Pelo Socialismo
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Publicado no ‘Avante!’ n.º 2133, em 2014/10/16 e em: http://www.avante.pt/pt/2133/opiniao/132497/
Colocado em linha em: 2014/10/20
Pirómanos
Jorge Cadima
Há quase um mês, Obama anunciou ataques aéreos no Iraque e Síria, alegadamente
para «atacar alvos do ISIL», o movimento terrorista também conhecido pela sigla
ISIS. O saldo é relatado pelo jornalista P. Cockburn no Independent(12.10.14): «Os
jihadistas estão prestes a tomar [a cidade de] Kobani, na Síria, e a parte ocidental
de Bagdade está em sério perigo». E acrescenta: «Numa ofensiva [...] desencadeada
a 2 de Outubro, mas pouco noticiada no resto do mundo, o ISIS capturou quase
todas as cidades e vilas que ainda não controlava na província de Anbar, uma vasta
região do Iraque ocidental que cobre quase um quarto do país». No vizinho Líbano
os jihadistas do ISIL atacaram a importante cidade de Baalbeck (Independent,
6.10.14). Tudo isto, apesar dos bombardeamentos norte-americanos (com numerosas
vítimas civis) e do regresso ao Iraque de 1600 soldados dos EUA e «dezenas de
soldados das forças especiais» do Canadá (Al Jazeera, 3.10.14). Pouco admira que
«no Iraque, [haja] profundas suspeitas de que a CIA e o Estado Islâmico estão
unidos», como titulava um artigo noNew York Times (20.9.14).
Se dúvidas houvesse sobre as origens do ISIL, o vice-presidente dos EUA Joseph
Biden, trouxe uma confissão de peso ao falar na Universidade de Harvard a 2 de
Outubro: «Os nossos aliados da região têm sido o nosso maior problema na Síria.
Os turcos [… e] os sauditas, os dos Emirados, etc. [...] Estavam tão decididos a
abater Assad […] que despejaram centenas de milhões de dólares e dezenas de
toneladas de armas nas mãos de quem quer que lutasse contra Assad – só que as
pessoas que estavam a ser abastecidas eram a [Frente] al-Nusra, e a Al-Qaeda, e os
elementos extremistas do jihadismo que vinham de todas as partes do mundo.
Pensam que estou a exagerar? Olhem bem. Onde foi tudo isto parar? [...] esta
organização chamada ISIL, que era a Al-Qaeda no Iraque, quando foi expulsa do
Iraque encontrou espaço e território aberto na Síria oriental […]. E nós não
conseguimos convencer os nossos aliados a parar de os abastecer» (Washington
Post, 6.10.14). A confissão de Biden, que o Washington Post considera
«surpreendente», não pelo seu conteúdo, mas por «ter sido expressa em público», é
duma falsa inocência. Biden culpa os serventuários. Mas é preciso muita ingenuidade
para acreditar que a todo-poderosa superpotência mundial, sempre pronta a castigar
recalcitrantes países ou dirigentes em qualquer parte do globo, «não conseguia
convencer» os seus aliados. A realidade – que o planeta inteiro conhece bem – é que desde há três anos os EUA e as potências imperialistas europeias – e não só os seus
aliados da região – estão empenhados em financiar e armar o jihadismo para abater
Assad. Criaram o ISIL, tal como criaram Bin Laden. Agora mostram-nos vídeos de
cidadãos ocidentais decapitados. Mas durante anos ignoraram todos os vídeos que os
próprios «rebeldes» colocavam na Internet, vangloriando-se de decapitar soldados,
civis, padres cristãos. Pior: a BBC (5.7.13) deu-se ao trabalho de entrevistar um
«rebelde» que pôs na Internet o vídeo em que, não contente com esfolar vivo um
soldado sírio, comia os seus órgãos. E até arranjou motivos para «compreender» o
canibalismo. A culpa, claro, era de Assad.
É inteiramente legítima a suspeita de se estar perante uma manobra que, longe de
querer combater o ISIL, visa elevar o patamar de intervenção imperialista.
O Independent (12.10.14) levanta uma ponta do véu (de novo apontando o dedo a
outros): «A Turquia está a exigir [...] uma zona tampão […], dentro da Síria, onde
viveriam refugiados sírios e seriam treinados os rebeldes anti-Assad. O Sr. Erdogan
quer uma zona de interdição aérea que também seria dirigida contra o governo de
Damasco, uma vez que o ISIL não tem força aérea. Se concretizado, este plano
significaria que a Turquia entraria na guerra civil síria, ao lado dos rebeldes». Os
pretextos vão variando e tornam-se cada vez mais delirantes. Mas o imperialismo
continua a atear fogo ao planeta, no seu afã de dominação.
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