Pelo Socialismo
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Publicado em 2014/12/15, em: http://www.voltairenet.org/article186203.html
Colocado em linha em: 2014/12/26
Relatório do Congresso sobre a tortura confirma que a alQaida
não está implicada nos atentados do 11 de setembro
Thierry Meyssan*
Os extractos tornados públicos do relatório da Comissão senatorial sobre o
programa secreto de tortura da CIA fazem surgir à luz do dia uma vasta
organização criminosa. Thierry Meyssan leu, por vós, as 525 páginas deste
documento. Ele encontrou, lá, as provas do que veem antecipando desde
há vários anos.
[No original, foto com a seguinte legenda:
Dianne Feinstein, presidente da Comissão senatorial da Inteligência, tornou público, a 9 de
dezembro de 2014, um extracto do seu relatório classificado sobre o programa secreto de tortura da
CIA1
.]
Apresentação do relatório
A parte desclassificada não corresponde senão a uma décima-segunda parte do
relatório inicial.
O relatório, em si mesmo, não aborda o vasto sistema de rapto e sequestro que a
Marinha dos E.U.A. colocou em prática durante os mandatos do presidente George
W. Bush; um programa que levou a raptar, no mundo inteiro, e a sequestrar mais de
80. 000 pessoas, em 17 barcos de fundo chato, estacionados em águas internacionais
(estes navios são: o USS Bataan:, USS Peleliu, USS Ashland, USNS Stockham, USNS
Watson, USNS Watkins, USNS Sister, USNS Charlton, USNS Pomeroy, USNS Red
Cloud, USNS Soderman, USNS Dahl, MV PFC William B Baugh, MV Alex
Bonnyman, MV Franklin J Phillips, MV Louis J Huage Jr, MV James Anderson Jr.).
Ele limita-se a analisar o conteúdo de 119 casos de cobaias humanas, submetidas a
experiências psicológicas em Guantanamo e em cerca de cinquenta prisões secretas,
entre 2002 e final de 2009, ou seja, um ano após a eleição de Barack Obama.
1
“Study of the CIA’s Detention and Interrogation Program - Foreword, Findings and Conclusions,
and Executive Summary”, US Senate Select Committee on Intelligence (Ing- «Análise do Programa
de Prisões e Interrogatórios da CIA— Prefácio, Resultados, Conclusões e Sumário Final» — Comité
restrito de Inteligência do Senado dos E.U.A.— ndT), 9 de dezembro de 2014.Os extractos do relatório não indicam quais os critérios de escolha destas cobaias
humanas. Limitam-se a afirmar que todos os prisioneiros denunciaram o que se
segue, indicando, ao mesmo tempo, que as confissões não foram extorquidas mas sim
captadas sem mais. Por outras palavras, a CIA quis justificar as suas escolhas
fabricando denúncias a posteriori.
No relatório inicial, os nomes dos agentes e contratados da CIA envolvidos foram
substituídos por pseudónimos. Além disso, os extractos desclassificados foram
grandemente censurados, principalmente, para apagar os nomes dos cúmplices
estrangeiros da CIA.
O conteúdo do relatório
[No original, digitalização da capa do relatório]
Eu li, de forma completa, as 525 páginas dos extractos do relatório tornados públicos.
No entanto, fiquei longe de ter tirado deles todas as informações, já que são
necessárias numerosas pesquisas para interpretar as passagens censuradas.
As sessões de condicionamento (mental - ndT) foram efectuadas em cerca de
cinquenta prisões secretas, sob a responsabilidade da «Alec Station», a unidade da
CIA encarregada de seguir Osama bin Laden. As infra-estruturas, o pessoal e os
transportes eram da responsabilidade do «Grupo de logística e detenção» da CIA. As
sessões eram concebidas e realizadas sob a supervisão de dois psicólogos contratados,
que formaram uma sociedade em 2005. As autorizações de utilização de técnicas de
condicionamento foram dadas ao mais alto nível, sem especificar que essas torturas
tinham por fim condicionar e não extrair informações.
O vice-presidente Dick Cheney, a conselheira de Segurança Nacional Condoleezza
Rice, o secretário da Justiça John Ashcroft, o secretário da Defesa Donald Rumsfeld,
o secretário de Estado Colin Powell e o director da CIA George Tenet participaram em
reuniões sobre este assunto na Casa Branca. Eles assistiram a simulações na Casa
Branca, e visionaram gravações de algumas sessões; gravações que foram
posteriormente, e ilegalmente, destruídas. Estas reuniões tinham, evidentemente, por
objectivo «molhar» estas personalidades, mas, não é possível determinar qual delas
sabia para que efeito eram usadas essas técnicas.
Entretanto, em junho de 2007, Condoleezza Rice foi, pessoalmente, informada, em
resumo, pelo contratado da CIA que supervisionava as experiências. A conselheira de
segurança nacional autorizou a continuação das experiências, mas diminuiu o
número de torturas autorizadas.
Os extractos do relatório, publicados, contêm uma análise detalhada do modo como a
CIA mentiu aos outros ramos da administração Bush, aos média (mídia - br) e ao
Congresso.
[No original, foto com a seguinte legenda: James Mitchell e Bruce Jensen, supervisores do programa de condicionamento da CIA.
Mitchell havia sido designado em 2012 bispo mórmon, mas foi obrigado a resignar logo que a
Igreja de Jesus Cristo dos santos dos últimos dias soube das suas actividades.]
As experiências do professor Martin Seligman
O extracto, publicado, do relatório confirma que a CIA realizou experiências baseadas
nos trabalhos do professor Martin Seligman (teoria da «impotência assumida»). Elas
não tinham por objectivo obter confissões ou informações, mas, sim, incutir um
discurso ou um comportamento aos sujeitos. A maior parte das citações que a
imprensa fez, dos trechos do relatório, presta-se à confusão. Com efeito, a CIA fala de
«métodos de condicionamento», sob o nome de «métodos extra-padrão de
interrogatório» (non-standard means of interrogation). Fora de contexto, pode-se,
pois, pensar que o termo «interrogatório» designa a pesquisa de informação, quando
ele significa sessões de condicionamento dos sujeitos.
Todos os nomes dos torturadores foram censurados no extracto desclassificado do
relatório. Porém, reconhece-se Bruce Jessen sob o pseudónimo de «Grayson
Swigert», e James Mitchell sob o de «Hammond Dunbar». A partir de 12 de abril de
2002, os dois homens supervisionaram o programa. Eles estavam presentes nas
prisões secretas, fisicamente. Em 2005, eles estabeleceram uma sociedade comercial,
Mitchell, Jessen & Associates (designada como «Companhia Y» no relatório). A sua
empresa recebeu pagamento de 81 milhões de dólares, de 2005 a 2010.
Seguidamente, eles foram contratados pelo Exército de Terra para dirigir um
programa sobre comportamento em 1,1 milhões de soldados norte-americanos.
Em maio de 2003, um oficial sénior da CIA questionou o inspector-geral da Agência,
mostrando que os trabalhos do professor Seligman eram baseados nas torturas
praticadas pelo Vietname do Norte, a fim de obter «confissões para efeitos de
propaganda». O oficial punha em causa o programa de condicionamento. A sua
chamada de atenção não teve qualquer efeito. No entanto, ele cometeu um pequeno
erro citando o Vietname do Norte, sendo que as pesquisas de Seligman eram
baseadas, tal como as práticas dos norte-vietnamitas, em trabalhos coreanos.
O modo como os torcionários se protegeram
Segundo a Comissão senatorial, o programa de tortura da CIA foi ordenado pelo
presidente George W. Bush, a 17 de setembro de 2001, seis dias após os atentados.
Ele tinha como único objectivo fornecer meios extra ao inquérito sobre os atentados
de 11 de Setembro de 2001. No entanto, este programa foi, imediatamente,
desenvolvido em violação de certas instruções do Presidente. Por consequência, logo
que terminados os atentados, a CIA, à revelia da Casa Branca, esforçou-se em fabricar
falsos testemunhos atestando, mentirosamente, a culpabilidade da al-Qaida.
O presidente George Bush e os parlamentares foram enganados pela CIA que:
. obteve autorizações para a prática de certos actos de tortura mascarando, para isso,
a sua verdadeira finalidade . e, falsamente, apresentou confissões inculcadas, como se elas tivessem sido
extorquidas sob tortura.
Quando o presidente Bush reconheceu, a 6 de setembro de 2006, a existência do
programa de torturas secretas da CIA ele defendeu esta prática, argumentando que
ela tinha permitido obter informações que salvaram vidas. Ele baseou-se nos falsos
relatórios da CIA, e ignorava que esta fabricava provas em vez de as procurar. De
imediato, a imprensa atlantista mergulhou na barbárie e debateu o mérito ou não da
tortura, apresentando-o como um mal necessário para obter o bem.
Os torturadores trataram de se garantir cobertura legal. Assim sendo, eles pediram
autorização para a praticar ao Departamento de Justiça. Mas, este apenas se
pronunciou sobre a legalidade dos métodos utilizados (isolamento, confinamento
numa pequena caixa, simulação de enterro, utilização de insectos, etc.), e não sobre o
programa no seu conjunto. A maior parte dos juristas só autorizava posturas
particulares, ignorando, aqui, as suas consequências psicológicas uma vez
combinadas. Todas as autorizações foram reunidas em agosto de 2002.
Os dirigentes da CIA que autorizaram estas experimentações especificaram, por
escrito, que as cobaias humanas deviam ser incineradas se sucumbissem durante o
condicionamento, ou que elas deveriam ficar em prisão perpétua se sobrevivessem.
«Confissões» fabricadas
[No original, digitalização da capa do livro de T. Meyssan “11 de setembro de 2001
– uma terrível farsa”]
Que fique bem claro: a Comissão Senatorial não diz que as confissões dos prisioneiros
da CIA são legalmente incorrectas, por terem sido obtidas sob tortura, ela mostra que
a CIA não interrogou estes prisioneiros, mas, sim, que os condicionou para que eles
confessem situações e actos que lhes são estranhos. A Comissão precisa que os
agentes da CIA nem sequer procuraram saber o que os detidos haviam confessado,
aquando dos interrogatórios precedentes, às autoridades que os prenderam. Por
outras palavras, não só a CIA não procurou saber se a al-Qaida estava envolvida, ou
não, nos atentados, como a sua acção não teve outro propósito senão o de fabricar
falsos testemunhos atestando, mentirosamente, a implicação da al-Qaida nos
atentados de 11 de Setembro.
A Comissão Senatorial não se preocupa em saber se as confissõesdas cobaias
humanas foram extorquidas ou inculcadas, mas, depois de explicar que os
supervisores eram peritos do condicionamento e não de interrogatórios, ela detalha,
longamente, o facto que nenhum desses «testemunhos» permitiu antecipar fosse o
que fosse. Ela demonstra que a CIA mentiu ao pretender que eles tinham permitido
evitar outros atentados. A Comissão não escreve que as informações sobre a al-Qaida
contidas nessas confissões são fabricações, mas ela ressalta que tudo o que era
comprovável era falso. Ao fazê-lo, a Comissão desmente explicitamente os
argumentos que foram utilizados para justificar a tortura e anula, implicitamente, os testemunhos que foram utilizados para ligar a al-Qaida aos atentados do 11 de
Setembro.
Este relatório confirma, de modo oficial, as várias informações que nós havíamos
apresentado aos nossos leitores e que contradizem e invalidam o trabalho dos “thinks
tanks” (círculos de pensamento político - ndT) atlantistas, das universidades e da
imprensa, desde o 11 de Setembro, tanto no que diz respeito aos atentados de 2.001,
em si mesmos, como no que diz respeito à al-Qaida.
Na sequência da publicação de trechos deste relatório, parece que todos os
testemunhos, citados no relatório da Comissão Presidencial de inquérito sobre o 11 de
Setembro, ligando estes atentados à al-Qaida são falsos. Já não existe mais, nesta
altura, o menor indicio permitindo atribuir estes atentados à al-Qaida: não existe
nenhuma prova que as 19 pessoas acusadas de ser os piratas do ar se tenham
encontrado, naquele dia, num destes quatro aviões, e nenhuma das confissões de
antigos membros da al-Qaida reivindicando os atentados é genuína2.
[No original, foto com a seguinte legenda:
Martin Seligman, mentor do programa de condicionamento da CIA.]
O relatório confirma o que nós reveláramos em 2009
Em outubro de 2009, eu havia publicado um estudo sobre este assunto na revista
russa Odnako3. Aí, afirmava que Guantanamo não era um centro de interrogatório,
mas sim de condicionamento. Por outro lado, eu colocava em causa, pessoalmente, o
Professor Seligman. Um ano mais tarde, após o artigo ter sido traduzido para inglês,
psicólogos norte-americanos desencadearam uma campanha para exigir a Martin
Seligman que se explicasse. Como resposta, este negou o seu papel de torturador e
lançou um processo judicial contra mim e contra a Rede Voltaire, em França e no
Líbano, onde eu morava. Em última análise, o professor Seligman instruiu os seus
advogados para parar os procedimentos depois de termos publicado uma das suas
cartas, seguida de uma explicação de texto4. Martin Seligman demandou
identicamente todos aqueles que trataram deste assunto, como Bryant Weich do
Hunffington Post5.
[No original, foto com a seguinte legenda:
John O. Brennan foi director-adjunto da CIA (2001-05) e nesta qualidade director do Centro
nacional anti-terrorista. Ele foi o principal artesão do programa secreto de fabrico de
2
“11 de Setembro de 2001 - Uma Terrível Farsa”, Thierry Meyssan, Usina do livro (Brasil) / “11 de
Setembro, 2001 - A Terrível impostura”, Thierry Meyssan, Frenesi (Portugal).
3
“O Segredo de Guantanamo”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Odnako (Rússia), Rede Voltaire, 10
de Setembro de 2014.
4
“Carta de Martin Seligman”, Martin Seligman, Tradução Alva, Rede Voltaire, 11 de Dezembro de
2014.
5
“Fort Hood: A Harbinger of Things to Come?” (Ing- «Fort Hood : Um prenúncio do que está para
acontecer ?» - ndT), Bryant Welch, Hunffington Post, 18 de março de 2010. E o direito de resposta :
“A Response to Bryant Welch” (Ing- «Uma resposta a Bryant Welch» - ndT), Martin Seligman. confissões sob tortura. Em 2009, ele tornou-se conselheiro do presidente Barack Obama para
as questões de Segurança da Pátria. Foi nomeado director da CIA em 2013.]
E agora
A senadora Diane Feinstein veio, corajosamente, publicar uma parte do seu relatório,
apesar da oposição do actual director da CIA, John Brennan, anteriormente
encarregado de controlar este programa de tortura.
O Presidente Barak Obama anunciou que ele não demandaria nenhum dos
responsáveis destes crimes, enquanto os defensores dos direitos humanos se batem
para que os torturadores sejam levados perante a justiça. É o mínimo que se pode
fazer.
No entanto, as reais perguntas estão algures: porque é que a CIA cometeu tais
crimes? Porque é que ela fabricou confissões, permitindo conectar artificialmente a
al-Qaida aos atentados de 11 de Setembro? E, por conseguinte, não tendo a al-Qaida
nenhuma relação com os atentados de 11 de Setembro, quem é que a CIA procurou
proteger?
Por fim, o programa da CIA só visou 119 cobaias humanas, que se passa, pois, com os
80. 000 prisioneiros secretos da US Navy (Marinha dos EUA - ndT) ?
Tradução
Alva
* Thierry Meyssan: intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da
conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na
imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: “L’Effroyable
imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations” (ed. JP Bertrand, 2007). Última
obra publicada em Castelhano (espanhol): “La gran impostura II. Manipulación y
desinformación en los medios de comunicación” (Monte Ávila Editores, 2008).
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