O ASSALTO A TANCOS É UMA HISTÓRIA MUITO MAL CONTADA
O
caso do assalto a Tancos, que tem evidentes incidências políticas, anda
muito mal contado. A versão "oficial", largamente corroborada pelos
Media, é a de que um vasto arsenal bélico foi furtado em dois paióis do
Exército há alguns dias, aproveitando falhas do sistema de segurança
(humanas e electrónicas) e que todo o pesado material saiu do recinto
através de um buraco feito pelos assaltantes na cerca de arame.
Mas
esta versão só pode ser engolida por totós. Ora pensem bem no que nos
contam e vejam lá se a coisa é verosímil. Os paióis situam-se a meio
quilómetro do buraco feito na vedação. Os assaltantes teriam portanto
cortado o arame farpado, percorrido a pé uma longa distância (durante
alguns minutos), arrombaram depois os portões (que decerto não estavam
no trinco, mas estranhamente ninguém ouviu o barulhão, deviam ter tomado
uns valentes dopings para dormirem tão bem); após o que escolheram
calmamente o material que procuravam, que pesava várias toneladas. Nisto
perderam imenso tempo; e depois, alombando com a carga às costas,
percorreram o caminho inverso e carregaram à mão um valente camião que
estava estacionado lá ao pé.
Ora
esta narrativa é tão impossível e tão pueril que é impossível de
aceitar por pessoas com dois dedos de testa. E já nem falo de algo que
tem sido muito referido: que, a ser assim, só alguém teleguiado por
pessoas que forneceram informações e que estavam (ou trabalhavam) no
interior do perímetro, poderiam saber aonde os intrusos deviam ir e
saber o que lá estava. Mas essa nem sequer é a coisa mais importante.
Este ataque, se é que ele aconteceu, só pode ter ocorrido através da
porta d'armas (a entrada principal) e não perpetrado através de um
buraco na vedação. Que foi por lá que entrou e que depois saiu a viatura
pesada de transporte.
Que
quem estava a comandar o portão principal, ou era conivente com a
conspiração, ou tinha sido autorizado por algum superior a deixar entrar
e sair aquele camião concreto sem fazer perguntas, nem pedir papéis, e
que depois nem vasculhou o conteúdo à saída. Coisa que se faz em
qualquer supermercado, como bem sabemos, quanto mais numa instalação
militar deste tipo.
Há várias hipóteses possíveis aqui, em alternativa à versão que tem vindo a público.
A
primeira: um conjunto de responsáveis da Base decidiu fazer uma
"exportação" de material bélico para um qualquer destino externo, a
troco de dinheiro ou de interesses políticos, militares, ou ideológicos.
A
segunda: pode não ter havido roubo algum, o buraco na vedação ser só
uma treta para iludir os ingénuos, e a cena ter sido orquestrada para
abater ao inventário material que nunca lá esteve realmente, por ter
sido pago mas nunca entregue.
A
terceira: isto é uma operação dos serviços secretos, destinada a
intervir no jogo político, a gerar umas valentes receitas para alguns e a
criar uma crise de confiança e de medo na opinião pública.
Há
uma questão final, e decerto que não a menos importante. Tudo o que
aconteceu (ou não aconteceu) em Tancos dificilmente poderá ser
seriamente investigado pela Polícia Judiciária Militar, que é uma
instituição não-independente, melhor dizendo totalmente dependente de
uma hierarquia corporativa. Se a Polícia Judiciária Civil já suscita,
frequentemente, as maiores dúvidas em termos de competência, isenção,
idoneidade e especialização, já a Polícia Judiciária Militar as suscita
ao quadrado: tem menos experiência, menos conhecimento, os seus
efectivos são confrades dos potenciais criminosos ou conspiradores e,
acima de tudo, funcionam em regime de máxima opacidade, crentes que
estão de que tudo o que faça (ou não faça) será abafado pelas chefias,
em nome de pretensos "interesses superiores".
Ainda
há pouco tempo percebemos que a investigação às mortes na instrução dos
Comandos teve de envolver outras entidades exteriores à PJM para ganhar
alguma eficácia e chegar com alguma consistência a Tribunal Civil.
Lembro, finalmente, que Passos e Cristas andam aos pulinhos de contentes
com o ocorrido em Tancos, a ponto de ontem (segunda) ambos terem vindo a
público vender a ideia de que Portugal anda ao Deus dará e que o
Governo não faz nada. E que esta terça o CDS/PP vai a Belém pressionar o
Presidente da República sobre este assunto. Espero bem que Cristas e os
seus amigos não estejam envolvidos nesta moscambilha, nem dela tenham
tido prévio conhecimento, para bem dos próprios e de nós todos. E espero
ainda que o preclaro Marcelo tenha o discernimento bastante para mandar
esta gente dar uma volta ao bilhar grande, porque quem se comprometer
com tal versão nesta fase do assunto vai ficar queimado.
Bem
andou António Costa em ter guardado a máxima discrição sobre esta
história, porque tudo o que ele dissesse a tal respeito seria sempre
considerado como demasiado muito, ou como demasiado pouco. Já agora,
ainda uma nota: como era de esperar, Portugal teve de fornecer aos
serviços da segurança militar e aos serviços de "intelligence" dos
países da NATO e da UE uma lista exaustiva dos materiais alegadamente
furtados. Não acham estranho que a mesma tenha fugido para um obscuro
jornal digital do país vizinho, o El Español (uma espécie de Observador
da direita espanhola), que a publicou por fuga de alguém altamente
colocado, ou se calhar pela prestimosa mão do "jornalista" Sebastião
Pereira?
Mas
acham que é assim que os serviços secretos funcionam, portugueses ou
estrangeiros, oferecendo dados altamente confidenciais a uma publicação
deste tipo? Os meus amigos que desçam à terra e não deixem que nos tomem
a todos por parvos. Depois dos incómodos sucessos do Governo na frente
económica, financeira e social, há quem esteja a recorrer ao incêndio de
Pedrógão e ao assalto a Tancos para fazer aquilo que não conseguiram
fazer junto dos famigerados mercados, ou através dessa criatura que é o
senhor Schäuble
"Já
vi algumas coisas mas recuso-me a aceitar que alguém das direcções
políticas de qualquer partido político português tenha remotamente
alguma coisa a ver com este assunto. Os aproveitamentos e distorções são
naturais e inevitáveis. Envolvimento directo ou indirecto, não.
Acredito que há limites. Quanto ao El Espanhol, foi o pasquim que lançou
a bojarda de Portugal ter recusado a ajuda
dos bombeiros galegos. Que agora apareça envolvido nisto, pode indiciar
que se trata de uma testa de ferro de alguém, cá, com intenções
claramente criminosas. A juntar à historieta do Sebastião, e à forma
como a operação Sebastião foi coordenada com os meios de comunicação
portugueses, começa a formar um padrão. Começa a cheirar a campanha de
desestabilização ao estilo sul americano"
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