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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
FILOSOFIAS MATERIALISTAS NA CHINA ANTIGA
A filosofia na China Antiga remonta a muitos séculos antes da nossa era, tal como na Índia. Muito antes de Tales de Mileto (considerado o primeiro filósofo grego), nos séculos X e IX os filósofos chineses haviam formulado os cinco princípios materiais: água, fogo, madeira, metal e terra, como elementos primários do mundo (Tales viria a decidir-se pela Água como primeiro princípio e elemento que compõe todas as coisas, inertes e vivas). O célebre Livro das mudanças (séculos IX e VIII A.C.) expõe a tese de que a substância material tsi (o ar ou o éter?) é o fundamento de todos os elementos (a substância). A mudança é a lei geral do mundo e da vida, mas nela não muda nunca um princípio único e universal: o tai-tsi, composto de dois opostos: o yan-tsi (ou tsi positivo: a força da luz, o sol, ou o princípio masculino); o yin-tsi (ou tsi negativo: a força das trevas,a lua, ou princípio feminino). Todas as coisas observáveis e não observáveis resultam da combinação destes contraditórios que se chocam e interpenetram mutuamente (original intuição da Dialéctica do mundo e da vida). Por aqui vemos como se aproximam as filosofias dos gregos das crenças dos chineses e indianos: os elementos materiais, a mudança ou o movimento perpétuo, a ordem ou harmonia das contradições (que permitem o movimento e a mudança). Teses materialistas. O desdobramento do tai-tsi (o universo) naqueles princípios opostos (yan e yin) originou a divisão do mundo em Céu (yan-tsi) e Terra (yin-tsi). As principais escolas surgem nos séculos VI-IV A.C., o confucionismo, o taoísmo e mohismo, a escola dos legistas, e outras. O taoísmo, escola de enorme importância na China, foi fundada pelo eminente pensador Lao-tsé (séculos VI-V A.C.), os seus discípulos reuniram as ideias do Mestre no famoso livro Tao to king (estão publicadas em português colectâneas de parábolas atribuídas a Lao-tsé), um fonte inesgotável de ensinamentos e de sabedoria. Importa realçar o conteúdo materialista destas ideias e desta notável escola. O tao é o princípio absoluto do universo; é, portanto, uma genuína categoria filosófica e é uma categoria materialista, pois que o tao é, existe, independentemente do pensamento humano, substancia e fundamento temporalmente anterior à existência do homem, é «mãe de todas as coisas», «princípio do Céu e da Terra», de nada mais depende senão dele mesmo (categoria filosófica de substância). Mas sendo, como é, o fundamento profundo de natureza material é, ao mesmo tempo, a lei universal, «uno», «multiforme», «permanente», e «mutável». Há aqui, portanto, um racionalismo inegável, isto é, a razão humana pode e deve interpretar a ordem do mundo. É tentador realizarmos uma aproximação com Heraclito, o grandioso filósofo grego, dito o «Obscuro» …O tao não é acessível aos sentidos, oculta-se (lembra-nos Heraclito!), não se encontra à superfície, somente se conhece através das coisas em que se materializa (descrição que abre uma porta para o misticismo, o que, de resto, viria a suceder), isto é, através da contemplação, um género de contemplação «profunda e pura». Seja como for (Apesar de algum idealismo) não há aqui lugar para Deus ou deuses, princípios espirituais puros que criassem e fizessem mover o mundo, ainda que a Lei (o tao) seja da ordem do racional, lógico, intelectual.
Haveria ainda que falar de Mo-Ti ou Mó-Tsé (479-381) e dos seus discípulos (mohistas) que defenderam ideias materialistas segundo as quais existe uma realidade independente dos sentidos mas que só pode ser percebida por meio destes (empirismo). Referência ainda a Yan-chu (295-335 A.C.), que fecundou o materialismo contido no taoísmo, recusando explicações que recorriam ao sobrenatural e à imortalidade da alma.
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