Translate

quinta-feira, 26 de abril de 2012

A mistificação em torno do problema da Síria



Todos se lembram como a invasão do Afeganistão, do Iraque e da Líbia foi precedida por uma campanha despudorada de mentiras por parte da comunicação social ao serviço do grande capital para justificar aqueles actos de agressão.



Mas a campanha de mentiras em torno da Síria ultrapassa tudo o que já vimos e ouvimos em casos semelhantes podendo até tornar-se um “case study” de mistificação completa de uma situação a favor de desígnios inconfessáveis.



Manifestações a favor do regime mostradas na TV como manifestações a favor da oposição, crimes hediondos praticados por certos sectores da oposição ao regime apresentados como atrocidades do governo contra o povo.



Notícias de massacres de populações indefesas pelo regime que não passam de enfrentamentos de forças armadas da Síria com grupos terroristas infiltrados.



Vejamos alguns exemplos:



Um dos jornalistas da Al Jazeera que se demitiu daquela cadeia televisiva por ela praticar distorção dos factos, omissão da verdade e desinformação aberta, Ali Khashem, em entrevista ao canal russo “Rossia-24” conta que quando a delegação daquela televisão árabe de que ele fazia parte assistiu a uma manifestação de apoio a Bashar Assad em Hemah, no dia seguinte viu um jornal ocidental com uma fotografia dos manifestantes com a legenda:”Manifestação contra o regime de Assad”quando ele tinha lido cartazes empunhados por manifestantes dizendo “Apoiamos o presidente Assad”



(“Al Jazeera: guerra de informações”- jornal electrónico Jasweek- 19 de Março de 2012).



Quando da reconquista de Homs pelo regime de Assad, todos se lembram da imagem repetida vezes sem conta pela TV de uma espessa nuvem de fumo sobre a cidade, alegadamente provocada pela artilharia do Exército sírio, mas ela não passava de um ataque de grupos terroristas contra a refinaria de Homs (Avante, 15-3-2012).



Casos como estes podiam citar-se às centenas ao longo dos meses desde que começaram os enfrentamentos entra forças do regime e os grupos terroristas.



Muita gente acredita na falácia de que os grupos armados de resistência ao regime são formados por elementos da população revoltados e desertores do Exército sírio.



No entanto, o jornal electrónico Pravda.ru de 30.3.2012 cita um ex-reporter da Al Jazeera que afirmou que militantes especialmente vindos do Líbano tinham entrado na Síria nos primeiros dias da agitação em Daraa, em Março de 2011(…) Na sua entrevista com a Euronews o jornalista disse” que tinha pessoalmente visto dezenas de militantes atravessando ilegalmente as fronteiras entre a Síria e o Libano, em março de 2011”.



O mesmo jornal Pravda.ru de 8-3-2010 trazia um artigo extraído do site www.almanar.com.ib que citava o especialista sírio em assuntos estratégicos, Salim Harba, dizendo que na tomada do bairro de Baba Amro se verificou que os homens armados que ocuparam o bairro eram árabes, inclusive do Golfo, do Iraque e do Líbano e que entre eles havia agentes secretos do Catar e combatentes não-árabes do Afeganistão, Turquia e alguns países europeus, como a França.



Numa entrevista à rádio Kommersant, o ministro dos negócios estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que as armas e os combatentes entram na Síria através dos territórios do Líbano, Jordânia, Iraque e Líbia. Ele expressou a sua convicção que a Al Qaeda podia estar por detrás dos actos terroristas ocorridos a 17 e 18 de Março em Damasco e Aleppo(SANA-20-3-2012) . A Frente Al Nusra, um grupo jihadista que já havia reivindicado atentados na Síria, anunciou ter executado os ataques de Sábado em Damasco que mataram 27 pessoas e deixaram centenas de feridos -21 de Março de 2012 (www.noticias.terra.com.br).

Noutra ocasião Lavrov afirmou que foram infiltrados na Síria 15 mil combatentes estrangeiros. Como se pode acreditar que os actos terroristas que provocaram a morte de 3211 civis, 478 policias e 2088 membros do Exército e das forças de segurança ,realizaram 1560 sequestros, raptaram 931 desaparecidos e roubaram 2256 veículos do governo (Prensa Latina- 2.4.2012)foram praticados por inocentes cidadãos opostos ao regime de Assad?



Muita gente deve ter ficado chocada com a noticia dada pela Human Right Watch de que forças da oposição praticam atrocidade. A edição electrónica do jornal Público de 20.3.2012 dizia : A H.R.W diz ter recolhidos provas de sequestros, torturas e execuções cometidos por grupos armados ligados à oposição. A H.R.W. cita dezenas de vídeos colocados no youtube pelos próprios opositores(…) Em 18 dessas filmagens os detidos(das forças de segurança ou apoiantes do regime sírio) apresentam sinais físicos de tortura, com nódoas negras ou ferimentos com sangue.



No dia 14 de Abril de 2012 as edições electrónicas dos “jornais de referência” Público e El País titulavam: “ Síria: pelos menos oito pessoas morreram em incidentes violentos”( dando a entender que os culpados eram as forças armadas sírias);(Publico) “Dezenas de milhares de sírios desafiam nas ruas os disparos da policia” e mais adiante”as três mortes ocorreram nas cidades de Hama, Idleb e Deraa”.(El Pais).Qualquer destas noticias baseiam-se em informações dessa farsa intitulada “Observatório sírio de direitos humanos”(1)



(1)-O jornal electrónico “Pravda.ru” de 30.2.2012 referia-se a este observatório assim:”Um mítico centro de direitos humanos baseado em Londres, que não tem funcionários nem local de trabalho”. Mas é neste observatório que se baseia a informação” bem pensante” da propaganda ocidental.



Vejamos agora resumidamente o que dizia a agencia de informações síria SANA nesses mesmo dia 14 de Abril:



-Grupos de homens armados entraram na mesquita de al-Rashid(Alepo), ocuparam as zonas próximas e abriram fogo contra os civis e as forças de manutenção da ordem que não tinham nenhum tipo de armas.

-Dois agentes das forças da ordem foram mortos em Deraa. -Bandos terroristas raptaram um coronel e dois cidadãos em Hama e Idleb.

-Um grupo de terroristas armados assassinou um general em Adra(perto de Damasco).

-Na cidade de Mohassan, provincia de Deir Ezzor, um grupo de terroristas atacou um velório e disparou contra os presentes matando um jovem.

-Ataques armados contra dois autocarros com civis em Saraqueb(provincia de Idleb).

-Um grupo de terroristas queimou o centro médico de Guenins em Lattakia.



Note-se que em todas estas e outras noticias referidas pela SANA se dão os lugares exactos em que se passaram os acontecimentos e os nomes das vítimas.



Não é difícil de ver quem fala verdade e quem mente.



Uma última nota para mostrar a credibilidade que se pode dar às notícias veiculadas pela comunicação social ao serviço do imperialismo: o embaixador francês em Damasco, Erik Chevallier, acusou o ministro dos negócios estrangeiros da França, Alain Juppé, de ignorar as informações e distorcer os factos e as provas que ele enviava ao Ministério dos Estrangeiros, as quais contradizem o que é difundido pelos canais Ajjazeera, Alarabiya e a France -24.(Sana- 2 de Abril de 2012).



Concluímos com um trecho do artigo de James Petras no Diario.info de 25.3.2012:



“O assalto à Siria é apoiado por fundos, armas e treino estrangeiro. Devido às falta de apoio interno, contudo, para ter êxito, será necessária uma intervenção militar directa estrangeira. Por esta razão foi montada uma enorme campanha de propaganda e diplomática para demonizar o legítimo governo sírio. O objectivo é impor um regime fantoche e fortalecer o controlo imperial do Ocidente no Médio Oriente. No curto prazo, isto destina-se a isolar o Irão como preparativo para um ataque militar de Israel e dos EUA e, no longo prazo, eliminar outro regime laico independente amigo da China e da Rússia”.



O que dizer do patriotismo de parte da oposição síria que deseja que o seu país seja invadido e ocupado para servir interesses estrangeiros?



Por tudo isto, independentemente da avaliação que se faça do comportamento do governo sírio no seu conjunto, a nossa solidariedade está com um povo que defende o seu direito a viver em paz e sem dominação estrangeira.

Do site "Ciências Sociais"

Sem comentários:

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.