Um amigo enviou uma entrevista que foi feita ao Dr. Manuel Sobrinho Simões, não referindo qual o periódico, em meados de Dezembro último. O Dr. Sobrinho Simões é um profissional emérito, galardoado com o prémio Pessoa. Contudo, as opiniões de um profissional de gabarito não têm que ser, por isso, exemplares e absolutamente certeiras. São as suas opiniões. É o caso que aponta causas históricas ou remotas para a situação social e política portuguesa que são banais, desde o século XIX que as conhecemos. Sente-se triste com as desigualdades sociais, enfatiza a baixa produtividade como uma causa principal ( sem explicá-la), o hábito dos portugueses viverem acima das suas possibilidades (qual a responsabilidade dos Bancos??), o colapso inevitável do Estado Social. A mim surpreende-me que numa longa entrevista onde ele pôde explanar todo o seu pensamento, não haja referido uma única vez o regime capitalista que desde sempre tem vigorado em Portugal e cujas características específicas explicam em boa parte os atrasos, as contradições e as desigualdades. Ou seja, de modo geral, o monopólio da coroa durante o Antigo Regime, o capitalismo monopolista sob os Cabrais, os novos monopólios sob a ditadura de Salazar, os oligopólios reorganizados durante a contra-revolução (de resto, esqueceu-de de dizer que Portugal sofreu a ditadura mais longa da Europa). Entre as causas para o "colapso" do Estado Social julga ver os excessos das mordomias (sic) e o peso das corporações profissionais (sic), isto é, nem uma palavra sobre o neo-liberalismo. Finalmente, sobre as políticas de austeridade (que já se conheciam em Dezembro) nada disse, admitindo que se conclua que não as desaprovou (aliás, afirma que as reduções dos salários na Função Pública eram inevitáveis e indigna-se contra os que apelam aos direitos adquiridos).
O Dr. Sobrinho Simões pertence a uma elite, no sentido que lhe atribuíu o sociólogo Bourdieu. Provavelmente é por isso que pensa assim.
1 comentário:
O professor Sobrinho Simões é um grande cientista, mas não consegue ter o golpe de asa necessário para ir mais além...
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