Um político "duvidoso", "sempre borderline", "sanguíneo, autoritário e de estilo cintilante à la Sarkosy". É assim que o jornal francês "Libération" descreve José Sócrates, num artigo, publicado esta quinta-feira, sobre a detenção do ex-primeiro ministro português.
O caso Sócrates, diz o jornal, "corresponde a um novo degrau de imoralidade na vida pública". No artigo, assinado pelo correspondente do "Libération" em Madrid, descreve-se as suspeitas que levaram à acusação do ex-governante por fraude fiscal, corrupção e branqueamento de capital. Explica-se como "o modo de vida em Paris chamou a atenção da brigada financeira portuguesa", como o seu motorista "fazia regulares viagens Lisboa-Paris para lhe entregar grandes quantidades de dinheiro em cash" e como o seu amigo e empresário Carlos Santos Silva serviu de pivô num esquema de transferencias financeiras. O "apartamento no valor de 2,8 milhões de euros, a frequência de restaurantes de luxo e as escutas telefónicas fizeram o resto".
E o resto é muito. Desde logo, o escândalo desmontou a imagem do "antigo líder socialista que, em maio de 2011 se demitiu, enquanto o seu país estava à beira da falência". Sócrates queimou o seu "retrato político bem merecido, de um cidadão honesto que serviu o seu país o melhor possível" e que "no final do seu primeiro mandato obteve resultados visíveis na mudança de uma administração pública anquilosada". Passou a ser "o líder duvidoso, esse produto mediático ou o politico Armani (citando o 'Público', que sublinhava o seu lado esquerda-caviar) envolvido em vários escândalos dos quais conseguiu, de cada vez, escapar às garras da justiça".
O texto do "Libération" termina com uma análise de Fernando Rosas, apresentado como historiador. "Desde o princípio, ele foi esse jovem lobo, oportunista, sem ideologia, obcecado por escalar todos os degraus até ao poder supremo, sempre borderline". Apresentado como "antigo militante do partido de direita, o PSD, passou para os socialistas em 1981" e acrescenta-se à biografia de Sócrates ter sido "admirador de Tony Blair" mas que "sempre conheceu um percurso pouco claro". "Há mesmo fortes hipóteses do seu diploma de engenheiro civil, obtido em 1980, ser falso", conclui o artigo.
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