Lev Vygotsky
Lev Vygotsky (17 de Novembro de 1896-11 de Junho de 1934)
O psicólogo russo Lev Semionovitch Vygotsky foi descoberto nos meios académicos ocidentais depois da sua morte, causada por tuberculose, aos 37 anos. Pensador importante, foi pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interacções sociais.
Era filho de uma próspera família judia. Cursou Direito, Literatura e História. Se I. Pavlov foi o fundador da psicologia soviética e provavelmente de toda a psicologia científica, Lev S. Vygotsky foi o seu mais insigne continuador; é convencionalmente considerado fundador da psicologia construtivista, na qual, muito mais tarde, Jean Piaget viria a desempenhar um papel de renome mundial. Corrigiu a teoria dos Reflexos (Reflexologia) de Pavlov, moderando o seu excesso de fisiologia (fisiologismo na compreensão dos processos psíquicos), excesso de que se encarregou a psicologia soviética oficial; foi acusado de demasiado «subjectivismo», porém, na verdade, a sua obra, o seu pensamento, é um contributo pioneiro para o estudo da actividade dos sujeitos, as suas relações activas e sociais, as etapas de formação do intelecto; o «quantitativo» não mede toda a vida psíquica nem o cérebro (o sistema nervoso) dá conta, sem as interacções e a aprendizagem social (no e do meio), de todos os processos complexos de desenvolvimento do indivíduo.
Teve como colaboradores os eminentes psicólogos soviéticos, de categoria internacional, Alexandre Luria e Alexei Leontiev. No período estalinista a sua obra foi censurada. O seu livro Pensamento e Linguagem apenas em 1962 foi editado nos Estados Unidos.
Os seus interesses eram múltiplos, o genial cineasta Serge Eisenstein (Autor, entre outros, dos filmes «O Couraçado Potenkine, e Outubro) admirou a sua psicologia da arte.
Nos seus livros mais célebres constatamos com clareza a sua intenção de orientar sempre as suas teorias pelas linhas mestras do materialismo e do marxismo; por isso não se entende bem a censura de que foi alvo pelos estalinistas e pelo marxismo dogmático. O materialismo dialéctico -filosofia e psicologia- não reduz os fenómenos à actividade da matéria física (e fisiológica) mas realça e estuda os contextos sociais e ambientais em que os indivíduos desenvolvem a sua acção; os «reflexos» (reacções simples e condicionadas, estímulo-resposta) não explicam todos os processos sociais e psíquicos; o objecto não anula o sujeito. Encontramos em Marx apoio para estas teses. Eliminar o sujeito com a sua subjectividade é eliminar a diversidade, a diferença, a acção criadora humana.
Para Vygotsky, o que nos torna humanos é a capacidade de utilizar instrumentos simbólicos – exprimimos-nos através de mediações simbólicas, de um «capital» simbólico, como escreveu o sociólogo P. Bourdieu, o que, aliás, não fora negado de modo algum por I. Pavlov. Embora a nossa actividade possua bases bio-neurológicas, não seria humana se não fosse esse simbolismo que criamos na história humana (A Linguagem, em primeiro lugar, que I. Pavlov procurou explicar através da sua teoria do «Segundo Sinal»). Os jogos infantis constituem, segundo L. Vygostky, um bom exemplo :a vassoura que é um cavalo no jogo e no imaginário criador infantil. Os chimpanzés não se servem do pau da vassoura senão para derrubar bananas. Com o processo de interiorização, tornamos-nos capazes de transformar marcas externas em processos internos de mediação. O que nos torna humanos, segundo Vygotsky, é nossa imaginação.
Deste modo a aprendizagem da linguagem é uma etapa decisiva para nos exprimirmos e utizarmos em nossa vantagem os nossos próprios símbolos (de origem social).
A aprendizagem constitui, pois, um campo de estudo que se tornou fundamental nas explicações psicológicas; um dos conceitos mais importantes e inovadores forjados por L. Vygotsky é o de Zona de desenvolvimento proximal, que se relaciona com a diferença entre o que a criança consegue aprender sozinha e aquilo que consegue aprender com a ajuda de um adulto. A Zona de desenvolvimento proximal é, portanto, tudo o que a criança pode adquirir em termos intelectuais quando lhe é dado o suporte educacional devido; é hoje vulgarmente designado por etapa de desenvolvimento (Ver Jerome BRUNER). L. Vygotsky soube magistralmente dar um uso verdadeiramente dialéctico e marxista ao conceito de síntese. O autor define a síntese não apenas como a soma ou a justaposição de dois ou mais elementos, e sim como a emergência de um produto totalmente novo gerado a partir da interacção entre elementos anteriores.
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