O ex-presidente uruguaio José Mujica ministrou uma longa e intensa
conferência magistral, em 26 de janeiro passado, na sala Che Guevara da
Casa das Américas, da qual reproduzimos alguns parágrafos:
“Caros amigos,
Amontoaram-se os anos, os pensamentos, os dizeres, os sofrimentos. Para mim é uma merecida honra estar neste templo da cultura, da escultura do escrever, do pintar, do sentir, de transformá-la em saudade e em sentimento; em poesia, em sensação que se transmite ao longo do tempo, que intercomunica os seres humanos.
Porque eu sou um paisano que algum dia se apaixonou e sonhou — como muitos dos que estão aqui — em mudar o mundo. E foi assim. Ah! Mas, alguma coisa nós aprendemos a transmitir às novas gerações: que cometam os erros de seu tempo, não os nossos.
Até os 22 anos eu era um apaixonado da literatura. Lia até o guia telefônico... Mas, quando entrei neste negócio de mudar o mundo, mudou a história: os livrinhos ficaram a um lado, foi preciso procurar armas de calibre 38 e 45 e etc. E acabou a literatura para nós e se amontoaram os anos e as penúrias. E tivemos que estar terrivelmente afastados da cultura. E não fomos bem tratados nos anos de presídio, tivemos que estar muitos anos sem livros.
Não dediquei à cultura o respeito que merece e o tempo que merece. Estar aqui para mim é uma honra não merecida, porque isto é um templo que simboliza o esforço mais comprometido da cultura latino-americana, com a qual temos uma dívida velha. E isto foi algo levantado entre o redobre de um velho sonho e de uma muito velha bandeira que nos diz — em termos sintéticos: conseguimos fundar nestes últimos duzentos anos vários países, mas a nação ainda é uma dívida.
Esta é a dívida que temos com José Martí, com Simón Bolívar, com nossa história. Mas antes era por um sonho, por uma defesa, uma atitude de defesa perante o Império. Sou dos que interpreta que a luta por uma integração da América Latina é pelo espanto. Por quê? As batalhas de nossa humanidade, ser ou não ser, agora penduram do que está em perigo: a própria existência da espécie neste planeta.
A vida vai embora e já não acreditamos — não podemos acreditar nestas sociedades laicas — que este mundo é um vale de lágrimas para ir ao paraíso.
E nossa vida vai embora e temos sede de felicidade, e não queremos confundir — pelo menos muitos — felicidade com comprar coisas novas todos os dias.
O sentimento de felicidade está unido a coisas entranháveis, antigas, eternas: tempo para os filhos, para a família, para um grupo de amigos. Tempo livre que não se vende; que não se compra. Sabemos perfeitamente, por obrigação, que neste mundo temos que trabalhar para acompanhar e enfrentar as necessidades materiais; mas a vida não é apenas trabalhar. A vida é a luta pela liberdade, e liberdade é ter tempo livre para dedicá-lo às coisas que nos comovem.
Bom, por isso vamos à história. Não é a liturgia de lembrar Martí apenas por fazer uma homenagem. Vamos ao baú procurar ferramentas intelectuais que nos sirvam para esta luta de hoje... Nossas lições estão nas raízes de nossa história. Mas o futuro não é saudade. O futuro é sempre um mundo novo.
Aqueles que nos chamamos, mais ou menos, de esquerda, temos necessidade de ir a fontes como as de José Martí... Não sei, nem tenho autoridade para dizer, se era pré-modernista ou algo pelo estilo, tanto faz. O que me interessa é que era um sonhador, um construtor e não ficava escrevendo papéis. Escrevia papeis para impulsionar a vida e a ação.
E este homem singular se define por aí que quer jogar sua sorte com os pobres, que fala de uma enorme sensibilidade social. Mas que, por sua vez, perante as dificuldades de seu tempo, sabe que a luta pela independência é dupla.
Teve a grandeza pragmática de ver o ambiente e expor um partido para todos, com todos... Entendeu que tinha que fundar uma ferramenta, um partido revolucionário, inclusivo, que tentasse levar todas as classes sociais possíveis a essa luta. E que, talvez, premonitoriamente, deu a nós sua vida como uma maneira de subscrever seu compromisso. É um personagem informado em sua época: escritor, ensaísta, poeta, apaixonado “como pata de catre” — é um refrão uruguaio, não posso deixar de falar em linguagem muito paisana —. Amava a vida e sentia-a.
Martí representa um momento preciso da história. Estabelece o compromisso do intelectual com uma causa vivente. Por um lado se trata de um pensar, mas, pelo outro, coloca a vida ao serviço do que pensa. E sinceramente é fácil pensar, é fácil para a gente intelectualmente bem dotada escrever romances que podem ser apaixonantes, mas fazer tudo isso e dar a vida convencido por uma causa, não é comum. Este homem é uma coisa que sacode as entranhas. Aqui o chamam de Apóstolo, para mim é uma ponte entre os velhos gestores da independência latino-americana e os desafios do futuro.
Eu não penso que a segunda independência seja esta. Mas se esta é a segunda então nos falta a terceira, e a terceira é a propriedade do conhecimento que nos torne livre. E a criação de uma cultura libertária, não submetida aos valores do capitalismo. Não importa a natureza da propriedade e a distribuição, o que importa é a conduta das massas, a conduta normal do homem, e temos a dívida com a construção de uma cultura contestatária diferente.
O eterno problema das forças da mudança é a luta pela unidade, que significa respeitar a diversidade e aprender a compor colunas com pessoas que tenham matizes, mas não dividir as forças da mudança porque isso é enfraquecer-se face à direita. Devemos ter bem claro qual é a batalha principal. No caso de Martí a batalha principal era conseguir, por um lado, a independência do império colonial e, por outro, frear a ambição norte-americana que era manifesta sobre esta parte da América, ser cientes de que se o conseguiam estavam cumprindo um serviço a favor da América Latina… Daí a luta diplomática e as representações consulares.
Claro que para Cuba, Martí é muito mais que isto. Para Cuba, Martí é o símbolo da construção da República. É, como o chamam vocês, o Apóstolo. Porque impressiona que quase buscou com a alegria, a morte como uma maneira de subscrever o que pensava e o que sentia. Tinha dado tudo, ou quase tudo, faltava-lhe dar a vida pelo eterno.
Gostaria de assinalar a ideia dos equilíbrios que nos legou, porque acredito que estamos na conjuntura dessa lição, dessa luta pelo equilíbrio. O equilíbrio para assegurar a independência dos países latino-americanos. Se Cuba caía, ou era anexada aos Estados Unidos, todo o Caribe ficava comprometido. Era evidente e claro que os Estados Unidos tinham vontade. Ele percebeu que romper com o império colonial e, por sua vez, frear a ambição norte-americana era uma causa a favor da América Latina. Buscou a diplomacia interna, percebeu o contubérnio que tinha a República da Argentina com a Inglaterra e desconfiou da política que trazia o Brasil desde a época de Dom Pedro com uma aproximação ao grande mercado ianque. Tentou mover-se nas contradições em toda essa América, e nunca se esqueceu do México, como corresponde.
Mas essa ideia do equilíbrio não é apenas uma questão de tática política, é uma visão do mundo, um mundo de equilíbrio que acho que é uma mensagem moderna e que tem que ser examinada em cada circunstância histórica como se apresenta a luta pelo equilíbrio e as forças, num mundo que está totalmente desequilibrado e que parece de doidos, não de desequilibrados.
Com uma civilização que nos domina e que, com uma enorme genialidade acumulamos disparates. Há pouco latíamos contra a mudança climática... Estivemos latindo desde Kyoto até aqui inutilmente. Dessas contradições estamos cheios... Eu poderia passar horas falando destes disparates que estamos cometendo como humanidade. Tem razão Fidel, em algum discurso por aí, que há anos dizia: “O que está em jogo é a vida humana”.
Porque chegamos a uma etapa de interdependência, de interrelação onde o mundo precisa de decisões globais, inapeláveis, que têm que ser tomadas... Precisamos de acordos mundiais porque nunca o homem teve a força que teve hoje. Nunca teve os meios que tem hoje. Dois milhões de dólares por minuto são gastos no mundo para orçamentos militares... Dizer que não há recursos é não ter vergonha.
Temos que começar a racionalizar como espécies responsáveis pela vida deste navio que se chama Terra. Mas este mundo não tem direção, ou melhor, tem direção através da acumulação capitalista. Não a favor da vida.
Martí teve o desafio do transbordo norte-americano, a independência das colônias e preservar à América Latina. Nosso desafio é a luta pela vida na terra. Acho que muitas vezes não somos cientes porque vivemos numa sociedade de marketing… Estamos entretidos. Os romanos inventaram o pão e o circo, aqui temos a televisão e o entretenimento para estarmos embasbacados. É uma civilização midiática a maneira de nos dominar.
Eu não advogo por um homem que volte às cavernas ou que viva em baixo de uma folha de palmeira. Não defendo a pobreza como ideal de vida, defendo até à morte a sobriedade. Viver leves de bagagem, ter tempo para viver, lembrar que a felicidade humana é a relação com outros seres humanos. Que o homem não é uma mercadoria, nem se compra nem se vende.
Acho sinceramente — e o resumo — que nosso dever é lutar por uma cultura contestatária, libertária, diferente, não sujeitável. Vão-me dizer que não se pode, eu acho que este bicho humano é o único animal capaz de se reprogramar em sua conduta, de exercer vontade sobre si próprio.
O homem tem capacidade de se autoprogramar. O homem tem capacidade de de se autoprogramar e é a parte que tem a ver com a construção do futuro.
Acredito até a morte que é preciso lutar por uma libertação, uma libertação de nós mesmos, da cultura que nos sujeita no mais profundo de nossas decisões, nós devemos lutar pela felicidade humana e a felicidade humana não é amontoar coisas… A vida vai embora, e estas coisas que estou dizendo são tão elementares e, por elementares, são esquecidas. Quando você compra algo com dinheiro, não está comprando com dinheiro, está comprando com o tempo de sua vida que teve que gastar para ter esse dinheiro.
Mas o tempo na vida não pode comprá-lo... Por favor, não esbanjem o único milagre que vocês têm, o milagre de estarem vivos.
Obrigado”. (Excertos de La Ventana)
“Caros amigos,
Amontoaram-se os anos, os pensamentos, os dizeres, os sofrimentos. Para mim é uma merecida honra estar neste templo da cultura, da escultura do escrever, do pintar, do sentir, de transformá-la em saudade e em sentimento; em poesia, em sensação que se transmite ao longo do tempo, que intercomunica os seres humanos.
Porque eu sou um paisano que algum dia se apaixonou e sonhou — como muitos dos que estão aqui — em mudar o mundo. E foi assim. Ah! Mas, alguma coisa nós aprendemos a transmitir às novas gerações: que cometam os erros de seu tempo, não os nossos.
Até os 22 anos eu era um apaixonado da literatura. Lia até o guia telefônico... Mas, quando entrei neste negócio de mudar o mundo, mudou a história: os livrinhos ficaram a um lado, foi preciso procurar armas de calibre 38 e 45 e etc. E acabou a literatura para nós e se amontoaram os anos e as penúrias. E tivemos que estar terrivelmente afastados da cultura. E não fomos bem tratados nos anos de presídio, tivemos que estar muitos anos sem livros.
Não dediquei à cultura o respeito que merece e o tempo que merece. Estar aqui para mim é uma honra não merecida, porque isto é um templo que simboliza o esforço mais comprometido da cultura latino-americana, com a qual temos uma dívida velha. E isto foi algo levantado entre o redobre de um velho sonho e de uma muito velha bandeira que nos diz — em termos sintéticos: conseguimos fundar nestes últimos duzentos anos vários países, mas a nação ainda é uma dívida.
Esta é a dívida que temos com José Martí, com Simón Bolívar, com nossa história. Mas antes era por um sonho, por uma defesa, uma atitude de defesa perante o Império. Sou dos que interpreta que a luta por uma integração da América Latina é pelo espanto. Por quê? As batalhas de nossa humanidade, ser ou não ser, agora penduram do que está em perigo: a própria existência da espécie neste planeta.
A vida vai embora e já não acreditamos — não podemos acreditar nestas sociedades laicas — que este mundo é um vale de lágrimas para ir ao paraíso.
E nossa vida vai embora e temos sede de felicidade, e não queremos confundir — pelo menos muitos — felicidade com comprar coisas novas todos os dias.
O sentimento de felicidade está unido a coisas entranháveis, antigas, eternas: tempo para os filhos, para a família, para um grupo de amigos. Tempo livre que não se vende; que não se compra. Sabemos perfeitamente, por obrigação, que neste mundo temos que trabalhar para acompanhar e enfrentar as necessidades materiais; mas a vida não é apenas trabalhar. A vida é a luta pela liberdade, e liberdade é ter tempo livre para dedicá-lo às coisas que nos comovem.
Bom, por isso vamos à história. Não é a liturgia de lembrar Martí apenas por fazer uma homenagem. Vamos ao baú procurar ferramentas intelectuais que nos sirvam para esta luta de hoje... Nossas lições estão nas raízes de nossa história. Mas o futuro não é saudade. O futuro é sempre um mundo novo.
Aqueles que nos chamamos, mais ou menos, de esquerda, temos necessidade de ir a fontes como as de José Martí... Não sei, nem tenho autoridade para dizer, se era pré-modernista ou algo pelo estilo, tanto faz. O que me interessa é que era um sonhador, um construtor e não ficava escrevendo papéis. Escrevia papeis para impulsionar a vida e a ação.
E este homem singular se define por aí que quer jogar sua sorte com os pobres, que fala de uma enorme sensibilidade social. Mas que, por sua vez, perante as dificuldades de seu tempo, sabe que a luta pela independência é dupla.
Teve a grandeza pragmática de ver o ambiente e expor um partido para todos, com todos... Entendeu que tinha que fundar uma ferramenta, um partido revolucionário, inclusivo, que tentasse levar todas as classes sociais possíveis a essa luta. E que, talvez, premonitoriamente, deu a nós sua vida como uma maneira de subscrever seu compromisso. É um personagem informado em sua época: escritor, ensaísta, poeta, apaixonado “como pata de catre” — é um refrão uruguaio, não posso deixar de falar em linguagem muito paisana —. Amava a vida e sentia-a.
Martí representa um momento preciso da história. Estabelece o compromisso do intelectual com uma causa vivente. Por um lado se trata de um pensar, mas, pelo outro, coloca a vida ao serviço do que pensa. E sinceramente é fácil pensar, é fácil para a gente intelectualmente bem dotada escrever romances que podem ser apaixonantes, mas fazer tudo isso e dar a vida convencido por uma causa, não é comum. Este homem é uma coisa que sacode as entranhas. Aqui o chamam de Apóstolo, para mim é uma ponte entre os velhos gestores da independência latino-americana e os desafios do futuro.
Eu não penso que a segunda independência seja esta. Mas se esta é a segunda então nos falta a terceira, e a terceira é a propriedade do conhecimento que nos torne livre. E a criação de uma cultura libertária, não submetida aos valores do capitalismo. Não importa a natureza da propriedade e a distribuição, o que importa é a conduta das massas, a conduta normal do homem, e temos a dívida com a construção de uma cultura contestatária diferente.
O eterno problema das forças da mudança é a luta pela unidade, que significa respeitar a diversidade e aprender a compor colunas com pessoas que tenham matizes, mas não dividir as forças da mudança porque isso é enfraquecer-se face à direita. Devemos ter bem claro qual é a batalha principal. No caso de Martí a batalha principal era conseguir, por um lado, a independência do império colonial e, por outro, frear a ambição norte-americana que era manifesta sobre esta parte da América, ser cientes de que se o conseguiam estavam cumprindo um serviço a favor da América Latina… Daí a luta diplomática e as representações consulares.
Claro que para Cuba, Martí é muito mais que isto. Para Cuba, Martí é o símbolo da construção da República. É, como o chamam vocês, o Apóstolo. Porque impressiona que quase buscou com a alegria, a morte como uma maneira de subscrever o que pensava e o que sentia. Tinha dado tudo, ou quase tudo, faltava-lhe dar a vida pelo eterno.
Gostaria de assinalar a ideia dos equilíbrios que nos legou, porque acredito que estamos na conjuntura dessa lição, dessa luta pelo equilíbrio. O equilíbrio para assegurar a independência dos países latino-americanos. Se Cuba caía, ou era anexada aos Estados Unidos, todo o Caribe ficava comprometido. Era evidente e claro que os Estados Unidos tinham vontade. Ele percebeu que romper com o império colonial e, por sua vez, frear a ambição norte-americana era uma causa a favor da América Latina. Buscou a diplomacia interna, percebeu o contubérnio que tinha a República da Argentina com a Inglaterra e desconfiou da política que trazia o Brasil desde a época de Dom Pedro com uma aproximação ao grande mercado ianque. Tentou mover-se nas contradições em toda essa América, e nunca se esqueceu do México, como corresponde.
Mas essa ideia do equilíbrio não é apenas uma questão de tática política, é uma visão do mundo, um mundo de equilíbrio que acho que é uma mensagem moderna e que tem que ser examinada em cada circunstância histórica como se apresenta a luta pelo equilíbrio e as forças, num mundo que está totalmente desequilibrado e que parece de doidos, não de desequilibrados.
Com uma civilização que nos domina e que, com uma enorme genialidade acumulamos disparates. Há pouco latíamos contra a mudança climática... Estivemos latindo desde Kyoto até aqui inutilmente. Dessas contradições estamos cheios... Eu poderia passar horas falando destes disparates que estamos cometendo como humanidade. Tem razão Fidel, em algum discurso por aí, que há anos dizia: “O que está em jogo é a vida humana”.
Porque chegamos a uma etapa de interdependência, de interrelação onde o mundo precisa de decisões globais, inapeláveis, que têm que ser tomadas... Precisamos de acordos mundiais porque nunca o homem teve a força que teve hoje. Nunca teve os meios que tem hoje. Dois milhões de dólares por minuto são gastos no mundo para orçamentos militares... Dizer que não há recursos é não ter vergonha.
Temos que começar a racionalizar como espécies responsáveis pela vida deste navio que se chama Terra. Mas este mundo não tem direção, ou melhor, tem direção através da acumulação capitalista. Não a favor da vida.
Martí teve o desafio do transbordo norte-americano, a independência das colônias e preservar à América Latina. Nosso desafio é a luta pela vida na terra. Acho que muitas vezes não somos cientes porque vivemos numa sociedade de marketing… Estamos entretidos. Os romanos inventaram o pão e o circo, aqui temos a televisão e o entretenimento para estarmos embasbacados. É uma civilização midiática a maneira de nos dominar.
Eu não advogo por um homem que volte às cavernas ou que viva em baixo de uma folha de palmeira. Não defendo a pobreza como ideal de vida, defendo até à morte a sobriedade. Viver leves de bagagem, ter tempo para viver, lembrar que a felicidade humana é a relação com outros seres humanos. Que o homem não é uma mercadoria, nem se compra nem se vende.
Acho sinceramente — e o resumo — que nosso dever é lutar por uma cultura contestatária, libertária, diferente, não sujeitável. Vão-me dizer que não se pode, eu acho que este bicho humano é o único animal capaz de se reprogramar em sua conduta, de exercer vontade sobre si próprio.
O homem tem capacidade de se autoprogramar. O homem tem capacidade de de se autoprogramar e é a parte que tem a ver com a construção do futuro.
Acredito até a morte que é preciso lutar por uma libertação, uma libertação de nós mesmos, da cultura que nos sujeita no mais profundo de nossas decisões, nós devemos lutar pela felicidade humana e a felicidade humana não é amontoar coisas… A vida vai embora, e estas coisas que estou dizendo são tão elementares e, por elementares, são esquecidas. Quando você compra algo com dinheiro, não está comprando com dinheiro, está comprando com o tempo de sua vida que teve que gastar para ter esse dinheiro.
Mas o tempo na vida não pode comprá-lo... Por favor, não esbanjem o único milagre que vocês têm, o milagre de estarem vivos.
Obrigado”. (Excertos de La Ventana)
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