Kant em Atenas
Kant em Atenas - Opinião - DN Primeiro, o FMI destruiu a base negocial de um frágil acordo com Atenas. Depois, o Eurogrupo deu um golpe político, talvez mortal, na integridade da Zona Euro. A alergia a um referendo sobre a austeridade, revela o verdadeiro rosto da atual eurocracia. As leis fundamentais da União Europeia e da Zona Euro (ZE) são hoje dois tratados intergovernamentais, entrados em vigor no dia 1 de Janeiro de 2013: o Tratado Orçamental, e o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). A relação entre ambos faz da democracia uma paródia sinistra. Está escrito em letra de lei que no caso de um país rejeitar o Tratado Orçamental, este perderá direito a qualquer apoio do MEE. Os parlamentos de Lisboa, Dublin, Atenas e Nicósia votaram, celeremente, o Tratado Orçamental, que impõe uma austeridade perpétua, como alguém que assina uma confissão sob tortura. Quando o BCE interromper a liquidez de emergência (ELA) à banca grega, a crise transitará da política para a física. O controlo de Atenas sobre o seu sistema financeiro, e a introdução de uma nova moeda, não serão sinais de liberdade política, mas os inevitáveis recursos contra a total implosão do país. No próximo domingo, os gregos vão referendar não apenas as algemas que os prendem, mas também as regras em vigor no campo disciplinar em que a Europa se está a transformar. Se a Grécia acabar por ser expulsa da ZE, os que ficarem dentro do muro de uma "Europa alemã", com uma prosperidade cada vez mais aparente e efémera, talvez contemplem o espetáculo de desespero, sofrimento e grandeza de um povo que rejeitou a gamela para recuperar o direito à liberdade. Só Merkel poderá evitar que os gregos sigam o rigorismo de Kant até ao limite da crueldade: "Seja feita a justiça, mesmo que o mundo pereça" (fiat justitia, et pereat mundus).
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