Guerra híbrida das hienas dilacera o Brasil por Pepe Escobar [*]
A restauração neoliberal Ainda assim, sem um voto popuplar, os maciçamente rejeitados gémeos Brutus tropicais, Temer e Cunha, descobrirão que é impossível governar, muito embora eles encarnassem perfeitamente o projecto das imensamente arrogantes e ignorantes elites brasileiras. Um triunfo neoliberal, com a "democracia" brasileira espezinhada abaixo do chão. É impossível entender o que aconteceu no Circo Máximo neste domingo sem saber que há um rebanho de partidos políticos brasileiros que está gravemente ameaçado pelos vazamentos ininterruptos da investigação de corrupção Lava Jato. Para assegurar a sua sobrevivência, a Lava Jato deve ser "suspensa"; e isto será feito sob a falsa "unidade nacional" proposta pelo desprezível Brutus Temer. Mas antes a Lava Jato deve produzir um escalpe ostensivo. E este tem de ser Lula na prisão – comparado ao qual a crucificação de Rousseff é uma fábula de Esopo. Os media corporativos, conduzidos pelo venenoso império Globo, saudariam isto como a vitória final e ninguém se preocuparia com a aposentadoria da [investigação] Lava Jato. Os mais de 54 milhões que em 2014 votaram pela reeleição de Roussef votaram errado. O "projecto" global é um governo sem voto e sem povo; um sistema parlamentar de estilo brasileiro, sem aborrecimentos com "eleições" incómodas e, crucialmente, incluindo campanhas de financiamento muito "generosas" e flexibilidade que não obrigue a incriminar companhias/corporações poderosas. Em resumo, o objectivo final é "alinhar" perfeitamente os interesses do Executivo, Legislativo, Judiciário e media corporativos. A democracia é para otários. As elites brasileiras que fazem o controle remoto das hienas sabem muito bem que se Lula concorrer outra vez em 2018 vencerá. E Lula já advertiu; ele não endossará qualquer "unidade nacional" sem sentido; estará de volta às ruas a combater qualquer governo ilegítimo que surja.
Agora estamos abertos à pilhagem No pé em que está, Rousseff corre o risco de se tornar a primeira grande baixa da investigação Lava Jato, com origem na NSA , que perdura há dois anos. A presidente, reconhecidamente uma gestora económica incompetente e sem as qualificações de um político mestre, acreditou que a Lava Jato – a qual praticamente impediu-a de governar – não a atingiria porque ela é pessoalmente honesta. Mas a agenda não tão oculta da Lava Jato foi sempre a mudança de regime. Quem se importa se no processo o país for deixado à beira de ser controlado exactamente por muitos daqueles acusados pela iniciativa anticorrupção? O desprezível Brutus Temer – uma versão fútil de Macri da Argentina – é a conduta perfeita para a implementação da mudança de regime. Ele representa o poderoso lobby bancário, o poderoso lobby do agronegócio e a poderosa federação de indústrias do líder económico do Brasil, o estado de São Paulo. O projecto neo-desenvolvimentista para a América Latina – pelo menos unindo algumas das elites locais, investindo no desenvolvimento de mercados internos, em associação com as classes trabalhadoras – agora está morto, porque o que pode ser definido como capitalismo sub-hegemónico, ou periférico, está atolado na crise após a derrocada de 2008 provocada pela Wall Street. O que resta é apenas restauração neoliberal, a TINA ("there is no alternative"). Isto implica, no caso brasileiro, a reversão selvagem do legado de Lula, políticas sociais, políticas tecnológicas, o impulso para expandir globalmente grandes companhias brasileiras competitivas, mais universidades públicas, melhores salários. Numa mensagem à nação, Brutus Temer admitiu isto; a "esperança" de que o pós o impeachment será absolutamente excelente para o "investimento estrangeiro", pois lhe permitirá pilhar a colónia à vontade; um retorno à tradição histórica do Brasil desde 1500. De modo que a Wall Street, o Big Oil dos EUA e os proverbiais "American interests" vencem este round no circo – graças às, mais uma vez proverbiais, elites vassalas/compradoras. Executivos da Chevron já estão a salivar com a perspectiva de porem as mãos nas reservas de petróleo do pré sal; que já foram
[*] Autor de Globalistan (2007), Red Zone Blues (2007), Obama does Globalistan (2009) e Empire of Chaos (2014) e 2030 (2015). Seu mais recente projecto editorial é http://newsbud.com . O original encontra-se em www.rt.com/op-edge/340207-
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