segunda-feira, 28 de novembro de 2016
Publicado por Ricardo M Santos
A
morte de Fidel foi mais um pretexto para a o avanço da ideologia
dominante na propagação da ideia de que ou há este caminho ou não há
caminho nenhum. Da social-democracia mais à esquerda ou mais à direita,
poucos são os que têm coragem de assumir que as conquistas cubanas são
tão profundas e importantes que não podemos compará-las com as
democracias haitianas, porto-riquenhas ou dominicanas. É que, por
incrível que possa parecer, é com esses países que Cuba deveria ser
comparada. Porque foram países brutalmente colonizados, explorados nos
seus recursos e nos seus povos. Porque era lá que os homens de família
que deslocavam em negócios de saias, enquanto enchiam a boca com o
moralismo e a santa madre igreja. No entanto, o progresso cubano foi tão
expressivo que o comparamos com os países desenvolvidos, ou
exploradores, como preferirem. E, por incrível que possa parecer, Cuba
supera esses países em categorias tão importantes como a saúde infantil,
materna, educação, tratamento do HIV, acesso à habitação. Mas o que
importa isso?
Como é que é possível um país não ser aberto só porque o seu líder sofreu 638 tentativas de assassinato por parte da maior potência mundial, fora as tentativas de golpe de Estado?
Claro que o embargo não explica tudo. Afinal, o que pode explicar um país não poder efectuar trocas comerciais com outros? Olhemos para nós, que não nos importamos nada, nem há manchetes e campainhas e alarmes de cada vez que a nossa balança comercial se inclina para um lado ou para o outro? Um embargo não explica tudo.
Um embargo não explica tudo. Os cubanos pedem sabonetes e champôs aos turistas, onde já se viu. E o embargo não tem nada a ver com isto. Ainda se fossem sem-abrigo e pedissem pão, isso sim, era liberdade, democracia e desenvolvimento.
Então e tu? Já visitaste Cuba? Ou reges-te pela imprensa, que lhe é tão favorável. Claro que sim. A imprensa, ao serviço da classe dominante que abomina e silencia tudo o que foi alcançado com a revolução cubana. A mesma imprensa que, no entanto, é obrigada a noticiar que é em Cuba que são operados doentes portugueses com cataratas. Fora isso, Cuba é um pesadelo. Nunca lá foste, pois não? Então não sabes nada.
O embargo não explica que o sistema eleitoral cubano não seja democrático porque não está de acordo com as nossas democracias amadurecidas, como a dos EUA, em que é possível, numa eleição uninominal, ser eleito alguém com menos votos. Mas pelo menos há eleições. Em Cuba também, mas não importa. As de Cuba são más porque são em Cuba.
E a pobreza em Cuba? Que é muito mais pobreza do que em qualquer cidade sul-americana? Os pobres em Cuba deviam ser pobres como os do Haiti, não é como os cubanos. Onde já se viu, andarem a pedir sabonetes. Já disse que deviam pedir comida e um abrigo, sei lá, não disse? Isso sim, é pobreza menos má, porque é nossa, e olhamos e atravessamos a rua e está resolvido. Agora pobreza quando vamos de férias? Onde já se viu? Nós habituados a ir a Paris, Londres, Barcelona, Madrid, Berlim e lá não há miséria, seus burros. São carências. Claro que não tem a ver com a expulsão dos habitantes locais das grandes cidades para os arredores, transformando-as em enormes centros turísticos, sem a pobreza, que incomoda tanto.
Sim, os putos sabem ler e escrever em Cuba, ao contrário de 200 milhões de crianças por todo o Mundo. Têm aulas de música, desporto e artes que aqui só temos se pagarmos. Muito. Mesmo muito. Pá, mas aquilo não é uma democracia porque não pensam como nós.
Sim, a saúde, está bem. Só porque tem um médico para cada 150 pessoas? Isso justifica alguma coisa? Até parece que, aqui, se eu precisar de um médico não posso ir ao privado. Está bem, tenho de ter um seguro de saúde e pagar por isso. Mas pronto. Posso ficar no público à espera. E se for urgente temos as urgências. Pagamos? Ok, mas ganhamos muito mais que os cubanos, até andam alguns a ver se a gente chega aos 557 euros por mês, em vez dos 600, é porque devemos estar bem. Depois, é pagar luz, água, gás, passe social, renda ou empréstimo e paga-se a consulta nas urgências com o que sobrar.
Como é que é possível um país não ser aberto só porque o seu líder sofreu 638 tentativas de assassinato por parte da maior potência mundial, fora as tentativas de golpe de Estado?
Claro que o embargo não explica tudo. Afinal, o que pode explicar um país não poder efectuar trocas comerciais com outros? Olhemos para nós, que não nos importamos nada, nem há manchetes e campainhas e alarmes de cada vez que a nossa balança comercial se inclina para um lado ou para o outro? Um embargo não explica tudo.
Um embargo não explica tudo. Os cubanos pedem sabonetes e champôs aos turistas, onde já se viu. E o embargo não tem nada a ver com isto. Ainda se fossem sem-abrigo e pedissem pão, isso sim, era liberdade, democracia e desenvolvimento.
Então e tu? Já visitaste Cuba? Ou reges-te pela imprensa, que lhe é tão favorável. Claro que sim. A imprensa, ao serviço da classe dominante que abomina e silencia tudo o que foi alcançado com a revolução cubana. A mesma imprensa que, no entanto, é obrigada a noticiar que é em Cuba que são operados doentes portugueses com cataratas. Fora isso, Cuba é um pesadelo. Nunca lá foste, pois não? Então não sabes nada.
O embargo não explica que o sistema eleitoral cubano não seja democrático porque não está de acordo com as nossas democracias amadurecidas, como a dos EUA, em que é possível, numa eleição uninominal, ser eleito alguém com menos votos. Mas pelo menos há eleições. Em Cuba também, mas não importa. As de Cuba são más porque são em Cuba.
E a pobreza em Cuba? Que é muito mais pobreza do que em qualquer cidade sul-americana? Os pobres em Cuba deviam ser pobres como os do Haiti, não é como os cubanos. Onde já se viu, andarem a pedir sabonetes. Já disse que deviam pedir comida e um abrigo, sei lá, não disse? Isso sim, é pobreza menos má, porque é nossa, e olhamos e atravessamos a rua e está resolvido. Agora pobreza quando vamos de férias? Onde já se viu? Nós habituados a ir a Paris, Londres, Barcelona, Madrid, Berlim e lá não há miséria, seus burros. São carências. Claro que não tem a ver com a expulsão dos habitantes locais das grandes cidades para os arredores, transformando-as em enormes centros turísticos, sem a pobreza, que incomoda tanto.
Sim, os putos sabem ler e escrever em Cuba, ao contrário de 200 milhões de crianças por todo o Mundo. Têm aulas de música, desporto e artes que aqui só temos se pagarmos. Muito. Mesmo muito. Pá, mas aquilo não é uma democracia porque não pensam como nós.
Sim, a saúde, está bem. Só porque tem um médico para cada 150 pessoas? Isso justifica alguma coisa? Até parece que, aqui, se eu precisar de um médico não posso ir ao privado. Está bem, tenho de ter um seguro de saúde e pagar por isso. Mas pronto. Posso ficar no público à espera. E se for urgente temos as urgências. Pagamos? Ok, mas ganhamos muito mais que os cubanos, até andam alguns a ver se a gente chega aos 557 euros por mês, em vez dos 600, é porque devemos estar bem. Depois, é pagar luz, água, gás, passe social, renda ou empréstimo e paga-se a consulta nas urgências com o que sobrar.
Fidel foi um criminoso porque matou pessoas durante a revolução. Que importa se o país permaneceu ameaçado, interna e externamente, pelos EUA? Onde já se viu, fazer uma revolução e assassinar pessoas? Isto não ia lá com veludo, ou com cores, ou com estações do ano, como se tem visto com tanto sucesso? Era preciso uma revolução tão revolução?
Depois há os outros, que sim, Cuba tem coisas boas, como o ensino e a educação, mas. Claro que mas. Uma das principais opositoras cubanas vive na ilha, é paga por George Soros e é conhecida por ser blogger, entrando e saindo da ilha quando quer. Numa ilha sem internet, sem nada, onde se comunica por sinais de fumo. De charuto, claro. Nem liberdade, como canais de rádio e TV que emitem diariamente a partir de Miami. Para onde vão os democratas cubanos, com subsídios do governo norte-americano, desde que não cheguem de avião. Se chegarem de avião, não têm visto.
E os médicos, engenheiros, professores que passam por tantas dificuldades? E os nossos todos aqui tão bem nos callcenter e na Uber ou emigrados ou a servirem de mão-de-obra barata nos supermercados, através das empresas de trabalho temporário? Pelo menos podem sair do país. Em Cuba também, desde que não vão de avião e para os EUA.
Matou pessoas, Fidel. Foi um criminoso sem um pingo de humanidade. Democracia em Cuba, só mesmo em Guantánamo. Devia ter sido mais como nós, que somos cheios de humanidade, mas estamos no lado dos que votaram para eleger um presidente que se recusou a condenar o Apartheid. Curiosamente, Fidel foi uma das pessoas a quem Mandela agradeceu todo o apoio dado à causa dos negros sul-africanos, bem como à libertação de países daquele continente.E o Amílcar Cabral. Tudo bem, mas não era preciso matar pessoas, até parece que não se resolvia a descolonização de outra forma, com paciência e jeitinho.
A malta é de esquerda e está com a Palestina. Fidel é um criminoso admirado na Palestina pelo apoio dado àquele povo, às tantas temos aqui um problema, mas não, porque teremos sempre um mas. Matou pessoas e tudo numa revolução. Que bruto. Em vez de abrir o país à democracia de modelo burguês ocidental, como fez ao Chile de Allende. Morreu mas pelo menos morreu cheio de democracia imposta pelos nossos aliados. O Pinochet é que sabia.
A gente é de esquerda e até esteve pelo Obama. Guantánamo? Mas ele é mesmo cool. Viste-o naquele talk-show? Super engraçado.
E aquelas férias na Tailândia? Que importa o turismo sexual, os pobres lá são muito melhores. Mesmo que, à chegada, nos digam quais os locais para onde podemos ir sem correr o risco de ser assaltados. A pobreza lá é muito melhor. Não pedem champô nem sabonetes. Isto sim, são pobres à maneira. Nem falo na Índia. Lá é que a pobreza é como deve ser.
E Marrocos? É lindíssimo o Saara Ocidental. Presos saarauís? Mas os pobres lá são de categoria, tens é de entrar e fechar-te no hotel e escolher bem o percurso com os guias. Estes ao menos não te pedem champôs. Mas, se puderes deixar ficar uns dólares… Aquele deserto é lindo.
A gente quer é escrever as nossas sentenças nos nossos smartphones feitos com mão-de-obra escrava, a nossa roupa cosida por crianças e poder dar às nossas crianças os brinquedos que são feitos por crianças mais pequenas do que elas. Nenhuma delas é cubana, podem ser haitianas, salvadorenhas ou porto-riquenhas, mas aquela pobreza lá, com pessoas que pedem champôs e sabonetes, choca muito qualquer um.
Cuba não é o paraíso na terra. Mas também não é o inferno que são os seus vizinhos sul-americanos. Por muito que isso custe a quem gostava que fosse.
Sem comentários:
Enviar um comentário