A obra de Moishe Postone, ora publicada em português, é uma das contribuições mais importantes para a renovação do marxismo após a derrocada do socialismo real ocorrida no último quartel do século XX. Surgida em 1993, em inglês, apresenta uma releitura dos textos do Marx maduro com a finalidade de fazer a crítica do marxismo tradicional e do “socialismo realmente existente”.
Em sua perspectiva, o autor de O capital não condenara o capitalismo apenas como um modo de exploração baseado na propriedade privada dos meios de produção, mas o demarcara principalmente como uma estrutura de relações sociais que subordina os seres humanos a imperativos sistêmicos sem que disso tenham consciência. Assim, Tempo, trabalho e dominação social recoloca no centro da crítica marxiana a questão da alienação e do fetichismo em detrimento da questão da apropriação do mais-valor, quando esta última é entendida meramente como problema de poder repartitivo.
Segundo Postone, para o marxismo tradicional, a teoria do valor marxiana teria validade transistórica; em consequência, pensara que a regulação social do valor-trabalho teria operado antes, operava durante e operaria depois do capitalismo. Chegara a esse entendimento porque tomara a crítica de Marx como crítica do capitalismo do ponto de vista do trabalho, quando, na verdade, esse autor fizera uma crítica do trabalho no capitalismo. O valor-trabalho, como categoria da produção de mercadorias, surge, assim, como historicamente específico. Ele é a chave que permite abrir o segredo da dominação sistêmica característica do modo de produção capitalista. Funda, também, as formas da vivência social em geral, em particular, a experiência do tempo nesse modo de produção.
Nessa óptica, a mera substituição da propriedade privada dos meios de produção pela estatal não podia produzir a superação do capitalismo. Para superá-lo, na perspectiva trazida à luz por Postone, é preciso superar o próprio valor-trabalho como regulador social ou, o que é o mesmo, abolir o trabalho alienado. Nessa leitura o advento do socialismo sempre exigiu, segundo o próprio Marx, a eliminação da forma mercadoria e, portanto, da forma dinheiro. As teses de Postone abriram caminhos para a renovação dos debates no interior do marxismo mas foram também criticadas por desconsiderarem a luta de classes na transformação do capitalismo.
Eleutério F. S. Prado
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