É arriscado fazer prognósticos antes do fim do jogo, nos casos em que os adversários se equivalem em termos técnicos. Um Real Madrid muito dificilmente perderia um jogo com o Paços de Ferreira, mas poderia perder ou empatar com o FCP, embora as probabilidades pendam para o Real Madrid. Nos fenómenos humanos não podemos conhecer todas as probabilidades, porque neles intervém precisamente o "factor humano". Uma equipa que sente que está a jogar mal, que não está a conseguir controlar o jogo, que está a perder, corre o risco de perder mesmo. O que pode inflectir o jogo? A resistência agressiva, a coragem, auto-confiança, moralização. A força "anímica". Sucede isto no jogo, como sucede nos "jogos" da vida. O acaso existe, mas a sorte somos nós que a fazemos.
Vem isto a propósito destas eleições. Comentadores e jornalistas, por simpatia ou encomenda do PS, aconselham a que não se ataque este partido, prevêem o efeito nefasto dos ataques de que foi alvo pelos partidos à sua esquerda. Contudo, se os ataques denunciavam o carácter direitista do seu programa e a sua recusa em romper de facto com estas políticas, como é que que se explica que os eleitores descontentes com este governo votem nele? Era mais fácil de entender que eleitores simpatizantes votem no governo e que eleitores simpatizantes do PS votem neste porque foi alvo de ataques sucessivos. Os eleitores indecisos possuem simpatias, não estão divididos entre dois amores; excepto aquela parte (bem grande) de abstencionistas potenciais, que se sentem "fartos dos políticos" e que já não acreditam em nenhum. Provavelmente abstêm-se.
É inegável que os media desempenham um importante papel nas escolhas, mas não é uma "lei de ferro". A ditadura de Salazar controlava tudo até ás eleições em que surgiu Humberto Delgado; porém, este ganharia as eleições não fosse a enorme fraude que o ditador organizou. Há outros exemplos em regimes democráticos por esta Europa fora, mas esse acontecimento de 1957-58 é, a meu ver, o mais elucidativo.
Dois a três milhões de portugueses vivem pior: desempregados, aqueles que emigraram recentemente, um grande parte dos funcionários públicos, outra boa parte dos pensionistas, empresários pequenos e médios cujos negócios faliram ou a quem os bancos recusam o crédito. Simpatizam com um Passos Coelho "simpático" nas televisões? Muito dificilmente.
Na minha opinião são eles que decidirão o final do jogo.
Sem comentários:
Enviar um comentário