp.71-72).
Movimento literário de vanguarda criado por Fernando Pessoa e que se caracteriza pela intersecção no poema de vários níveis simultâneos de realidade: a interior e a exterior, a objectiva e a subjectiva, o sonho e a realidade, o presente e o passado, o eu e o outro, etc. Poema paradigmático desta estética, Chuva Oblíqua exemplifica esta técnica de intercalamento que permite "o desdobramento possível de imagens vindas do exterior ou da nossa consciência, de proveniência visual ou auditiva, de experiências reais ou de sonho, etc., criando-se no poema [...] registos ou séries imagísticas objectivamente diferentes mas devidamente ordenados" (GUIMARÃES, Fernando - O Modernismo Português e a sua Poética , Lello, Porto, 1999, pp.71-72).
domingo, 21 de novembro de 2010
F. PESSOA - "Chuva oblíqua"
Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...
O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...
Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...
Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvores, estrada a arder em aquele porto.
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...
O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...
Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...
Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvores, estrada a arder em aquele porto.
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...
sábado, 20 de novembro de 2010
A Cimeira
Em jeito de balanço em cima dos acontecimentos, atrevo-me a concluir que estas cimeiras da NATO em Lisboa foram uma vitória para os E.U. que subordinaram a UE às suas finalidades e estratégias. Saíram reforçados e apoiados, escapando do descrédito nas guerras do Iraque e do Afeganistão, atraíram a Rússia e ameaçaram o Irão e todos os que se oponham ao imperialismo (ou ao Império, se preferirem). Obama ganhou uns pontos depois da derrota eleitoral. Sócrates está satisfeito e espera que o Banco Central europeu lhe compre agora alguma da dívida.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Dia Internacional da Filosofia
«Só é possível tornar-se filósofo, não sê-lo. Assim que se acredita sê-lo, cessa-se de se tornar filósofo.»
F. von Schlegel (1772-1829)
«Na verdade, a filosofia é nostalgia, o desejo de sentir-se em casa em qualquer lugar»
Novalis (1772-1801), Fragmentos
«A filosofia ensina a agir, não a falar.»
Séneca (4 a.C.-65 d.C.), Cartas a Lucílio
«Interrogado sobre o que havia aprendido com a filosofia, disse:« A fazer, sem ser comandado, aquilo que os outros fazem apenas por medo da lei.»
Aristóteles ( 384-322 a.C.), citado em Diógenes Laércio, Vidas dos filósofos, Aristóteles, V, 20.
F. von Schlegel (1772-1829)
«Na verdade, a filosofia é nostalgia, o desejo de sentir-se em casa em qualquer lugar»
Novalis (1772-1801), Fragmentos
«A filosofia ensina a agir, não a falar.»
Séneca (4 a.C.-65 d.C.), Cartas a Lucílio
«Interrogado sobre o que havia aprendido com a filosofia, disse:« A fazer, sem ser comandado, aquilo que os outros fazem apenas por medo da lei.»
Aristóteles ( 384-322 a.C.), citado em Diógenes Laércio, Vidas dos filósofos, Aristóteles, V, 20.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Somos pacifistas, mas não submissos!
Este é um blog da cultura, não é uma tribuna, nem um estado de alma. Mas a cultura é cidadania e esta é o valor da paz, da solidariedade, da justiça social. Os senhores da guerra, que querem o mundo como palco das suas tropelias, vão realizar uma cimeira, uma tribuna de guerra, demonstração de força, aviso aos mais fracos, ameaça aos insubmissos. É o imperialismo no seu trono.
Os povos querem a Paz, não querem morrer nas guerras dos ricos.
Os povos querem a Paz, não querem morrer nas guerras dos ricos.
sábado, 13 de novembro de 2010
LÉO FERRÉ - Avec le temps
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
On oublie le visage et l'on oublie la voix
Le cœur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
Chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
L'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
L'autre qu'on devinait au détour d'un regard
Entre les mots, entre les lignes et sous le fard
D'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
Avec le temps tout s'évanouit
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
Même les plus chouettes souv'nirs ça t'as une de ces gueules
A la gal'rie j'farfouille dans les rayons d'la mort
Le samedi soir quand la tendresse s'en va toute seule
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
L'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien
L'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
Pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
Devant quoi l'on s'traînait comme traînent les chiens
Avec le temps, va, tout va bien
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
On oublie les passions et l'on oublie les voix
Qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
Ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
Et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
Et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
Et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
Et l'on se sent floué par les années perdues
Alors vraiment... avec le temps... on n'aime plus
Avec le temps, va, tout s'en va
On oublie le visage et l'on oublie la voix
Le cœur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
Chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
L'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
L'autre qu'on devinait au détour d'un regard
Entre les mots, entre les lignes et sous le fard
D'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
Avec le temps tout s'évanouit
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
Même les plus chouettes souv'nirs ça t'as une de ces gueules
A la gal'rie j'farfouille dans les rayons d'la mort
Le samedi soir quand la tendresse s'en va toute seule
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
L'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien
L'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
Pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
Devant quoi l'on s'traînait comme traînent les chiens
Avec le temps, va, tout va bien
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
On oublie les passions et l'on oublie les voix
Qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
Ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
Et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
Et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
Et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
Et l'on se sent floué par les années perdues
Alors vraiment... avec le temps... on n'aime plus
O CORAÇÃO DO POETA
tudo o que voa, trepa, se alça e plana sobre o Universo
aves, flores, perfumes, fontes, ramos dobrados,
mares, grutas, cumes, lugares habitados, vulcões, desertos
sombra e luz, noites e estações, nuvens, trovões,
neve e bruma passageira, furacões, chuvas generosas,
religião e ensinamentos, visões, sensações, silêncio e canto,
tudo isso vive e mexe em meu coração: uma liberdade
irmã da subtil magia dos filhos da eternidade.
no meu coração, aqui sem fundo nem medida,
a morte dança com os espectros da vida.
aqui sopram os terrores da noite,
treme o sofrimento das rosas
e, ao seu eco, ergue-se a arte.
Abû al-Qâsim al-Shâbbî (Tunísia, 1909-1934)
(Trad. de Adalberto Alves)
aves, flores, perfumes, fontes, ramos dobrados,
mares, grutas, cumes, lugares habitados, vulcões, desertos
sombra e luz, noites e estações, nuvens, trovões,
neve e bruma passageira, furacões, chuvas generosas,
religião e ensinamentos, visões, sensações, silêncio e canto,
tudo isso vive e mexe em meu coração: uma liberdade
irmã da subtil magia dos filhos da eternidade.
no meu coração, aqui sem fundo nem medida,
a morte dança com os espectros da vida.
aqui sopram os terrores da noite,
treme o sofrimento das rosas
e, ao seu eco, ergue-se a arte.
Abû al-Qâsim al-Shâbbî (Tunísia, 1909-1934)
(Trad. de Adalberto Alves)
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Assírio e Alvim,
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quinta-feira, 11 de novembro de 2010
O mundo está melhor?
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) publicou o último relatório sobre os indicadores do Desenvolvimento Humano. Portugal encontra-se bem nuns, menos bem noutros, mal em alguns. São estas diferenças, comparativas, que se deviam enfatizar. Estar mal nos indicadores relativos ao sucesso escolar e à escolaridade é mais grave do que outros indicadores, como é evidente. Que estamos melhor do que há quarenta ou trinta anos atrás, não é admiração nenhuma, sobretudo se comparararmos com a situação antes do 25 de Abril. O que importaria explicar, ou dizer, é que atingimos melhores indicadores mas não através do crescimento económico; pelo contrário, temos vindo a abrandar até à estagnação, e eliminámos grande parte das nossas estruturas produtivas( a pesca é só um exemplo). Em boa parte os nossos níveis de vida melhoraram sem correspondência no aumento regular e sólido das exportações, pelo contrário, importamos cerca de oitenta por cento do que comemos.
O jornal «Público» de 5 de Novembro último afirmava no seu editorial que o relatório do PNUD «mostra que a globalização e o alastramento do capitalismo foram uma boa notícia para centenas de milhões de pessoas na Ásia ou na América Latina. E mesmo na Europa ocidental e nos Estados Unidos(...)». Este gáudio puramente ideológico colide com todos os comentaristas e a própria percepção das pessoas, que de há uma dezenas de anos a esta parte têm vindo, de quadrantes vários, a desenhar um quadro a negro do capitalismo neo-liberal. Houve até um best-seller que se intitulava "O Horror Económico"...A globalização das comunicações é uma coisa, outra bem diferente é o mercado mudial capitalista sem regras e sem ética nenhuma. As pessoas vivem hoje melhor? Pergunte-se aos milhões de desempregados na Europa e nos Estados Unidos. Nem eles sabem como sair da crise...
O jornal «Público» de 5 de Novembro último afirmava no seu editorial que o relatório do PNUD «mostra que a globalização e o alastramento do capitalismo foram uma boa notícia para centenas de milhões de pessoas na Ásia ou na América Latina. E mesmo na Europa ocidental e nos Estados Unidos(...)». Este gáudio puramente ideológico colide com todos os comentaristas e a própria percepção das pessoas, que de há uma dezenas de anos a esta parte têm vindo, de quadrantes vários, a desenhar um quadro a negro do capitalismo neo-liberal. Houve até um best-seller que se intitulava "O Horror Económico"...A globalização das comunicações é uma coisa, outra bem diferente é o mercado mudial capitalista sem regras e sem ética nenhuma. As pessoas vivem hoje melhor? Pergunte-se aos milhões de desempregados na Europa e nos Estados Unidos. Nem eles sabem como sair da crise...
domingo, 7 de novembro de 2010
Manuel Bandeira
Vou-me Embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-dágua
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-dágua
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
sábado, 6 de novembro de 2010
Ah, o Banco Central!
O Banco Central Europeu decidiu-se finalmente a comprar parte da dívida pública portuguesa, para, assim, travar a especulação pelos mercados financeiros. É bem curioso que não ouvi uma única voz desses ilustres comentadores economistas da tv exigirem a utilização desse poder, desse instrumento da União Europeia que é o Banco Central. Ameaçam muito é com o FMI; aliás, até pedem que intervenha (sabendo nós o que o FMI costuma fazer por esse mundo fora, desde o Chile, Argentina, passando por Portugal duas vezes). Ora, se o Banco Central possui um poder inusitado (comprar dívidas públicas) para conter a sanha dos especuladores (a todo o momento especulam contra ou sobre o euro), porque esteve tanto tempo silencioso?
E, já agora, outra interrogação: se a China ofereceu-se para comprar a dívida de Portugal, porque não se ofereceu a Alemanha, essa potência que tanto tem lucrado com as crises dos outros?
Não sei se deva dizer mas quase que me repugna ouvir os comentadores, governantes e dirigentes de alguns partidos ameaçarem o povo com o monstro dos mercados sem rosto. Fazem-nos lembrar o "papão" das histórias que amedrontavam a nossa meninice: «Se não comeres a papa, vem aí o papão!»
Com fábulas e bolos se comem os tolos. Por enquanto apenas fábulas.
E, já agora, outra interrogação: se a China ofereceu-se para comprar a dívida de Portugal, porque não se ofereceu a Alemanha, essa potência que tanto tem lucrado com as crises dos outros?
Não sei se deva dizer mas quase que me repugna ouvir os comentadores, governantes e dirigentes de alguns partidos ameaçarem o povo com o monstro dos mercados sem rosto. Fazem-nos lembrar o "papão" das histórias que amedrontavam a nossa meninice: «Se não comeres a papa, vem aí o papão!»
Com fábulas e bolos se comem os tolos. Por enquanto apenas fábulas.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Manhã
O homem contorce-se numa tosse seca.
Na praça pela manhã os pombos aquecem-se.
A mulher dos pombos espalha as migalhas
Guardando a fome para si,
Novos e velhos sentam-se nos bancos,
Quem espera nunca alcança,
Uma garota brinca com uma boneca coçada,
Um achado que lhe alegrou o dia.
Um solista arranca do acordeão uma melodia
No chão um prato vazio agradece
E um cão lambe as feridas aos pés do dono.
Deus vela pelos desvalidos?
Intervir não está na sua condição.
Homens muito ricos conservam-no crucificado
Para que as mãos soltas não façam milagres.
Crucificadas multidões. Cautela!
O poder de multiplicar só ao capital foi concedido,
esse apetite insaciável canibal.
O homem contorce-se numa tosse seca.
Na praça pela manhã os pombos aquecem-se.
A mulher dos pombos espalha as migalhas
Guardando a fome para si,
Novos e velhos sentam-se nos bancos,
Quem espera nunca alcança,
Uma garota brinca com uma boneca coçada,
Um achado que lhe alegrou o dia.
Um solista arranca do acordeão uma melodia
No chão um prato vazio agradece
E um cão lambe as feridas aos pés do dono.
Deus vela pelos desvalidos?
Intervir não está na sua condição.
Homens muito ricos conservam-no crucificado
Para que as mãos soltas não façam milagres.
Crucificadas multidões. Cautela!
O poder de multiplicar só ao capital foi concedido,
esse apetite insaciável canibal.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Da miséria de muitos se faz a riqueza de poucos
Os sinais de degradação social, fome e miséria não esperaram sequer pela entrada em vigor do Orçamento que vai reduzir Portugal a um país de indigência.
De facto, a penúria dos portugueses já vem por detrás, de crise sobre crise, e o Orçamento dos partidos que mais se têm governado enquanto desgovernam o país, apadrinhado pela banca, pelo embaixador dos EUA, por Sarkozy e pela Merkel, só vai agravar a míngua nacional a extremos nunca vistos, nem sequer nos tempos do governo do Bloco Central e da fome em Setúbal. Ontem, os jornais davam conta que já tinham disparado os pedidos de ajuda alimentar às Misericórdias, à Cruz Vermelha e ao Banco contra a Fome, ao mesmo tempo que se multiplicam os pedidos de ajuda de portugueses que se libertaram do álcool e da droga e que a crise levou a que caíssem de novo na dependência.
É este o país que José Sócrates vai deixar a quem vier a seguir, depois do PS apagar a luz bater com a porta. Um país condenado à degradação pela mais brutal insensibilidade social, pela subjugação a interesses alheios e opostos aos do país e do povo. Mas na verdade não é apenas este governo do PS que desentranhou Portugal do rol dos países com direito à dignidade. A política de desastre vem de longe e foi partilhada pelas três famílias políticas que governaram Portugal nos últimos 30 anos. Foi a política desastrosa que desmantelou em Portugal todo e qualquer resquício produtivo - acabou com a agricultura, com as pescas, com parte essencial da indústria, liquidou os transportes, arruinou o comércio. Essa política deliberada, que destinou Portugal a ser um país de especulação e de campos de golfe, é a causa da ruína do país e da miséria de milhões de portugueses.
Muitos o pensam, embora poucos o digam.
João Paulo Guerra, in "Diário Económico", on-line
De facto, a penúria dos portugueses já vem por detrás, de crise sobre crise, e o Orçamento dos partidos que mais se têm governado enquanto desgovernam o país, apadrinhado pela banca, pelo embaixador dos EUA, por Sarkozy e pela Merkel, só vai agravar a míngua nacional a extremos nunca vistos, nem sequer nos tempos do governo do Bloco Central e da fome em Setúbal. Ontem, os jornais davam conta que já tinham disparado os pedidos de ajuda alimentar às Misericórdias, à Cruz Vermelha e ao Banco contra a Fome, ao mesmo tempo que se multiplicam os pedidos de ajuda de portugueses que se libertaram do álcool e da droga e que a crise levou a que caíssem de novo na dependência.
É este o país que José Sócrates vai deixar a quem vier a seguir, depois do PS apagar a luz bater com a porta. Um país condenado à degradação pela mais brutal insensibilidade social, pela subjugação a interesses alheios e opostos aos do país e do povo. Mas na verdade não é apenas este governo do PS que desentranhou Portugal do rol dos países com direito à dignidade. A política de desastre vem de longe e foi partilhada pelas três famílias políticas que governaram Portugal nos últimos 30 anos. Foi a política desastrosa que desmantelou em Portugal todo e qualquer resquício produtivo - acabou com a agricultura, com as pescas, com parte essencial da indústria, liquidou os transportes, arruinou o comércio. Essa política deliberada, que destinou Portugal a ser um país de especulação e de campos de golfe, é a causa da ruína do país e da miséria de milhões de portugueses.
Muitos o pensam, embora poucos o digam.
João Paulo Guerra, in "Diário Económico", on-line
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
A Presidenta
Gosta qu elhe chamem a Presidenta. Venceu as eleições. As mulheres esperam que ela não se esqueça das mulheres brasileiras que sobrevivem na miséria e na ignorância. Provavelmente o facto de ser a primeira mulher presidente de uma potência emergente pouco altera, como pouco alterou o facto de Obama ser afro-americano. Continuará Lula no seu melhor e no seu pior. Seria bom que, para começar, respeitasse os vinte milhões de brasileiros que votaram na candidata dos Verdes e admitisse que existe um grave problema ambiental no Brasil, no qual se situa a maior pulmão do planeta. Seria bom que não se esquecesse das favelas. Das enormes desigualdades sociais que permanecem num país tão rico cuja distribuição da riqueza é tão injusta. Lula desiludiu em muitos e importantes aspectos. Provavelmente a senhora presidenta desiludirá nos mesmos aspectos precisamente.
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