a) Ou bem que definimos o psiquismo como uma actividade-ou qualquer outro termo análogo- essencialmente distinta da actividade nervosa que lhe corresponde. Neste caso, não há qualquer meio de evitar o dualismo espiritualista da «alma» e do «corpo», ou seja, o idealismo, no sentido marxista do termo. (...)
b) Ou bem que definimos, pelo contrário, o psiquismo como uma actividade que, na verdade, não é outra coisa senão actividade nervosa. Nesse caso, não há nenhuma forma de evitar a volatilização da psicologia em proveito das ciências biológicas. (...) acabará inexoravelmente por chegar a hora do total investimento do estudo do psiquismo humano na verdadeira psicologia materialista, quer dizer na neurofisiologia da actividade «psíquica». Certos intérpretes do pavlovianismo defenderam, no passado, este ponto de vista liquidacionista em relação a toda e qualquer psicologia entendida como ciência claramente autónoma em relação à fisiologia nervosa. Os prejuízos a que este fisiologismo conduziu, a sua esterilidade do ponto de vista psicológico, os danos que, ao fim e ao cabo, causou ao próprio materialismo (...), todos estes inconvenientes são tais que é lícito duvidar de que encontre, hoje em dia, adeptos entre quem anda bem informado, e usa, de facto o cérebro para pensar.
c) Só resta, então, uma solução: a de defender, ao mesmo tempo que se reafirma a unidade entre o aspecto psicológico e o fisiológico, o subjectivo e o objectivo, que a psicologia e a neurofisiologia não deixam, por isso, de ser ciências distintas a título definitivo porque estudam o objecto único que é o psiquismo sob duas ópticas diferentes. (...) a natureza exacta desta propriedade do psiquismo, que o distinguiria qualitativamente da actividade nervosa, se bem que não seja outra coisa senão esta, tem, até aqui, sido impossível de definir.»
Sève, Lucien, marxismo e a teoria da personalidade, vol.1, pp.43 a 6, Ed. Horizonte universitário, 1979
Questões:
1. O trabalho de António Damásio e sua equipa para esclarecer em que bases neirofisiológicas assantam as emoções, inclusivamente os actos morais (ver, por exemplo, o seu estudo do Caso Phineas Gage), tem sido de crucial novidade e importância.
2. A compreensão de que dispomos hoje do papel fundamental do sistema endócrino (glândulas) nas emoções é mais um contributo incontornável.
3. Nada disso, porém, nos pode desviar ou minimizar o papel das interacções entre os indivíduos singulares e concretos (historica e culturalmente concretos e determinados), a influência do meio sobre e com a hereditariedade ( atentos como estamos hoje mais à ontogénese do que à filogénese), a existência de um «capital simbólico» (universal, mas sempre também de classe social), etc.
4. O materialismo, que Marx reinventou em bases científicas, dispõe hoje de um património suficiente para se constituir como linha avançada das teorias científicas, da explicação da humanidade do homem.
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