A voz do dono torna a censura obsoleta
A cada esquina da comunicação social está reservada uma surpresa. A última foi ler a carta de princípios "Pela Liberdade de informação" , subscrita pelos directores editoriais dos principais jornais, revistas, rádios televisões de informação geral, provocada pela alteração da lei sobre a cobertura jornalística das campanhas eleitorais.
A lei é um completo disparate. Assim que foi conhecida, a sua morte foi anunciada. A indignação que provocou nos meios jornalísticos, agora consubstanciada nessa carta, figura uma defesa implacável da liberdade de imprensa. Na realidade deveria provocar uma imensa indignação pela hipocrisia, o cinismo dos senhores directores entrincheirados em tiradas grandiloquentes "o direito à informação deve ser salvaguardado, com respeitados princípios da liberdade, independência e imparcialidade dos órgãos de comunicação social e dos jornalistas face a todas as forças políticas e a todas as candidaturas" ou " a cobertura jornalística da campanha eleitoral deve ter a ponderação entre o principio da não discriminação das candidaturas e a autonomia e liberdade editorial dos órgãos de comunicação social".
Perigosamente já pouco revolta essa verborreia, eivada de tamanha doblez e desplante, depois de anos e anos de convivência com uma comunicação social estipendiada aos interesses económicos dominantes, que usam o direito à informação, os princípios da liberdade, independência e imparcialidade, os princípios da não discriminação enquadrados pela autonomia liberdade editorial, como balizas para impor um ambiente geral de propaganda, de terror ideológico totalitário que substituiu os visíveis actos censórios, a violência autoritária da censura nop fascismo, por uma quase invísível mas omnipresente fina e sofisticada rede que filtra toda a informação, instalando, tanto a nível nacional como mundial, uma colossal máquina de guerra, poderosíssima e eficaz, que controla e manipula a informação. Diariamente, o mundo é bombardeado por mentiras propaladas por essa gente que se apresenta, como se pode ler na referida carta, como os cruzados na defesa desse bem universal que é a informação.
Na verdade são a tropa de choque, os mercenários do poder da classe dominante!
Em Portugal, depois do 25 de Abril, a recuperação capitalista sempre andou de mãos dadas com os media. A normalidade era/é um namoro intenso mas aparentando algum pudor, nas situações mais limite rebolam-se em orgias que fariam Sade ficar roxo de inveja. O estado actual da comunicação social, afinada pelo mesmo diapasão, procura dar uma imagem de diversidade bem retratada na variedade dos directores editoriais que subscreveram a carta. Assustadoramente essa diversidade, essa variedade só existe de facto na diferença entre as gravatas, no resto estão/são completamente formatados. Essa situação começou a desenhar-se logo a seguir ao 25 de Abril, num tempo em que o pluralismo era dominante. Agrava-se a partir do 25 de Novembro mas é na década de 80 que se aprofunda com um movimento de concentração da propriedade da imprensa, rádio, televisão e informação on-line. Movimento que ainda não acabou e que é paralelo ao da recuperação capitalista.
As diferenças entre órgãos de comunicação mais sérios ou mais populares são variações de estilo, variantes do mesmo estado das coisas. Biombos que, quando retirados, mostram uma obscena uniformidade. Uniformidade que se estende das peças jornalísticas às de opinião, com os comentadores escolhidos a dedo. Aqui, há que fazer uma nota às condições de trabalho dos jornalistas que se degradaram e continuam a degradar brutalmente. Precariedade, despedimentos, utilização de trabalho dos estagiários gratuito ou quase, a porta da rua sempre aberta, imposição de critérios editoriais condicionados aos interesses dos patrões, os partidos dos patrões, do absolutismo do pensamento dominante, retiraram e retiram, progressivamente, a autonomia jornalística. A autonomia e liberdade editorial, tão altissonantemente proclamada na carta, é a mesma que ao longo dos anos foi utilizada e continua a ser utilizada para discriminar ostensivamente forças políticas e sociais. Basta fazer o computo, sem sequer ser preciso descer ao pormenor do conteúdo ou do relevo que tiveram, do número e dimensão das notícias, entre os diversos partidos políticos e forças sindicais nos últimos 40 anos. Um critério simples, representação parlamentar /noticias ou implantação social/notícias, faria a radiografia devastadora da ausência de imparcialidade e independência dos meios de comunicação social. A seriedade ficaria reduzida a uma farsa patética compulsando outras notícias. Por exemplo, o modo como a banca, BPN, BPP e BES, seus administradores e accionistas principais eram tratados pelos media até rebentar os escândalos que obrigaram mudar de rumo, mesmo assim…muita benevolência escorre. Se nos aventurarmos pelos noticiários dos acontecimentos internacionais é arrepiante assistir ao modo como participam nas manobras de desestabilização e depois na consolidação dessa desestabilização, em consonância com os grandes interesses imperialistas. São uns dos pilares dessa política agressiva. Jugoslávia, Iraque, Síria, Primaveras Árabes, Ucrânia, Brasil, México, Hong-Kong, para referir os mais recentes, são um espectáculo abominável de mentiras, meias-verdades, omissões, distorções, manipulações, todo um arsenal de construção de uma ideia, a mais das vezes nem sequer tem nada a ver com a realidade. Fabricam realidades para, sem olhar a meios, atingir os objectivos do império dominado pelo grande capital. Imagine-se um cenário com um acontecimento recente: como seriam as notícias de Baltimore, se Baltimore em vez de se localizar nos Estados Unidos, fosse na Rússia, na China, em Cuba, na Venezuela ou mesmo no Brasil ou na Argentina. Como Baltimore seria diferente se estivesse localizado na Ucrânia/Kiev ou na Ucrânia/Donestk.
Numa nota rápida simplificações e generalizações são inevitáveis e a simplificação mais manifesta é a de referir os jornalistas como uma abstracção. Mas as inevitáveis simplificações e generalizações não iludem nem podem ser usadas para desvalorizar a leitura deste quadro bem veraz e negro de uma comunicação social que é essencialmente uma máquina de propaganda e de desinformação. De uma comunicação social que é um dos três poderes, os outros são o poder económico-financeiro e o poder político, que ocupa lugar central no controle e influência das opiniões e dos comportamentos. De uma comunicação social onde a concentração dos meios de propriedade é espelho da concentração dos grupos económico-financeiros. Comunicação social ao serviço de uma ideologia em que os partidos políticos do chamado arco da governação se indiferenciam, só se distinguindo na competição eleitoral. Comunicação social que é o suporte da imagem desses partidos, que são de facto instrumentos ao serviço de determinados interesses económicos que representam no aparelho de Estado. Interesses económicos que dominam e são os proprietários dos meios de comunicação social. Um caldo de cultura corrupto, degradante, onde se alimenta o parasitismo ideológico dominante.
Comunicação social que é um aparelho de propaganda que faria inveja a Goebbels, pela sofisticação, pela eficácia, por ser muito mais difícil de descodificar o que a torna muitíssimo mais perversa. Travestindo, mascarando a permanente propaganda que emite, nos mais diversos e complexos registos, com a finalidade última de procurar transformar os seus consumidores, mesmo os mais lúcidos, em replicadores das mensagens emitidas como se fossem elaboradas com liberdade, independência, imparcialidade, sempre com autonomia e sem discriminações.
A comédia, o embuste é diário, corre hora a hora e os seus protagonistas são gente da mais desencabulada, capaz de todas as traficâncias, tripudiando em nome da liberdade a liberdade que lhes é conferida, para que da mesa do poder continuem a cair as migalhas que lhes pagam, generosamente, os serviços. As, raríssimas, excepções confirmam a omnipresença da regra.
Daqui
A lei é um completo disparate. Assim que foi conhecida, a sua morte foi anunciada. A indignação que provocou nos meios jornalísticos, agora consubstanciada nessa carta, figura uma defesa implacável da liberdade de imprensa. Na realidade deveria provocar uma imensa indignação pela hipocrisia, o cinismo dos senhores directores entrincheirados em tiradas grandiloquentes "o direito à informação deve ser salvaguardado, com respeitados princípios da liberdade, independência e imparcialidade dos órgãos de comunicação social e dos jornalistas face a todas as forças políticas e a todas as candidaturas" ou " a cobertura jornalística da campanha eleitoral deve ter a ponderação entre o principio da não discriminação das candidaturas e a autonomia e liberdade editorial dos órgãos de comunicação social".
Perigosamente já pouco revolta essa verborreia, eivada de tamanha doblez e desplante, depois de anos e anos de convivência com uma comunicação social estipendiada aos interesses económicos dominantes, que usam o direito à informação, os princípios da liberdade, independência e imparcialidade, os princípios da não discriminação enquadrados pela autonomia liberdade editorial, como balizas para impor um ambiente geral de propaganda, de terror ideológico totalitário que substituiu os visíveis actos censórios, a violência autoritária da censura nop fascismo, por uma quase invísível mas omnipresente fina e sofisticada rede que filtra toda a informação, instalando, tanto a nível nacional como mundial, uma colossal máquina de guerra, poderosíssima e eficaz, que controla e manipula a informação. Diariamente, o mundo é bombardeado por mentiras propaladas por essa gente que se apresenta, como se pode ler na referida carta, como os cruzados na defesa desse bem universal que é a informação.
Na verdade são a tropa de choque, os mercenários do poder da classe dominante!
Em Portugal, depois do 25 de Abril, a recuperação capitalista sempre andou de mãos dadas com os media. A normalidade era/é um namoro intenso mas aparentando algum pudor, nas situações mais limite rebolam-se em orgias que fariam Sade ficar roxo de inveja. O estado actual da comunicação social, afinada pelo mesmo diapasão, procura dar uma imagem de diversidade bem retratada na variedade dos directores editoriais que subscreveram a carta. Assustadoramente essa diversidade, essa variedade só existe de facto na diferença entre as gravatas, no resto estão/são completamente formatados. Essa situação começou a desenhar-se logo a seguir ao 25 de Abril, num tempo em que o pluralismo era dominante. Agrava-se a partir do 25 de Novembro mas é na década de 80 que se aprofunda com um movimento de concentração da propriedade da imprensa, rádio, televisão e informação on-line. Movimento que ainda não acabou e que é paralelo ao da recuperação capitalista.
As diferenças entre órgãos de comunicação mais sérios ou mais populares são variações de estilo, variantes do mesmo estado das coisas. Biombos que, quando retirados, mostram uma obscena uniformidade. Uniformidade que se estende das peças jornalísticas às de opinião, com os comentadores escolhidos a dedo. Aqui, há que fazer uma nota às condições de trabalho dos jornalistas que se degradaram e continuam a degradar brutalmente. Precariedade, despedimentos, utilização de trabalho dos estagiários gratuito ou quase, a porta da rua sempre aberta, imposição de critérios editoriais condicionados aos interesses dos patrões, os partidos dos patrões, do absolutismo do pensamento dominante, retiraram e retiram, progressivamente, a autonomia jornalística. A autonomia e liberdade editorial, tão altissonantemente proclamada na carta, é a mesma que ao longo dos anos foi utilizada e continua a ser utilizada para discriminar ostensivamente forças políticas e sociais. Basta fazer o computo, sem sequer ser preciso descer ao pormenor do conteúdo ou do relevo que tiveram, do número e dimensão das notícias, entre os diversos partidos políticos e forças sindicais nos últimos 40 anos. Um critério simples, representação parlamentar /noticias ou implantação social/notícias, faria a radiografia devastadora da ausência de imparcialidade e independência dos meios de comunicação social. A seriedade ficaria reduzida a uma farsa patética compulsando outras notícias. Por exemplo, o modo como a banca, BPN, BPP e BES, seus administradores e accionistas principais eram tratados pelos media até rebentar os escândalos que obrigaram mudar de rumo, mesmo assim…muita benevolência escorre. Se nos aventurarmos pelos noticiários dos acontecimentos internacionais é arrepiante assistir ao modo como participam nas manobras de desestabilização e depois na consolidação dessa desestabilização, em consonância com os grandes interesses imperialistas. São uns dos pilares dessa política agressiva. Jugoslávia, Iraque, Síria, Primaveras Árabes, Ucrânia, Brasil, México, Hong-Kong, para referir os mais recentes, são um espectáculo abominável de mentiras, meias-verdades, omissões, distorções, manipulações, todo um arsenal de construção de uma ideia, a mais das vezes nem sequer tem nada a ver com a realidade. Fabricam realidades para, sem olhar a meios, atingir os objectivos do império dominado pelo grande capital. Imagine-se um cenário com um acontecimento recente: como seriam as notícias de Baltimore, se Baltimore em vez de se localizar nos Estados Unidos, fosse na Rússia, na China, em Cuba, na Venezuela ou mesmo no Brasil ou na Argentina. Como Baltimore seria diferente se estivesse localizado na Ucrânia/Kiev ou na Ucrânia/Donestk.
Numa nota rápida simplificações e generalizações são inevitáveis e a simplificação mais manifesta é a de referir os jornalistas como uma abstracção. Mas as inevitáveis simplificações e generalizações não iludem nem podem ser usadas para desvalorizar a leitura deste quadro bem veraz e negro de uma comunicação social que é essencialmente uma máquina de propaganda e de desinformação. De uma comunicação social que é um dos três poderes, os outros são o poder económico-financeiro e o poder político, que ocupa lugar central no controle e influência das opiniões e dos comportamentos. De uma comunicação social onde a concentração dos meios de propriedade é espelho da concentração dos grupos económico-financeiros. Comunicação social ao serviço de uma ideologia em que os partidos políticos do chamado arco da governação se indiferenciam, só se distinguindo na competição eleitoral. Comunicação social que é o suporte da imagem desses partidos, que são de facto instrumentos ao serviço de determinados interesses económicos que representam no aparelho de Estado. Interesses económicos que dominam e são os proprietários dos meios de comunicação social. Um caldo de cultura corrupto, degradante, onde se alimenta o parasitismo ideológico dominante.
Comunicação social que é um aparelho de propaganda que faria inveja a Goebbels, pela sofisticação, pela eficácia, por ser muito mais difícil de descodificar o que a torna muitíssimo mais perversa. Travestindo, mascarando a permanente propaganda que emite, nos mais diversos e complexos registos, com a finalidade última de procurar transformar os seus consumidores, mesmo os mais lúcidos, em replicadores das mensagens emitidas como se fossem elaboradas com liberdade, independência, imparcialidade, sempre com autonomia e sem discriminações.
A comédia, o embuste é diário, corre hora a hora e os seus protagonistas são gente da mais desencabulada, capaz de todas as traficâncias, tripudiando em nome da liberdade a liberdade que lhes é conferida, para que da mesa do poder continuem a cair as migalhas que lhes pagam, generosamente, os serviços. As, raríssimas, excepções confirmam a omnipresença da regra.
Daqui
Sem comentários:
Enviar um comentário