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domingo, 28 de janeiro de 2018


Honduras um país em pé de guerra


Desde novembro que o povo hondurenho luta contra os golpistas que não respeitaram o resultado eleitoral.
E a bandeira dos EUA aparece como símbolo do golpe. Sempre!
E a nossa media calada que nem ratos ou ratões, não venha o Tio Sam puxar-lhe as orelhas ou não pagar a mensalidade.
Este artigo encontra-se em: as palavras são armas http://bit.ly/2EeI9iw

sábado, 27 de janeiro de 2018

Centenário da Revolução Outubro

Assunto: Declarações de Lula após a sentença

Grandes declarações do Presidente Lula em gigantesca manifestação realizada na noite desta quarta-feira, 24/I, no centro de São Paulo:

- as pessoas podem sair com a impressão de que esse ato aqui é de campanha. Esse ato é infinitamente maior que um ato de eleição. É um ato em defesa da soberania nacional e do Brasil!

- depois da decisão do TRF-4, sinto que as pessoas vêm me cumprimentar como se eu estivesse sofrendo...

- eu, primeiro, nunca tive nenhuma ilusão com a decisão do tribunal. Nunca!

- nenhuma ilusão com o comportamento dos juízes na Lava Jato

- porque houve um pacto entre o Judiciário e a imprensa e resolveram que era hora de acabar com o PT e com a nossa governança

- eles já admitiam mais a ascensão social dos mais pobres

- eles não suportavam mais a escolaridade, da creche à universidiade

- não suportavam mais o Ciência sem Fronteiras

- não suportavam mais o crédito para habitação e agricultura popular

- era muita gente com carro na rua! E a culpa era da desgraça do PT que ajuda o pobre a comprar carro! Pra nós, só ônibus lotado!

- quero dizer: a decisão de hoje qualquer advogado vai dizer que eu tenho que respeitar

- até respeito a decisão. Mas não aceito a mentira pela qual eles tomaram a decisão!

- eles sabem que eu não cometi crime!

- me dispus a ficar com os juízes um dia inteiro, televisionando ao vivo, para ver se eles me mostram algum crime

- não estou preocupado se vou ser candidato ou não! Quero que eles peçam desculpas pelas mentiras que estão contando sobre mim!

- estou condenado outra vez por um desgraçado de um apartamento que não tenho!

- se me condenaram, me deem pelo menos o apartamento! Aí justifica!

- já pedi para o Boulos mandar o MTST ocupar aquele apartamento!

- já que é meu, ocupem!

- não quero que ninguém fique preocupado apenas pelo Lula. Quero que a gente tenha uma preocupação com 210 milhões de brasileiros

- quero que tenham clareza de que tudo tende a piorar, quando eles consagrarem a reforma da Previdência

- o FIES está acabando

- o ProUni está diminuindo

- a massa salarial está diminuindo

- o trabalho com carteira assinada vai deixar de existir

- vai sair dos nossos direitos o que conquistamos há 60 anos

- quem tá no banco dos réus é o Lula, mas quem foi condenado é o povo brasileiro!

- um ser humano pode ser preso. Mandela ficou preso 27 anos. E nem por isso a luta dele diminuiu

- ele voltou e virou presidente da África do Sul

- aqui no Brasil, um dia um alferes chamado Tiradentes ousou pensar na independência do País. Não só o Governo o condenou, como o enforcou e o esquartejou. Penduraram sua carne nos postes para que ninguém nunca mais quisesse pensar na independência

- em 1889, Tiradentes foi o único herói nacional na Proclamação da República!

- eles têm que saber de uma vez por todas: parem com essa bobagem de achar que o Lula tem que ser condenado. O Lula é insignificante. Mas o povo brasileiro começou a mostrar que não aceita subserviência!

- hoje falaram 10 horas seguidas e não tem um crime!

- com essa história de condenar quem não cometeu crime, apenas com convicção ou com domínio do fato (ou seja, prevaleceu no mensalão... "eu não quero saber se você roubou, mas é o chefe e vai pagar o preço"), quero dizer: não sou radical; sou até moderado demais. Mas eles não estão acostumados a julgar o inocente. Pra mim, esse julgamento é uma oportunidade de viajar o Brasil e começar a discutir com o povo o que a gente já teve e pode voltar a ter!

- eu nem queria mais fazer política. Mas estou percebendo que tudo o que eles fazem é para evitar que eu seja candidato

- essa provocação é de tal envergadura que me deu uma coceirinha

- e eu agora quero ser candidato à Presidência da República! Tenho vontade de ser!

- eles podem cassar esse direito. quero disputar com eles na consciência do povo, não na caneta!

- e se eu cometi um crime, me apresente esse crime. Se me apresentarem, eu desisto de candidatura

- eu desafio eles!

- a PF, o MPF, o Moro... e desafio também os três que me julgaram: apresentem um único crime!

- esse processo está subordinado à Rede Globo, à Veja, ao Estadão, à Folha...

- eles não admitem a ascensão social

- quando criei o ProUni, eles diziam que eu iria rebaixar a Educação.

- que iria colocar gente despreparada na Universidade

- depois, os testes mostraram que os pobres bolsistas eram os melhores alunos

- acham que FIES é gasto, mas emprestar para as empresas não é...

- o melhor investimento que se pode fazer é na Educação! Para garantir a soberania!

- eles nunca se conformaram com a gente ter mandado a Alca embora e fortalecido o Mercosul

- nunca se conformaram com a nossa visita a 39 países africanos!

- diziam: o Lula deveria visitar os EUA e não a África!

- eles são complexados! Amanhã, 1h, embarco para a Etiópia para discutir o combate à fome na África

- porque o Brasil tem exemplo!

- nunca toleraram um metalúrgico entrando na História como o Presidente que mais fez Universidades! Esse analfabeto ser o que mais fez escolas técnica, que mais fez casas, mais deu aumento de salário...

- eles não podem prender o sonho de liberdade! não podem prender as ideias. o Lula é um homem de carne e osso. Podem prender o Lula, mas as ideias já estão na cabeça da sociedade brasileira!

- as pessoas já sabem que é gostoso comer bem, morar bem, viajar de avião, comprar carro novo, ter uma casa com TV, PC, telefone...

- eles pensam que nós queremos continuar comprando coisa de segunda?

- queremos nossos filhos com a mesma oportunidade dos deles! o filho da empregada tem que estar no mesmo banco de escola que a filha da patroa!

- isso eles não vão conseguir prender

- não abaixem a cabeça! Nada de ficar com "coitadinho do Lula". Levantem a cabeça! Pobre deles que pensam que prendendo o Lula acaba a luta...

- a hora não é de desistir. É de continuar a nossa trajetória para o futuro!

- eles se preparem: os partidos de esquerda vão se unificar durante a campanha

- vamos voltar não a governar, mas a cuidar desse povo com o respeito que ele merece

- cansamos de preconceito! de inveja! de ódio! queremos um país de paz

- só tem um jeito de me tirar da luta: só no dia em que eu morrer!

- enquanto esse velho coração bater, podem ter certeza de que a luta pelo povo brasileiro vai continuar!

- não desistam nunca!

- um aviso à elite: espere! Porque nós vamos voltar! E vamos voltar a provar que esse país vai ser respeitado. Sem complexo de vira-lata. Vamos provar que o pobre não é problema, mas solução

- até a vitória!

Cuba manifesta seu apoio e solidariedade a Lula da Silva

O Ministério das Relações Exteriores de Cuba emitiu uma declaração sobre a sentença do tribunal de segunda instância condenando o ex-presidente do Brasil e líder do Partido dos Trabalhadores Luiz Inácio Lula Da Silva.
O Ministério das Relações Exteriores de Cuba tomou conhecimento da sentença do tribunal de segunda instância sobre a condenação do ex-presidente da República Federativa do Brasil e líder do Partido dos Trabalhadores Luiz Inácio Lula da Silva.
O Ministério das Relações Exteriores reitera o seu apoio e solidariedade com o companheiro Lula da Silva, que é objeto da mais feroz perseguição política e judicial com a finalidade de impedir a sua candidatura à Presidência.
Havana, 24 de janeiro de 2018

Fonte – Jornal Granma

Ler artigo em: Associação de Amizade – Portugal/Cuba: Home http://bit.ly/2nfuVu2

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Neste momento, defender Lula é defender a justiça e a democracia

O que se condena em Porto Alegre não é o ex-presidente e seu direito de concorrer às eleições deste ano. O que se condena é o que resta do império da lei e da democracia formal no Brasil.


Por Luis Felipe Miguel.

O que caracteriza o cerco judicial contra o Lula, desde o início, é seu caráter arbitrário. O ex-presidente começou a ser perseguido antes que existissem sequer pretextos contra ele. O aparelho repressivo (polícia, procuradoria, judiciário) foi mobilizado para encontrar qualquer coisa que o incriminasse, o que já demonstra uma grave ruptura com o Estado de direito. Pedalinho, barco de lata, depósito de tralhas, era um barata-voa em busca de algo que pudesse ser mobilizado contra Lula.

Acharam o tal apartamento em Guarujá. Não conseguiram jamais provar que foi de Lula e outro dia uma juíza desavisada chegou a comprometer a farsa indicando, em autos, que a proprietária é mesmo a OAS. Muito menos indicaram a contrapartida do ex-presidente à construtora, para estabelecer o vínculo de corrupção.
O caso foi julgado por Sérgio Moro, embora o imóvel fique em outra comarca, sob a alegação de que tratava-se de fruto de desvio de dinheiro da Petrobrás – e, portanto, ele seria “juiz natural” do caso. O próprio Moro reconheceu em seguida que isso não tinha fundamento, mas nada mudou.
A sentença é escorada em denúncias de delatores – mas, ao longo da Lava Jato, ficou muito claro que o acesso aos benefícios da delação premiada dependiam muitas vezes de implicar o ex-presidente. Prisões provisórias foram amplamente usadas como forma de pressão ilegal para alcançar as confissões pretendidas. Os presos negociavam amplamente os termos de suas delações, até chegar ao que desejavam os agentes da lei, de forma escandalosa. As evidências de comprometimento da Lava Jato, por seus procedimentos viciados, são inúmeras, mas desprezadas pela imprensa e pelo judiciário (como demonstra o silêncio que cercou o depoimento de Tacla Durán no Congresso).
Fora as delações induzidas, Moro lista argumentos bizarros, estendendo quase ao infinito a já insustentável interpretação da teoria do “domínio do fato” que Joaquim Barbosa pôs em curso no caso do mensalão. Aliás, Moro chega a listar o fato de Lula não ter apresentado reprimenda pública aos condenados naquele julgamento entre os indícios de culpa que recomendariam sua prisão…
É de se perguntar por que a condução de um caso tão importante foi entregue a gente do nível de Moro ou Dallagnol. Por um lado, a maioria dos nossos operadores de justiça é mesmo muito mal formada. Por outro, pessoas mais qualificadas e competentes provavelmente se sentiriam constrangidas de operar farsa tão primária.
Thompson Flores e seus colegas já demonstraram que não sofrem tal constrangimento. Amanhã, devem cumprir seu papel e condenar Lula. Não pelo recebimento de um triplex que nunca foi dele. Vão condenar Lula porque, a despeito de todo seu esforço de acomodação e de seu cuidado para não ultrapassar os limites da ordem estabelecida, ele é um mau exemplo, um exemplo de que um líder popular pode triunfar na política, de que é possível implantar algumas políticas em benefício das maiorias, de que a desigualdade aberrante do Brasil não é imutável. Vão condenar Lula porque, como escreveu Wanderley Guilherme dos Santos, o que se implanta no Brasil é “uma ordem de dominação [completamente] nua de propósitos conciliatórios com os segmentos dominados”.
É por isso que a defesa de Lula, neste momento, não se confunde com a defesa do voto em sua candidatura, nem com a defesa de seu governo ou de seu partido. É a defesa da justiça e da democracia.
O que se condena em Porto Alegre não é o ex-presidente e seu direito de concorrer às eleições deste ano. O que se condena é o que resta do império da lei e da democracia formal no Brasil. Se não ocorrer algum inesperado e o TRF-4 seguir o script, amanhã o golpe terá dado um novo e importante passo e estaremos ainda mais próximos da instauração de uma ordem abertamente autoritária.
Nesta altura do campeonato, está claro que não há como confiar nas instituições, nem depositar a esperança nas eleições. Se queremos restaurar os procedimentos mínimos da democracia e de um campo de luta pela justiça social, a resistência tem que vir das ruas.
***
A Boitempo prepara-se para lançar em 2018 o novo livro de Luis Felipe Miguel: Dominação e resistência: desafios para uma política emancipatória. A obra apresenta uma discussão sobre o sentido da democracia e sua relação com os padrões de dominação presentes na sociedade. A ordem democrática liberal não pode ser entendida como a efetiva realização dos valores que promete, pois a igualdade entre os cidadãos, a possibilidade de influenciar as decisões coletivas e a capacidade de desfrutar de direitos são sensíveis às múltiplas assimetrias que vigoram na sociedade. Porém, tampouco pode ser lida segundo a crítica convencional às “liberdades formais” e à “democracia burguesa”, que a apresenta como mera fachada desprovida de qualquer sentido real. Assim, a democracia não é um ponto de chegada, e sim um momento de um conflito que se manifesta como sendo entre aqueles que desejam domá-la, tornando-a compatível com uma reprodução incontestada das assimetrias sociais, e quem, ao contrário, pretende usá-la para aprofundar contradições e avançar no combate às desigualdades. Portanto, o conflito na democracia é um conflito também sobre o sentido da democracia, isto é, sobre quanto ela pode se realizar no mundo real como projeto emancipatório e quanto as instituições vigentes contribuem para promovê-la ou para refreá-la.
***
Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades – Demodê, que mantém o Blog do Demodê, onde escreve regularmente. Autor, entre outros, de Democracia e representação: territórias em disputa (Editora Unesp, 2014), e, junto com Flávia Biroli, de Feminismo e política: uma introdução (Boitempo, 2014). É um dos autores do livro de intervenção Por que gritamos golpe? Para entender o impeachment e a crise política no Brasil. Seu próximo livro, Dominação e resistência, será publicado pela Boitempo em 2018. Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente às sextas.

sábado, 20 de janeiro de 2018


Patrice Lumumba, Carlucci e Soares

O presidente dos EUA, Eisenhower, deu ordem para eliminar Lumumba. E enviou o agente da CIA, Frank Carlucci, que depois seria secretário de Defesa de Ronald Reagan e mais tarde enviado a Mário Soares para assassinarem o 25 de Abril.
A história deve ser estudada como quem compõe um puzzle, para que nos possamos questionar, e neste caso, relacionar a vinda para Portugal do operacional Frank Carlucci, acolhido calorosamente nos braços de Mário Soares.
Não devemos esquecer o currículo do criminoso Carlucci, nem o que fez em parceria com Mário Soares na destruição de uma das mais belas revoluções, admirada e venerada por todos os que amam a Liberdade.
Este artigo encontra-se em: as palavras são armas http://ift.tt/2mMfXeM

Um Papa silenciado


Por que é que o Papa Francisco è tão silenciado , mesmo dentro da Igreja ?
O pontífice está em Puerto Maldonado, uma região do Peru que tem sua biodiversidade ameaçada por projetos de mineração e exploração de madeira.
“Os povos  nativos da Amazónia provavelmente nunca foram tão ameaçados em suas próprias terras como estão agora”, disse o papa em discurso para uma plateia de mais de 20 etnias indígenas.  O pontífice criticou a “pressão exercida pelos interesses das grandes empresas” na pesquisa de petróleo, gás, madeira e ouro e saqueando recursos  sem preocupação com seus habitantes”. Francisco teve seu discurso interrompido por aplausos e tambores e também ouviu o relato dos indígenas presentes no encontro.  “Eles entram em nossos territórios sem nos consultar e sofremos muito quando os estrangeiros começarem a minerar… e  a destruir os nossos rios transformando-os em águas negras da morte”, disse o indígena Harakbut Hector Sueyo, de acordo com a agência Reuters.
Este artigo encontra-se em: FOICEBOOK http://bit.ly/2BfSibH

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018


Para onde vai a África? (1) , por António abreu


Um continente sob cobiça, entre miséria e progresso. Sociedades em mudança, direitos que se afirmam e outros que ainda não. O autor perspectiva ‒ região a região ‒ para onde vai a África.

 

 

A espada na balança



Militar francês no Mali

 1. As movimentações militares da França em África, nestes últimos anos, com intervenções directas e dirigindo as forças do G5 do Sahel, reforçadas nas últimas semanas a pretexto do combate aos terroristas do Boko-Haram, da Al-Qaeda e do ISIS, têm causas mais profundas.


A França, que nos últimos 50 anos completou mais de 50 operações militares oficiais (e muitas mais secretas) no continente , está a intensificar as operações na África Ocidental, Central e Oriental, onde mantém cerca de 7.000 soldados e várias bases militares, especialmente no Mali, Senegal, Gabão e Costa do Marfim. Já a Itália tem presença militar na Líbia, Mali, Somália e Djibouti. O primeiro-ministro italiano, Gentiloni, pediu a intervenção da NATO em África, afirmando que, se não o fizer, a maior aliança militar da história não estará à altura dos desafios contemporâneos. Isto é, a NATO deve dar continuidade à destruição do Estado líbio em 2011, agora progredindo para sul.


Africom
À medida que perdem terreno economicamente, os Estados Unidos e as maiores potências europeias lançam a espada no prato da balança. A Africom, dirigida pelos Estados Unidos, com a motivação oficial de lutar contra o terrorismo, está a expandir-se e a aumentar a sua rede militar no continente com operações de forças especiais, o uso de drones armados, o treino e armamento de forças especiais africanas.



O continente sob cobiça



O coltan
A riqueza mineral de África é sobejamente reconhecida, particularmente em ouro, diamantes, urânio, coltan (mistura dos minerais colombite e tantalite, donde se extraem o nióbio e o tântalo, fundamentais para o fabrico de componentes electrónicos), cobalto (utilizado nas pilhas recarregáveis de lítio), cobre, petróleo, gás natural, manganésio, fosfatos. Nem é de agora a riqueza vegetal, com destaque para madeiras preciosas, cacau, café, algodão e muito mais. Esses recursos preciosos, explorados pelo antigo colonialismo europeu, então com o recurso ao trabalho escravo, são hoje explorados pelo neocolonialismo europeu, com uma mão-de-obra local de baixo custo e um controle dos mercados interno e internacional.
A dependência das decisões económicas de grupos de poder e de governantes africanos arrasta a corrupção em favores prestados: na concessão e condições de exploração das riquezas; de exportação de bens; ou de contratação de consultorias internacionais; e gera volumes descomunais de luvas para quem detém o poder ou para quem apoia o exercício desse poder. No conjunto, e mesmo no caso de vários países individualmente, a África é uma grande exportadora de recursos naturais, com valores do PIB significativos, mas as populações não beneficiam disso e correm o risco de ver esses recursos esgotarem-se na voracidade dessa actividade. Os ex-países colonizadores continuam a explorá-los, procurando que se mantenham condições de segurança para as suas empresas operarem, justificando também por isso uma presença «musculada» em vários países.


A dança dos investidores



Vários ex-colonizadores, como a França, Inglaterra e Itália, mantêm fortes investimentos dirigidos para a exploração dos recursos de África, mas em 2016 a China passou a ser o principal investidor no continente, com 12 biliões de dólares, seguido pelos Emiratos Árabes Unidos e só depois a Itália.
A China investe em África
Os EUA ‒ mas também a União Europeia ‒ têm a noção clara de que estão a perder a sua influência dominante nas economias africanas a favor da China, cujas empresas oferecem aos seus anfitriões condições muito mais vantajosas, além de construírem as infraestruturas de que estes países precisam. Até agora, cerca de 2.300 km de caminho-de-ferro e 3.300 km de estradas. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos e a União Europeia argumentam que os seus interesses estão ameaçados por movimentos armados ‒ como os Avengers, do Delta do Níger, atacando a Shell e outras companhias de petróleo, incluindo a ENI, responsável pelo desastre ambiental no Delta do Níger ‒ e procuram garantir uma crescente presença militar.
Acresce que o governo de Pequim está pronto, por exemplo, a lançar contratos de futuros de petróleo em yuans, moeda chinesa, com a sua possível conversão em ouro. Vários especialistas acreditam que essa medida pode mudar radicalmente as regras do jogo no mercado do petróleo, já que permitirá aos exportadores de matérias-primas evitar o uso do dólar norte-americano. Tomando em conta que a China é o maior importador de petróleo do Mundo, os contratos de futuros em yuans têm todas as hipóteses de se tornarem o novo padrão no mercado (nota – um “contrato de futuros” é um acordo que obriga as partes a comprar ou vender um activo por um preço fixo e a ser entregue num prazo fixado antecipadamente).
Esta atitude diferente da República Popular da China não a torna menos predadora das riquezas naturais do continente africano do que o são as outras grandes potências, as quais contribuem, em conjunto, para a delapidação de riquezas naturais de que as populações dos países de África se estão a ver privadas de usufruir, nomeadamente para desenvolver em benefício próprio uma base industrial nacional com condições de concorrência internacional, incluindo no mercado das dívidas que sobre eles pesa.



Uma sociedade em mudança, entre progresso e miséria


 


2. No que respeita à União Africana, o seu Conselho da Paz e Segurança (CPS) alertou para a urgência de medidas que promovam a liberdade de circulação de pessoas, mercadorias e serviços com vista à integração regional e continental dos países. Aprovada em 2016 a introdução de um passaporte africano, países como o Benim, Gana, Mauritânia, Ruanda e Seychelles, começaram já a conceder vistos de entrada à chegada de cidadãos africanos.


3. Em 2016 viviam em África cerca de 1200 milhões de pessoas em 54 países, 35 dos quais classificados como «países menos desenvolvidos» do mundo. No início de 2016, ¼ da população continuava a sofrer de fome e desnutrição, mas 81% da população usava telemóveis com recurso à internet em apenas 15% dos casos.
 
Fome: a chaga que permanece em África, mais que noutros cantos do mundo




Direitos, um breve balanço




Em 15 anos houve redução da pobreza extrema mas o crescimento económico médio de 5% não teve correspondência com a redução do desemprego, disfarçado pela economia informal.
Esse crescimento assentou na exploração dos recursos naturais por terceiros, que permitiu maior proliferação da corrupção ao nível dos decisores políticos. Já referimos que ela se tornou numa chaga, alimentada pelas potências exploradoras que nela têm um «seguro de vida» para a sua actividade predadora. Depois do período pós-independências torna-se evidente que cada povo tem de resolver este problema de forma eficaz, para garantir o desenvolvimento, um significativo atenuar das grandes assimetrias e um exercício mais democrático do poder.
O ensino dos primeiros anos de escolaridade foi atingido em quase todos os países, a
Progressos no ensino
mortalidade infantil reduziu-se nuns casos e piorou noutros, com um saldo global positivo.
Mas os direitos das mulheres ficaram muito aquém das necessidades, incluindo no acesso à saúde reprodutiva. E o acesso a água potável e saneamento só progrediu no Norte de Africa e na sua parte mais meridional. O que iremos referir são apenas situações pontuais de alguns países e situações a que – subjectivamente, talvez – atribuímos maior significado.


África, região a região



Não é fácil fazer o agrupamento destes países em conjuntos que apresentem consistentes homogeneidades, particularmente porque o desenho deles resultou de uma herança dos ex-colonizadores, nos finais do século XIX, baseada em interesses conjunturais próprios destes. Seguindo uma nomenclatura aceite pela ONU, o continente pode ser dividido em cinco regiões principais: o Norte da África, a África Ocidental, a África Centro-ocidental, a África Oriental e Centro-oriental e a África Meridional. Mas um país pode ser referido num agrupamento que não é o seu devido a identidades próximas. Procuramos reportar-nos a 2017.


Norte de África



4. O Norte da África, que os geógrafos também chamam de África Setentrional e de África do Norte, é a maior região do continente em extensão territorial. Comporta três subdivisões: os países do Maghreb, os países do Saara e o vale do Nilo.



O Maghreb



A palavra Maghreb, árabe, significa «pôr-do-Sol», ou seja, o ocidente. Os cinco países que compõem o Maghreb são Marrocos, a República Árabe Saráui Democrática (Saara Ocidental), a Argélia, a Tunísia, a Mauritânia e a Líbia. Na paisagem, os acidentes geográficos que mais destacam o Maghreb são a cadeia do Atlas, junto ao mar Mediterrâneo, e o gigantesco deserto do Saara. Este assume formas distintas: nuns casos predominam as superfícies pedregosas, são as chamadas hamadas; noutros são os mares de areia chamados ergs.

A distribuição da população é desigual: a densidade demográfica é grande em áreas de maior humidade. Nas áreas de deserto, a maioria da escassa população é formada por árabes e berberes. São adeptos do islamismo. Devido às condições naturais que não favorecem as lavouras, a agropecuária desenvolveu-se muito pouco, apesar de empregar muitos trabalhadores. Na agricultura mediterrânea, são cultivados vinhas, oliveiras, cítricos e tâmaras. É praticada a pecuária extensiva nas áreas de clima semi-árido. Esta desloca-se no deserto, sem destino próprio. A abundância de minérios destinados à exportação levou à implantação de uma diversidade de centros industriais destacados nos países do Maghreb, como Argel, Túnis, Oran, Casablanca, Rabat, Fez e Marraquexe. São algumas das cidades africanas de maior população e beleza.

A República Árabe Saaráui Democrática (RASD) prossegue a luta pelo reconhecimento da independência do seu território do Sara Ocidental, que considera ilegalmente ocupado por Marrocos desde 1976. Marrocos abandonou a Organização de Unidade Africana (OUA), que antecedeu a criação da União Africana (UA), por ter aceite que a RASD a integrasse. A actual UA continuou a integrar a RASD e Marrocos regressou à organização no ano passado. Os principais produtos económicos da Argélia são o petróleo e o gás natural, sendo que o país também faz parte da OPEP como membro desta organização internacional. Marrocos e a Tunísia exportam muitos fosfatos, que servem como matéria-prima para a indústria que fabrica fertilizantes.



 

Os países do Saara



 
A vastidão do deserto do Saara é a característica natural da qual fazem parte, na mesma sub-região, a Mauritânia, o Mali, o Níger, o Chade e a Líbia. O solo árido e o predominante clima desértico não são favoráveis às atividades económicas. A possibilidade de agricultura só existe junto dos oásis e em trechos de pequena extensão no litoral. Mas as riquezas minerais do subsolo são significativas em reservas de petróleo, gás natural, ferro e urânio.


Matérias-primas e energia: dos ex-colonizadores aos novos parceiros



Com 70% da sua matriz energética dependente do urânio, todo ele importado, a economia da França é muito dependente da região que um dia esteve sob seu domínio colonial. Do Sahel, a faixa mais perturbada do norte da África (Níger, Nigéria, Mali, Sudão e Chade), vem a maior parte do urânio que abastece as centrais nucleares do país. A Itália, por intermédio da ENI, estende a exploração de petróleo e gás natural pela Argélia, Líbia, Tunísia, Egipto, Quénia, Libéria, Costa do Marfim, Nigéria, Gana, República do Congo, Angola, Moçambique e África do Sul. A Turquia de Erdogan estabeleceu, recentemente, acordos de cooperação com o Sudão e o Chade, mas também com a Tunísia no Maghreb, na ordem das dezenas de milhares de milhões de dólares.



 

O vale do Nilo



O Nilo
Mesmo no encontro do Egipto com o Sudão, no deserto do Saara, o rio Nilo pode ser agregador de uma outra sub-região. Os rios Nilo Branco e Nilo Azul percorrem a totalidade do território destes países. O solo apresentado pelo vale do Nilo é de extrema fertilidade, permitindo a prática intensiva da agricultura. Por isso, a população do Egipto e do Sudão é muito maior do que no deserto do Saara. O Cairo é a maior cidade da África em população e uma das mais populosas do mundo, com mais de 11 milhões de habitantes. A indústria egípcia, ao invés da sua congénere sudanesa, tem maior desenvolvimento e diversidade, destacando-se as indústrias siderúrgica, eléctrica e têxtil, assim como as de produtos químicos e alimentares. No subsolo do Egipto e do Sudão encontram-se, também, reservas de petróleo e gás natural, além de ferro, fosfato e potássio.


A destruição dos estados: o Sudão e a Líbia




O Sudão foi o país mais martirizado nas últimas décadas.
Primeiro foi a guerra do Darfour. No seu lugar no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a China foi o principal aliado diplomático do Sudão. A China investe fortemente no petróleo sudanês. O país é o maior fornecedor de petróleo da China. As forças armadas do Sudão são equipadas com helicópteros, tanques, aviões de combate, bombardeiros, rockets e metralhadoras feitas na China. Durante décadas, a Rússia e a China mantiveram uma forte
A guerra no Darfour
parceria económica e estratégica com o país. Ambos se opuseram ao envio de tropas da ONU para o Sudão. A Rússia apoia firmemente a integridade territorial do Sudão e opôs-se à criação de um Darfour independente. Além disso, a Rússia é parceiro de investimento e o aliado político mais forte do Sudão na Europa. A Rússia considera o Sudão como um aliado global importante no continente africano.
Depois foi a secessão do Sul. Até 2011, quando o Sudão do Sul dele se separou através de referendo, o Sudão era o maior país da África e do mundo árabe. Foi um caso exemplar, com Israel e os EUA a dividirem o país para afastar a China, seu grande rival comercial, do sul do Sudão, mais rico em recursos. Apesar disso, o Sudão é, ainda hoje, o terceiro maior país da África (após a Argélia e a República Democrática do Congo) e o terceiro maior país do mundo árabe (depois da Argélia e Arábia Saudita).
A República do Sudão do Sul provou ser um estado não viável, criado por iniciativa de Washington após uma prolongada guerra civil de duas décadas, com um processo de transição entre 2003 a 2011, quando Juba foi reconhecido como país independente pela ONU e pela UA. Mas depois disso, o país mais novo do mundo começou a ser destruído no conflito entre o presidente Salva Kiir e o ex-vice-presidente Reik Machar. A situação no Sudão do Sul tornou-se um grande desastre humanitário, além de ser uma ameaça à segurança regional em toda a África Central e Oriental. Numerosas tentativas de organizações regionais para obter um cessar-fogo entre as duas facções em guerra do Movimento de Libertação do Povo do Sudão (SPLM) e o SPLM na Oposição (SPLM-IO) foram difíceis.
No que respeita à Líbia, depois da criminosa intervenção da NATO, em 2011 o país passou de uma sociedade em prosperidade crescente e florescente, com um modelo de sociedade de que as potências ocidentais desconfiavam, para um país pobre, entregue a bandos criminosos rivais. Nos últimos anos, a Líbia tem estado cada vez mais dividida e ingovernável. Alastrou a guerra entre facções rivais pelo controlo do petróleo, ao mesmo tempo que aumentou a ingerência estrangeira. Aviões norte-americanos chegaram a bombardear Sirte e a Itália enviou militares para o terreno. Tropas do general Khalifa Haftar, ligado às autoridades de Tobruk, no Leste, conquistaram quatro terminais do «crescente petrolífero» líbio, uma zona estratégica para a economia do país, até agora controlada pelo Governo de Unidade Nacional (GUN), com base em Trípoli e apoiado pelos EUA e aliados. No sentido de se caminhar para a recriação do estado líbio, a Rússia tem estado a fazer contactos com os dirigentes dos dois grupos que partilham entre si a administração do país para conversações entre ambas as partes com esse objectivo.
A União Africana e a UE decidiram, na cimeira do mês passado em Abidjan, retirar com urgência os migrantes subsaarianos bloqueados na Líbia e à mercê das máfias. O presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, revelou que, com o apoio aéreo de Marrocos, França e Alemanha começaram por ser abrangidas 3800 pessoas, a maioria originária da África Ocidental, actualmente num campo perto de Trípoli. Muitos são jovens atraídos por uma vida melhor na Europa, que quando chegam à Líbia, sofrem prisões arbitrárias, roubos, exploração e até escravidão neste país sem Estado desde a intervenção da NATO em 2011. Mas neste caso, como noutros de migrantes económicos ou que fogem à guerra, UA, EU e a ONU têm que investir em planos de investimento que criem empregos a estes jovens nos países de origem.

 


Tunísia ou a esperança que renasce


 
Mas os acontecimentos mais recentes e mais significativos registam-se nos últimos dias na Tunísia onde uma revolta popular, com presença significativa de movimentos de esquerda e sindicatos, exige alterações das políticas económicas e sociais. A primeira das mudanças políticas ocorridas em vários países da região, designadas por “primaveras árabes”, impulsionadas pelo imperialismo, pode vir a ter importantes desenvolvimentos nas próximas semanas num sentido democrático.

Manifestações na Tunísia nos últimos dias


 

A África Ocidental



 

5. A África Ocidental está localizada entre o deserto do Saara e o golfo da Guiné e nela são abrangidos o Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.
Devido ao facto de se localizar entre o deserto e o golfo, o clima da região é do tipo equatorial. A vegetação é formada por savanas na parte setentrional e florestas na parte meridional, onde chove bastante. A densidade demográfica da África Ocidental é menor nas regiões sob influência do Saara e maior no sul. A Nigéria alberga cerca de 60% da população desta região. A principal atividade económica é a agricultura, alternada entre a agricultura de subsistência e a plantação de produtos que se destinam à exportação, como o café, cacau, amendoim, banana e outros. O petróleo continua a ser procurado em vários países pelas multinacionais. No Gana, está localizada a maior plataforma flutuante de produção e armazenamento da ENI para a exploração de depósitos offshore de mais de


40 mil milhões de metros cúbicos de gás e 500 milhões de barris de petróleo. Na Costa do Marfim, também a ENI comprou 30% de uma área offshore rica em hidrocarbonetos.




A ENI no Gana

Estado de guerra no Sahel



No Níger está instalada uma base militar francesa no aeroporto da capital, Niamey. Com 500 militares, caças Mirage 2000, aviões de transporte e drones. Macron na sua visita recente à região não pôde deixar de se referir a uma futura eleição «transparente e honesta», depois do actual presidente Mahmadou Issoufou ter sido eleito duas vezes consecutivas em eleições contestadas. Contestação que se prolongou também nos últimos três meses em manifestações contra a política do governo que reduz o poder de compra e contra a corrupção de que são acusados o presidente e a sua entourage.

No Sahel constituiu-se um G5, composto pelo Mali, Níger, Burkina Faso, Chade e Mauritânia (não inclui a Nigéria), que criaram uma força militar conjunta para combater uma crescente ameaça jihadista nesta região da África Ocidental. Esta força, composta por 5 mil militares, é dirigida pelos EUA (aspirante a força ocupante prolongada) e pela França (potência ex- e neocolonial). Em meados de Maio deste ano, o Senegal, fiel aliado do Ocidente, enviou uma força militar de intervenção rápida para a região central maliana. O novo chefe das operações de manutenção da paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix, em visita ao Mali, justificou a medida com «a situação de insegurança» que se mantinha. Esta presença militar provocou fortes reacções populares no Mali.
Os receios de Washington
 
Quanto ao papel dos EUA no Sahel, mais do que preocupações de segurança (o seu território fica longe…) o que existem são preocupações com a penetração da China nas economias africanas.


Togo, Camarões, Gana: motivos de esperança


 
Um forte movimento democrático no Togo, antiga colónia alemã e francesa, tem vindo a ser motivo de notícias desde 2016. O presidente Faure Gnassingbe tem estado no cargo há mais de uma dúzia de anos e a família Gnassingbe governou este estado, predominantemente agrícola, ao longo de mais de meio século. Durante meses, uma aliança de 14 diferentes partidos políticos e coligações organizou manifestações de massas e greves gerais. O governo respondeu usando tácticas repressivas de controle de multidões pelas forças de segurança, além de prender os líderes da oposição. Duas formações têm sido proeminentes na resistência recente: a Aliança Nacional para a Mudança (ANC), liderada por Jean-Pierre Fabre; e o Partido Nacional Pan-Africano (PNP) liderado por Tikpi Atchadam. Ao todo, houve 16 mortes de manifestantes.
Manifestações no Togo contra a política da família Gnassingbe

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), presidida por Lomé, não tem querido desempenhar o papel de mediador, embora tenha feito declarações a exigir a reconciliação nacional a que o regime não respondeu nem à necessidade de reformas fundamentais. Já o Gana tem desempenhando esse papel uma vez que tem um interesse direto na prevenção de uma crise mais profunda que poderia levar ainda mais pessoas a atravessar a fronteira para a antiga colónia britânica.
Nos Camarões, país francófono entre outros de língua inglesa, houve no ano que passou uma série de greves gerais em grande parte resultantes das divisões herdadas de um estado que sofreu o colonialismo alemão, francês e britânico nos séculos XIX e XX. As pessoas nas regiões noroeste e sudoeste do país, onde o inglês é a língua predominante, protestaram contra invocadas práticas discriminatórias nos sistemas educativo e jurídico. A incapacidade da burocracia estatal pagar aos professores os seus salários levou a manifestações e greves nas regiões francófonas dos Camarões. Há professores que nunca receberam salários no ensino público, apesar de a produção e exportação do petróleo representarem cerca de 40% do PIB. Ineficiências, corrupção e roubo no aparelho do Estado com a conivência da camada dirigente estão na origem destas situações.
Togo e Camarões são exemplares enquanto crises de governação que emergiram após a derrota do colonialismo na África Ocidental. São situações que só poderão mudar com a ascensão, a partir de uma base popular, de partidos e dirigentes que coloquem a melhoria das condições de vida dos seus povos acima dos interesses de classe estreitos dos instalados nos aparelhos de estado e governos bem como de outros grupos de interesses. Com um estado vizinho da República Federal da Nigéria, há o problema de Boko-Haram que espalhou os seus tentáculos para os Camarões. O governo está envolvido numa aliança militar regional para combater o grupo terrorista que organizou os seus ataques mais mortais no nordeste, a partir de 2009.
(continua).
 
Publicado originalmente em www.abrilabril.pt

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Viagem à Polónia

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.