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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Na Hora Da Nossa Morte ( novela, cont.)

DIÁRIO DE MARTA – 16


Rejuvenesço. Os versos de amor dos poetas ganham sentido. Posso dizer que é primavera, embora chova lá fora. Posso dizer que um sol me ilumina, embora seja lua cheia. Há quantos anos não sentia este fervor adolescente, a paixão não conhece a maturidade. Quando ela nos alcança nada se repete, tudo equivale à primeira vez. O Nuno é encantador, no sentido literal da palavra: obriga-me a cantar. Na sua companhia desato a palrar como uma criança. Não me surpreende com presentes caros, oferece-me objectos inúteis regateados na feira da Ladra, que me fazem sorrir e humedecer os olhos. Estes olhos que já choraram tanto. Estes olhos que somente viam negrume e desgosto.

DIÁRIO DO PROFESSOR RAMOS -6

O medo da morte é a resposta defensiva do meu corpo, corpo animal, corpo água, a parte dele que é a mente, imagina e converte a emoção do medo num pensamento, obscuro, primitivo, irracional, empenho-me no trabalho, diversifico as actividades, arranco com as mãos nuas as ervas daninhas do meu quintal, arranho a terra, e não paro de pensar que a terra comerá os meus ossos, corpo-terra, a finitude, meu horizonte, as insuportáveis dores que hão-de chegar, num dia, numa noite, que ninguém prevê, o médico ainda não se mostra preocupado, porque é meu amigo? eu sim, a morte dos outros é sempre a morte dos outros, a nossa é infinitamente mais consciente.

2 comentários:

cid simoes disse...

Diário 16 - Poesia!

Meg disse...

Zé,

Não sei porquê mas parece-me que conheço este professor Ramos...
Estou curiosa.

Beijo

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