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sexta-feira, 30 de novembro de 2012


Aprovação não é fim do processo

por Octávio Teixeira [*]
O orçamento foi aprovado pela maioria PSD/CDS. Mas isso não é sinónimo de fim do processo orçamental.

A primeira palavra está agora nas mãos do Presidente da República pois lhe compete promulgar a lei (dando-lhe o seu acordo), pedir ao Tribunal a apreciação da sua constitucionalidade ou assumir o veto da mesma.

O Presidente da República poderá não ter a coragem de usar o veto por consubstanciar o uso da "bomba atómica" política, embora fosse uma consequência lógica de afirmações que tem feito. Designadamente quando, há cerca de um ano, dizia que já se estava a ultrapassar o limite dos esforços que poderiam ser exigidos aos cidadãos. Ora, é inequívoco que este orçamento agrava em muito esses sacrifícios.

Não vetando a lei, o Presidente tem o dever de suscitar a apreciação prévia da constitucionalidade. Múltiplos especialistas têm denunciado diversas inconstitucionalidades e acórdãos anteriores do Tribunal Constitucional dão-lhes cobertura doutrinária. Por exemplo, parece linear que não há cobertura constitucional para se impor uma tributação acrescida exclusivamente a um estrato populacional, tal como acontece com a "contribuição extraordinária de solidariedade" incidindo apenas sobre os reformados. É uma violação do princípio da igualdade idêntica à que levou o Tribunal a declarar a inconstitucionalidade do corte dos subsídios em 2012.

Mas se o Presidente resolver subjugar-se à vontade do Governo, é então obrigação indeclinável dos deputados da oposição requererem a apreciação sucessiva da constitucionalidade do orçamento, porque é excessivo e desigual nos sacrifícios e afunda o País na recessão, no desemprego e na pobreza. Passando a palavra ao Tribunal.

E a última palavra continua a pertencer aos cidadãos. 
27/Novembro/2012
[*] Economista

O original encontra-se em www.jornaldenegocios.pt/... 

sábado, 24 de novembro de 2012


FÁBULAS
Os Piratas
Os piratas sempre rondaram as costas de Portugal. Durante muitos séculos eram mouriscos, o que, de resto se compreende: boa parte deste território havia sido deles, terra lavrada, comércio laborioso, castelos e mesquitas, poetas e tolerantes califas. Foram expulsos à espadeirada, não sem muito esforço e muitas tréguas prolongadas. Netos e bisnetos por cá permaneceram, filhos da terra e de casamentos cruzados, tudo boa gente ao que se sabe, e no nosso caráter há de restar bastante.
Os seus primos, chamemos-lhes assim, os piratas, atravessavam o estreito e assediavam vilas e aldeias, em ladroeiras fulminantes e silenciosas, importunando menos os nobres, provavelmente, do que os servos e plebeus. Os nobres recolhiam-se em castelos bem fortificados e não há memória de assaltos em grande escala. Deste modo os pobres pescadores de cá conviveram, a custo pois claro, com os magrebinos, pouco deles se distinguindo na pele tisnada comum, nos olhos negros das mulheres, na melancolia das suas lamúrias.
Tempos vieram em que os piratas eram outros. Ingleses, americanos, alemães, arribaram por dentro e por fora, pelo mar e pelo ar, ricos, bem nutridos, loiros e olho azul, que logo se instalaram em magníficos palácios que os nobres indígenas escancararam com hospitaleiro servilismo. Alguns ficaram, outros partiram, sempre por turnos, sorvendo, deglutindo, ensinando, impondo acordos, ditando memorandos, sorvendo, deglutindo. As melhores peças de caça das coutadas reais, os melhores vinhos, as especiarias e esmeraldas, os marfins e o oiro. Proibiam, por força ou por manhas, a produção nacional, desta feita vendiam os seus produtos, emprestavam dinheiro para os indígenas os comprarem, recebiam juros e voltavam a emprestar, num círculo que apenas era virtuoso para eles. Em jantares opíparos, com os nobres indígenas sentados à sua direita, cantavam, roucos e lúbricos, canções estranhas das suas terras longínquas.
Certo dia, ou certa noite, quando soprava um vento agreste e as ondas rebentavam nas falésias, sobreveio um terramoto. A bem dizer não se sabe ainda hoje o que foi, se terramoto se outra coisa qualquer. Os fatos alteram-se conforme quem os conta. Sucedeu há tanto tempo que nenhum registo desse fado subsiste. Os meus avós desapareceram há muito. A minha avó, mulher de alma sã e mente lúcida, contava-me para eu adormecer, nas horas geladas dos invernos, sempre a mesma história, curta e incisiva:
“ Em tempos que já lá vão esta terra não era nossa. De quando em vez dragões repelentes e mortíferos brotavam do chão e desciam dos céus. Tinham por costume não ferir ninguém de morte, matavam pela fome, humilhavam pela miséria, saqueando searas, encerrando fábricas, escolas, hospitais, afugentando com línguas de fogo operários e empregados, esbulhando salários e pensões. Traziam uma doutrina e somente essa era permitida, inoculada nas mentes com subtis venenos. Assim foi até que um dia (ou noite, não se sabe quando) a atmosfera mudou subitamente, o ar tornou-se irrespirável, e os primeiros a fugir foram os dragões, logo seguidos em tropel espavorido pelos seus acólitos que falavam a nossa língua. Foi, pode-se dizer, um ar que se lhes deu!”
“E tu, avó, como conseguias respirar?- questionava eu do alto dos meus cinco anos de petiz.”
“Ora, eu e toda a gente que não era dragão nem filho dele, habituámo-nos depressa à nova atmosfera. Se sempre vivêramos com veneno, melhor vivemos sem ele!”
NOZES PIRES 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012



Pedro Gaião
Marx tinha razão quando previu a concentração capitalista galopante. É hoje um dos traços marcantes da globalização. Agora parece que acerta na previsão de que o capitalismo conduz à pauperização crescente dos trabalhadores. Estes são hoje remunerados por salários que tendem a assegurar a sua mera subsistência.
Dificilmente têm forma de contrariar esta situação face às políticas de austeridade e de confisco fiscal que lhe são impostas por governos legitimamente eleitos. Por sua vez, as altas taxas de desemprego pressionam mais os salários a descer. É esta a realidade que hoje se vive em países como Portugal, Grécia e Espanha. E outros virão certamente...
Se Marx  parece vivo, a via revisionista (social-democrata) que rompeu com o marxismo no fim do século XIX, com Kautsky e Bernstein ( o guru de Sócrates lembram-se?) vê-se hoje como nunca em causa. Bernstein contestou, precisamente, a teoria marxista do empobrecimento crescente do proletariado, já que os seus salários aumentavam gradualmente e o seu poder de compra melhorava no quadro do sistema capitalista.
Pode contra-argumentar-se  que defender hoje o renascimento do marxismo é manifestamente exagerado. Nos anos 1930, o capitalismo viveu uma das suas piores crises e reergueu-se anos depois. É verdade. Mas fê-lo precisamente com a receita do  aumento dos salários e o aprofundamento de um sistema de Estado de Bem-Estar Social.              
Se o modelo do enriquecimento contínuo dos trabalhadores, a primazia à qualidade de vida,  e o modelo do  Estado-Providência vigoraram até hoje, são eles, no entanto, que estão agora ameaçados porque os Estados deixaram de ter dinheiro (e riqueza capitalista acumulada) para os sustentarem.
A receita de hoje não parece poder ser a mesma dos anos 1930 e seguintes. A história deverá ser outra. A questão é saber qual. O capitalismo consegue sair do beco em que está criando  algo novo que o revitalize? Ou, como Marx previu, volta à rota de há 200 anos, a do seu estertor e aquilo que o revolucionário alemão anunciou que se seguiria depois, a revolução e a tomada do poder do Estado pelos trabalhadores empobrecidos   
Absorvidos com a chanceler Merkel e a contagem decrescente para as eleições legislativas alemãs de Setembro de 2013 (a partir das quais Merkel ficará menos condicionada pela opinião pública alemã para resolver o problema europeu), esquecemo-nos muitas vezes deste seu conterrâneo.  


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/esta-na-hora-de-pensar-noutro-alemao-marx=f768201#ixzz2Cr8Rsqac

segunda-feira, 19 de novembro de 2012


O socialismo utópico

Links para os escritos e biografias de utopistas e comentários marxistas sobre eles, e material em 20 movimentos utópicos do século e do uso de visões utópicas e distópicas da literatura e polêmicas políticas.

New Lanark
Utopia - literalmente "Nowheresville" - era o nome de uma república imaginária descrita por Thomas More em que todo o conflito social e de socorro tenha sido superada. Houve muitas versões de Utopia ao longo dos anos, muitas visões deles da sociedade socialista. Embora Marx e Engels definiram o seu próprio socialismo em oposição ao socialismo utópico (que teve muitos defensores no início do século XIX), que tinha um imenso respeito pelos socialistas utópicos grandes como Charles Fourier e Robert Owen.
Parte da rua mapa de idéia utópica
Ao descrever como as pessoas vivem, se todo mundo aderiu à ética socialista, o socialismo utópico faz três coisas: ele inspira os oprimidos para lutar e sacrificar por uma vida melhor, ele dá um significado claro para o objectivo do socialismo, e demonstra como o socialismo é ética , isto é, que os preceitos do socialismo pode ser aplicado sem excluir nem explorar ninguém.
Charles Fourier
O problema com o socialismo utópico é que ele não se preocupa com como chegar lá , presumindo-se que o poder de sua própria visão é suficiente, ou com que o agente da luta pelo socialismo pode ser, e, em vez de obter o seu ideal de crítica das condições existentes, que arranca a sua visão de readymade própria mente do criador. Mais de 40 versões do Utopia foram publicados entre 1700 e 1850. Engels faz uma menção especial de Morelly do Código de Natureza
Veja também Utopia na Enciclopédia do marxismo.
O desenvolvimento do socialismo utópico , Engels 1880 Os utopistas (1886) de William Morris

Os primeiros ideais utópicos

Platão
Platão (428-347 aC) escreveu A República em 360 aC, uma idealização de uma sociedade escrava com um rígido sistema de classes, divididas entre os filósofos, os guerreiros e plebeus. Justiça e estabilidade social foram asseguradas, porque todo mundo foi atribuído a uma estação na vida adequada aos seus interesses e virtudes. A estrutura da República era uma imagem de concepção de Platão sobre a estrutura do ser humano: o Espírito, Razão e Desejo.
Texto completo do A República do MIT (360 aC)
Thomas More
Thomas More escreveu Utopia , em 1515, a expectativa de um mundo de liberdade individual e igualdade regido pela razão, no momento em que tal visão era quase inconcebível.
"Na Utopia, onde todo homem tem direito a tudo, todos sabem que, se o cuidado de manter as lojas públicas completo, nenhum homem privado pode querer qualquer coisa, porque entre eles não há distribuição desigual, de modo que nenhum homem é pobre , nenhum em necessidade, e apesar de nenhum homem tem qualquer coisa, mas eles são todos ricos, pois o que pode fazer um homem tão rico como levar uma vida serena e alegre, livre de ansiedades ";
Texto completo do Thomas More Utopia (1515)
Veja Thomas More e sua Utopia , Karl Kautsky 1927 frente a Utopia de Thomas More William Morris 1893.
Francesco Patrizi
Com a Reforma na Alemanha e numerosas repúblicas independentes que gozam de liberdade no norte da Itália, moderno, idéias igualitárias foram se espalhando, e um número de idéias utópicas foram publicados no século XVI: - humanista Antonio Doni de eu mondi (1552), Francesco Patrizi da La città felice (1553) e Tommaso Campanella La Città del Sole (1602)
Fransic Bacon
Francis Bacon científica New Atlantis (1627) fala de uma "civilização perdida", que vive em perfeita harmonia e paz. Sua sociedade é dedicado ao acúmulo de conhecimento e do estudo da ciência e da natureza, sua divisão do trabalho estar semelhante ao de um moderno instituto de pesquisa, uma realização social do ideal da Razão.
O texto completo de Francis Bacon, Nova Atlântida (1626)
Toda utopia é, de facto, uma expressão, na linguagem das instituições sociais, da concepção do próprio criador da Razão.
Uma série de escritores cristãos expressaram sua visão da ética cristã em oposição à Igreja de seu tempo, na forma de utopias cristãs.Estes incluem Antangil de "IDM" (1616), Cristianópolis de Johann Valentin Andrae (1619), e o sexo Novae Solymae libri de Samuel Gott (1648).
Digger , Gerrard Winstanley descritos em detalhe um igualitária utopia em que um Parlamento eleito por sufrágio universal decide a lei, ea lei é imposta por pagar funcionários do Estado, todos devem trabalhar e igualitarismo é rigorosamente aplicada.
O texto completo das Gerrard Winstanley A Lei da Liberdade (1652)
James Harrington 's Riqueza-comum de Oceana (1656) foi baseada em universal de propriedade da terra e era uma república militante dedicado a espalhar seu sistema democrático para o resto do mundo. Visão de Harrington bem-intencionado quase o levou à prisão e Cromwell proibiram.
O texto completo de James Harrington Oceana (1656)
Com a aproximação da Revolução Francesa, obras como Gabriel de Foigny de Terre australe conue (1676) demonstrou as virtudes da liberdade. François Fénelon Télémaque (1699) exaltou a vida simples, um pouco no espírito de Jean-Jacques Rousseau estado de natureza , antes a propriedade privada introduziu desigualdade e ganância para a vida humana. L'an 2440 por Louis-Sébastien Mercier (1770) antecipou o revolucionário idéias da Revolução que se aproxima.
Comte Claude Henri Saint-Simon 's (1760-1825) Cartas de um habitante de Genebra a seus contemporâneos (1803) propõe que os matemáticos e cientistas mais eminentes ser atribuída a responsabilidade para o governo.
Charles Fourier visão de utopia é baseado na supressão absoluta do individualismo em favor de um coletivismo que tudo permeia. Fourier foi provavelmente responsável por mais projetos utópicos destinadas a implementar suas idéias do que qualquer outro escritor. Veja o Charles Fourier Arquivo .

A Revolução Francesa

Há um sentido forte em que a Revolução Francesa foi uma experiência utópica. O decreto que estabelece o Calendário Republicano , começando como Pol Pot de Year Zero e dividir o dia em 10 horas, 1000 minutos, 100.000 segundo etc, dá um sabor desta utopia. Jean-Jacques Rousseau doDiscurso sobre a origem da desigualdade entre Homens e O Contrato Social (1762), desde os princípios da razão em que a Constituição poderia ser fundada. O terror que foi o resultado de um projeto tão utópico foi tomada por muitos pensadores (Hegel, por exemplo, naFenomenologia do Espírito ) como uma advertência contra todas as formas de utopia. Observações semelhantes foram feitas sobre a Revolução Russa, mas que seria mais certo dizer que utopismo é um elemento de cada mudança social progressista e cada revolução.
Étienne Cabet
GA Ellis New Britain (1820) e Étienne Cabet do Voyage en Icarie (1840) expressa a visão das comunidades seculares experimentais nos Estados Unidos.

Utopia como Sátira

Da mesma forma, as repúblicas imaginárias foram utilizados para a finalidade de fazer um ponto político em um caminho de volta com a mão. Jonathan Swift escreveu As Viagens de Gulliver (1726) satirizando a incompetência, hipocrisia e ganância da elite de sua época.
Sir Edward Bulwer-Lytton
Sir Edward Bulwer-Lytton (1803-1873), um membro da elite dominante na Inglaterra vitoriana e um alto funcionário colonial, escreveu A Raça Futura (1871) como uma paródia satírica do movimento americano utópico. Samuel Butler (1835-1902) escreveu o futurista Erewhon (1872), em resposta, satirizando as injustiças da Inglaterra vitoriana, descrevendo uma sociedade em que todas as leis, prejuduces morais e concepções de ciência são transformadas em seu oposto.
O texto completo de Edward Bulwer É A Raça Futura (1871).
O texto completo de Samuel Butler Erewhon (1872).

Socialista Utopias

William Morris
Notícias de Lugar Nenhum , fala de uma sociedade que tem em algum sentido revertido para uma agricultura e artesanato. O interesse especial da história de Morris é que ele estabelece um cenário para a luta de classes em que as quebras de classe trabalhadora de "socialismo de Estado" ea concepção social-democrata de um "programa mínimo" de reformas graduais e um "programa de maxiumum" consignado para um futuro indefinido. News from Nowhere, oferece uma solução para atingir a democracia dos trabalhadores genuína.
O texto completo das Notícias de Lugar Nenhum , William Morris (1890).
Edward Beallamy
Edward Bellamy fala de uma van Winkle Rip que acorda no ano de 2000 para descobrir que o socialismo foi establised.Descrição Bellamy da sociedade socialista é provavelmente a expressão mais desenvolvida da visão social-democrata de progresso social. Por meio do dispositivo futurista Bellamy não apresenta uma república isolado para a imaginação, mas um mundo industrial moderno, que foi transformado pela cooperação socialista.
Olhando para trás, 2000-1887 , Edward Bellamy (1888).
HG Wells
No século 20, HG Wells estendeu a idéia utópica através do novo meio de ficção científica.
Uma Utopia Moderna (1905) não só apresenta as virtudes do socialismo, mas é uma reflexão sobre a tradição do socialismo utópico.
Texto completo do A Utopia Moderna , de HG Wells (1905)
Escrita utópico também tem sido utilizada para promover outras visões emancipatórias, tais como feminismo.
Veja Herland , Charlotte Perkins Gilman Stetson (1935)

Socialistas utópicos Experimentos

Robert Owen
Robert Owen (1771-1851) começou a colocar em prática as idéias utópicas pela construção de um município modelo chamado New Lanark baseado em suas próprias fábricas. Owen convenceu um grupo no caminho para a América a abandonar sua jornada e chegar a trabalhar em sua fábrica de vez. Os arredores, os salários e as condições e formação previstos para as crianças foi mais de um século à frente de seu tempo. (New Lanark é preservado como um local turístico.)
Uma Nova Visão da Sociedade , Robert Owen (1816)
New Harmony Robert Owen, fundada em os EUA em 1825 era uma cooperativa, em vez de sociedade comunista, patrocinou o primeiro jardim de infância, a escola primeiro comércio, a primeira biblioteca livre, eo primeiro suportada pela comunidade da escola pública em os EUA. Engels descreveu Salão Harmonia nos jornais Chartist em 1844:
Entre 1841 e 1859, cerca de 28 colônias foram estabelecidas nos Estados Unidos, por seguidores de Charles Fourier ( Le nouveau monde industriel , 1829).
Os icarianos, seguidores de Étienne Cabet , estabelecida malfadadas comunidades em Illinois, Missouri, Iowa, e na Califórnia. Após a Guerra Civil Americana o entusiasmo por seculares experimentos utópicos diminuiu.
"Nova Austrália" foi criado na década de 1890, quando 500 australianos socialistas liderados por William Lane foi para a selva paraguaia para fundar uma comunidade baseada em princípios socialistas, e seus descendentes vivem no Paraguai para este dia.
Ver o relatório desta experiência por William irmão Lane, Ernest Lane: A Experiência Cosme .
Havia outras tais assentamentos na década de 1890, inspirados por Laurence Gronlund É A Cooperativa Commonwealth (1884) e Bellamyolhar para trás , mas com a rápida expansão da Segunda Internacional em 1880, utopia deu lugar à política, o socialismo social-democrata.
Utópicas comunidades religiosas continuam a este dia, normalmente de curta duração, invariavelmente, centrada em torno de uma personalidade forte e seus discípulos, declinando após sua morte.

Twentieth Century Comunas

Grande Depressão (1930-1939) colocou milhões de trabalhadores para a sucata. Muitos se tornaram vagabundos itinerantes, outros voltaram para o crime insignificante, mas muitos aproveitaram a oportunidade para construir uma alternativa. Na Austrália e em outros países onde a terra estava disponível, centenas de comunas foram criadas, com base nos ideais comunistas e uma economia de subsistência. Apesar de conflitos de personalidade entre os seus líderes, muitas vezes de cabeça forte, muitos foram bem sucedidos. A polícia quebrou-se aqueles que não pode ser esmagado economicamente, e do início da Segunda Guerra Mundial trouxe o movimento ao fim.
Durante os anos 1960 e 70, comunas Hippy ("comunidades intencionais") foram criados em muitas partes do mundo. A maioria delas não eram graves experiências sociais e, mais foi vítima de conflitos de personalidade ou dependência exagerada em um indivíduo, mas alguns foram bem sucedidos e sobreviver em boa saúde até hoje. A geração mais jovem, educado nos " novos movimentos sociais "foi criado com técnicas sofisticadas para a resolução de conflito e consenso de tomada de decisão e trabalho bem.
Mais "comunidades intencionais" na existência hoje são baseados em variações de Pierre-Joseph Proudhon a economia política, variando de pouco mais do que aldeias fechadas para LETS (regimes de comércio local de emprego) escambo sistemas de trabalhador-cooperativas como Mondragon. A principal diferença entre esses projetos e comunismo, é que elas pressupõem um "opting-out" dos problemas da sociedade moderna, ao invés de qualquer tentativa de desafiar o poder do capitalismo multinacional. No entanto, aqueles que são bem sucedidos continuar a proporcionar uma contra-exemplo para a sociedade capitalista.

Distopia

O oposto de "Utopia" é "Dystopia" (como em "disfunção"). Visões distópicas são usados ​​para emitir alertas sobre os perigos da sociedade ou para demonstrar o absurdo da ideologia dominante do dia, seguindo a idéia até a sua "conclusão lógica".
George Orwell
HG Wells " Máquina do Tempo (1895) alertou para os perigos da crescente desigualdade e demonstrou os perigos da sociedade de classes, projetando as divisões de classe para a frente a seu limite.
Jack London
Romances distópicos apareceu ao longo do século XX. Entre estes estão o tacão de ferro (1907) por Jack London,Meu (1924) e Nós (1925) por Yevgeny Zamyatin, Brave New World (1932) de Aldous Huxley, e Nineteen Eighty-Four (1949), de George Orwell. O conceito de distopia é um tema freqüente de filmes como Matrix , Mad Max , etc
Aldous Huxley
Diz-se que hoje as pessoas acham mais fácil imaginar um desastre global que qualquer melhoria real das condições sociais, muito menos utopia. Então, Dystopia é uma arma eficaz ideológica, enquanto a desconfiança pós-moderna de progresso torna Utopias convincente para a maioria das pessoas em sociedades capitalistas modernas. Isto não foi sempre o caso, no entanto, e visões utópicas foram alavancas poderosas para a ação no passado.
Veja Utopia mínima: Dez Teses , Normas Geras (2000)

terça-feira, 13 de novembro de 2012


Auto-destruição sistémica global, insurgências e utopias

por Jorge Beinstein [*]
Aceleração da crise (mudança de discurso)

O fatalismo global abandona a sua máscara optimista neoliberal de outros tempos (que sobreviveu durante o período inicial da crise desencadeada em 2008) e vai assumindo um pessimismo não menos avassalador. No passado, os meios de comunicação explicavam-nos que nada era possível fazer diante de um planeta capitalista cada dia mais próspero (ainda que praguejado por crueldades), só nos restava a possibilidade de nos adaptarmos. Uma ruidosa massa de peritos asseverava as grandes orientações com argumentos científicos irrefutáveis (os críticos não se podiam fazer ouvidos frente à avalanche mediática). Isso foi chamado de discurso único, surgia como um formidável instrumentos ideológico e prometia acompanhar-nos durante vários séculos ainda que tenha durado umas poucas décadas e se tenha esfumado em menos de um lustro.

Agora a reprodução ideológica do sistema mundial de poder começa a chegar a um novo fatalismo profundamente pessimista baseado na afirmação de que a degradação social (estendida como resultado da "crise" ) é inevitável e prolongar-se-á durante muito tempo.

Tal como no caso anterior os meios de comunicação e sua corte de peritos explicam-nos que nada mais é possível fazer senão adaptar-nos (novamente) perante fenómenos universais inevitáveis. Tal como qualquer outra civilização, a actual em última instância controla os seus súbditos persuadindo-os acerca da presença de forças imensamente superiores às suas pequenas existências impondo a ordem (e o caos) perante as quais devem inclinar-se respeitosamente. O "mercado global", "Deus" ou outra potência de dimensão oceânica cumprem a referida função e seus sacerdotes, tecnocratas, generais, empresários ou dirigentes políticos não são senão executores ou intérpretes do destino, o que aliás legitima os seus luxos e abusos.

É assim que em Setembro de 2012 Olivier Blanchard, economista chefe do Fundo Monetário Internacional, anunciava que "a economia mundial precisará de pelo menos dez anos para sair da crise financeira que começou em 2008" [1] . Segundo Blanchard, o resfriamento duradouros dos quatro motores da economia global (Estados Unidos, Japão, China e União Europeia) obriga-nos a afastar qualquer esperança numa recuperação geral a curto prazo. Ainda mais duro, em Agosto do mesmo ano o Banco Natixis, integrante de um grupo que assegura o financiamento de aproximadamente 20% da economia francesa, publicava um relatório intitulado "A crise da zona euro pode durar 20 anos" [2] .

Encontramo-nos diante de um problema que as elites dominantes dificilmente podem resolver: a cultura moderna é filha do mito do progresso, repetidas vezes pode cativar os de baixo com a promessa de um futuro melhor neste mundo e ao alcance da mão, o que a diferencia de experiências históricas anteriores. As épocas de penúria são sempre descritas como provisórias, preparatórias de um grande salto rumo a tempos melhores. A reconversão da cultura dominante a um pessimismo de longa duração aceite pelas maiorias não parece viável, pelo menos é muito difícil realizá-la com êxito não só nos países ricos como também na periferia, sobretudo nas chamadas sociedades emergentes. Só populações radicalmente degradadas poderiam aceitar passivamente um futuro negro sem saída à vista, as elites imperialistas golpeadas, desestabilizadas pela decadência económica, sem projectos de integração social poderiam encontrar na degradação integral dos de baixo (os seus pobres internos e os povo periféricos) uma possível alternativa arriscada de sobrevivência sistémica.

Auto-destruição

O capitalismo como civilização entrou num período de declínio acelerado. Uma primeira aproximação ao tema mostra que nos encontramos perante o fracasso das tentativas de superação financeira da crise desencadeada em 2008, ainda que uma avaliação mais profunda nos levasse à conclusão de que o objectivo anunciado pelos governos dos países ricos (a recomposição da prosperidade económica) ocultava o verdadeiro objectivo: impedir o derrube da actividade financeira que fora a droga milagrosa das economias durante várias décadas. Desse ponto de vista, as estratégias aplicadas tiveram êxito: conseguiram adiar durante cerca de um lustro um desenlace que se aproximava velozmente quando desinchou a borbulha imobiliária norte-americana.

Uma visão mais ampla nos indicaria que o ocorrido em 2008 foi o resultado de um processo iniciado entre fins dos anos 1960 e princípios dos anos 1970, quando a maior crise económica da história do capitalismo não seguiu o caminho clássico (tal como o mostrado no século XIX e na primeira metade do século XX) com gigantescas quedas empresariais e uma rápida mega avalanche de desemprego nas potências centrais, e sim que foi controlada graças à utilização de poderosos instrumentos de intervenção estatal em combinação com reengenharias tecnológicas e financeiras dos grandes grupos económicos.

Essa resposta não permitiu superar as causas da crise, na realidade potenciou-as até níveis nunca antes alcançados, desencadeando uma onda planetária de parasitismo e de saqueio de recursos naturais que engendrou um estancamento produtivo global em torno da área imperial do mundo, impondo a contracção económica do sistema não como fenómeno passageiro e sim como tendência de longa duração.

Trata-se de um processo de decadência complexo. Basta repassar dados tais como o do volume da massa financeira equivalente a vinte vezes o Produto Mundial Bruto e seu pilar principal: o super endividamento público-privado nos países ricos que bloqueia a expansão do consumo e do investimento, o do declínio dos recursos energéticos tradicionais (sem substituição decisiva próxima) ou o da destruição ambiental. E também o da transformação das elites capitalistas numa teia de redes mafiosas que marcam o seu selo as estruturas de agressão militar, convertendo-as numa combinação de instrumentos formais (convencionais) e informais onde estes últimos vão predominando através de uma articulação inédita de bandos de mercenários e manipulações mediáticas de alcance global, "bombardeios humanitários" e outras acções inscritas em estratégias de desestabilização integral que apontam para a desestruturação de vastas zonas periféricas. Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria... México ilustram o futuro burguês das nações pobres.

A área imperial do sistema degrada-se e, ao mesmo tempo, tenta degradar, tornar caótico o resto do mundo quando pretende controlá-lo, super-explorá-lo. É a lógica da morte convertida em pulsão central do capitalismo tornado senil e estendendo seu manto tanático (sua cultura final) que é, em ultima instância, auto-destruição, ainda que pretenda ser uma constelação de estratégias de sobrevivência.

Cada passo das potências centrais rumo à superação da sua crise é na realidade um novo empurrão rumo ao abismo. Os subsídios concedidos aos grupos financeiros avultaram as dívidas públicas em conseguir a recomposição durável da economia e quando a seguir tentam travar o referido endividamento restringindo gastos estatais ao mesmo tempo que esmagam salários com o objectivo de melhorar os lucros dos empresários agravam o estancamento convertendo-o em recessão, deterioram as fontes dos recursos fiscais e eternizam o peso das dívidas. Frente ao desastre impulsionado pelas máfias financeiras levanta-se um coro variegado de neoliberais moderados, semi-keynesianos, regulacionistas e outros grupos que exigem a suavização dos ajustes e o estímulo ao investimento e ao consumo... ou seja, continuar a inchar as dívidas públicas e privadas... até que se recomponha um suposto círculo virtuoso de crescimento (e de endividamento) encarregado de pagar as dívidas e restabelecer a prosperidade... ao que os tecnocratas duros (sobretudo na Europa) respondem que os estados, as empresas e os consumidores estão saturados de dívidas e que o velho caminho da exuberância monetário-consumista deixou de ser transitável. Ambos os lados têm razão porque nem os ajustes nem as repartições de fundos são viáveis a médio praxo, na realidade o sistema é inviável.

As agressões imperiais quando conseguem derrotar os seus "inimigos" não conseguem instalar sistemas coloniais ou semi-coloniais estáveis como no passado e sim engendrar espaços caóticos. Assim é porque a economia mundial em declive não permite integrar as novas zonas periféricas submetidas, os espaços conquistados não são absorvidos por negócios produtivos ou comerciais medianamente estáveis da metrópole e sim saqueados por grupos mafiosos e por vezes simplesmente empurrados para a decomposição. Enquanto isso os gastos militares e paramilitares dos Estados Unidos, o centro hegemónico do capitalismo, incrementam o seu défice fiscal e as suas dívidas.

Fica assim a descoberto um aspecto essencial do imperialismo do século XXI em mutação rumo a uma dinâmica de desintegração geral de alcance planetário. Isto é advertido não só por alguns partidários do anti-capitalismo como também, desde há algum tempo, por um número crescente de "prestigiosos" (mediáticos) defensores do sistema como o guru financeiro Nouriel Roubini quando proclamava em meados de 2011 que o capitalismo havia entrado num período de auto-destruição [3] .

É um lugar comum a afirmação de que o capitalismo não ruirá por si só e sim que é necessário derrubá-lo. Em consequência, aqueles que assinalam a tendência para a auto-destruição do sistema são acusados de ignorar suas fortalezas e sobretudo de fomentar a passividade ou as ilusões acerca de possíveis " vitórias fáceis" que desarmam, distraem os que lutam por um mundo melhor.

Na realidade, ignorar ou subestimar o carácter autodestrutivo do capitalismo global do século XXI significa desconhecer ou subestimar fenómenos que sobredeterminam seu funcionamento, como a hegemonia do parasitismo financeiro, a catástrofe ecológica em curso, o declínio dos recursos naturais especialmente os energéticos catalisado pela dinâmica tecnológica dominante, a incapacidade da economia mundial para continuar a crescer, o que a leva a acelerar a concentração de riquezas e a marginalização de milhares de milhões de seres humanos que "estão a mais" do ponto de vista da reprodução do sistema. Em suma a entrada numa era marcada pela reprodução ampliada negativa das forças produtivas da civilização burguesa, ameaçando a longo prazo a sobrevivência da maior parte da espécie humana.

Presenciamos então uma subestimação de aparência voluntarista que oculta a devastadora radicalidade da decadência e, em consequência, a necessidade da irrupção de um voluntarismo insurgente (anti-capitalista) capaz de impedir que o derrube nos sepulte a todos. Dito de outra maneira, não nos encontramos diante de uma "crise cíclica" com alternativas de recomposição de uma nova prosperidade burguesa, ainda que seja elitista, e sim diante de um processo de degeneração sistémica total.

A história das civilizações recorda-nos numerosos casos (a começar pelo do Império Romano) em que a hegemonia civilizacional que conseguia reproduzir-se em meio a decadência anulava as tentativas superadoras engendrando decomposições que incluíam vítimas e verdugos.

A contra-revolução ideológica que dominou o pós guerra fria cunhou uma espécie de marxismo conservador que caricaturou a teoria da crise de Marx reduzindo-a a uma sucessão infinita de "crises cíclicas" das quais o capitalismo sempre conseguia sair graças à exploração dos trabalhadores e da periferia. O ogre era denunciado, ficando demonstrado uma vez mais quem era o vilão do filme.

Mas a história não se repete. Nenhuma crise cíclica mundial se parece com outra e todas elas, para serem realmente entendidas, devem ser incluídas no percurso temporal do capitalismo, no seu grande e único super-ciclo. É o que nos permite, por exemplo, distinguir as crises cíclicas de crescimento, juvenis do século XIX, das crises senis de finais do século XX e do século XXI.

Por outro lado, é necessário descartar a ideia superficial de que a auto-destruição do sistema equivale ao suicídio histórico isolado das elites globais libertando automaticamente das suas cadeias o resto do mundo, o qual um bom dia descobre que o amo morreu e então dá largas à sua criatividade. É o mundo burguês na sua totalidade o que iniciou a sua auto-destruição e não só as suas elites. É toda uma civilização (...)

Ver o texto completo em resistir.info

sábado, 10 de novembro de 2012

Documentos para estudar a história ( O editor não se obriga a concordar)


Para a História do Socialismo
Documentos
www.hist-socialismo.net
Tradução do alemão por PG, revisão e edição por CN, 16.10.2012
_____________________________
Porque se desmoronou a RDA?1
Kurt Gossweiler
1993
No dia 7 de Outubro deste ano a RDA teria feito 44 anos.
No dia 3 de Outubro deste ano [1993], os actuais vencedores da História
festejaram o 3.º aniversário da vitoriosa anexação da RDA, chamada «adesão».
Por esta razão houve, nos media, comentários dos vencedores e dos vencidos
sobre a queda da RDA.
Porém, os comentários que mais me irritaram não foram os dos triunfantes
vencedores, mas sim os de membros do meu partido, o PDS, como o seguinte:
Reiner Oschmann: «O socialismo ferrugento, apoiado por nós, nem era
defensável, nem valia a pena ser defendido.»2
Para me recompor deste género de declarações de concordância com a derrota,
desenterrei um velho artigo escrito por Clodomiro Almeyda, presidente do Partido
Socialista do Chile, que procurou e encontrou asilo na RDA, fugindo ao fascismo de
Pinochet, sobre o dia da introdução do DM,3 em 2 de Julho de 1990, na então ainda
formalmente existente RDA:
«Na noite de 1 para 2 de Julho morreu de facto a República Democrática
Alemã. (…) Para nós, chilenos, que vivemos muitos anos na RDA, onde fomos
recebidos com hospitalidade generosa e solidária, desapareceu nesta noite a nossa
segunda Pátria, foi-nos retirado algo que amávamos e que já fazia parte de nós.
Desapareceu uma sociedade que – não obstante as suas deformações, deficiências
e fraquezas, que conhecíamos e lamentávamos – na sua essência era uma
sociedade democrática e que aspirava à igualdade.»4
Definido o tema – Porque se desmoronou a RDA? –, quero colocar a questão
desde o início: Estará o fim da RDA, na verdade, correctamente caracterizado com o
termo «colapso»?
Hanfried Müller, teólogo marxista cultíssimo e editor da revista Weißenseer
Blätter, conhecida muito para além de Berlim-Brandeburgo e talvez até famosa,
publicou aí há algum tempo um artigo intitulado: «Colapso, contra-revolução ou
1 Contribuição, até agora não publicada, para a homenagem ao 65.º aniversário de Dieter
Frielinghaus, em 14 de Novembro de 1993. [In: K. Gossweiler, Contra o Revisionismo,
Verlag zur Förderung der wissenschaftlichen Weltanschauung, Munique. 2.ª ed., 2004, pp.
387-398. (N.T.)]
2 Neues Deustchland, Editorial, 7.10.1993.
3 Deutsche Mark, moeda da RFA. (N.T.)
4 UZ, jornal do DKP (Partido Comunista Alemão), Essen, 28.9.1990.
2
ambos?», o qual foi também publicado no Neues Deutschland, numa versão
reduzida.5
Aí diz: «A palavra “colapso” desperta, em primeiro lugar, o pensamento para
razões internas: o colapso de um inválido ou a implosão de um edifício caindo
sobre si próprio. Se alguém for assassinado, não se fala de um “colapso”.
Diferentemente da palavra “colapso”, a palavra “contra-revolução” contém a
ideia de luta e inimigo, sim, de luta de classes e inimigo de classe (…)
Se alguém é derrotado numa contra-revolução, não encontra justamente a
própria culpa no facto de ter exercido o poder, mas sim em o ter perdido.»
E H.M. responde assim à sua pergunta do título: «Trata-se manifestamente de
ambos: o socialismo sucumbiu numa contra-revolução.»
Considero esta resposta correcta, apesar de provocar, talvez, protestos e levantar
a questão: Onde estava então a contra-revolução?
Mas se queremos manter a interrogação, então temos de perguntar: Porque não
resistiu a RDA à contra-revolução?
Contudo, na minha opinião, esta especificação ainda não é suficiente.
Afinal a RDA, desde o primeiro dia da sua existência, esteve sempre sob o fogo
do inimigo de classe imperialista, esteve sempre exposta às investidas da contrarevolução
e, na verdade, muito mais fortes e claras do que em 1989 – sem
sucumbir.
É preciso então perguntar ainda com maior precisão: Porque não continuou a
resistir à contra-revolução, depois de 40 anos de luta de defesa bem sucedida?
Os ataques da contra-revolução tornaram-se muito mais fortes – ou a força
interna de resistência afrouxou demasiadamente? Ou aconteceram ambas as
coisas?
Neste ponto, alguém atento poderia objectar: mas sem a protecção da União
Soviética e do seu exército, a RDA nunca podia ter resistido à pressão económica e
militar da superior RFA.
Isto é naturalmente correcto. Mais ainda, é não só válido para a RDA como para
todos os Estados europeus socialistas do CAME.6 A objecção aponta para o facto
muito importante e decisivo de que é impossível analisar o desenvolvimento de
cada país socialista só pelo seu desenvolvimento interno, pelas suas próprias
relações económicas e políticas.
Não foi só a RDA que se desmoronou, foi também a Polónia socialista, a
Hungria socialista, a Checoslováquia socialista, etc. e principalmente a União
Soviética socialista, a muralha de defesa de todos estes países.
Com isto deve também ser claro que a pergunta – Porque sucumbiu a RDA? –
tem de ser alargada para a questão: Porque sucumbiu o socialismo na Europa e na
União Soviética?
Porque venceu a contra-revolução em todos os países socialistas europeus?
O colapso da RDA não é um acontecimento singular, mas sim um aspecto de um
acontecimento colectivo e só pode ser compreendido e explicado enquanto tal.
Vejamos alguns chavões dos anticomunistas de todos os matizes,
nomeadamente: o sistema económico socialista é incapaz de funcionar e
5 Weißenseer Blätter 4/1992; Neues Deutschlan de 26/27.9.1992.
6 Conselho de Assistência Mútua Económica. (N. Ed.)
3
sobreviver porque se baseia na eliminação da regulação através do mercado, e o
sistema político do socialismo, o stalinismo – porque é uma ditadura criminosa,
uma burocracia ossificada – não podia terminar de outra forma sem ser na
catástrofe.
Estes chavões anticomunistas foram assumidos durante muito tempo pelo
movimento comunista como declarações indiscutivelmente correctas, porque
aparentemente eram confirmados pelo colapso do socialismo europeu.
Um breve olhar sobre os destinos do movimento comunista deverá revelar a
insustentabilidade de uma tal opinião primitiva e simplista.
Nós, comunistas da geração mais velha, sabemos por testemunho próprio que o
caminho do movimento comunista se ergueu de profundas derrotas e cruéis
perseguições às alturas das maiores vitórias históricas; os comunistas de todas as
gerações hoje vivas sofreram conjuntamente a experiência dolorosa da queda
profunda da altura da vitória, supostamente já impossível de anular, numa nova
derrota inaudita. A frase de Karl Liebknecht, «Nós comunistas estamos habituados
a ser lançados do cume para as profundezas,7 ganhou uma nova actualidade, em
que custa a acreditar.
A vitória da Revolução de Outubro na Rússia marcou indelevelmente o século
XX. No centro dos acontecimentos históricos deste século esteve, desde 1917, a luta
entre capitalismo e socialismo e esta luta – contrariamente às aparências e à
opinião dos desalentados – não está de forma nenhuma terminada.
A Alemanha pertence aos países em que as irradiações da vitória de Outubro
mais se fizeram sentir. Rosa Luxemburgo exprimiu este facto assim: «Nunca nos
devemos esquecer, quando vêm com as difamações contra os bolcheviques russos,
de lhes responder: onde aprendestes o ABC da vossa revolução de hoje? Fostes
buscá-lo aos russos: aos sovietes de operários e soldados!»8
A ideia do socialismo tinha penetrado tão fortemente nas mentes e nos corações
dos trabalhadores na Alemanha, que, em 1919-20, até a burguesia alemã se muniu
com uma falsificação socialista chamada «Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães» (NSDAP), criação de todas as forças anti-socialistas e
contra-revolucionárias alemãs.
A irradiação da atracção da construção do socialismo na União Soviética foi
especialmente forte nos anos da crise económica mundial, que foram
simultaneamente anos do êxito, considerado impossível, do primeiro plano
quinquenal na União Soviética.
Num livro publicado em 1931, com o título O Fim do Capitalismo, de Ferdinand
Fried, um autor burguês, afirma-se que é necessário também na Alemanha passar
da economia não planificada para a planificada já que: «A Rússia [com o plano
quinquenal] passa por uma época de enormes investimentos, enquanto as fábricas
do resto do mundo se degradam por falta de actividade e o trigo tem de servir de
combustível.»9
No jornal social-democrata Vorwärts, de 23 de Outubro de 1932, podia ler-se
sob o título «Objectivo e caminho do socialismo»: «O mais valioso da experiência
russa é a comprovada possibilidade de execução da economia planificada.»
7 Karl Liebknecht, Discursos Escolhidos, Cartas e Artigos, Berlim, 1952, p. 530.
8 Rosa Luxemburgo, Eu fui, Eu sou, Eu serei!, Berlim, 1958, p. 105.
9 Ferdinand Fried, O Fim do Capitalismo, Jena, 1931, p. 260.
4
Dois meses antes, em 28 de Agosto de 1932, um tal J. P. Mayer escrevia no
mesmo jornal: «A longo prazo não há nenhum meio capitalista para dominar a
crise. O movimento socialista entra assim no estádio da realização. O socialismo
torna-se na questão de maior importância do presente, uma ordem actual de
vida.»
A convicção da superioridade do socialismo em construção na União Soviética
perante o capitalismo abalado pela crise era tão forte no movimento organizado do
operariado alemão que até o chefe social-democrata de direita teve de a levar em
conta numa campanha de massas designada «Socialismo é Tarefa do Presente!» –
mas naturalmente não de forma séria.
E então quando, entre 1941 e 1945, a União Soviética e o seu Exército Vermelho
deram provas de ser a força mais poderosa da coligação anti-Hitler, desferindo
perante os olhos de um mundo espantado golpes decisivos sobre o inimigo fascista
da humanidade – e isto depois de pesadas derrotas iniciais – aí, nenhum outro país
ou povo do planeta desfrutava de maior simpatia junto das pessoas simples que o
país e o povo soviéticos. Mesmo Churchill usou o entusiasmo das pessoas pela
União Soviética e os seus dirigentes para aumentar a sua própria popularidade,
chamando Stáline de seu amigo – «my friend Joe».
Facto é que a história mundial não conhece um segundo exemplo de um Estado e
de uma ordem social que tenha suportado tão longamente uma carga permanente e
passado tão duro e inimaginável exame como a União Soviética até à vitória sobre o
fascismo; mas também [não conhece] um segundo exemplo de realização tão
triunfal do mais difícil exame.
Quem nessa época tivesse afirmado que este Estado e esta ordem social não
podiam funcionar nem sobreviver seria olhado exactamente como alguém que
afirmasse em dia luminoso que era noite profunda.
E depois também, durante uma série de décadas, o movimento comunista e os
países socialistas mantiveram-se como uma força que, como nunca, deu um
impulso aos movimentos de emancipação da humanidade; pense-se só no seu papel
decisivo na destruição do vergonhoso sistema colonial ou na vitória do povo
vietnamita sobre a mais forte potência imperialista, os EUA.
E depois – esta decadência aparentemente súbita, este fim inglório!
Esta profunda queda do cume atingido em 1945 até ao poço sem fundo dos
últimos anos levanta questões inexplicáveis, perante as quais, em muitos lugares,
surge um sentimento de impotência.
Mas a recordação de um outro exemplo de um colapso inesperado na história do
movimento operário internacional e alemão, a recordação do colapso da II
Internacional, talvez ajude a chegar mais próximo da solução do enigma.
O Partido Social-Democrata Alemão, partido dirigente da II Internacional, tinhase
batido admiravelmente contra a Lei Anti-Socialista10 de Bismarck e alcançado
uma vitória brilhante sobre o «chanceler de ferro».
10 A Lei Anti-Socialista foi aprovada no Parlamento alemão em 18 de Outubro de 1879,
sob a vigência do chanceler imperial Otto von Bismarck. O diploma, oficialmente designado
Lei Contra o Perigo Público das Tentativas Sociais-Democratas (Gesetz gegen die
gemeingefährlichen Bestrebungen der Sozialdemokratie), proibiu todas as organizações
socialistas e a sua imprensa, o que obrigou os militantes a trabalharem na clandestinidade.
Na legalidade apenas se manteve a representação parlamentar social-democrata. Todavia, a
5
Logo em 1912, no seu Congresso em Basileia, a Internacional Socialista
sublinhou a sua determinação de lutar contra a eclosão da iminente guerra
imperialista e, caso ainda assim rebentasse, fazer tudo para a transformar em
guerra civil.
Mas quando em 1914 a guerra imperialista se tornou um facto, todas as direcções
dos partidos da Internacional – com a excepção dos bolcheviques e da esquerda
búlgara (tesniaki)11 – passaram-se com armas e bagagens para o campo dos
«defensores da pátria» e, juntamente com os imperialistas dos respectivos países,
incitaram os proletários contra os das «potências inimigas».
O que em 1914 pareceu uma derrocada «súbita», foi o resultado final de uma
longa e insidiosa decomposição dos partidos socialistas, que já Marx e Engels
tinham combatido na sua famosa carta circular, de Setembro de 1879, dirigida a
Bebel e Wilhelm Liebknecht e outros:
«Desde há quase 40 anos que pusemos em evidência a luta de classes como
poder motor próximo da história e, especialmente, a luta de classes entre a
burguesia e proletariado, como a grande alavanca do revolucionarismo social
moderno; é impossível, portanto, acompanharmos com pessoas que querem
riscar esta luta de classes do movimento.»12
Esta carta dirigia-se contra as tentativas de Eduard Bernstein, entre outros, de
tornar o SPD aceitável para a burguesia liberal, através da substituição do
postulado da luta de classes pela prédica da conciliação de classes, ou seja, através
da revisão dos princípios ideológicos do partido.
Todos sabemos que foi o revisionismo que provocou a decomposição da II
Internacional e que transformou a antiga social-democracia proletária e
revolucionária no «partido burguês dos trabalhadores», no «partido só reformas»
oportunista que, por fim, na Revolução de Novembro [1918], se confirmou como
defesa da contra-revolução burguesa, carniceiro dos operários e soldados
revolucionários, com um Noske13 como «cão de fila».
interdição não impediu a crescente popularidade dos socialistas, que continuaram a eleger
os seus candidatos como independentes. Foi neste período que Bismarck decidiu introduzir
o seguro de saúde, o seguro de desemprego e o seguro de acidentes, procurando reconciliar
os trabalhadores com o Estado e esvaziar os partidos operários. Apesar disso, em 1890,
após a resignação do chanceler, o Partido Operário Socialista da Alemanha (SAPD) é
legalizado e concorre às eleições com a designação de Partido Social-Democrata da
Alemanha (SPD). A Lei Anti-Socialista acabou por ser revogada e nos anos seguintes o SPD
continuou a crescer até se tornar o maior partido do Reichstag em 1912. (N. Ed.)
11 Os «tesniaki» foram uma espécie de bolcheviques búlgaros que, tal como a fracção
dirigida por Lénine, romperam a ala reformista do Partido Operário Social-Democrata
Búlgaro, constituindo, em 1903, um novo partido que manteve o nome, acrescido entre
parênteses das palavras «socialistas estritos» (тесни социалисти – tesni socialisti), donde
o acrónimo de «tesniaki» (тесняки). (N. Ed.)
12 Karl Marx e Friedrich Engels, Obras Escolhidas em três tomos, ed. Avante!, Lisboa,
1985, tomo III, p. 103. (N. Ed.)
13 Gustav Noske (1868-1946). Entrou para o SPD em 1884. Deputado ao Reichstag de
1906 a 1918. Especialista em assuntos militares e coloniais. Teve um papel decisivo na
repressão sangrenta da «Revolta dos Marinheiros» em Kiel, durante a Revolução de
Novembro de 1918 e nas insurreições de Janeiro de 1919. (N.T.)
6
O revisionismo, cujo núcleo político-ideológico é a substituição da luta de classes
pela conciliação de classes e a substituição do internacionalismo proletário pelo
nacionalismo burguês, envenena e desagrega o movimento operário revolucionário,
se não for expulso definitiva e atempadamente do seu seio.
Esta experiência conduziu os sociais-democratas revolucionários à cisão com a
social-democracia oportunista, no final da I Guerra Mundial, e à fundação de
partidos comunistas e da Internacional Comunista.
É natural questionar se o colapso do movimento comunista e dos Estados
socialistas, 70 anos depois, não se baseia num desenvolvimento idêntico ao do
colapso da II Internacional.
A tese da incapacidade funcional e de vida do socialismo pressupõe, não o
declarando, que o sistema dominante na URSS ou o modelo de Socialismo de 1917 a
1990, do início ao fim, se manteve, no fundamental, igual.
Na verdade, a União Soviética de 1985 a 1990 tem tão pouco em comum com a
de 1917 ou 1945, como o SPD da época de Marx e Engels com o SPD de Wels, Ebert
e Scheidemann.
A perspectiva de Gorbatchov e Chevardnádze está tão longe da de Lénine como a
perspectiva de Bernstein e Kaustky da de Marx e Engels.
Contudo, reconhecer isto logo em 1985 era muito difícil. Mas quando
Chevardnádze e Gorbatchov declararam na ONU que entendiam a política da
coexistência pacífica, não como uma forma particular da luta de classes, mas sim
como «princípio universal das relações entre estados», e quando anunciaram que
queriam «desideologizar as relações internacionais» (discurso de Chevardnádze
na 43ª Assembleia da ONU, Setembro de 1988), já quase não era possível deixar de
ver a passagem do marxismo-leninismo para o revisionismo conciliador de classes.
A aprovação da Guerra do Golfo norte-americana foi só a consequência prática e a
comprovação desta passagem.
Desde que o socialismo na União Soviética e ela própria foram liquidados,
Gorbatchov e os seus pares deixaram de ter vergonha em mostrar a sua maneira de
pensar anticomunista e em se congratularem com o seu papel activo na destruição
do Poder soviético. Na sua famosa entrevista à Spiegel, Gorbatchov, sincero,
declarou que as suas «simpatias políticas pertencem à social-democracia» e a um
«estado social do género do da Alemanha Federal».14
Para completar, seja citada ainda aqui uma declaração de Willy Brandt a um seu
amigo íntimo, em que transmitiu as suas impressões sobre uma conversa com
Gorbatchov, depois de regressar de uma visita a Moscovo em Maio de 1985 (!): «Já
vi muita coisa na minha vida», disse Brandt, «mas ainda não tinha visto um
anticomunista na direcção do Krémlin».15 Repare-se na data – Maio de 1985 –, um
mês depois de Gorbatchov assumir o cargo de secretário-geral do Partido
Comunista da União Soviética!
Não será isto importante e elucidativo também para responder à pergunta
«Quais as causas da destruição da RDA?»
Além disso, isto esclarece uma particularidade, de que raras pessoas
desconfiaram, mesmo entre os comunistas, nomeadamente o facto de os cabecilhas
das potências imperialistas, desde que Gorbatchov assumiu do cargo de secretário-
14 Spiegel 3/1993, p. 124.
15 L’Humanité de 10.10.1992
7
geral, manifestarem uma estima invulgar, deixando transparecer uma preocupação
suspeita sempre que a sua posição na direcção do Partido e do Estado parecia
ameaçada. Ao mesmo tempo que prometia fingidamente ao seu povo e a nós
comunistas de todo o mundo reconduzir de novo a União Soviética ao caminho
leninista e arrancar a URSS da estagnação para a vanguarda da civilização, aos
políticos imperialistas, Gorbatchov dizia a verdade sobre as suas opiniões e
desígnios.
Nessa altura, em meados dos anos 80, admirei-me muito quando Willy Brandt,
numa reunião da Internacional Socialista, de que era seu presidente, fez a
observação, como se fosse evidente, de que no centro da política mundial já não
estava o conflito Leste-Oeste, mas que em seu lugar apareceria o conflito Norte-Sul.
Hoje sei qual a origem da sua espantosa previsão. Com tais líderes como
Gorbatchov na direcção do PCUS, os Bush, Thatcher, Kohl e Brandt estavam
sempre mais bem informados sobre as intenções e próximos passos de Moscovo do
que nós, o povo simples, enganado e atraiçoado, e do que aqueles líderes dos países
socialistas que se mantiveram comunistas e procuraram combater as influências e
tendências revisionistas que sopravam de Moscovo.
Portanto, quando nos questionamos sobre as causas do desmoronamento do
socialismo, e com isso também da RDA, não podemos ignorar o facto de que, a
partir de um determinado momento – o mais tardar em 1985 –, o comando do
navio do socialismo na União Soviética já não estava nas mãos dos comunistas, mas
tinha sido transferido para os anticomunistas.
Isto torna explicável muito do que de ininteligível aconteceu. Mas
simultaneamente suscita uma nova questão não menos difícil de responder: como
afinal foi possível uma tal transferência? Não posso aqui ocupar-me desta questão.
Mas se nos lembrarmos das circunstâncias em que, na altura, foi possível e levada
por diante a degeneração da social-democracia revolucionária num partido de
trabalhadores burguês e oportunista, então isso pode ajudar-nos a colocar-nos no
rasto das causas da degeneração do movimento comunista.
Hoje, como no passado, a ideologia da conciliação de classes é a ideologia de
gente que não confia em que o movimento dos trabalhadores e o socialismo possam
derrotar o capitalismo com as suas próprias forças, ou seja, consideram o
capitalismo como a ordem social superior a longo prazo. A possibilidade da vitória
do revisionismo num partido socialista ou mesmo comunista existe pelo menos
enquanto o capitalismo for economicamente superior ao socialismo. Por isso, a luta
implacável contra o revisionismo é uma condição fundamental para a resistência do
socialismo contra um imperialismo superior economicamente. Lá onde esta luta é
posta de lado, ou que seja apenas enfraquecida e conduzida inconsequentemente, o
revisionismo obtém a possibilidade de conquistar o partido por dentro. Tal
conquista significa que o partido comunista fica nas mãos de anticomunistas e é
transformado num instrumento de descredibilização do partido e de
desmantelamento do socialismo. Foi exactamente isto que se passou em alguns
partidos comunistas, em primeiro lugar, no PCUS, o partido comunista dirigente.
Durante muito tempo, foi possível ridicularizar e excluir constatações deste
género, rotulando-as de «teoria primitiva da conspiração».
Mas desde que Gorbatchov e os seus cúmplices começaram a vangloriar-se
publicamente de terem aberto o caminho à restauração da «liberdade» ocidental
nos então países socialistas, é altura de os comunistas olharem com lucidez para as
8
consequências deste acontecimento monstruoso e rejeitarem versões históricas que
têm a marca dos anticomunistas revisionistas.
Ao invés de pretenderem revelar ao povo toda a verdade, como foi declarado, as
«revelações» históricas tiveram sobretudo o propósito de apresentar o passado
socialista do país às novas gerações, que não viveram este passado, nas cores mais
sombrias e repugnantes, para que ninguém tivesse a ideia de encarar como
alternativa a reconstituição do poder soviético – por muito mau que o presente se
apresentasse.
A rejeição da falsificação histórica anticomunista da era de Gorbatchov e agora
de Éltsine não significa que se deva fazer uma leitura unilateral da história do
período de Stáline. Mas, pelo menos para os comunistas, é urgente que se torne
claro que o anti-stalinismo dos revisionistas anticomunistas é completamente
hipócrita. Alegam condenar Stáline por omissões e crimes. Na verdade, condenamno
a partir da mesma posição e pelos mesmos «crimes» que os imperialistas o
condenam, isto é, do ponto de vista do anticomunismo e pelo crime de ter mantido
a União Soviética fora da sua área de poder.
Presenciamos hoje algo muito idêntico na RFA em relação à RDA. Esta é
caluniada de «Estado injusto», não porque pelo facto de que também havia
injustiças entre nós, mas porque tínhamos abolido a injustiça da ordem capitalista.
Não nos acusam pelo facto de termos praticado um socialismo imperfeito, mas
porque éramos socialistas, ou seja, ousámos desapossar o capital.
Resumindo: independentemente da quantidade de erros e da sua dimensão que
a RDA e a direcção do Estado e o Partido cometeram – e certamente não houve
poucos e entre eles grandes asneiras – não foram os próprios erros que lhe ditaram
a sentença de morte. Todos os países socialistas europeus estavam unidos com a
União Soviética para o que desse e viesse; com a sua derrocada, a queda de todos
eles era inevitável.
Os próprios erros têm, no entanto, de ser rigorosamente examinados e as suas
causas e consequências analisadas e interpretadas, no interesse da segunda
República Democrática Alemã Unificada, que chegará um dia, assim a Humanidade
sobreviva às devastações do capitalismo num planeta ainda habitável.
André Müller escreveu, no UZ (28.09.90), o seguinte necrológio do enterro da
RDA em 3 de Outubro de 1990: «Uma República Democrática Alemã regressará.
(…) Olhai em volta. Levantai a cabeça de novo! Vede como o capital se comporta,
livre de qualquer consideração, vede como é a sua enaltecida democracia. (…)
Não, a ideia da RDA não se deixará enterrar e se não sei como tudo continuará,
(…) sei, porém, que neste 3 de Outubro de 1990 não há nenhuma razão para não
nos reerguermos.» Isto ainda é mais válido em Outubro de 1993.

domingo, 4 de novembro de 2012


 
Pornografia e telenovelas- A alienação



                                                                                                                                                                                   Pode parecer antagónico referir dois temas tão diferentes, quando a pornografia é consumida maioritariamente por homens, enquanto as telenovelas são-no pelas mulheres, mas muitos pontos estes dois temas têm em comum.    Pornografia a arte de fingir.   A pornografia sempre fez parte da sociedade humana, desde os seu primórdios , mas nunca como agora faz parte da nossa vida com a era da Internet.  Se é verdade que a pornografia faz parte dos nossos fantasmas mais remotos, para muitos homens esta  tornou-se numa obsessão, não é puro acaso que a palavra mais pesquisada no Google é "sex".  A pornografia até pode ser benéfica para uma casal estável, mas para muitos, não deixa de ser uma alienação da sua sexualidade vivida, por recorrer frequentemente a desempenho sexuais desmedidos e fora de qualquer contexto relacional e previligiar sempre o homem como actor e a mulher como mero objecto sexual.  Ao fantasmar que a relação com a sua mulher irá ser semelhante ao que vê nos numerosos  filmes e imagens pornográficas, este pode queres reproduzir as mesmas situações e caso não as consiga reproduzir, poderá ficar decepcionado e frustrado, afectando a relação do casal, que é muito mais do que sexo, apesar de este ser um factor construtivo fundamental .  Cria-se então um desequilíbrio, entre a a realidade e a ficção, pois a mulher é sempre a vítima preferencial dessas relações pornográficas, as mulheres nesses casos tornam-se uma "coisa". Nega-se então a plenitude sexual com todo o seu mistério.   A mulher como objecto na pornografia.  Sendo a sexualidade masculina mais facilmente despertada pela a visão, a mulher fica relegada ao papel de objecto dessa mesmo visão. Muitas mulheres pouco a pouco tendem a comporta-se como o que o companheiro quer delas e a imitar o comportamento dessas mesmo actrizes pornográficas. Num casal equilibrado esse estimulo até pode ser benéfico, e quebrar uma certa rotina, mas nas outras situações irá causar um sentimento de frustração por não estar à altura.  Os homens deixam então de ver as mulheres não como um todo, mas sim como seios e coxas, e as mulheres por seu turno, muito influenciadas pela publicidade, tentam competir com os modelos através de silicone, botox e aumento dos seios.  O negócio da pornografia excede 13 mil milhões de dólares, só nos Estados unidos, e 97 mil milhões em todo o mundo, maior do que os lucros da Microsoft, Google, eBay ou Yahoo juntas.  As relações humanas entre um homem e uma mulher não podem ser apenas um acoplamento mecânico sem qualquer cumplicidade. Se é verdade que as imagens sexualmente estimulante deixam marcas no cérebro, essas devem ser feitas sobretudo à custa da cumplicidade mutua.  A pornografia pode assim colocar um stress enorme no relacionamento do casal.  Muitos defendem que a pornografia legitima as fantasias sexuais, resfriando assim as potenciais agressões sexuais, mas mal vai a nossa sociedade quando necessita de tais escapes para que tal não aconteça.      
As telenovelas como alienação.  Em certos aspectos, as telenovelas funcionam para as mulheres como a pornografia para os homens. Menos sensíveis aos aspectos da imagem, as mulheres funcionam com os seus outros sentidos, um dos quais o imaginário e a procura de um ser ideal, que não existe, ou quando existe, existe apenas na sua própria imaginação. Por isso são consumidoras de telenovelas que as projectam num mundo imaginário construído por seres perfeitos e de intrigas mais ou menos fantasiadas.  As telenovelas são assim uma das maiores fontes de entretenimento, especialmente para as mulheres. Apesar das telenovelas apenas abordarem uma determinada época, sentem-se coniventes com a época em que se passam.  As telenovelas não são o mundo real, mas a maioria compara as personagens intervenientes com a sua própria vida, ela, bem real, a a real fica sempre como não podia deixar de ser desfavorecida. Muitas mulheres não fazem qualquer distinção entre a vida que vivem e a que é descrita nessas mesmas telenovelas. A falta de distensão entre a ficção e a vida real muitas vezes acaba por criar um mau-estar nas suas vidas.  Tentam copiar as atitudes e comportamentos que vêm. Não se apercebem que na sua grande maioria o enredo das telenovelas é sempre baseado na sensualidade, na ambição, na violência e nos fingimentos.   Alienação de comportamentos humanos.  Através dos sonhos de glamour apresentados nestas ficções, consideram que a vida que têm com o seu companheiro não passe de uma banalidade frustrante. A maioria das telenovelas referem como banais as traições, nelas a ausência de solidariedade são habituais, ocultando aquilo que de bom se espera nas relações humanas.
As telenovelas acabam por ditar valores éticos e morais nas mentes das pessoas, que vivem essas telenovelas como fazendo parte das suas vidas, deturpados, esquecendo frequentemente o mundo real que as rodea. As telenovelas acabam por alienar as pessoas como as religiões.  Exploram as paixões humanas e exacerbem certos comportamentos sexuais como a pornografia para os homens os faz noutro sentido. Por exemplo, a nova versão da telenovela Gabriela tornou-se numa telenovela erótica, submergindo o pano de fundo político que era central na obra de Jorge Amado

(Recebi por e-mail, não identificado (Octobus?). Gostei.)

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