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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Somália, um desastre humano anunciado

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Pelo Socialismo

Questões político-ideológicas com atualidade

http://www.pelosocialismo.net

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Publicado por "Rebelión", em 2011/08/24: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=134533

Tradução do castelhano de MF

Colocado em linha em: 2011/09/11

Somália, um desastre humano anunciado

Edmundo Fayanas Escuer

Este país tem uma extensão de 638 000 km2, sendo um território muito árido e seco.

Tem uma população de quase dez milhões de habitantes, com um rendimento per

capita de 460 dólares anuais. Cerca de 70% dos seus habitantes não têm acesso a

água potável. A desnutrição afecta 17% das crianças e há mais de 400 000 deslocados

internos. Com a actual seca todo este desastre humano disparou. A pesca artesanal é

uma das poucas actividades económicas que permitem à população sobreviver neste

caos somali.

Foi um protectorado britânico e italiano até aos anos sessenta e viveu nos seus

últimos cinquenta anos em conflitos armados contínuos, propiciados pelos diferentes

senhores da guerra.

A Somália está situada no corno de África, ocupando uma posição estratégica de

grande valor, pois está muito perto do estreito de Bab el Mandeb, passagem

fundamental para o comércio mundial, sobretudo para o petrolífero. Além disso, liga

a Arábia Saudita e o mar Vermelho ao golfo de Aden.

Na Somália não se nasce somali, faz-se parte de um clã. Há cinco grandes clãs.

Os hawiya representam 25% da população e ocupam a parte norte e centro, zonas

do sudoeste da Etiópia e do norte do Quénia.

Os ishaak abrangem 23% da população e ocupam a antiga colónia da Somália

britânica, conhecida como Somalilândia. Este grupo actua como um Estado dentro do

Estado, ainda que não seja reconhecido internacionalmente.

Os darod representam 20%, estando situados em Puntland, local onde a lenda situa

o antigo reino de Shaba, e num pedaço da Somalilândia.

O clã dos rahanwein, que apenas abarca 18%, situa-se no centro e sul do país, nas

proximidades de Djibouti e ainda num pedaço da Somalilândia.

O último clã é o mais pequeno, o dos digil, que representam 3%, juntamente com os

bantúes, que são os descendentes dos escravos libertos durante o colonialismo

italiano, a quem chamam loona aaraan, que traduzido significa «ninguém está a

chorar por eles».

2

Em 1993, os Estados Unidos intervêm na Somália sob missão da ONU, com a

desculpa da ajuda humanitária, mas procurando unicamente defender os interesses

das multinacionais petrolíferas norte-americanas (Chevron, Mobil, Amoco…),

instaladas no país desde 1952. A missão «Restaurar a esperança» traduz-se pelo

confronto entre as tropas norte-americanas e os senhores da guerra. Em Outubro de

1993 deu-se a batalha de Mogadíscio, que se saldou pela saída das tropas norteamericanas,

sem terem conseguido nenhum dos objectivos propostos, deixando a

Somália submetida aos senhores da guerra.

Depois da queda do ditador Said Barre, em 1991, centenas de navios de pesca de todo

o mundo viram a possibilidade de pescar livremente nos ricos bancos de pesca

somalis e zonas próximas sem qualquer tipo de controlo (nem de redes, nem de

espécies, nem de custo económico para os armadores), o que propiciou o seu

enriquecimento, em detrimento dos interesses da Somália, saltando sobre os acordos

internacionais sobre águas jurisdicionais dos países. Quem são então os piratas?

Que diriam e fariam os norte-americanos se isto se passasse nas suas

costas?

Abdirahman Ibbi, vice-ministro da pesca do governo somali de transição, considera

que há cerca de 220 pesqueiros estrangeiros pescando nas suas águas e acrescenta:

«a frota pesqueira espanhola também está a pescar ilegalmente nos nossos bancos

de pesca».

Não bastando o escândalo da pesca em águas somalis, as grandes potências usam as

suas águas e o seu território como lixeira de substâncias que os seus países não

querem. Isto tornou-se claro no rescaldo do tsunami de 2005, no Oceano Índico. O

enviado das Nações Unidas na Somália comentou: «A Somália está a ser utilizada

como lixeira de resíduos perigosos desde o começo dos anos noventa e continua a

sê-lo com a guerra civil iniciada nesse país. O lixo é de géneros muito diversos. Há

resíduos radioactivos de urânio e metais pesados, como cádmio e mercúrio. Há

também lixo industrial, resíduos de hospitais, lixo de substâncias químicas e tudo o

que se possa imaginar».

A zona de Puntland, situada no noroeste do país – que foi uma antiga colónia italiana

e se declarou autónoma da Somália em 1998 –, converteu-se num santuário dos

piratas, apoiados maioritariamente pela sua população. Agora os piratas não só

atacam os pesqueiros mas também qualquer tipo de navio.

Depois da sua saída, os norte-americanos financiaram estes senhores da guerra

laicos, que fizeram uma aliança contra os islamitas. O catedrático de história pela

Universidade de Harvard, Niall Ferguson escreve no The Angeles Times: «pelo

menos durante a guerra fria podia dar-se de barato que o nosso filho da puta (o

nosso dirigente anticomunista) imporia uma modalidade brutal de ordem. Agora,

em plena guerra contra o terrorismo, os Estados Unidos preferem um país dividido

entre múltiplos filhos da puta a um país governado pela lei da sharia. Contudo,

quanto mais a política externa de Washington promover a anarquia em vez da

ordem, mais forte será o atractivo dos movimentos islamitas». Isto reforçou o

prestígio dos islamitas, que derrotam em Junho de 2006 os senhores da guerra,

unificando a capital pela primeira vez desde 2001. O seu avanço para o sul fez temer

um contágio ao Quénia e à Tanzânia.

3

Os Tribunais Islâmicos triunfantes puseram ordem no país, o que lhes granjeou

simpatia nos comerciantes e permitiu às ONG voltar a trabalhar.

Os norte-americanos empurraram um dos países mais pobres do mundo, a Etiópia, a

invadir a Somália. Com o apoio norte-americano, derrotaram rapidamente os

Tribunais Islâmicos que tinham conseguido pacificar o país desde 1991. Este

movimento islâmico era uma solução caseira para uma anarquia interminável, devida

em grande parte às intervenções estrangeiras, com origem no passado colonial.

O Pentágono impulsionou a intervenção da Etiópia cristã através de um programa de

ajuda militar desde 2002 e pôs ao seu serviço os meios de reconhecimento aéreo e de

escuta via satélite para a ofensiva somali.

Por que intervém a Etiópia na Somália?


Além de satisfazer os Estados Unidos, procura que a Somália continue instável de

forma a impedi-la de se tornar num país forte que possa reclamar a soberania sobre o

Ogaden, região etíope que se encontra habitada pelo clã dos Hawiya e que provocou

uma guerra entre os dois países (1977-1978).

Enquanto tudo isto sucede, os Estados Unidos, a União Europeia e a comunidade

internacional olham para o lado e permanecem indiferentes à grande dor e miséria

existentes na Somália e calam-se perante os desastres ambientais que provocam.

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