O PCP faz noventa anos de existência. De um indivíduo diriamos que é muito, mas mesmo muito idoso (alguns idosos ainda realizam obras notáveis, mas são raros; raramente, porém são inovadoras, o seu génio -se o tiveram - ficou para trás, resta a repetição, a teimosia, a replicação astuta ou a recusa da morte inclemente). De uma matéria corruptível, diremos que está em fase terminal de decomposição, decrepitude. Tudo que é material se corrompe, disse Aristóteles parafraseando o seu mestre Platão. Que dizemos de uma instituição (política, artística)? que ela se apura ou envelhece irremediavelmente, se imortaliza ou se esquece. Que dizemos de uma Ideia? Que algumas não morrem, que não são matéria consumível, intuição passageira, profecia desmentida se no tempo aprazado não se confirmou. Permanecem controvertidas mas irrecusáveis, despidas da poeira do tempo, das limitações e dos propósitos do contexto do seu nascimento. É assim que sistemas filosóficos perduram inteiriços e enigmáticos, continuamente interpretados, continuamente inspiradores, libertos das fraquezas humanas do seu autor. É o imaterial, o simbólico que se move - e remove - no sem espaço e tempo da virtualidade.
Não é religião: aqui o que impera é a fé e a obediência. É a crença, mas racional e justificada (como diria D.Hume). Não é matéria de dogma, mas espaço aberto de argumentação e contra-argumentação. Não é uma ciência (nem particular nem interdisciplinar), é Dialéctica, como insistia Aristóteles.
É uma interpretação dialéctica do movimento da vida social. Da vida. Exprime um movimento da realidade, mas é, ao mesmo tempo, uma actividade sobre o real (práxica, prática). É com certeza uma "narrativa", como o são todas as filosofias, doutrinas, obras de arte, insusceptível de ser falsificável (Karl Popper dixit), como também o não são a soma e a súmula da arquitectura de Corbusier, a escultura de Rodin ou Moore, a dramaturgia de S. Beckett, o sistema platónico ou hegeliano.
Ultrapassado pela vida? Qual vida mudou assim tanto?
1 comentário:
Gostei!
Colocas as coisas no seu lugar, parece-me.
Como sabes, tenho uma visão muito crítica do actual PCP. Do meu ponto de vista tornou-se uma religião, no sentido mais antigo do termo: liga as pessoas que lá estão, tem um forte poder afectivo para os crentes, mas comporta-se como seita, sem espaço para o confronto, como o provam muitos que de lá sairam, desgostosos. Fui um deles...
Numa opinião MUITO subjectiva, este teu discurso sobre o PCP não tem lá cabimento, mantens-te nas hostes porque preservas a tua independência intelectual e não dás confiança aos fiéis acríticos que por lá pululam, como confirmo cada vez que vou ao blogue do Cantigueiro...
Abraço
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