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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Os discípulos de Goebbels contra a Síria



Domenico Losurdo

Não há quaisquer dúvidas de que Goebbels, o pérfido e brilhante

ministro do III Reich, deixou escola. Há que reconhecer, aliás, que os

seus discípulos de Washington e Bruxelas conseguiram superar o nunca

olvidado mestre.

Qual a natureza do conflito que desde há meses assola a Síria? Com este artigo é meu

intuito suscitar em todos os que defendem a causa da paz e da democracia nas

relações internacionais algumas perguntas elementares. Pela minha parte, tratarei de

responder dando a palavra a órgãos de imprensa e jornalistas insuspeitos de qualquer

cumplicidade com os dirigentes de Damasco.

1) Ocorre antes de mais nada perguntar qual a situação deste país do Médio Oriente

antes da chegada ao poder, em 1970, dos Assad (pai e filho) e do regime actual. Pois

bem, antes daquela data, «a república síria era um estado débil e instável, um palco

para as rivalidades regionais e internacionais»; os acontecimentos dos últimos meses

significam de fato o regresso à «situação anterior a 1970». Quem se expressa nesses

termos é Itamar Rabinovich, ex-embaixador de Israel em Washington, no

International Herald Tribune de 19-20 de Novembro. Podemos extrair uma primeira

conclusão: a rebelião apoiada em primeiro lugar pelos EUA e pela União Europeia

pode fazer a Síria retroceder a uma situação semicolonial.

2) As condenações e sanções do Ocidente e a sua aspiração a uma mudança de regime

na Síria estão inspiradas na indignação pela «repressão brutal» de manifestações

pacíficas, uma repressão exercida pelo poder? Na realidade, já em 2005 «George

Bush pretendia derrubar Bashar al-Assad». Continuam a ser palavras do exembaixador

israelita em Washington, o qual acrescenta que agora o governo de

Telavive se juntou a esta política de regime change na Síria: há que acabar de uma

vez por todas com o grupo dirigente que a partir de Damasco apoia «o Hezbollah no

Líbano e o Hamas em Gaza» e estreita relações com Teheran. Sim, «profundamente

preocupado pela ameaça iraniana, Israel é de opinião de que, se retirar o tijolo sírio

do muro iraniano, a política regional poderia entrar numa nova fase. É evidente que o

Hezbollah, tal como o Hamas, se movem agora com mais cautela». De modo que o

alvo da rebelião e das manobras com ela relacionadas não é apenas a Síria, são

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também a Palestina, o Líbano e o Irão: trata-se de desferir um golpe decisivo na causa

do povo palestino e de consolidar o domínio neocolonial de Israel e do Ocidente

numa região de crucial importância geopolítica e geoeconómica.

3) Como atingir este objectivo? Guido Olimpio, no Corriere della Sera de 29 de

Outubro, explica-o claramente: em Antakya, uma região da Turquia confinante com a

Síria, opera já o «Exército Livre Sírio, uma organização que pratica a luta armada

contra o regime de Assad». É um exército que recebe armas e instrução militar da

Turquia. Além disso (continua Guido Olimpio no Corriere della Sera de 13 de

Novembro), Ancara «ameaçou criar uma faixa tampão de 30 quilómetros em

território sírio». Vemos pois que o governo sírio tem de fazer frente não apenas a uma

rebelião armada, mas a uma rebelião armada apoiada por um país que dispõe dum

dispositivo militar de primeira ordem, que é membro da NATO e que ameaça invadir

a Síria. Quaisquer que sejam os erros ou as culpas dos seus dirigentes, este pequeno

país está a sofrer, de facto, uma agressão militar. A Turquia, que tem tido um período

de forte crescimento económico, desde há algum tempo dá mostras de impaciência

relativamente ao domínio de Israel e dos EUA no Oriente Médio. Obama responde a

essa impaciência empurrando os dirigentes de Ancara para um sub-imperialismo

neo-otomano, controlado evidentemente por Washington.

4) Da análise e dos testemunhos trazidos depreende-se que a Síria se vê obrigada a

lutar em condições muito difíceis para a manutenção da sua independência, fazendo

face a um formidável bloqueio económico, político e militar. Além disso, a OTAN

ameaça directa ou indirectamente os dirigentes de Damasco com a possibilidade de

lhes reservar o mesmo fim que teve Khadafi, o assassínio e o linchamento. A infâmia

da agressão devia pois ser evidente para todos os que estão dispostos a fazer ao

menos um pequeno esforço intelectual. E, todavia, o Ocidente, valendo-se da sua

terrível potência de fogo mediático e das novas técnicas de manipulação

proporcionadas pelo desenvolvimento da Internet, apresenta a crise síria como um

exercício de uma violência brutal e gratuita contra manifestantes pacíficos e nãoviolentos.

Não há quaisquer dúvidas de que Goebbels, o pérfido e brilhante ministro

do III Reich, deixou escola. Há que reconhecer, aliás, que os seus discípulos de

Washington e Bruxelas conseguiram superar o nunca olvidado mestre.

24.11.2011

Tradução de João Carlos Graça

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