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domingo, 31 de janeiro de 2010

PABLO NERUDA

A Grande Alegria


A sombra que indaguei hoje não me pertence.
Hoje tenho a alegria duradoura de um mastro,
a herança dos bosques, o vento dos caminhos
e um dia decidido sob a luz terrestre.

Não escrevo para que outros livros me aprisionem
nem para encarniçados aprendizes de lírio,
mas para simples habitantes que pedem
água e lua, elementos da ordem imutável,
escolas, pão e vinho, guitarras, ferramentas.

Escrevo para o povo, mesmo que ele não possa
ler minha poesia com seus olhos rurais.
Virá o instante em que uma linha, o ar
que alterou minha vida tocará seus ouvidos,
e então o camponês levantará os olhos,
o mineiro sorrirá partindo pedras,
o ferreiro limpará a fronte,
o pescador verá melhor o brilho
dum peixe que a palpitar lhe queima as mãos,
o mecânico, limpo, recém-lavado, cheio
de aroma de sabão, olhará meus poemas,
e dirão talvez:«Foi um nosso camarada».

Isso é bastante; é a coroa que busco.

Quero que à saída das fábricas e minas
estejam os meus poemas agarrados à terra,
ao espaço, à vitória do homem oprimido.
Quero que um jovem encontre na dureza
que constrói, com lentidão e com metais,
como um cofre, ao abri-la, face a face, a vida,
e mergulhando a alma toque as rajadas que fizeram
minha alegria, na altura tempestuosa.

2 comentários:

Manuel Veiga disse...

Neruda,Sempre!
abraço

São disse...

Neruda, gosto!
Bom dia.

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