Quando a agricultura virou agronegócio
S:ebastião
Pinheiro: “Quando a agricultura virou agronegócio, o agrotóxico deixa
de ser um problema da vítima e passa a ser a ideologia do dominador”.
Marco Weissheimer Brasil
Em um texto publicado em sua
página no Facebook, no último dia de 2017, o engenheiro agrônomo e
florestal Sebastião Pinheiro escreveu: “Comer é algo que precisamos
fazer várias vezes ao dia e muitas vezes fora de nossa casa para
garantir a saúde, qualidade de vida e cultura. No entanto, dia a dia há
uma escalada no medo e terror com consumo de alimentos venenosos,
tóxicos e de alto risco a longo prazo. É a maior ameaça à humanidade e à
evolução”. Ao longo das últimas décadas, em espaços como o Laboratório
de Resíduos de Agrotóxicos do Meio Ambiente e do Núcleo de Economia
Alternativa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Sebastião Pinheiro dedica sua vida a estudar as relações entre
agricultura, saúde e meio ambiente e a alertar a sociedade para as
graves consequências de um modelo agrícola baseado no uso intensivo de
agrotóxicos, transgênicos e outros insumos químicos.
Em entrevista ao Sul21,
Sebastião Pinheiro fala sobre o processo de transformação da
agricultura em agronegócio que, para ele, foi progressivamente deixando
de ser agricultura propriamente dita. “Agricultura é uma das palavras
mais lindas que existe e não significa cultivo somente. Ela envolve uma
cultura que tem uma espiritualidade, uma religiosidade, valores e a
natureza associadas a ela. A agricultura passou a ser agronegócio. Isso
foi um baque tremendo. Saiu a cultura e entrou o negócio. ? Foram
retirados valores da agricultura e agronegócio passou a significar só
dinheiro”, afirma. O pesquisador também avalia o crescimento da
agroecologia nas últimas décadas, reconhece avanços, mas alerta para
oportunidades que foram perdidas:
“A velocidade da evolução foi
prejudicada pelo freio de mão puxado. Essa evolução teria que ser
baseada, em primeiro lugar, em educação, não em mercado. A obrigação não
é a de produzir orgânicos para uma elite. O princípio deve ser: a
hortaliça orgânica tem que ser mais barata porque é melhor e é para
todos. Não é para uma elite. Isso é o revolucionário”.
Sul21: Qual
a avaliação que faz do cenário da agricultura hoje no Brasil,
especialmente no que diz respeito à sua relação com o meio ambiente?“A economia mudou de uma forma que assusta”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Sebastião Pinheiro: Aconteceram
alguns fenômenos interessantes no Brasil que, na minha visão, a gente
não tem ainda capacidade de analisar. A economia mudou de uma forma que
assusta. O meu campo de trabalho sempre foi a agricultura no meio
ambiente e o meio ambiente na agricultura. O que me interessa é só isso.
Essa relação também mudou muito. Tudo passou a ser diferente. Eu não
estou falando de injunções políticas, de resultado de eleições, deste ou
daquele partido. Estou falando de uma ideologia que passou a dominar
essas relações. Diante desse cenário eu decidi me retirar. Avisei o
pessoal: pulem fora porque a coisa vai ficar pior que na época entre 68 e
73. As perseguições agora são muito maiores, mas elas não são visíveis.
Você sente que elas estão acontecendo mas não as vê.
Sul21: É um processo mais difuso…
Sebastião Pinheiro: Sim.
Estão acontecendo coisas muito estranhas e estamos meio perdidos. A
própria agricultura mudou de nome. É uma das palavras mais lindas que
existe e que não significa cultivo somente. Ela envolve uma cultura que
tem uma espiritualidade, uma religiosidade, valores e a natureza
associadas a ela. A agricultura passou a ser agronegócio. Isso foi um
baque tremendo. Saiu a cultura e entrou o negócio. O que é um negócio?
Do ponto de vista etimológico, significa a negação do ócio. “Agro
negação do ócio” é uma coisa meio estranha, né? Foram retirados valores
da agricultura e agronegócio passou a significar só dinheiro.
No agronegócio,
a alienação vai para um nível quase infinito e a consciência retrocede a
zero, ou menos alguma coisa. Quando a agricultura virou agronegócio, o
agrotóxico deixa de ser um problema da vítima e passa a ser a ideologia
do dominador. A FIESP, em São Paulo, tem hoje um departamento de meio
ambiente com cerca de 80 especialistas em agronegócio. Conheço pelo
menos uns seis deles. Todos eles são especialistas em agrotóxicos.
Sul21: Certamente não são especialistas no impacto dos agrotóxicos na saúde e no meio ambiente…
Sebastião Pinheiro:
São especialistas em vendas, em comércio e em detonar aqueles que
denunciam os impactos. Essa é uma luta justa, em igualdade de condições?
Não é. Esse é um dos problemas mais sérios que enfrentamos.
Sul21:
Essa troca de palavras (agricultura por agronegócio) e dos conceitos
associados a elas ocorreram em que período exatamente?
Sebastião Pinheiro: Em
meados da década de 80. A palavra “agronegócio” começou a ser usadas
nos Estados Unidos como “agrobusiness”. No Brasil, o “agrobusiness” será
traduzido como agronegócio. Quem trouxe essa palavra dos Estados Unidos
foi Ney Bittencourt, um agrônomo paulista, que era diretor de uma
multinacional criada no Brasil por cientistas norte-americanos para
vender sementes de milho híbrido. Ele escreveu um livro sobre o
“agribusiness”, publicado pela sucessora da Fecotrigo, aqui do Rio
Grande do Sul, chamada de Fundação da Produtividade, de Carazinho. Tive a
oportunidade de ler esse livro na época e pude me vacinar antes do
veneno vir.
“Nossa
economia depende hoje de um agronegócio que não é agricultura e que
está concentrado nas mãos de três grandes grupos transnacionais”. (Foto:
Guilherme Santos/Sul21)
A partir daí
tudo começou a mudar. Collor de Mello assume o governo no início dos
anos 90 com a ordem de consolidar esse cenário, o que acabou
acontecendo. Tornou-se um processo irreversível que chegou ao que temos
hoje. Há uma leitura dura e difícil a ser feita sobre esse processo.
Quanto o Rio Grande do Sul se desindustrializou nos últimos vinte anos?
Quanto a indústria representava do PIB gaúcho há vinte anos e quanto
representa hoje? Nossa economia depende hoje de um agronegócio que não é
agricultura e que está concentrado nas mãos de três grandes grupos
transnacionais, sendo a Monsanto o principal deles por causa da soja.
Hoje, uma safra ruim significa PIB negativo, pois não temos mais
industrialização. Vivemos uma realidade na agricultura tão dramática e
absurda que a mim assusta. Eu estudei e vive na Argentina e vi o que
aconteceu lá. Estou sempre no México e vejo o que acontece. E estou
vendo o que está acontecendo aqui no Brasil também.
Sul21: Em que sentido, exatamente, o agronegócio deixa de ser agricultura?
Sebastião Pinheiro: Para
falar sobre isso, gostaria de contar um pouco da história da soja que
está muito ligada ao automóvel. Não conhecemos essa história. Quem
introduziu a soja nos Estados Unidos foi Henry Ford que desenvolveu o
sistema de produção de automóveis em série. Henry Ford detestava a turma
do petróleo de Rockfeller e procurou um agrônomo, pois queria começar a
produzir combustível a partir do amendoim. Esse agrônomo disse que o
amendoim não era a melhor escolha, pois não permitia o uso de máquinas e
era um cultivo utilizado basicamente como alimento. Ao invés do
amendoim, ele sugeriu que Ford introduzisse nos Estados Unidos esse
feijão cultivado em países asiáticos, chamado de soja. Ford promove,
então, a introdução nos Estados Unidos de dez mil variedades coreanas,
chinesas e de outros países asiáticos. Ele não queria ficar na
dependência do petróleo.
Já no caso do
Brasil, a soja ingressou, de modo mais significativa como uma doação da
Fundação Rockfeller. As primeiras variedades têm nomes americanos como
Jackson, Lee, Kent. O Instituto Agronômico de Campinas vai se encarregar
de desenvolver a grande produção de soja no país. Em 1956, o Rio Grande
do Sul praticamente não tinha soja. Em 1960, o Estado passou a ter
cerca de 100% da soja nacional. Hoje tem 12%. Se chegou a ter 100 e hoje
tem 12 o que aconteceu? Ela se expandiu pelo Brasil e é preciso estudar
essa expansão. O fato é que a soja acabou se tornando um instrumento do
capital financeiro. Em torno dela, gira um esquema muito poderoso e
difícil de ser enfrentado. Hoje, ser ambientalista tornou-se algo
dolorido.
Sul21:
Há quantos anos você já está nesta luta como ambientalista e como
avalia a evolução, neste período, do debate sobre o uso de agrotóxicos?
“Não
há nenhum agrotóxico que não seja, na sua origem e na sua função
principal, uma arma militar”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Sebastião Pinheiro: Eu
comecei em 71, ainda na faculdade. Em 67 eu saí do Brasil e fui para a
Argentina. Na faculdade, um livro chamado “Primavera Silenciosa”, de
Rachel Carson, teve muita influência naquela época. É um livro fabuloso e
revolucionário para quem vai trabalhar com agricultura. Sobre o tema
dos agrotóxicos e de outros produtos usados na agricultura, gostaria de
fazer uma digressão. Em 1893, a Bayer desenvolveu um produto, feito a
partir de extrato de esterco bovino fermentado, que evitava doenças e
pragas, aumentando a produção. Em 1915, vinte e dois anos depois
portanto, o cientista alemão Fritz Haber desenvolveu uma arma para ser
utilizada na Primeira Guerra Mundial, que, como se sabe, foi uma guerra
de trincheiras. Era um grande ventilador na frente do qual eram abertas
garrafas com uma substância que ficou conhecida como gás mostarda. Haber
também foi o responsável pela descoberta da síntese do amoníaco,
utilizada para a fabricação de fertilizantes e explosivos
A partir deste
período, a ideologia militarista tornou-se dominante na indústria
química, estabelecendo uma relação sombria com a agricultura. Não há
nenhum agrotóxico que não seja, na sua origem e na sua função principal,
uma arma militar. Vou dar outro exemplo envolvendo a borracha
sintética. Toda borracha sintética tem que ter dentro dela, para não
fermentar. Esse fungicida é o mais utilizado em hortaliças e frutas. Eu
pergunto: é possível fazer uma campanha de conscientização junto aos
agricultores contra o uso do fungicida quando este é sustentado por uma
ideologia militarista? Não. Toda campanha que nós fizemos era uma
campanha de dar murro em ponta de faca. Conseguimos muitas coisas, mas
adiantou? Qual foi o efeito? É de ficar meio desacorçoado, para usar uma
palavra antiga.
Em 2016, a
Bayer lança o mesmo produto que lançou em 1893, com outro nome. Ele
agora se chama Serenade e é vendido como um produto ecológico,
propaganda que não havia lá em 1893. É o mesmo produto feito a partir do
Bacillus subtilis. Quanto custa o litro de esterco fermentado? 80
dólares. Em 1980, nós ensinamos esse processo aos agricultores, sem
apoio de ninguém, a não ser de alguns padres ligados à Teologia da
Libertação e de movimentos sociais como o MST, o MPA e Mulheres
Camponesas. Não houve nenhuma política pública de apoio a esse trabalho.
Nos anos 80
muito se falou e escreveu sobre o baculovirus. Deixamos de usar vários
venenos baseados nele. Por que paramos de utilizar? Quem fez o bloqueio?
Hoje todo o conhecimento sobre o baculovirus está na mão de grandes
empresas de biotecnologia, como Syngenta, Bayer e Monsanto. Como é que a
gente vai brigar com uma máfia dessas? Não estou falando do ponto de
vista do conhecimento, mas das estratégias de enfrentamento. São
estruturas corruptoras que impedem qualquer possibilidade de avançar.
Sul21:
E ainda temos o capítulo dos transgênicos. Recentemente, alguns artigos
publicados na imprensa internacional afirmam que essas grandes
corporações estariam começando a desistir desta tecnologia, pois não
estaria dando os resultados esperados. Isso está ocorrendo de fato?
“Estados
Unidos, Grã Bretanha, Austrália e Canadá fizeram um pacto para não
plantar trigo transgênico”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Sebastião Pinheiro: É
verdade. Há coisas muito estranhas e desconhecidas pela maioria das
pessoas sobre esse tema. Vou dar um exemplo. Estados Unidos, Grã
Bretanha, Austrália e Canadá são gigantes que detém o monopólio de trigo
no mundo. Esses países têm um pacto para não usar trigo transgênico,
criado há mais de vinte anos. Nunca foi plantada uma grama. A Monsanto
requereu ao USDA, o ministério da Agricultura americano, autorização
para plantar. O pedido foi negado. Por quê? Pelo acordo firmado pela
Câmara de Comércio Internacional do Trigo.
Sul21: Por que esse acordo foi firmado?
Sebastião Pinheiro: Porque
a União Europeia é o grande comprador do trigo deles e não aceita esse
tipo de tecnologia. Antes de ser uma briga relacionada à saúde, é uma
briga econômica e de tecnologia. O problema mais sério é esse. Você sabe
quem é o maior produtor de soja não transgênica hoje? Estados Unidos e
Inglaterra. A quem pertence a cadeia do algodão orgânico no mundo? Aos
peruanos ou cearenses que plantam algodão? Não. A cadeia do algodão
orgânico é dominada pela Alemanha que não planta um pé de algodão. E a
cadeia do café orgânico? Pertence aos mexicanos, peruanos, bolivianos ou
nicaraguenses. Não. Pertence aos mesmos norte-americanos, alemães,
ingleses e franceses.
Sul21: Aqui,
no Rio Grande do Sul, há um relativo crescimento da agroecologia nos
últimos anos. Temos a experiência do MST que se tornou o maior produtor
de arroz orgânico da América Latina. Como avalia essa capacidade de
resistência e de criação de um modelo de agricultura diferente deste
hegemonizado pelo agronegócio?
Sebastião Pinheiro: Entre
os anos 70 e 2000 nós tivemos o maior centro de agricultura orgânica do
planeta. As maiores autoridades alemãs estiveram aqui em Porto Alegre e
em várias cidades do interior. Lutz (José Lutzenberger) acompanhou um
catedrático alemão por essas andanças e eu fui junto. Quando ele viu,
num sábado, a feirinha ecológica da José Bonifácio, olhou para o Lutz e
disse: ‘Nós não temos isso na Alemanha’. Então o Elemar Schmitt, dos
moranguinhos, disse para ele em seu alemão colonial: ‘Nem vão ter nunca.
Vocês não têm mais futuro’. Eu só ri. É uma grande verdade. Eles não
têm como sair daquilo.
Naquele
momento, nós tínhamos não só a pretensão e a vontade, mas o exercício
para sair. No entanto, nós perdemos grandes oportunidades e
enfraquecemos por falta de visão. Tínhamos a cooperativa da Coolmeia, o
pessoal da Agapan, técnicos dentro do Ministério da Agricultura e muitas
outras pessoas trabalhando em outros espaços. Nós começamos a trabalhar
com o projeto de arroz orgânico do MST. Nós idealizamos com eles o
projeto da Bionatur Sementes Agroecológicas. Dizíamos na época: dentro
de 20 ou 30 anos, quem tiver uma semente agroecológica terá uma
importante trincheira de resistência. Só que aí vieram aquelas coisas
nossas gaúchas. Há sementes que só nascem no Sul, assim como há sementes
que só se multiplicam no Nordeste. Aqui na zona sul do Estado, onde
está a Bionatur, temos as sementes mais complexas que são as de
hortaliças. Desenvolver sementes de cebola e cenoura, por exemplo, é uma
coisa muito complicada. Mas o ideal é que essa capacidade que o gaúcho
tem de se organizar socialmente seja levada para outras regiões do país.
Poderíamos ter cinco bases brasileiras de produção de sementes
agroecológicas. Mas aí se decidiu fazer tudo aqui.
Sul21: Você não acha que houve uma evolução nos projetos de agroecologia nos últimos anos?
“A velocidade da evolução da agroecologia foi prejudicada pelo freio de mão puxado”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Sebastião Pinheiro:
Posso ser radical na resposta? Serei radical. A velocidade da evolução
foi prejudicada pelo freio de mão puxado. Essa evolução teria que ser
baseada, em primeiro lugar, em educação, não em mercado. Em segundo
lugar, a organização teria que ser estendida em nível nacional e não
ficar restrita a uma região. O Brasil tem 25 mil hectares de arroz
orgânico que é destinado para a merenda escolar. Uma das últimas
aberturas da colheita foi feita com a presença da presidente da
República. Mas o ideal seria que todo o Brasil fizesse isso. Este
projeto já tem mais de 20 anos. Posso estar sendo radical, mas creio que
deveríamos ter isso como pauta prioritária.
Sul21: Para fazer essa expansão nacional tem que haver políticas públicas de apoio, não?
Sebastião Pinheiro: Sim.
Essas políticas públicas deveriam ser a primeira exigência de quem é
organizador, o que não aconteceu. Se fizessem isso, aqui no Rio Grande
do Sul por exemplo, teria como enfrentar o Irga (Instituto Riograndense
do Arroz), que é um posto da Farsul, a Embrapa e todo o agronegócio.
Sul21: Você coloca a Embrapa neste pacote?
Sebastião Pinheiro: Sim,
não é brinquedo. A Embrapa como instituição ideológica é uma estrutura
de poder muito forte. Na Embrapa tem gente boa, assim como o Exército e a
Igreja, mas o poder está na mão de quem? Esse é o problema.
Sul21: Falando
em estruturas de poder, o agronegócio, enquanto conjunto de crenças e
valores, representa uma ideologia muito forte e enraizada na sociedade.
Agora mesmo, temos uma campanha publicitária na mídia dizendo que o
“agronegócio é pop”. Quais ideias e valores, na sua opinião, têm força
para se contrapor a essa ideologia na sociedade?
Sebastião Pinheiro: Uma
das coisas mais importantes que existiu no Rio Grande do Sul, no
trabalho da agricultura orgânica, foi a participação de técnicos junto à
sociedade como educadores. Isso é fundamental. Se você pretende
sensibilizar para elevar a consciência, precisa ter em mente que isso
envolve um projeto pedagógico. Sem isso não adianta. Se você conseguir
transformar essa sensibilização em consciência, ganha a guerra. Não há
poder no mundo que consiga parar uma sociedade consciente. Nós não fomos
capazes de fazer isso. É lógico que o poder das grandes transnacionais é
muito grande. O que eles gastaram de dinheiro nos últimos 30 anos em
propaganda na mídia é algo espantoso.
Para quebrar a
espinha dorsal deste modelo é preciso priorizar a agroecologia, não para
o mercado, mas para a saúde de todos. Esse é o biopoder camponês que o
MST tem a obrigação de criar. A obrigação não é a de produzir orgânicos
para uma elite. O princípio deve ser: a hortaliça orgânica tem que ser
mais barata porque é melhor e é para todos. Não é para uma elite. Isso é
o revolucionário. Mas se você disser isso hoje na feirinha da José
Bonifácio, corre o risco de ser apedrejado. A consciência, de um modo
geral, passou a ser o bolso. O MST tem aí um exemplo para dar não ao Rio
Grande do Sul ou Brasil, mas para o mundo, tanto para os indígenas
latino-americanos e de outras regiões do mundo como para os europeus.
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