JACOBIN
Estamos vendo uma reconfiguração da ordem mundial
Rôney Rodrigues
(...)
«O segundo ponto que quero destacar é que devemos ter cuidado ao imaginar que tudo é em benefício da classe capitalista. A classe capitalista está dividida em facções e a facção por trás do complexo industrial militar está muito feliz neste momento, o que não quer dizer que alguém que está na produção de alimentos esteja. É claro que todos os capitalistas tirarão vantagem, se puderem, de algo como a inflação de preços. Todo mundo está subindo os preços agora porque os demais estão fazendo isso.
EM
Isso é muito interessante, porque o neoliberalismo costuma ser pensado como um acordo político da classe capitalista internacional…
DH
O capitalismo industrial não era a luta de longo prazo do capitalismo porque poderia derivar no socialismo. Parte disso começou a surgir no final da década de 1960, quando a classe capitalista decidiu adotar uma forma de capitalismo onde isso não era possível. Essa forma de capitalismo era, é claro, a das finanças. Os banqueiros de investimento nas décadas de 1950 e 1960 tinham muito pouco poder e estavam tão desacreditados pelo que havia acontecido na década de 1930 que ninguém queria ouvi-los. Então eles começaram a ficar muito inquietos no final da década de 1960 e planejaram um golpe contra o capitalismo internacional dizendo que o capital financeiro governaria o galinheiro. E, efetivamente, o capital financeiro é o que impera agora.
Mas foi um movimento de classe que argumentou que a classe capitalista industrial era incapaz de controlar a situação adequadamente. Havia modelos privilegiados, sindicalização, partidos social-democratas e até comunistas. Toda essa configuração não era do gosto da classe capitalista. Então eles procuraram uma forma de capital que realmente lidasse com a questão trabalhista, com a questão nacional, com a globalização e todas essas coisas.
Os representantes do capital financeiro arquitetaram a desindustrialização dos Estados Unidos. Hoje, os Estados Unidos se beneficiam do capitalismo, mas se formos às cidades industriais destruídas em Ohio, veremos o vício em opioides que afeta populações inteiras. Uma coisa muito interessante é que o cálculo da riqueza nacional não incluía finanças, seguros e imóveis até a década de 1990. A partir de então, o Goldman Sachs poderia afirmar ser a instituição mais produtiva da economia dos EUA, porque ganha muito dinheiro sem fazer nada. Assim, Londres e Nova York aparecem de repente como as cidades globais onde toda a atividade acontece e os centros mais produtivos das economias, quando na verdade não estão fazendo nada.
é um ilustre professor de Antropologia e Geografia no Centro de Pós-Graduação da City University de Nova Iorque. Seu último livro é A Loucura da Razão Econômica (Boitempo).
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