José Goulão Aldo Moro, 37 anos depois
Mundo Cão, 8 de Maio de 2015
Nestes dias em que se celebra o fim da Segunda Guerra Mundial passam também 37 anos sobre o assassínio do antigo primeiro-ministro italiano e dirigente democrata cristão Aldo Moro.
Aldo Moro, morto pelo grupo esquerdista Brigadas Vermelhas, é o que reza a História, mentindo, pois os contadores da História oficial também mentem ou, pelo menos, como acontece neste caso, omitem parte dos acontecimentos, por sinal os fundamentais.
Os assassinos a soldo que invocaram as Brigadas Vermelhas poderiam ter invocado outra coisa qualquer, a Mafia, uma lógica maçónica como a Propaganda Due (P2) quando reivindicaram o sequestro de Moro e a sua execução, 55 dias depois. Jamais poderiam, porém, ter invocado os que de facto os manipularam, os serviços secretos italianos e os braços tentaculares de grupos clandestinos dentro da NATO, como a Gladio, cuja existência foi confirmada em 1990 pelo antigo primeiro ministro italiano Giulio Andreotti, que foi, na prática, um dos mandantes da morte do seu companheiro de partido.
Qual foi o crime cometido por Aldo Moro para ser executado, sem culpa formada nem julgamento, por serviços do Estado italiano e de uma aliança militar que leva a democracia a todos os cantos do globo? Um só: defendeu uma coligação entre os dois maiores partidos, a Democracia Cristã e o Partido Comunista, para governar Itália.
Aldo Moro pisou assim um risco vermelho e fatal. Ele, como qualquer outro dirigente do arco da governação, na altura não se dizia assim com tanta desvergonha mas o conceito existia implicitamente, sabia que não poderia, em situação alguma de resultados eleitorais ou crise política, abrir as portas do governo aos comunistas. Nem quando os comunistas fossem o partido mais votado, como chegou a acontecer em Itália. Nem a CIA, nem a NATO o permitiam. Todos os dirigentes que poderiam facilmente formar maiorias com os comunistas em países da Europa Ocidental obedeceram a essas ordens. Em Portugal também, como se sabe, desde que o PREC passou à história e a situação se “estabilizou”. Aldo Moro desafiou as ordens. E foi abatido.
“Vai pagar muito caro por isso”, ameaçou Henry Kissinger quando a estratégia de governo defendida por Aldo Moro se tornou pública. Foi Eleonora, a viúva de Moro, quem revelou a sentença ditada pelo então secretário de Estado norte-americano, Nobel da Paz e padrinho do grande pacifista chileno Augusto Pinochet.
“Matámos Moro”, confessou Steve Pieczenik, “negociador” enviado pelo Departamento de Estado norte-americano e pelo presidente James Carter para impedir que houvesse qualquer outra saída que não fosse a eliminação. Moro foi “sacrificado pela estabilidade de Itália”, admitiu Pieczenik em livro. Estabilidade? Onde já ouvimos isto? Mal chegou a Roma, Pieczenik integrou a “comissão” de crise que incluía o ministro do Interior Francesco Cossiga e os chefes dos três serviços secretos, todos eles membros da P2 e tutores, por inerência, das Brigadas Vermelhas. Foi a Comissão de Crise que lançou um primeiro anúncio público, e falso, atribuído às Brigadas Vermelhas, de que Moro estava morto. Cossiga, igualmente dirigente democrata cristão, confessou mais tarde que essa manobra foi uma maneira de preparar a opinião pública para o desfecho já determinado.
A execução de Aldo Moro é um episódio de guerra. De uma guerra que não acabou em 9 de Maio de 1945, nem com a queda do Muro de Berlim, uma guerra na qual os poderes financeiros ocultos ditam as regras através de marionetas políticas e militares descartáveis para acumularem sempre mais lucros, escorra o sangue humano que tiver de escorrer como garantia da sua “estabilidade”.
Sem comentários:
Enviar um comentário