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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Bento ESPINOSA



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Baruch de Espinosa
ברוך שפינוזה
Nascimento       24 de novembro de 1632
Amsterdã, Países Baixos
Morte   21 de fevereiro de 1677 (44 anos)
Haia, Países Baixos
Nacionalidade   neerlandesa
Ocupação           artesão, filósofo
Magnum opus Ética, "Tratado Teológico-Político"
Escola/tradição                Espinozismo (fundador), racionalismo, eudemonismo, cartesianismo
Principais interesses      Ética, metafísica, teoria do conhecimento, teologia, Lógica
Ideias notáveis                 conatus, interpretação histórica da Bíblia

Baruch de Espinoza[1] (24 de novembro de 1632, Amsterdã — 21 de fevereiro de 1677, Haia) foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu em Amsterdã, nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.

Chamado pelos pais de Bento, chamou-se "Baruch" enquanto que judeu nascido e vivendo em Amesterdã. Finalmente, utilizou Benedictus para assinar a sua Ethica depois do chérem em seu nome.[2] Também é conhecido como Benedito Espinoza.
Vida

A sua família fugiu da Inquisição de Portugal. Falava o português no seio da família. É muito provável que, por isso, pensasse em português! Foi um profundo estudioso da Bíblia, do Talmude e de obras de judeus como Maimónides, Ben Gherson, Ibn Ezra, Hasdai Crescas, Ibn Gabirol, Moisés de Córdoba e outros. Também se dedicou ao estudo de Sócrates, Platão, Aristóteles, Demócrito, Epicuro, Lucrécio e também de Giordano Bruno. Ganhou fama pelas suas posições opostas à superstição (a sua frase Deus sive natura, "Deus, ou seja, a Natureza" é um conceito filosófico, e não religioso), e ainda devido ao fato de a sua Ética ter sido escrita sob a forma de postulado e definições, como se fosse um tratado de geometria.
Chérem
O banimento, que foi escrito em português!

Em 27 de julho de 1656, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdão puniu Espinosa com o chérem, o equivalente hebraico da excomunhão católica, pelos seus postulados a respeito de Deus em sua obra, defendendo que Deus é o mecanismo imanente da natureza, e a Bíblia, uma obra metafórico-alegórica que não pede leitura racional e que não exprime a verdade sobre Deus.[2] Estas excomunhões foram banidas sob o governo republicano.
O banimento (texto original em português)
Cquote1.svg      Os Senhores do Mahamad [Conselho da Sinagoga] fazem saber a Vosmecês: como há dias que tendo notícia das más opiniões e obras de Baruch de Spinoza procuraram, por diferentes caminhos e promessas, retirá-lo de seus maus caminhos, e não podendo remediá-lo, antes pelo contrário, tendo cada dia maiores notícias das horrendas heresias que cometia e ensinava, e das monstruosas ações que praticava, tendo disto muitas testemunhas fidedignas que deporão e testemunharão tudo em presença do dito Spinoza, coisas de que ele ficou convencido, o qual tudo examinado em presença dos senhores Hahamim [conselheiros], deliberaram com seu parecer que o dito Spinoza seja heremizado [excluído] e afastado da nação de Israel como de fato o heremizaram com o Herem [anátema] seguinte:

"Com a sentença dos Anjos e dos Santos, com o consentimento do Deus Bendito e com o consentimento de toda esta Congregação, diante destes santos Livros, nós heremizamos, expulsamos, amaldiçoamos e esconjuramos Baruch de Spinoza [...] Maldito seja de dia e maldito seja de noite, maldito seja em seu deitar, maldito seja em seu levantar, maldito seja em seu sair, e maldito seja em seu entrar [...] E que Adonai [Soberano Senhor] apague o seu nome de sob os céus, e que Adonai o afaste, para sua desgraça, de todas as tribos de Israel, com todas as maldições do firmamento escritas no Livro desta Lei. E vós, os dedicados a Adonai, que Deus vos conserve todos vivos. Advertindo que ninguém lhe pode falar pela boca nem por escrito nem conceder-lhe nenhum favor, nem debaixo do mesmo teto estar com ele, nem a uma distância de menos de quatro côvados, nem ler Papel algum feito ou escrito por ele."
A Filosofia de Espinosa
O problema fundamental: liberdade versus servidão: liberdade versus finalismo
Não determinismo / liberdade
Liberdade é a consciência da necessidade, força ativa que vence os constrangimentos.
A descoberta de uma outra subjetividade culmina na Democracia.
O homem servo das forças externas, os poderes que controlam a liberdade individual, a moral dominante que produz fatalismo, tristeza.
“Deus sive (ou seja) Natura”
Passagens da ÉTICA
O estilo geométrico como racionalidade pura sem contaminação da Ideologia (Preconceitos), da imaginação, dos afetos.
A Holanda – o seu “livre governo”, essa “Liberdade” exprimiria a essência do novo Estado. O espinosismo seria a correspondente consciência filosófica.
O espinosismo remete para três ordens de razões: o estatuto da liberdade; a relatividade dos sistemas de valores; as condições de possibilidade da ciência, o modelo matemático.
Dois textos principais: o apêndice à Parte I da ÉTICA ; o prefácio do Tratado teológico-político; acrescente-se o capítulo I do Tratado Político.
O método: funda a sua universalidade na homogeneidade do Ser ou Natureza, força infinitamente produtiva.
O que faz ressaltar o carácter ilusório de uma liberdade definida em termos de escolha incondicionada.
A Necessidade ( determinismo?) universal permitirá compreender o mecanismo das ilusões, os limites do poder humano, definido como duplo poder de agir e de sofrer.
O livre arbítrio é uma ilusão que resulta da ignorância das causas, dos constrangimentos, da ideia de que devo dominar as paixões e posso, tal como julgo dominar a natureza e as coisas.
A teoria política torna-se uma “ciência aplicada”que, equacionando poder e formas de governo, deduz a política democrática como a que detém o máximo de poder, ou seja, o grau máximo da perfeição do Ser.
Descartes reservava um estatuto privilegiado à união substancial da alma e do corpo, incompreensível à nossa razão, mas atestada por um sentimento insuspeito fundado na finalidade divina.
Espinosa recusa os sentimentos como explicação.
Ler no sentimento mais do que o mecanismo inerente aos sobressaltos da imaginação será deixar-se arrastar pelo preconceito antropomórfico.
O finalismo é o preconceito fundamental.
O princípio da finalidade é induzido a partir da indevida extrapolação da consciência de si à Natureza em geral. Este “olhar” é “delirante”.
“as causas finais não são mais do que ficções dos homens.”
Apoia-se na experiência (com reservas) e nas matemáticas (geometria de Euclides: definições, axiomas, teoremas, corolários) cujo modelo se ocupa “unicamente das essências e não dos fins”.
É essa a outra norma da verdade (galilaica). Traça uma tangente com Descartes. É a época do atomismo epicurista renascido e renovado.
Descartes não levou às últimas consequências o seu postulado, racionalismo que desprezava, e bem, as ideias confusas e obscuras. Porém, ele próprio as reintroduziu…
Excluindo uma finalidade heterogénea das leis universais da Natureza, a situação do homem muda de significado – ruptura e revolução -; todo o tipo de antropomorfismo desaparece.
Despojado de qualquer privilégio, o homem deixa de ser “um império num império”.
As noções de mal e de pecado tornam-se então ilusórias, o apelo à vontade de Deus “esse asilo da ignorância” permanece vão.
Para ser racional, a reflexão sobre a essência humana deverá ter em atenção o comportamento humano na sua totalidade, pelo mesmo motivo que o conjunto dos outros fenómenos naturais, como um processo que necessariamente se rege pelo “determinismo” universal.
Imaginação versus Razão
Quanto mais as condições de vida determinam o ser humano à passividade mais este ficará cativo da subjetividade e menos apto a agir e a conhecer.
“quanto mais coisas conhece o espírito melhor compreende as suas forças e a ordem da natureza.”
Subjetividade-subjetivismo é aqui sinónimo de ignorância das causas.
A distorção subjetiva consiste em inverter a ordem do verdadeiro encadeamento causal, em substituir a causa pelo efeito, ou vice-versa, e em apresentar desse modo uma perceção invertida da realidade.
É essa inversão que se exprime no pensamento finalista e que constitui a própria estrutura do preconceito.
O esquema finalista anima todo o pensamento comum:
“Todos os (preconceitos) que aqui assinalo dependem, na realidade, de um só, que é o de os homens suporem comummente que todas as coisas da natureza agem como eles em vista de um fim, chegando até a ter por certo que o próprio Deus tudo dirige para um determinado fim.”
Os reflexos condicionados, o “inconsciente”, as paixões naturais passarão a ter um peso predominante porque o ser humano terá necessariamente paixões que não são mais do que a expressão dos constrangimentos do todo sobre a parte.
Porque todo o ser humano é determinado pela sua constituição física a tender para o que lhe é útil, com o fim de persistir no seu ser (preservar o seu ser), Ele é desejo, e consciente disso na medida em que a mente é ideia do corpo.
A ordem de encadeamento das ideias é inteiramente determinada por condições externas.
É justamente na medida em que o pensamento é inteiramente determinado do exterior que lhe escapa toda a sua determinação e condicionamento, e projeta sobre o mundo um esquema ilusório.
O pensamento imaginativo projeta na Natureza o esquema do seu comportamento aparente e, ignorando as causas, imagina-se correlativamente pensamento livre (de livre arbítrio) de constrangimentos.
“Os homens pensam que são livres pela única razão de que são conscientes dos seus atos e ignorantes das causas que os determinam.”
O livre arbítrio é, portanto, um sonho, as noções de liberdade e de finalidade interligam-se: a finalidade da Natureza infere-se a partir da suposta liberdade do sujeito, projetando o sujeito essa liberdade num Ser que governa a Natureza à sua imagem. Rei e soberano absoluto. Destituído de Necessidade. Age à semelhança dos caprichos dos reis e dos homens.
Qual o fundamento?
A atividade humana serve-se da realidade como meio, por isso atribui à natureza um papel instrumental – não a pode conceber imediatamente de outro modo que não seja um meio para um fim.
“Com efeito, os homens, depois de terem considerado as coisas como meios, não puderam acreditar que as coisas se tenham feito a si próprias.”
A representação utilitária oriunda da prática é, pois, espontaneamente finalista.
O homem surge dotado de meios na proporção exata em que ele próprio é um meio ao serviço de um fim supremo e insondável.
Os valores
Todos os valores são relativos e não substanciais. O Bem não é nada em si mesmo, mas algo que traduz uma relação e se diz relativamente ( coisas com coisas, corpos com corpos, encontros com encontros).
“Não sendo o bem e o mal nada mais que relações …nunca se diz de uma coisa que é boa senão quando a relacionamos com outra, que não é tão boa, ou que nos não é tão útil.”
“nós não nos esforçamos, não queremos, não ambicionamos nem desejamos coisa alguma porque a julgamos boa; mas, ao invés, julgamos que uma coisa é boa porque nos esforçamos por a alcançar, porque a queremos, ambicionamos e desejamos.” ÉTICA, III, prop. 9, escólio)
O que é então o bem?
É a própria utilidade, o instrumento da conservação do ser, seu crescimento.
O que é a virtude? É somente a potência.
O sistema espinosista é um sistema de forças. Correlação de forças e de poderes (potências).
A precaridade da existência humana inclina o espírito a duas paixões contrárias e complementares: o medo e a esperança. O seu denominador comum é a inconstância (incerteza) face a um futuro que apenas se presume ou se imagina ou se quer ou se teme.
A alma é varrida por fluxos e refluxos ao impulso de paixões externas. Nisso consiste a nossa servidão.
Apelar para esses impulsos, consolidá-los, é antes de mais escravizar o ser humano, devolvê-lo a um universo passional, desarmá-lo. É esse o fim que perseguem instituições e doutrinas que manipulam as multidões, excitando-as na sua paixão.
Eis o motivo por que a religião, que se dirige ao coração despertando nele esperança de imortalidade pessoal e temor de castigo eterno, carece de moralidade autêntica. Ela não liberta o homem, não o torna ativo, antes o condiciona.
Assim procede o Estado quando governa pelo temor que inspira, ou se sobrepõe pelo terror, contrariando a verdadeira utilidade do contrato social, que é o libertar o homem do temor, proporcionando-lhe o máximo de segurança.
“Não é para manter o homem no receio e o fazer propriedade de um outro que se institui o Estado; pelo contrário, é para libertar o indivíduo, para que ele viva tanto quanto possível em segurança, ou seja, para que preserve, tanto quanto possa e sem prejuízo de terceiros, o seu direito natural de existir e de agir.” (Tractatus Theologico- Politicus, capítulo XX)
Monismo
O NÚCLEO DE CONCEITOS ESPINOSISTAS é o sistema da vontade.
Quer se trate de Deus, quer dos homens. E da finalidade.
Espinosa rompe com toda a filosofia passada e presente. Muda de campo (teórico). Para segui-lo precisamos de mudar o olhar. Olhar primeiramente para a Natureza, suas leis, sua ordem, sua necessidade, sua indiferença pelos valores humanos. Abandonar o antropocentrismo e o antropomorfismo.
Em Descartes a iluminação criadora do ato voluntário só toma todo o seu sentido ao destacar-se sobre o fundo de necessidade mecânica a que está submetido o mundo exterior. Este é que é o princípio do mecanicismo (moderno).
E do fato de se julgarem livres nasceram as noções seguintes: o louvor, e a censura, o erro e o mérito.
A virtude, então, será concebida como repressão e como tal condição preliminar da felicidade futura (salvação). Expetativa, apelo, ascese: toda a configuração de uma filosofia da morte.
O homem verdadeiramente livre não medita sobre a morte, a sua filosofia não é uma meditação sobre a morte, mas sobre a vida.
Liberto das paixões negativas  (sofrimento passivo), torna-se ativo, e vive a alegria. Esta é uma paixão mais forte que vence a mais fraca. Potência de acção. Para vencer um poder é necessário um poder mais forte. Para vencer um hábito negativo (para si próprio e para os outros) é preciso um hábito mais forte que o vença. Relação de forças na Natureza e na sociedade.
Deus é um ser absolutamente infinito, quer dizer, uma substância consistente numa infinidade de atributos, dos quais cada um exprime uma essência eterna e infinita (I, def. 6)
Desses atributos só conhecemos dois: a extensão e o pensamento. Unidos, porém, porque a Substância é só uma e una. Paralelismo mente-corpo.
Fora da Natureza não há nada, nem pode haver pela definição de Substância (aquilo que é em si mesmo e não necessita de mais nada para subsistir).
Deus é a Natureza naturante e Natureza naturada, ou seja, atributos e deles os modos que resultam. Deus, ou Natureza, é, portanto, atividade pura e eterna e infinita, e exprime-se de múltiplos, diversos e infinitos modos.





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