A aliança EUA/al-Qaeda na Bósnia
(exerto de um ensaio editado na GlobalResearch.ca, Outubro 17, 20011: Bosnia, Kosovo e agora Líbia: Os custos humanos do corrente conluio com terroristas)
by Peter Dale Scott
De modo análogo, as intervenções de Clinton na Bósnia e no Kosovo foram apresentadas como humanitárias. Porém, ambos os lados tinham cometido atrocidades nesses conflitos. Do mesmo modo que os media ocidentais, Washington desvalorizou as atrocidades cometidas por muçulmanos por interesse.
A maior parte dos americanos julga que Clinton enviou forças americanas para a Bósnia para fazer aplicar os acordos de paz de Dayton no seguimento de uma bem propagandeada atrocidade sérvia: o massacre de milhares de muçulmanos em Srebrenica. Graças a uma vigorosa campanha pela firma de relações públicas Ruder Finn, os americanos fartaram-se de ouvir coisas sobre o massacre de Srebrenica, mas bastante menos sobre as decapitações e outras atrocidades praticadas por muçulmanos que antecederam e ajudam a compreender esse massacre.
Um razão importante para o ataque sérvio a Srebrenica foi acabar com os ataques armados preparados a partir dessa base sobre as aldeias vizinhas: “fontes de informação indicaram que foi esse o tormento que precipitou o ataque sérvio aos 1500 sitiados muçulmanos no interior do enclave.”27 O general Philippe Morillon, comandante das tropas da ONU na Bósnia de 1992 a 1993, testemunhou ao TICJ (Tribunal Internacional Criminal para a antiga Jugoslávia) que as forças muçulmanas baseadas em Srebrenica tinham “desencadeado ataques durante as festas ortodoxas e destruído aldeias, massacrando todos os habitantes. Isto criou um nível de ódio na região absolutamente extraordinário.”28
De acordo com o Prof. John Schindler, entre Maio e Dezembro de 1992, as forças muçulmanas atacaram repetidamente aldeias sérvias à volta de Srebrenica, matando e torturando civis, sendo alguns mutilados e queimados vivos. Até relatos pró-Sarajevo concedem que as forças muçulmanas em Srebrenica assassinaram mais de 1.300 sérvios e tinham “limpo etnicamente uma vasta área.”29
O antigo embaixador americano na Croácia Peter Galbraith admitiu mais tarde numa entrevista que o governo americano estava ciente de que “pequeno número de atrocidades” tinham sido cometidas por mujahedin estrangeiros na Bósnia, mas desvalorizou as atrocidades como “estando na ordem natural das coisas e sem grande importância.”30
Outras fontes revelam que Washington deu luz verde tácita ao armamento da Croácia e ao aumento da presença muçulmana em Srebrenica.31 Em breve, aviões Hercules C-130, alguns mas não todos iranianos, lançavam armas para os muçulmanos, violando o embargo internacional de armas que os EUA oficialmente respeitavam. Do mesmo modo, chegaram mais mujahedin árabe-afegãos. Muitas das descargas aéreas e parte dos mujahedin estavam em Tuzla, a 70 km de Srebrenica.32
De acordo com The Spectator (Londres), o Pentágono usava outros países, como a Turquia e o Irão neste movimento de armas e combatentes:
De 1992 a 1995, o Pentágono apoiou a movimentação de milhares de mujahidin e outros elementos islâmicos da Ásia Central para a Europa, para combaterem ao lado dos muçulmanos bósnios contra os sérvios. Como parte do inquérito do governo holandês ao massacre de Srebrenica de Julho de 1995, o Professor Cees Wiebes da Universidade de Amesterdão compilou um relatório intitulado “A Espionagem e a Guerra na Bósnia”, publicado em Abril de 2002. Nesse relatório, é detalhada a aliança secreta entre o Pentágono e grupos islâmicos radicais do Médio Oriente e o esforço de apoio aos muçulmanos da Bósnia. Em 1993, houve grande quantidade de contrabando de armas através da Croácia para os muçulmanos, organizado por “agências clandestinas” dos EUA, da Turquia e do Irão, em associação com uma série de grupos islâmicos que incluía os mujahidin afegãos e o Hezbollah pró-iraniano. As armas compradas pelo Irão e pela Turquia com apoio financeiro da Arábia saudita eram aerotransportadas do Médio Oriente para a Bósnia – transportes aéreos com os quais, segundo Wiebes, os EUA estavam “muito intimamente envolvidos”.33
O detalhado relatório de Cees Wiebes, baseado em anos de pesquisa, documenta tanto o caso da responsabilidade americana, como o seu vigoroso desmentido:
Às 17.45 de 10 de Fevereiro de1995, o capitão norueguês Ivan Moldestad, piloto de um destacamento de helicópteros norueguês (NorAir), estava à porta do seu alojamento temporário nas imediações de Tuzla. Estava escuro e de repente ouviu o ruído de hélices de um aparelho de transporte aéreo aproximando-se, indiscutivelmente um quadrimotor Hercules C-130. Molestad notou que o Hercules era escoltado por dois caças a jacto, embora não conseguisse ver exactamente de que tipo no meio da escuridão. Houve outros avistamentos deste voo secreto nocturno para a base aérea de Tuzla. Uma sentinela de guarda fora da unidade médica norueguesa da ONU em Tuzla também ouviu e viu as luzes do Hercules e os caças a jacto da escolta. Outros observadores da ONU utilizando equipamento de observação nocturna também viram o avião de carga e os respectivos caças. Foram imediatamente enviados relatórios ao Centro de Operações Aéreas Combinadas (COAC) da NATO em Vincenza e à UNPF em Nápoles. Quando Moldestad telefonou para Vincenza, disseram-lhe que não tinha havido nada no ar nessa noite e que devia estar enganado. Ao insistir, a ligação foi interrompida.
Os voos secretos dos aviões de carga C-130 e os lançamentos nocturnos de armas sobre Tuzla provocaram grande agitação dentro da UNPROFOR e na comunidade internacional em Fevereiro e Março de1995. Quando interpelado, um general britânico respondeu com grande segurança sobre a origem dos fornecimentos secretos através da base aérea de Tuzla: “Foram fornecimentos de armas americanos. Não há dúvida a esse respeito. E estiveram envolvidas nesses fornecimentos companhias privadas americanas.” Não foi nenhuma resposta surpreendente, porque este general tinha acesso a informações recolhidas por uma unidade dos Serviços Aéreos Especiais (SAE) britânicos em Tuzla. Os aparelhos tinham ficado dentro do alcance do equipamento especial de visão nocturna desta unidade e os britânicos viram-nos aterrar. Era uma confirmação de que tinha tido lugar uma operação clandestina americana, na qual armas, munições e equipamento de comunicações militares foram fornecidos ao exército da Bósnia- Herzegóvina. Estas operações nocturnas provocaram bastante consternação na ONU e na NATO e foram objecto de inúmeras especulações.34
Wiebes indica a possibilidade dos C-130, alguns dos quais se disse terem descolado de uma base aérea americana na Alemanha, serem controlados por autoridades turcas.35 Mas o envolvimento americano foi detectado no meio do elaborado escamoteamento pelo facto dos aparelhos americanos AWACS, que deviam ter fornecido registo dos voos secretos, ou terem sido retirados de serviço na altura conveniente ou sido conduzidos por tripulações americanas.36
O Guardian publicou um resumo do exaustivo relatório de Wiebes:
O relatório holandês mostra como o Pentágono criou uma aliança secreta com grupos islâmicos numa operação do estilo Irão-contra.
Os grupos de espionagem americano, turco e iraniano trabalharam com os islâmicos naquilo que o relatório holandês designa a “via croata”. As armas compradas pelo Irão e pela Turquia e financiadas pela Arábia Saudita eram enviadas através da Croácia inicialmente pela linha aérea oficial iraniana Iran Air e mais tarde numa frota de aviões Hercules C-130 negros.
O relatório refere que os combatentes mujahedin eram igualmente enviados e que os EUA estavam “muito intimamente envolvidos” na operação que se desenrolava em flagrante violação do embargo. Refere também que os serviços secretos britânicos obtiveram documentos provando que o Irão preparou igualmente fornecimentos de armas directamente para a Bósnia.
A operação foi promovida pelo Pentágono, em vez da CIA, que era cautelosa quanto à utilização de grupos islâmicos para canalizar armas e quanto à violação do embargo. Quando a CIA tentou colocar o seu pessoal no terreno na Bósnia, os agentes foram ameaçados pelos combatentes mujahedin e pelos iranianos que os treinavam.
A ONU confiava na espionagem americana para o controle do embargo, dependência esta que permitiu a Washington manipulá-la à vontade.37
Entretanto, o Centro al-Kifah em Brooklyn, que nos anos 80 tinha apoiado os “árabes-afegãos” combatendo no Afeganistão, virou a sua atenção para a Bósnia.
A folha de imprensa em língua inglesa do al-Kifah de nome Al-Hussam (A Espada) começou também a publicar actualizações regulares sobre a acção jihadista na Bósnia. Sob controlo dos apaniguados do xeque Omar Abdel Rahman, a folha incitava agressivamente os simpatizantes muçulmanos a aderirem eles próprios à jihad na Bósnia e no Afeganistão…. As instalações do ramo al-Kifah bósnio em Zagreb na Croácia, instalado num moderno edifício de dois andares estavam evidentemente em comunicação próxima com a sede da organização em New York. O director da delegação de Zagreb, Hassan Hakim, admitiu receber todas as ordens e fundos directamente dos escritórios centrais da al-Kifah nos EUA na Atlantic Avenue, controlada pelo xeque Omar Abdel Rahman.38
Um dos monitores na al-Kifah, Rodney Hampton-El, dava assistência a este programa de apoio, recrutando combatentes das bases do exército dos EUA como Fort Belvoir, treinando-os também em New Jersey para a guerra.39 Em 1995, Hampton-El foi julgado e condenado pelo seu papel (juntamente com o chefe da al-Kifah, o xeque Omar Abdel Rahman) na conspiração para fazer explodir símbolos nova-iorquinos. No tribunal, Hampton-El testemunhou ter pessoalmente recebido milhares de dólares para este projecto do príncipe da coroa saudita Faisal na embaixada saudita em Washington.40
Por esta altura, o actual chefe da al-Qaeda Ayman al-Zawahiri veio aos EUA para recolher fundos em Silicon Valley, onde foi recebido por Ali Mohamed, agente duplo americano e veterano das forças especiais do exército americano que tinha sido o instrutor principal na mesquita de al-Kifah.41 Quase de certeza, a recolha de fundos era para apoio aos mujahedin na Bósnia, segundo constava principal preocupação do seu chefe na altura (“A edição asiática do Wall Street Journal noticiava que em 1993 o sr. Bin Laden tinha nomeado o xeque Ayman Al-Zawahiri segundo comandante da al-Qaeda para dirigir as operações nos Balcãs.”) 42
O pormenorizado relatório de Wiebes e as histórias veiculadas nas notícias nele baseadas corroboraram anteriores acusações feitas em 1997 por Sir Alfred Sherman, conselheiro de topo de Margaret Thatcher e co-fundador do influente Centro de Estudos Políticos nacionalista de direita, de que “os EUA encorajaram e facilitaram o envio de armas para os muçulmanos via Irão e Europa de leste – facto que foi negado na altura em Washington, face a uma esmagadora evidência.”43
Era parte deste caso que a guerra na Bósnia era uma guerra americana em todos os sentidos da palavra. O governo dos EUA ajudou a iniciá-la, manteve-a e evitou o seu fim prematuro. De facto, todos os indícios são de que pretende prosseguir a guerra no futuro próximo, tão breve quanto os seus protegidos muçulmanos estiverem armados e treinados.
Especificamente, Sherman acusou o secretário de estado Lawrence Eagleburger de ter instruído em 1992 o embaixador americano em Belgrado, Warren Zimmerman, para persuadir o presidente bósnio Izetbegovic a renegar o acordo de preservação da unidade bósnia-croata-sérvia, aceitando em vez disso a ajuda americana para um estado bósnio independente.(...)
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