É mais difícil aceitar que tenha sido a Síria a usar armas químicas contra sírios do que fazer passar Trump pelo buraco de uma agulha
O
governo sírio foi o único prejudicado, em termos de imagem, em todo o
mundo, por um alegado ataque seu com armas químicas em Khan Sheikhun,
província de Idlib. “Procurar o criminoso entre aqueles a quem aproveita
o crime” é uma regra básica da investigação criminal. Se tais coisas
levam o seu tempo a ser feitas e são motivo de reflexão, é mais difícil
acreditar que a iniciativa coubesse à Síria do que “enfiar um camelo (ou
Trump) no buraco de uma agulha”. Mas há os que continuam a querer que
todos passemos por parolos…É o caso do Human Rights Watch, que lançou
esta idéia (trabalham em Londres, bem longe destas refregas).
O
momento do ataque dos EUA e da invocada utilização pela Síria de armas
químicas é tanto mais suspeito do ataque, quando ocorreram poucos dias
antes de uma grande conferência sobre a Síria, em Bruxelas.
A
“Conferência de Bruxelas sobre o Apoio ao Futuro da Síria e da Região”,
co-presidida pela ONU e pelos governos da Alemanha, do Kuwait, da
Noruega, do Qatar e do Reino Unido, realizou-se mesmo em Bruxelas em 4 e
5 de Abril, e não aceitou alterar a sua agenda que previa concentrar-se
em “reforçar o apoio a uma resolução política duradoura para o conflito
sírio através de um processo de transição política inclusivo e liderado
pela Síria sob os auspícios da ONU”, de acordo com o site oficial da Comissão Europeia. Aguardei, sem resultado, até agora que esse site se referisse às conclusões da conferência.
Charles
Shoebridge, analista britânico de segurança e especialista em
contra-terrorismo, afirmou à RT que “Há um padrão destes incidentes que
acontecem em momentos críticos numa perspectiva geopolítica”,
acrescentando que um ataque químico maciço na cidade síria de Ghouta em
2013 aconteceu exactamente quando “os inspetores da ONU estavam a chegar
a Damasco”, e outro ataque químico em Setembro de 2016 ocorreu na
véspera de uma “grande conferência em Londres, onde a oposição síria se
reuniu com seus doadores estrangeiros”.
Depois do ataque dos EUA |
Vi
ontem no Expresso da Meia-Noite, na SIC-N um debate sobre o ataque dos
EUA a uma base síria com comentadores pouco recomendáveis. Retiro
algumas das suas ideias-chave:
1. O ataque foi combinado entre a Rússia e os EUA;
2. O
ataque foi pontual, difícil de ter continuidade, mas retira à Rússia a
centralidade nas iniciativas diplomáticas para uma solução de paz e
impõe os EUA nesse processo;
3. Se o Estado Islâmico e a Al-Qaeda aceitarem integrar as negociações, isso alterará os dados do problema;
4. Não há dúvida que foi a força aérea síria que, com apoio da Rússia, procedeu ao bombardeamento com armas químicas;
5. Os
EUA não podiam aceitar investigações no local do bombardeamento e junto
do governo sírio porque isso iria mandar para as calendas eventuais
conclusões;
6. Afez Al-Assad fica desde já fora do quadro das negociações de paz que não quer;
7. A
Rússia está a gastar em várias frentes mais do que pode (Síria,
Ucrânia, Europa de Leste, África,…) e foi por isso que a URSS caiu;
8. O
Irão não condenou o ataque (retiro a declaração iraniana “o ataque foi
perigoso e destrutivo e viola o direito internacional”…);
9. Os
EUA regressaram à política de Obama e obtiveram o apoio de Israel,
Turquia, Arábia Saudita, Bahrein, Emiratos Árabes Unidos (consabidamente
países com lideranças respeitáveis,…)
A nenhuma daquelas cabeças, creditadas por Balsemão, ocorreu falar sobre:
1. A
circulação normal de jornalistas e meios de emergência na base depois
do ataque (que destruiu aviões, depósitos de armamento, etc.) indiciar
que da explosão não resultou a circulação de gases contaminadores;
2. Só
os terroristas, que estavam a sofrer derrotas sucessivas, beneficiaram
temporariamente, em termos de imagem de um alegado ataque que é logo
atribuído ao governo sírio;
De
manhã tinha ouvido na Antena Um comentários semelhantes do comentador
de política internacional, creditado como tal por esta estação, Bernardo
Pires de Lima, que referiu nomeadamente, além disso que:
1. A legalidade do ataque não é relevante para ser alvo de discussão, há que invocar sim a “legitimidade” e os “aspectos morais”;
2. Se a Rússia e o Irão podem intervir na Síria, porque não poderiam os EUA?
3. Assad estava à partida, antes do ataque, suspeito de vir a desencadear actos que a comunidade internacional não aceitaria (!).
Não
há dúvida de que o ataque aéreo dos EUA é uma agressão, porque se se
trata de uma questão interna a um país. O que aconteceu e de quem foi a
culpa são assuntos que não respeitam aos Estados Unidos. Não há
interesses norte-americanos de segurança nacional que tenham sido
afectados, não morreram cidadãos norte-americanos ou cidadãos de outro
Estado. Portanto, esta interferência é descabida a partir de países
terceiros.
E
o uso da força militar de um Estado contra as forças armadas de outro
Estado, nos termos da Carta das Nações Unidas, constitui um acto de
agressão.
A
Rússia, uma unidade de elite iraniana e o Hezbollah intervieram na
Síria a convite do governo legítimo desse país, que resultou de
eleições, reconhecidas internacionalmente, e que está representado em
várias instâncias internacionais, apesar de estar incluído na lista que
Obama elaborou e Trump mantem, como estados
Nenhum
Estado tem o direito de agir em nome do Conselho de Segurança da ONU. A
situação é muito clara. Não há evidências de que armas químicas tenham
sido aplicadas por Bashar Al-Asad e as suas forças. Se os americanos
tinham qualquer prova, deveriam tê-la apresentado a todo o mundo, mas
não usar a força, antes que tivessem sido obtidas conclusões exaustivas
efectuadas por peritos independentes. Mas os EUA recusaram-no no
Conselho de Segurança, preferido uma atitude de confronto com o governo
sírio.
E
se agora grupos terroristas tivessem tomado conta do aeródromo? Os EUA
estariam em que campo? No campo dos terroristas, ao reduzir a capacidade
da Síria os enxotar? Esses grupos (que Trump disse querer acabar com
eles…) já rejubilaram e reclamaram mais…
E
o ataque contra a Síria não será uma tentativa de desviar a atenção da
acção conduzido pelos EUA em Mossul, no Iraque, que foi acompanhado por
vítimas civis em massa, enquanto os progressos na libertação da cidade
ainda não terminaram?
Este artigo encontra-se em: antreus http://bit.ly/2pdlBGh
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