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Pelo Socialismo
Questões político-ideológicas com atualidade
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Publicado em: http://resistir.info/franca/armas_quimicas.html
Colocado em linha em: 2013/10/04
As armas químicas e os dadores de
lições: pequena pedagogia do horror
Chems Eddine Chitour
"Não compreendo estas reticências quanto ao uso do gás. Sou fortemente
favorável à utilização do gás tóxico contra as tribos bárbaras... O efeito
moral será bom. Será difundido um terror permanente..."
Sir Winston Churchill a propósito dos rebeldes curdos.
O mérito de Churchill é ter sido franco. Ele não tinha qualquer estado de alma em
gazear populações e insurge-se contra aqueles que estão contra isso. Explica-lhes que
não há razão uma vez que são tribos bárbaras que se deve desmoralizar pelo terror.
De passagem, Winston Churchill sem estados de alma sabe que fala do terror, mas
apesar disso persiste e assina. Nesta contribuição para descrever os factos, vamos
falar dos justiceiros actuais que impõem uma doxa1 ocidental. Ela repousa, como nos
bons velhos tempos, sobre o feito do príncipe – príncipes, pode-se dizer – e da carta
oficial determinando o destino dos aldeões, uma versão actual da expedição punitiva
a que os socialistas eram particularmente afeiçoados ao ponto de dela usar e abusar.
Isto aconteceu desde Guy Mollet, que partia em guerras com a sua cúmplice, a pérfida
Albion (e com a incontornável Israel), sempre que se tratasse de por na ordem os
árabes, até à "punição" prometida à Síria por Hollande, o cavaleiro destemido e sem
mácula, frustrado por não se poder destrinçar sem a protecção do guarda-chuva
americano.
A história da utilização das armas químicas
Descrevemos numa contribuição anterior a história da utilização das armas químicas
remontando aos fogos gregos que um certo Callinicus havia desenvolvido. O fogo
grego baseava-se na associação de um comburante, o salitre, com as substâncias
combustíveis, como as resinas. Bem mais tarde, é a Alemanha que utiliza primeiro as
armas químicas em 1915-17: cloro líquido e fosgénio, depois gás vesicatório e
asfixiante de mostarda (ou iperite). Em resposta, a Grã-Bretanha e a França
produziram também elas este gás letal. O gás nervin Tabun, que provoca a morte por
1 Doxa (δόξα) é uma palavra grega que significa crença comum ou opinião popular e de onde
originaram as palavras modernas ortodoxo e heterodoxo. – [NE]
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asfixia, foi descoberto em 1936 por investigadores da sociedade alemã I.G. Farben.
Em 1930, a Itália utiliza armas químicas na Líbia e em 1936 na Etiópia.
Os países ocidentais que lançam urros de escândalo devem lembrar-se que foram eles
os inventores e os vendedores destas armas de morte trágica. Camus escreveu a
propósito em Agoravox: «(...) Quanto à tragédia do gaseamento da aldeia curda de
Halabja em 1988, conviria sem dúvida recuperar do esquecimento o que escrevia
Barry Lando, da cadeia americana CBS, em Le Monde, de 27/Outubro/2005, que
era preciso recordar "que as armas químicas iraquianas eram fornecidas
principalmente por sociedades francesas, belgas e alemãs, cujos engenheiros e
químicos sabiam exactamente o que Saddam preparava. E que os Estados Unidos
haviam anteriormente fornecido a Saddam imagens de satélite que lhe permitiam
atacar as tropas iranianas com armas químicas"».[1]
Quando Winston Churchill aprovava o gás de combate
Antes de se tornar o ícone da resistência ao nazismo, lê-se numa contribuição
publicada no Guardian, Winston Churchill foi um fervoroso defensor do império
britânico e um anti-bolchevique convicto. Ao ponto de preconizar o recurso aos gases
que haviam sido o terror das trincheiras. (...) Churchill, então secretário de Estado da
Guerra, afasta os seus escrúpulos com um gesto de mão. Desde há muito partidário
da guerra química, está decidido a servir-se dos gases contra os bolcheviques na
Rússia. Durante o Verão de 1919, 94 anos antes do ataque devastador na Síria,
Churchill prepara e faz lançar um ataque químico de envergadura. Não foi a primeira
vez que os britânicos recorreram ao gás de combate. No decorrer da terceira batalha
de Gaza [contra os otomanos] em 1917, o general Edmund Allenby mandou atirar 10
mil obuses com gases asfixiantes sobre as posições inimigas. Entretanto, foi
desenvolvido um novo gás extremamente tóxico, o difenilaminecloroarsine, descrito
como "a arma química mais eficaz já concebida".[2]
Em 1919, Winston Churchill, então secretário de Estado da Guerra, decide utilizar os
grandes meios. Lemos o que escreveu Camus: «Um programa executado ao pé da
letra pelo tenente-coronel Arthur Harris que foi louvado nestes termos: "Os árabe e
os curdos sabem agora o que significa um verdadeiro bombardeamento... Em 45
minutos somos capazes de arrasar uma aldeia e de matar ou ferir um terço da sua
população". Vinte e cinco anos mais tarde, Winston Churchill, fiel a si mesmo,
defendia ideias quase idênticas a propósito do Reich nacional-socialista (...)
Acrescentemos por honestidade que a utilização britânica dos ataques aéreos com
gás mostarda (iperite), nomeadamente em Suleimanié, no Curdistão, junto à
fronteira iraniano-iraquiana, em 1925 – um ano após a assinatura do Protocolo de
Genebra proibindo "o emprego na guerra de gases asfixiantes, tóxicos ou
semelhantes e de meios bacteriológicos" – não foi uma prática totalmente isolada:
os espanhóis no Rif marroquino [1921-1927] e os japoneses na China não se
privaram de a eles recorrerem"».[1]
A França e seu "savoir-faire" nas armas químicas
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Tal como todos os países ocidentais, a França desenvolveu de modo intenso os gases
de combate, nomeadamente a partir da Primeira Guerra Mundial. O seu know-how
foi exportado para vários países. Apesar de todas as convenções assinadas, ela
manteve na Argélia uma base de experimentações. Fabrice Nicolino escreveu a
respeito: «A França gaullista esqueceu as armas químicas de B2 Namous. A França
socialista esqueceu os 5000 mortos de Halabja. Em 16 de Março de 1988, Mirages
made in France lançam sobre a cidade curdo-iraquiana de Halabja foguetes cheios
de um cocktail de gás sarin, tabun e mostarda. 5000 mortos. (...) A urgência é
apoiar Saddam Hussein, raïs do Iraque, contra os mulás de Teerão. E que se saiba,
nem uma palavra de Hollande, nesse tempo um dos peritos do Partido Socialista. É
verdade que tão cedo eles não darão explicações sobre a base secreta B2 Namous,
antiga base de experimentação de armas químicas & bacteriológicas (...) De Gaulle
tem a obsessão que se sabe: pela grandeza, pela potência. A nossa primeira bomba
atómica explode em 13 de Fevereiro de 1960 na região de Reggane, no centro de um
Saara então o francês. O que é menos conhecido é que o poder gaullista negocia a
seguir com a Argélia de Ahmed Ben Bella para conservar no Saara bases militares
secretas. Os ensaios nucleares franceses, passados a subterrâneos, continuaram no
Hoggar, próximo de In Ecker, até 1966. A França assinou em 1925 uma convenção
internacional proibindo a utilização de armas químicas, mas o que valem os
pedaços de papel? Entre 1921 e 1927, o exército espanhol trava uma guerra de pavor
químico contra os insurrectos marroquinos do Rif. E sabe-se agora que a virtuosa
França havia formado os "técnicos" e vendido fosgénio e iperita Madrid.»[3]
Fabrice Nicolino fala-nos a seguir dos acordos de Evian, que permitem à França
manter bases militares que eles devolveram no seu estado natural. «Além de Reggane
e In Ecker, B2 Namous, um polígono de 60x10 quilómetros ao Sul de Béni Ounif, não
longe da fronteira marroquina. Numa nota do estado-maior francês pode-se ler:
"As instalações de B2-Namous foram realizadas com o objectivo de efectuar tiros
reais de obuses de artilharia ou de armas de saturação como produtos químicos
tóxicos persistentes, ensaios de bombas de aviação, pulverizações de agressivos
químicos e ensaios biológicos". Em 1997, o ministro da Defesa Alain Richard declara:
"A instalação de B2 Namous foi destruída em 1978 e devolvida ao estado natural".
Em Fevereiro de 2013, o jornalista de Marianne, Jean-Dominique Merchet, revela
que um acordo secreto foi concluído entre a França e a Argélia. Ele trata da
despoluição de B2 Namous, "devolvida ao estado natural" trinta anos antes».[3]
A utilização de armas químicas pelos Estados Unidos
É impossível descrever as numerosas circunstâncias nas quais foram utilizadas armas
químicas. Basta-nos informar a filosofia do maior apologista destas armas do horror.
"Decididamente, lê-se no Agoravox pela pena de Camus, como se fosse preciso
estabelecer distinções abstrusas entre mortos despedaçados sob bombas
convencionais ou asfixiados com gás de nervos. E depois os anglo-americanos
deveriam começar por lavar a sua roupa suja ao invés de brincar de indignados e
de santos inocentes. (...) Não foi Washington que se dedicou a uma impiedosa
guerra química no Vietname entre 1961 e 1971 com pulverizações maciças – 80
milhões de litros – de Agente Laranja, um desfolhante com dioxina? Foram 2,1 a 4,8
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milhões os vietnamitas afectados por este composto altamente mutagénico, cujos
efeitos se fazem sentir ainda hoje". [1]
Massimo Fini interroga-se por sua vez quanto à autoridade moral dos Estados Unidos:
«(...) Mas o que eu gostaria de compreender é de onde exactamente vem esta
autoridade moral dos Estados Unidos que se permitem traçar "linhas vermelhas"
sobre a utilização de armas químicas. Foram eles, contudo, que em 1985
abasteceram Saddam então no poder e em luta contra os iranianos, e a seguir
contra os curdos. (...) Aquando da guerra contra a Sérvia, os EUA utilizaram
bombas de urânio empobrecido. (...) Imagina-se facilmente o efeito deste "urânio
empobrecido" sobre os civis sérvios e sobretudo sobre as crianças que andam a 1
metro do solo e estão habituadas a tocar tudo. Em 2001, para capturar Ben Laden,
os americanos submergiram as montanhas do Afeganistão sob bombas de urânio e
o ministro da Defesa, Donald Rumsfeld, declarou que "para apanhar os terroristas,
nós utilizaremos também gases tóxicos e armas químicas". Vêem-se hoje os
resultados. Um camponês afegão, chamado Sadiay, conta: "Um ataque da NATO
destruiu a minha casa, matou minha mulher e três dos meus filhos. Mas quando vi
nascer meu sobrinho sem braços e sem pernas, então compreendi que os
americanos nos haviam roubado até o nosso futuro"».[4]
O segredo dos gases israelenses
«Foram, escreve Thierry Meyssan, as investigações israelenses sobre as armas
químicas e biológicas que historicamente pressionaram a Síria a rejeitar a
Convenção proibindo armas químicas. É a razão porque a assinatura por Damasco
deste documento arrisca-se a revelar a existência, e eventualmente o
prosseguimento, de investigações sobre armas selectivas destinadas a matar
apenas populações árabes. (...) Um documento da CIA descoberto recentemente
revela que Israel também desenvolveu o seu próprio arsenal de armas químicas.
Responsáveis da informação em Washington estimam que o Estado judeu fabricou e
armazenou secretamente armas químicas e biológicas desde há décadas para
completar o seu presumido arsenal nuclear. Num relatório secreto da CIA de 1983:
Satélites espiões americanos detectaram em 1982 "uma fábrica produtora de gás
químico e uma unidade de armazenagem no deserto do Negev"».[5]
Para Jean Shaoul, a condenação pelos Estados Unidos da utilização de armas
químicas não se aplica a Israel. Ele escreve: "Contudo, nenhuma obrigação moral
desta espécie é mencionada em relação a Israel, país que detém o mais importante
stock de armas químicas, biológicas e nucleares no Médio Oriente e que é o único
Estado a não ter assinado o tratado de não proliferação nuclear. Como revelou o
sítio web Foreign Policy em 9 de Setembro, não só os Estados Unidos sabem desde
há dezenas de anos da existência das armas químicas israelenses como têm mantido
silêncio a respeito. Não se trata simplesmente de Israel possuir um importante
arsenal de armas químicas. Israel serviu-se delas contra os palestinos na
Cisjordânia e em Gaza, contra o Líbano e Gaza durante os assaltos militares de
2006, e durante a operação "Chumbo endurecido" em Gaza em 2008-2009. (...) Um
protocolo da convenção de 1980 sobre as armas convencionais proíbe a utilização
do fósforo branco enquanto arma incendiária (...) O relatório do inquérito da ONU,
5
o relatório Goldstone, reafirmou as conclusões de numerosos inquéritos
internacionais respeitados, confirmado a utilização desproporcionada por Israel da
força sobre os palestinos, e as acusações de crime de guerra contra Israel e o
Hamas assim como "prováveis crimes contra a humanidade" incluindo a utilização
de fósforo branco por Israel. Ali se afirma que as forças israelenses comportaramse
de modo "sistematicamente irresponsável" na sua utilização de fósforo branco
nas zonas construídas, citando o ataque israelense contra o edifício da Agência de
Cuidados de Saúde da ONU na cidade de Gaza, o ataque ao hospital Al Quds e ao
hospital Al Wafa.[6]
Fala-se frequentemente da "Pax Americana" para designar a ordem resultante da
hegemonia dos Estados Unidos. Esta posição de força não é uma garantia de
equilíbrio e de paz à escala mundial. É assim que os Estados Unidos intervêm de
modo crónico em defesa dos seus interesses estratégicos. Pela história, isso começou
em 1846: Guerra americano-mexicana, em que anexam a Califórnia. Foi também,
sem ser exaustivo, a Guerra da Coreia (1950-1953), do Vietname (1968-1975). Isso
continuou no período recente após a guerra do Vietname, onde centenas de
toneladas de agentes químicos laranja foram dispersos criando a morte e a
desolação durante dezenas de anos, será a sequência da Guerra do Iraque (2003), o
folhetim iraquiano da democracia aerotransportada à razão de dezenas de mortos
por dia não se encerrou com o enforcamento desumano de Saddam Hussein. Em
2011 foi o saqueio da Líbia e o linchamento abjecto de Kadafi. No total, sessenta e
seis intervenções externas, na maior parte sangrentas».
Charles de Gaulle escrevia na sua época que "as armas torturaram mas também
moldaram o mundo. Elas cumpriam o melhor e o pior, dando nascimento ao infame
e também à maior grandeza, alternativamente cravada no horror ou brilhante na
glória. Vergonhosa e magnífica, sua história é aquela dos homens". A guerra de
todos contra todos nunca é limpa, é de facto o fracasso da palavra desarmada que é a
empatia para com a miséria dos fracos. Seguramente, a humanidade corre para a sua
perda.
25/Setembro/2013
1. Camus, 17/09/2013, http://www.agoravox.fr/tribune-libre/article/guerres-chimiquespages-
d-histoire-140994
2. http://www.courrierinternational.com/article/2013/09/13/quand-winston-churchillapprouvait-
les-gaz-de-combat The Guardian , 13/09/2013
3. Fabrice Nicolino, fabrice-nicolino.com/index.php/?p=1608
4. Massimo Fini, http://www.agoravox.fr/actualites/international/article/veto-sur-lesarmes-
chimiques-sauf-135436, 4 de maio de 2013
5. Thierry Meyssan, resistir.info/moriente/gas_israelense.html , 2013
6. Jean Shaoul, http://www.mondialisation.ca/la-condamnation-par-les-etats-unis-delusage-
des-armes-chimiques-ne-sapplique-pas-a-israel/5350557
O original encontra-se em http://www.legrandsoir.info/les-armeschimiques-
et-les-donneurs-de-lecons-petite-pedagogie-de-l-horreur.html
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