Morreu o escritor e historiador de arte Paulo Varela Gomes
Depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro em 2012, dedicou o resto da sua vida a escrever. Tinha 63 anos.
Em Maio de 2015, publicou na revista Granta um texto intitulado Morrer é mais difícil do que parece, um raro, impressionante e longo testemunho da sua experiência com a doença, desde o momento em que o cancro, já num grau muito avançado, foi diagnosticado e lhe foi revelado pelos médicos que teria pouco tempo de vida, até à fase quase terminal.
Nos quatro anos da sua restante vida, Paulo Varela Gomes, professor associado no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra, autor de uma obra de investigação importante no campo da história da arquitectura e da arte (tendo sido também crítico de arquitectura), dedicou-se exclusivamente à literatura e publicou quatro romances e um livro de crónicas, com os quais fez uma entrada fulgurante e muito aclamada na literatura portuguesa contemporânea (Hotel, de 2014, ganhou o prémio do P.E.N. Clube) O primeiro intitulou-se O Verão de 2012 e tinha uma óbvia dimensão autobiográfica; o último chama-se Passos Perdidos, foi publicado em Fevereiro deste ano, e é, como os anteriores, um romance onde a ficção se tece com as ideias e a especulação.
Mas nem só da escrita literária e historiográfica se fez o percurso público intelectual de Paulo Varela Gomes. Durante os seus anos de estudante universitário, na Faculdade de Letras de Lisboa (onde fez o curso de História, tendo-o terminado em 1978), e depois como professor no ensino secundário, teve uma actividade política muito forte, enquanto militante do Partido Comunista. Mas ainda nos anos 80 afasta-se e foi um dos fundadores, com Miguel Portas, do movimento Política XXI.
Nalgumas das crónicas que escreveu para o PÚBLICO mostrou que as suas posições face ao seu tempo eram completamente heterodoxas em relação ao mainstream político, de qualquer campo ideológico, e não eram já compatíveis com qualquer actividade política pragmática e imediata. Tendo sido delegado da Fundação Oriente, em Goa, por duas vezes, de 1996 a 1998 e de 2007 a 2009, essa sua experiência indiana, como se pode perceber sobretudo nas suas crónicas mas também no seu romance Era Uma Vez em Goa (2015) foi muito importante e decisiva nalgumas das suas inflexões intelectuais. Ele, que tinha escrito imensos textos, no Blitz, no JL, no Expresso sobre os fenómenos da cultura de massas e da vida urbana, no regresso da Índia exilou-se no campo e voltou as costas à cidade.
Os seus últimos anos foram passados entre a Universidade de Coimbra e a sua quinta perto de Podentes, concelho de Penela. Da Universidade despediu-se no final de 2012, devido à doença, com uma Última Lição pública que teve por título Do Sublime em Arquitectura. A propósito dessa lição, o seu colega Jorge Figueira escreveu no PÚBLICO um elogio do professor Paulo Varela Gomes, classificando-o como um enfant terrible e um troublemaker. Esta condição não impediu que Paulo Varela Gomes fosse um autor de enorme prestígio e muito reconhecido na comunidade científica de que fazia parte, e um professor que era seguido pelos alunos com uma enorme admiração.
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