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sábado, 30 de abril de 2016


Morreu o escritor e historiador de arte Paulo Varela Gomes

Depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro em 2012, dedicou o resto da sua vida a escrever. Tinha 63 anos.
Paulo Varela Gomes Miguel Manso
Paulo Varela Gomes, escritor e historiador de arte e da arquitectura, morreu neste sábado de manhã, aos 63 anos, na sua casa de Podentes, concelho de Penela, de um cancro que lhe foi diagnosticado há quatro anos.
Em Maio de 2015, publicou na revista Granta um texto intitulado Morrer é mais difícil do que parece, um raro, impressionante e longo testemunho da sua experiência com a doença, desde o momento em que o cancro, já num grau muito avançado, foi diagnosticado e lhe foi revelado pelos médicos que teria pouco tempo de vida, até à fase quase terminal.
Nos quatro anos da sua restante vida, Paulo Varela Gomes, professor associado no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra, autor de uma obra de investigação importante no campo da história da arquitectura e da arte (tendo sido também crítico de arquitectura), dedicou-se exclusivamente à literatura e publicou quatro romances e um livro de crónicas, com os quais fez uma entrada fulgurante e muito aclamada na literatura portuguesa contemporânea (Hotel, de 2014, ganhou o prémio do P.E.N. Clube) O primeiro intitulou-se O Verão de 2012 e tinha uma óbvia dimensão autobiográfica; o último chama-se Passos Perdidos, foi publicado em Fevereiro deste ano, e é, como os anteriores, um romance onde a ficção se tece com as ideias e a especulação.
Mas nem só da escrita literária e historiográfica se fez o percurso público intelectual de Paulo Varela Gomes. Durante os seus anos de estudante universitário, na Faculdade de Letras de Lisboa (onde fez o curso de História, tendo-o terminado em 1978), e depois como professor no ensino secundário, teve uma actividade política muito forte, enquanto militante do Partido Comunista. Mas ainda nos anos 80 afasta-se e foi um dos fundadores, com Miguel Portas, do movimento Política XXI.
Nalgumas das crónicas que escreveu para o PÚBLICO mostrou que as suas posições face ao seu tempo eram completamente heterodoxas em relação ao mainstream político, de qualquer campo ideológico, e não eram já compatíveis com qualquer actividade política pragmática e imediata. Tendo sido delegado da Fundação Oriente, em Goa, por duas vezes, de 1996 a 1998 e de 2007 a 2009, essa sua experiência indiana, como se pode perceber sobretudo nas suas crónicas mas também no seu romance Era Uma Vez em Goa (2015) foi muito importante e decisiva nalgumas das suas inflexões intelectuais. Ele, que tinha escrito imensos textos, no Blitz, no JL, no Expresso sobre os fenómenos da cultura de massas e da vida urbana, no regresso da Índia exilou-se no campo e voltou as costas à cidade.
Os seus últimos anos foram passados entre a Universidade de Coimbra e a sua quinta perto de Podentes, concelho de Penela. Da Universidade despediu-se no final de 2012, devido à doença, com uma Última Lição pública que teve por título Do Sublime em Arquitectura. A propósito dessa lição, o seu colega Jorge Figueira escreveu no PÚBLICO um elogio do professor Paulo Varela Gomes, classificando-o como um enfant terrible e um troublemaker. Esta condição não impediu que Paulo Varela Gomes fosse um autor de enorme prestígio e muito reconhecido na comunidade científica de que fazia parte, e um professor que era seguido pelos alunos com uma enorme admiração.

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