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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

August 27, 2017

Syria Summary - Towards The End Of The Caliphate

This map from the last Syria summary shows the forming of two cauldrons north and north-west of Palmyra. ISIS forces there were enclosed by the Syrian army progressing eastwards on several axes.
Ten days later the most eastward of those cauldrons has been eliminated.
The Syrian army progresses further east and continues to move onto Deir Ezzor on three axes.
ISIS attempted counterattacks towards the supply line to Aleppo and along the Euphrates southeast of Raqqa. Both were defeated within a day or two and the attacking ISIS forces were eliminated. There is clearly a change in the pattern of ISIS deployment. It is now lacking manpower and is giving up in outlining areas. Its counterattacks use swarming tactics and lack the command and force of monolithic military units. In Iraq the army and the popular militia units took just 10 days to liberate the ISIS held city of Tal Afar. Of the estimated 2,000 ISIS forces there only some 200 non-locals had remained. 1,800 had been evacuated towards east-Syria, In the Qalamun area at the Lebanese border the Lebanese army and Hizbullah attacked the last ISIS enclave along that border. Today the remaining 200 ISIS fighters in the area agreed to lay down arms in exchange for an evacuation towards east-Syria.
Three ISIS pockets remain in Syria. One is in Raqqa where the enclosed ISIS units will fight to death. The U.S. military and its Kurdish proxy forces are literally destroying the city to save it. It is unlikely that the remaining ISIS forces in the city will give up or agree to an evacuation deal. In an earlier deal with Kurdish forces a group of ISIS fighters negotiated a retreat from the Tabqa dam in exchange for free passage towards Raqqa. The U.S. military broke the deal by attacking the retreating ISIS fighters.
A second pocket is in the semi desert north-west of Palmyra. ISIS fighters there have dug elaborate cave systems (video). The caves may protect against detection from the air but these positions are indefensible against a ground assault. The area will likely be cleansed within a week.
The third ISIS pocket left is near the Israeli border in Golan heights. The area still awaits a solution but there is no doubt that the Takfiri forces there will eventually be eliminated. Israel has tried to press the U.S. and Russia for protection of the area from an expected onslaught by the Syrian Hizbullah. It also asked to suppress all Iranian influence in Syria. But Washington as well as Moscow rejected the Israeli requests. Netanyahoo lost the war he waged on Syria and Israel will now have to live with a far more capable force along its northern borders.
What is left of ISIS, probably some 10,000 fighters in total, is now confined to east Syria and west Iraq. No more replenishment is coming forward. No new fighters are willing to join the losing project. Its resources are dwindling by the day. The U.S. is extracting its assets within the organization. The Euphrates valley west and east of Deir Ezzor will become the last defensible territory it holds. Six month from now it will be defeated. Its Caliphate will be gone. ISIS though will probably continue as a desert insurgency.
The other Jihadi project in Syria is run under the various names of al-Qaeda in Syria. It is now mainly confined to Idleb province. The estimated strength is some 9,000 fighters with some 12,000 auxiliary forces of local "rebels". Like ISIS, al-Qaeda in Syria is now isolated and no one is willing to come to its help. Its local helpers will give up and reconcile as soon as the Syrian army will move in on them. The hard-core militants will be killed.
The U.S. has told its proxy "rebels" to give up on their political project. Jordan is sending peace signals towards Damascus. The Syrian President Assad will not be removed and the country will stay under the protection of Russia and Iran. The U.S. still supports the Kurdish YPG fighters in Syria's north-east. But its relation with its NATO member Turkey will always be more important than any national Kurdish project. In the end the Kurds, like others, will have to accept the condition Damascus will set for them.
Posted by b on August 27, 2017 at 09:03 AM | Permalink
in Moon of Alabama 

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Documento que registra extermínio de índios é resgatado após décadas desaparecido   Felipe Canêdo

Relatório de mais de 7 mil páginas que relatam massacres e torturas de índios no interior do país, dado como queimado num incêndio, é encontrado intacto 45 anos depois

Marcelo Zelic/ DivulgaçãoA expedição percorreu mais de 16 mil quilômetros e visitou mais de 130 postos indígenas onde foram constatados inúmeros crimes e violações aos direitos humanos. O governo ignorou pedido do Relatório Figueiredo para demitir 33 agentes públicos e suspender 17

Depois de 45 anos desaparecido, um dos documentos mais importantes produzidos pelo Estado brasileiro no último século, o chamado Relatório Figueiredo, que apurou matanças de tribos inteiras, torturas e toda sorte de crueldades praticadas contra indígenas no país – principalmente por latifundiários e funcionários do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI) –, ressurge quase intacto. Supostamente eliminado em um incêndio no Ministério da Agricultura, ele foi encontrado recentemente no Museu do Índio, no Rio, com mais de 7 mil páginas preservadas e contendo 29 dos 30 tomos originais.

Em uma das inúmeras passagens brutais do texto, a que o Estado de Minas teve acesso e publica na data em que se comemora o Dia do Índio, um instrumento de tortura apontado como o mais comum nos postos do SPI à época, chamado “tronco”, é descrito da seguinte maneira: “Consistia na trituração dos tornozelos das vítimas, colocadas entre duas estacas enterradas juntas em um ângulo agudo. As extremidades, ligadas por roldanas, eram aproximadas lenta e continuamente”.

Saiba mais

Filho se emociona ao falar do trabalho de investigação feito pelo procurador sobre massacre indígena
Comissão do Senado discute tortura contra índios descritas no Relatório Figueiredo
Evidências de um genocídio indígena no Brasil têm repercussão internacional
Entre denúncias de caçadas humanas promovidas com metralhadoras e dinamites atiradas de aviões, inoculações propositais de varíola em povoados isolados e doações de açúcar misturado a estricnina, o texto redigido pelo então procurador Jader de Figueiredo Correia ressuscita incontáveis fantasmas e pode se tornar agora um trunfo para a Comissão da Verdade, que apura violações de direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988.

A investigação, feita em 1967, em plena ditadura, a pedido do então ministro do Interior, Albuquerque Lima, tendo como base comissões parlamentares de inquérito de 1962 e 1963 e denúncias posteriores de deputados, foi o resultado de uma expedição que percorreu mais de 16 mil quilômetros, entrevistou dezenas de agentes do SPI e visitou mais de 130 postos indígenas. Jader de Figueiredo e sua equipe constataram diversos crimes, propuseram a investigação de muitos mais que lhes foram relatados pelos índios, se chocaram com a crueldade e bestialidade de agentes públicos. Ao final, no entanto, o Brasil foi privado da possibilidade de fazer justiça nos anos seguintes. Albuquerque Lima chegou a recomendar a demissão de 33 pessoas do SPI e a suspensão de 17, mas, posteriormente, muitas delas foram inocentadas pela Justiça.

Os únicos registros do relatório disponíveis até hoje eram os presentes em reportagens publicadas na época de sua conclusão, quando houve uma entrevista coletiva no Ministério do Interior, em março de 1968, para detalhar o que havia sido constatado por Jader e sua equipe. A entrevista teve repercussão internacional, merecendo publicação inclusive em jornais como o New York Times. No entanto, tempos depois da entrevista, o que ocorreu não foi a continuação das investigações, mas a exoneração de funcionários que haviam participado do trabalho. Quem não foi demitido foi trocado de função, numa tentativa de esconder o acontecido. Em 13 de dezembro do mesmo ano o governo militar baixou o Ato Institucional nº 5, restringindo liberdades civis e tornando o regime autoritário mais rígido.

 O vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e coordenador do Projeto Armazém Memória, Marcelo Zelic, foi quem descobriu o conteúdo do documento até então guardado entre 50 caixas de papelada no Rio de Janeiro. Ele afirma que o Relatório Figueiredo já havia se tornado motivo de preocupação para setores que possivelmente estão envolvidos nas denúncias da época antes de ser achado. “Já tem gente que está tentando desqualificar o relatório, acho que por um forte medo de ele aparecer, as pessoas estão criticando o documento sem ter lido”, acusa.

Suplícios

O contexto desenvolvimentista da época e o ímpeto por um Brasil moderno encontravam entraves nas aldeias. O documento relata que índios eram tratados como animais e sem a menor compaixão. “É espantoso que existe na estrutura administrativa do país repartição que haja descido a tão baixos padrões de decência. E que haja funcionários públicos cuja bestialidade tenha atingido tais requintes de perversidade. Venderam-se crianças indefesas para servir aos instintos de indivíduos desumanos. Torturas contra crianças e adultos em monstruosos e lentos suplícios”, lamentava Figueiredo. Em outro trecho contundente, o relatório cita chacinas no Maranhão, em que “fazendeiros liquidaram toda uma nação”. Uma CPI chegou a ser instaurada em 1968, mas o país jamais julgou os algozes que ceifaram tribos inteiras e culturas milenares.
Tags: índios documento relatório indígena

sexta-feira, 25 de agosto de 2017


Quando eles confessam

http://bit.ly/2w8yndH

Quem faz um cesto faz um cento !
Eu criei o terrorismo Yiadista e não me arrependo.
“¿Qué es lo más importante para la historia del mundo?  ¿El Talibán o el colapso del imperio soviético?” Es la respuesta de quién fue el asesor de seguridad del presidente Jimmy Carter, Zbigniew Brzezinski, a la pregunta de la revista francesa Le Nouvel Observateur (del 21 de enero de 1998) sobre las atrocidades que cometen los yihadistas de Al Qaeda. Una escalofriante falta de ética de individuos como él que destruyen la vida de millones de personas para alcanzar sus objetivos.
En esta entrevista, Brzezinski confiesa otra realidad: que los yihadistas no entraron desde Pakistán para liberar su patria de los ocupantes infieles soviéticos, sino que seis meses antes de la entrada del Ejército Rojo a Afganistán, EEUU puso en marcha la Operación Ciclón el 3 de julio de 1979, enviando a 30.000 mercenarios armados incluso con misiles Stinger a Afganistán para arrasar el país, difundir el terror, derrocar el  gobierno marxista del Doctor Nayibolá y tender una trampa a la URSS: convertirlo en su Vietnam. Y lo consiguieron. A su paso, violaron a miles de mujeres, decapitaron a miles de hombres y provocaron la huida de cerca de 18 millones de personas de sus hogares, casi nada. Caos que continúa hasta hoy.
Esta ha sido la piedra angular sobre la que se levanta el terrorismo “yihadista” y al que Samuel Huntington dio cobertura teórica con su Choque de Civilizaciones. Así, consiguieron dividir a los pobres y desheredados de Occidente y de Oriente, haciendo que se mataran en Afganistán, Irak, Yugoslavia, Yemen, Libia y Siria, confirmado la sentencia de Paul Valéry: “La guerra es una masacre entre gentes que no se conocen, para el provecho de gentes que si se conocen pero que no se masacran” .
Consiguieron neutralizar la oposición  de millones de personas a las guerras y convertir en odio la empatía. Con el método nazi de «una mentira repetida mil veces se convierte en una verdad»:
  • El atentado del 11S no lo cometieron los talibanes afganos. La CIA en 2001 había implicado al gobierno de Arabia Saudí en la masacre. ¿Por qué, entonces, EEUU invadió y ocupó Afganistán?
  • Las armas de destrucción masiva no las tenía Irak. El único país en Oriente Próximo que las posee, y de forma ilegal, es Israel y gracias a EEUU y Francia.
  • Tampoco EEUU necesitaba invadir a Irak para hacerse con su petróleo. Demoler el estado iraquí tenía varios motivos, como eliminar un potencial enemigo de Israel y ocupar militarmente el corazón de Oriente Próximo, convirtiéndose en el vecino de Irán, Arabia Saudí y Turquía.
  • Las cartas con ántrax que en EEUU mataron a 5 personas en 2001, no las enviaba Saddam Husein como juraba Kolin Powell, sino Bruce Ivins, biólogo de los laboratorios militares de Fort Derrick, Maryland, quien “se suicidó” en 2008.
  • Ocultaron la (posible) muerte de Bin Laden agente de la CIA, hasta la pantomima organizada el 1 de mayo del 2011 por Obama, en el asalto hollywoodiense de los SEAL a un domicilio en Abottabad, a pesar de que la ex primera ministra de Pakistán, Benazir Bhutto, ya había afirmado el 2 de noviembre del 2007 que el saudí había sido asesinado, por un posible agente de MI6 (quizás en 2002). Benazir fue asesinada casi un mes después de esta revelación. Mantener “vivo” a Bin Laden durante 8-9 años le sirvió a EEUU aumentar el presupuesto del Pentágono (de 301.000 millones de dólares en 2001 a 720.000 en 2011), incrementar los contratos de armas de Boeing, Lockheed Martin, Raytheon, etc. y vender millones aparatos de seguridad y cámaras de vídeo-vigilancia, montar cárceles ilegales por el mundo, legitimar y legalizar el uso de la tortura, practicar asesinatos selectivos y colectivos (llamados “daños colaterales”) y concederse el derecho exclusivo de invadir y bombardear al país que desee.
Una vez testados en Afganistán, la OTAN envió a éstos “yihadistas” a Yugoslavia con el nombre del Ejercito de Liberación de Kosovo; luego a Libia  y les puso el nombre de “Ansar al Sharia, y a Siria, donde primero les denominó “rebeldes” y luego les dio otros 5-6 nombres diferentes. En esta corporación terrorista internacional, la CIA se encarga del entrenamiento, Arabia Saudí y Qatar de “cajero automático” como dijo el ministro alemán de Desarrollo, Gerd Mueller, y Turquía, miembro de la OTAN, acoge, entrena y cura a los hombres del Estado Islámico. ¡Son los mismos países que forman la “coalición antiterrorista!
¿Cómo decenas de servicios de inteligencia y los ejércitos de cerca de 50 países, medio millones de efectivos de la OTAN instalados en Irak y Afganistán, que han gastado miles de millones de dólares y euros en la “guerra mundial contra el terrorismo” durante 15 largos años, no han podido acabar con unos miles de hombres armados con espada y daga de Al Qaeda?
Así fabricaron al Estado Islámico
Siria, finales del 2013. Los neocon aumentan la presión sobre el presidente Obama para enviar tropas a Siria, y necesitan una casus belli. El veto de Rusia y China a una intervención militar en el Consejo de Seguridad, la ausencia de una alternativa capaz de gobernar el país una vez derrocado o asesinado el presidente Asad, el temor a una situación caótica en la frontera de Israel, eran parte de a los motivos de Obama a negarse.  Sin embargo, el presidente y sus generales pierden la batalla y los sectores más belicistas del Pentágono y la CIA, Qatar, Arabia Saudí, Turquí y los medios de comunicación afines asaltan la opinión pública con las imágenes de las decapitaciones y violaciones cometidas por un tal Estado Islámico. Una vez que el mundo acepta que “hay que hacer algo”, y al no tener el permiso de la ONU para atacar Siria, el Pentágono, el bombero pirómano, diseña una especial ingeniería militar:
  1. Traslada en junio de 2014 a un sector del Estado Islámico de Siria a Irak, país bajo su control, dejando que ocupe tranquilamente el 40% del país, aterrorizando a cerca de ocho millones de personas, matando a miles de iraquíes, violando a las mujeres y niñas.
  2. Organizó una potente campaña de propaganda sobre la crueldad del Estado Islámico, semejante a la que hicieron con las lapidaciones de los talibanes a las mujeres afganas, y así poder “liberar” a aquel país. ¡Hasta la eurodiputada Emma Bonino cayó en la trampa, encabezando la lucha contra el burka, mirando al dedo en vez de la luna!
  3. Afirmó que al ubicarse el cuartel general de los terroristas en Siria, debían atacar Siria.
  4. Obama cesó de forma fulminante al primer ministro iraquí Nuri al Maliki, por oponerse al uso del territorio iraquí para atacar a Siria.
  5. Objetivo conseguido: EEUU por fin pudo bombardear, ilegalmente, Siria el 23 de septiembre del 2014, sin tocar a los “yihadistas” de Irak. Gracias al Estado Islámico, hoy EEUU (y Francia, Gran Bretaña y Alemania) cuentan con bases militares en Siria, por primera vez en su historia desde donde podrán controlar toda Eurasia. Siria deja de ser (tras la caída de Libia en 2001 por la OTAN) el único país del Mediterráneo libre de bases militares de EEUU.
  6. Y lo sorprendente: desde esta fecha hasta el julio del 2017, el Estado Islámico mantiene ocupado el norte de Irak sin que decenas de miles de soldados de EEUU hayan hecho absolutamente NADA. Al final, el ejército iraquí y las milicias extranjeras chiítas liberan Mosul, eso sí, cometiendo terribles crímenes de guerra contra los civiles.
El terrorismo en la estrategia del “Imperio del Caos”
El terrorismo “yihadista” cumple cuatro principales funciones para EEUU: militarizar la atmósfera en las relaciones internacionales, en perjuicio de la diplomacia; arrebatar las conquistas sociales, instalando estados policiales (los atentados de Boston, de París e incluso el de Orlando) y una vigilancia a nivel mundial; ocultar las decisiones vitales a los ciudadanos; hacer de bulldozer, allanando el camino de la invasión de sus tropas en determinados países, y provocar caos, y no como medio sino como un objetivo en sí.
Si durante la Guerra Fría Washington cambiaba los regímenes en Asia, África y América Latina mediante golpes de Estado, hoy para arrodillar a los pueblos indomables recurre a bombardeos, enviar escuadrones de muerte, y sanciones económicas, para matarles, debilitarles  dejarles sin hospitales, agua potable y alimentos, con el fin de que no levanten cabeza durante generaciones. Así, convierte a poderosos estados en fallidos para moverse sin trabas por sus territorios sin gobierno.
EEUU que desde 1991 es la única superpotencia mundial, ha sido incapaz de hacerse con el control de los países invadidos, debido al surgimiento de otros actores y alianzas regionales que reivindican su lugar en el nuevo mundo. Y como el perro del hortelano, ha decidido sabotear la creación de un orden multipolar que intenta gestarse, provocando el caos: debilita BRICS conspirando contra Dilma Russef y Lula en Brasil; impide una integración Económica en Eurasia, propuesta por Rusia a Alemania archivada con la guerra en Ucrania, y mina el proyecto chino de la Nueva Ruta de la Seda y una integración geoeconómica de Asia-Pacífico que cubriría dos tercios de la población mundial, y en cambio crea alianzas militares como la “OTAN sunnita” y organizaciones terroristas con el fin de hundir Oriente Próximo en largas guerras religiosas.
Anunciar que ha diseñado un plan para el “cambio de régimen” en Irán –un inmenso y poblado país-, ante la dificultad de una agresión militar, significa que pondrá en marcha una política de desestabilización del país mediante atentados y tensiones étnico-religiosas. La misma política que puede aplicar Corea del Norte, Venezuela, o Bolivia, y otros de su lista del “Eje del Mal”, y todo el servicio de perpetuar su absolutista hegemonía global: que intentase derrocar a su aliado Tayyeb Erdogan es el colmo de la intolerancia.
Antes de los trágicos atentados en Catalunya, el Estado Islámico atacó a la aldea afgana de Mirza Olang. Llenó varias fosas comunes con al menos 54 cadáveres de mujeres y hombres y tres niños decapitados, y se llevó a unas 40 mujeres y niñas para violarlas.
Conclusión: que el “yihadismo” no es fruto de la exclusión de los musulmanes, ni siquiera se trata de la lógica de los vasos comunicantes y el regreso de los “terroristas que hemos criado en Oriente”.  “Vuestra causa es noble y Dios está con vosotros”, dijo Zbigniew Brzezinski a sus criaturas, los yihadistas.
Este artigo encontra-se em: FOICEBOOK http://bit.ly/2wsvZ40

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Manifesto74: Louçã. Fica tudo dito.

Manifesto74: Louçã. Fica tudo dito.: No dia 12 de Julho, o BE apresentou na Assembleia da República um voto de condenação e repúdio pela discriminação contra a comunidade cigana...

Coreia do norte: O Fogo, a Fúria e o Medo

Pepe Escobar*    23.Ago.17    
Estará mesmo a República Popular da Coreia a desenvolver armamento que lhe permita atacar os EUA, o Japão ou a Coreia do Sul? Será Kim Jong-un o destrambelhado que o retrato que dele é dado no Ocidente pretende fazer crer?
“A atual narrativa é inquietantemente semelhante ao critério dos «suspeitos do costume». São os mesmos que atacaram o Iraque e que querem atacar o Irão porque estaria a um passo da «construção da arma nuclear».
A Coreia do Norte tem biliões de dólares de riqueza por explorar. Nas sombras destas manobras há corporações perfeitamente identificadas que esperam beneficiar com o festim depois de destruir outro país”.

Cuidado com os cães da guerra. Os próprios «inteligentes» que mostraram bébés tirados pelos «maus iraquianos» ou que quiseram convencer o mundo com armas de destruição massiva inexistentes, estão agora vender a ideia que a Coreia do Norte produziu uma cabeça nuclear miniaturizada, capaz de funcionar nos seus mísseis.
Este o núcleo da análise feita em julho pela Agência de Inteligência de Defesa dos EUA (DIA). Os «inteligentes» creem que Pyongyang tem umas 60 armas nucleares. Na inteligência estadounidense os programas de análise sobre a Coreia do Norte são praticamente inexistentes – portanto, estas avaliações não podem passar de conjeturas.
Mas o alarme aumentou porque, agora, estas conjeturas foram acompanhadas de uma publicação de 500 páginas do ministério da Defesa do Japão.
O livro branco japonês destaca os «avanços significativos» de Pyongyang na corrida nuclear e a sua «possível capacidade» para desenvolver ogivas nucleares miniaturizadas para os seus misseis.
Esta «possível capacidade» é pura e simplesmente uma especulação. O relatório diz: «É concebível que o programa de armas nucleares da Coreia do Norte possa ter avançado consideravelmente e, é possível que a Coreia do Norte esteja em condições de conseguir miniaturizações das suas cabeças nucleares».
Os grandes media ocidentais alimentaram uma autêntica metástases especulativa. Titularam com frenesim em jornais e televisões: «A Coreia do Norte miniaturizou as suas armas nucleares». A grande imprensa pretende comover corações e mentes ocidentais com o fator medo.
Convenientemente, o «Livro branco japonês» também exige a condenação da China «pelas ações de Pequim, nos mares de Este e do Sul da China».
Lancemos uma olhadela à forma como se movem as peças neste jogo. O Partido da Guerra dos EUA, com as suas milhentas conexões no complexo militar-industrial e nos meios de comunicação quer/necessita de uma guerra para manter a sua maquinaria oleada. Por sua vez, Tóquio gostaria muito de um ataque pré preventivo dos EUA, para continuar a condenar o inevitável contragolpe de Pyongyang.
É muito esclarecedor que Tóquio pense na China como uma «ameaça» tão grave como a Coreia do Norte. O ministro de Defesa, Itsunori Onodera, foi direto ao assunto: «os misseis da Coreia do Norte representam uma ameaça que aprofunda o comportamento ameaçante da China no Mar oriental da China e no Mar do Sul da China, esta é uma grande preocupação para o Japão».
A resposta de Pequim não se fez esperar.
Kim Jong-un, demonizado até ao infinito, não é um tonto. Não vai cair no ritual de «seppuku» (suicídio, haraquíri) atacando unilateralmente a Coreia do Sul, o Japão ou qualquer território dos EUA. O arsenal nuclear de Pyongyang representa o elemento de dissuasão contra a mudança de regime ao melhor estilo do que foi feito a «Saddam Hussein ou Gaddafi». Como argumentei noutras ocasiões só há uma maneira de tratar com a Coreia do Norte: diplomacia. Há que dizê-lo a Washington e a Tóquio.
Entretanto a resolução 2.371 do Conselho de Segurança das Nações Unidas tem como objetivo impedir as principais exportações da Coreia do Norte – carvão, ferro, mariscos. Só o carvão representa 40% das exportações de Pyongyang, 10% do seu PIB.
No entanto, este novo pacote de sanções não toca nas importações de petróleo e produtos refinados de petróleo através da China. Essa é uma das razões porque Pequim votou a favor.
A estratégia de Pequim é uma tentativa, muito asiática, de encontrar uma solução que lhe permita «salvar a face». Com a resolução 2.371 ganha tempo – e pode convencer a administração Trump que ir contra a Coreia pode ter consequências terríveis.
O chanceler chinês, Wang Yi, disse cautelosamente que as sanções são um sinal da oposição internacional aos programas de misseis e armas nucleares da Coreia do Norte. A última coisa que Pequim precisa é de uma guerra nas suas fronteiras, que poderia negativamente na expansão das novas rotas da seda.
Pequim está sempre disposta a trabalhar para a reconstrução das relações entre Pyongyang e Washington. Para a China isto é uma decisão política «mais alta que o Himalaia». Basta olhar para trás quando em 1994 se assinou o Acordo Marco, durante o primeiro mandato de Bill Clinton.
O acordo tinha como objetivo congelar – e inclusive desmantelar – o programa nuclear de Pyongyang, e normalizar as relações diplomáticas dos EUA com a Coreia. Um consórcio liderado pelos EUA construiria dois reatores nucleares para satisfazer a necessidade de energia de Pyongyang, as sanções seriam levantadas e ambas as partes se comprometiam com «garantias formais» contra o uso de armas nucleares.
No fim não se passou nada. O «acordo marco» foi derrubado em 2002 – quando a Coreia do Norte foi coroada como parte do «eixo do mal» por G.W. Bush, Cheney e os neocons. Os coreanos sabem que a guerra dos EUA contra o seu território nunca acabou – pelo menos formalmente. A razão? O armistício de 1953 nunca foi substituído por Tratado de Paz real.
Então, o que é que se segue? Três recordações:
1. Cuidado com as falsas bandeiras, seriam um pretexto perfeito para a guerra contra Pyongyang;
2. A atual narrativa é inquietantemente semelhante ao critério dos «suspeitos do costume». São os mesmos que atacaram o Iraque e que querem atacar o Irão porque estaria a um passo da «construção da arma nuclear».
3. A Coreia do Norte tem biliões de dólares de riqueza por explorar. Nas sombras destas manobras há corporações perfeitamente identificadas que esperam beneficiar com o festim depois de destruir outro país.
* Pepe Escobar é correspondente itinerante do Asia Times online.
Texto completo en: http://www.lahaine.org/corea-del-norte-el-fuego
Tradução de José Paulo Gascão
in ODiario.info

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Estudo genético comprova migração para a Índia há cinco mil anos e instala a polémica

Uma equipa de cientistas liderada por portugueses encontrou marcas em genomas que revelam que há quatro ou cinco mil anos chegou à Índia um grupo de homens da Ásia Central. A informação estava “escondida” nas linhagens masculinas e está a causar controvérsia.

O artigo científico é sobre o passado da Índia, mas a polémica instalada por causa das suas conclusões é bastante actual. A recente revelação de uma provável invasão de um grupo de homens vindos das estepes até ao Norte da Índia não foi bem aceite e tem sido duramente contestada por cientistas e académicos indianos. Pedro Soares, investigador na Universidade do Minho e autor do artigo publicado na revista BMC Evolutionary Biology, desabafa que este estudo inundou a sua caixa de correio electrónico “de mensagens ofensivas”. E não só. Esta é uma história sobre um artigo científico que resulta da análise e interpretação de dados genéticos, mas é também uma história que mostra que um resultado científico pode ser rejeitado por outras convicções.
Estudar o passado e mexer com a história e cultura de um país é um assunto que pode ser muito complicado. Mas vamos começar com os factos: Pedro Soares, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Universidade do Minho, foi um dos principais autores de um estudo que contou com a participação de cientistas de outras instituições em Portugal, no Reino Unido (Inglaterra, Escócia e País de Gales) e Austrália.
PÚBLICO -
Foto
O investigador Pedro Soares DR
O artigo partiu da análise de genomas completos actuais que tinham sido publicados em estudos anteriores, mas, sobretudo, de um conjunto de 500 genomas de indianos que foi tornado público por uma base de dados mundial, integrado num projecto internacional chamado Mil Genomas. Segundo explicou ao PÚBLICO, a equipa percebeu que as linhagens masculinas (que ainda não tinham sido alvo de nenhum estudo publicado até à data) escondiam marcas de uma invasão durante a Idade do Bronze, há quatro ou cinco mil anos. Nessa altura, um “grupo de homens provenientes da Ásia Central chegou à Índia e misturou-se com as mulheres locais”, conta Pedro Soares. “Eram homens pastoris, domesticadores de cavalos que falavam um ramo do indo-europeu, uma língua usada no hinduísmo clássico e que deu origem a outras que são faladas sobretudo no Norte e Centro da Índia.”
Apesar de nunca terem surgido provas desta invasão, a ideia não era nova. As análises feitas antes ao ADN mitocondrial (das mitocôndrias, estruturas fora do núcleo das células e transmitido apenas pela mãe) que permitem olhar para as linhagens femininas tinham encontrado alguns sinais desta mistura, mas não eram muito evidentes. “Até agora, os grandes estudos tinham sido feitos com ADN mitocondrial e realmente mostraram que estas linhagens são muito mais locais, desenvolveram-se na Índia, a maioria delas durante os 50 ou 55 mil anos desde a primeira colonização por humanos [modernos, a nossa espécie], desde que saíram de África.”
Por outro lado, nos últimos anos, surgiram cada vez mais provas (genéticas) da viagem das línguas indo-europeias das estepes para a Europa, com vários estudos publicados. A presença destes homens terá ficado mais marcada no Norte da Europa, uma vez que, segundo um outro trabalho publicado recentemente sobre o tema e que tratava a mesma época e os “mesmos” homens das estepes, não foram encontrados sinais fortes da sua presença na Península Ibérica.
“É o mesmo momento, é a mesma expansão. Simplesmente avançou para dois pontos diferentes. Avançou para oeste (para a Europa) e avançou para sudeste (para a Índia). Mas estamos a falar das mesmas populações com o mesmo processo. Também no caso da Europa há pouquíssimos sinais nas linhagens femininas e há um sinal muito, muito forte apenas nas linhagens masculinas, indicando que o que estamos a ver são essencialmente as marcas de migrações muito fortes de homens”, explica Pedro Soares. No caso da Índia, esta “invasão” terá ocorrido sobretudo no Norte, mas no Sul também foram encontradas algumas marcas.

Ciência que soou a insulto

A notícia caiu mal. E caiu mal na Índia, claro. “Para a Europa, começou a ser seriamente aceite que as línguas indo-europeias teriam vindo da zona das estepes, do Leste da Europa. Em relação à Índia, essa ideia surgiu também há muitos anos, mas só começou a ser seriamente debatida nos últimos anos e foi, desde logo, rejeitada por académicos indianos.”
Segundo Pedro Soares, esta foi a primeira vez que alguém, com as novas tecnologias de sequenciação de genomas completos, estudou as linhagens masculinas. Os dados analisados permitem concluir que, “ao contrário do ADN mitocondrial, o cromossoma Y indica que a grande maioria das linhagens indianas também veio (tal como as europeias) da zona das estepes”. O sinal, garante o investigador, é “bastante claro” e não deixa margem para dúvidas. Mas isso não evitou a contestação.
“As críticas, comentários e artigos que têm sido publicados por académicos, geneticistas e outras pessoas na Índia alegam que a amostragem podia ser maior. Dizem que têm a certeza de que, quando ‘tiparem’ [analisarem geneticamente] mais pessoas, vão concluir que aquelas linhagens são, afinal, ancestrais das populações da Índia”, explica Pedro Soares.
E se o sinal genético é claro para o investigador, a explicação para esta reacção também é. “Julgo que sentem que desta forma ficam muito associados ao colonialismo e esta teoria foi essencialmente apresentada por colonialistas ingleses académicos que estavam na Índia. Mesmo o próprio termo ‘invasões arianas’ proposto na altura (há cerca de 100 anos) é considerado altamente racista na Índia e uma pessoa não consegue livrar-se deste termo quando está a tratar o assunto academicamente, porque precisa de o fazer.”
A verdade é que as conclusões do estudo atacam alguns dos principais fundamentos culturais da região. Pedro Soares reconhece-o. “Um dos pontos principais do hinduísmo é ser uma das civilizações mais antigas do mundo que tem as suas raízes na Índia e cresceu na Índia e o hinduísmo está essencialmente associado à língua indo-europeia e não às outras línguas que são usadas na Índia. Basicamente, quando uma pessoa mostra que as línguas indo-europeias chegaram ali há cinco mil anos, está a trazer o facto de que boa parte da cultura hindu foi introduzida de fora nessa altura. Estamos a dizer que foram estas populações arianas que fizeram nascer o hinduísmo. Existe aqui um factor cultural muito forte que está a ter repercussões um pouco fora do normal.”
Ou seja, as conclusões deste estudo soaram a um insulto. “E a última coisa que queremos fazer com a ciência é insultar. O que fazemos é olhar para a ciência, ler a ciência e interpretar as coisas. Nunca estamos a pensar nas consequências culturais ou políticas que isso pode ter. Mas tem”, reage o investigador, que desabafa: “Sou o autor para a correspondência deste artigo e tenho a caixa de correio completamente inundada de e-mails ofensivos de indianos.”
E se o estudo tivesse cientistas indianos envolvidos? Isso seria suficiente para atenuar os protestos? “O artigo tinha autores indianos que pediram para sair. Tinha autores indianos que, quando chegámos às conclusões, disseram que, apesar de participarem, não queriam ficar associados a este artigo.”

O quarto escuro iluminou-se

Em resposta a esta contestação, os cientistas vão continuar a trabalhar neste assunto para fortalecer as conclusões? “Sim, neste momento estamos a tentar arranjar a nossa própria amostragem e talvez avançar para fazer mais tipagem. Mas é complicado.” Uma das dificuldades tem a ver com o facto de não existirem fósseis humanos com ADN antigo nestas regiões. “A Europa tem muito boas condições para preservar registos fósseis em que se consiga retirar ADN, mas aqui para a Índia ainda não saiu nenhum estudo de ADN antigo que seja elucidativo de alguma coisa, com dados suficientes.”

in Público 23/08/2017

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Losurdo: Mundo vive luta contra a nova contra-revolução colonial

O
filósofo italiano Domenico Losurdo é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores pensadores marxistas ocidentais vivos. Losurdo se destaca como um pensador comunista, estudioso de Gramsci e Hegel, polemista em defesa do legado do movimento comunista na forma do chamado socialismo real. É um intelectual comprometido com a luta contra o imperialismo, sendo este o ponto de referência de sua obra. Também escreveu uma extensa biografia intelectual de Friedrich Nietzsche.

Em visita ao Brasil para lançar seu novo livro, “Guerra e Revolução – O mundo um Século após Outubro de 1917” (disponível na Livraria da Opera), o professor da Universidade de Urbino, na Itália, se dispôs a conceder uma entrevista ao editor-chefe da Revista Opera, Pedro Marin, e ao colunista e ex-correspondente internacional, André Ortega.
O que segue é a íntegra da primeira parte de três da entrevista. Confira aqui a segunda e a terceira parte.
Revista Opera: Bem, gostaríamos de lhe agradecer por tomar seu tempo para nos conceder esta entrevista. Gostaríamos também que você começasse falando do livro que está sendo lançado no Brasil pela Boitempo, “Guerra e Revolução”.
Domenico Losurdo: Esse livro está sendo lançado não somente no Brasil, e ele é uma interpretação do século 20. O título em inglês é “War and the Revolution – Rethinking the Twentieth Century”. Eu só posso dizer algumas coisas do conteúdo, porque o livro é muito grande [risos]. Mas eu posso dizer que o conteúdo fundamental do século 20 foi a luta entre o colonialismo e anticolonialismo. É claro que os partidos anticoloniais eram dirigidos pelo Partido Comunista, mas nós não podemos entender o conteúdo do século 20 se não considerarmos esta luta entre o colonialismo e o anticolonialismo.
Nós vimos, após a Revolução de Outubro, não somente o desenvolvimento da revolução anticolonial mundial… antes da Revolução de Outubro, todo o mundo era propriedade de alguns poucos poderes capitalistas e imperialistas. A África era uma colônia, a Índia era uma colônia, a China uma semicolônia, Indonésia era uma colônia, a América Latina era uma semicolônia graças à Doutrina Monroe, e esse mundo foi mudado radicalmente em consequência da Revolução de Outubro e da revolução anticolonial mundial, que nasce da Revolução de Outubro.
Mas, eu digo que o conteúdo fundamental é a luta entre o colonialismo e o anticolonialismo em um sentido mais profundo; se nós considerarmos a história da União Soviética e da Rússia Soviética, Hitler se esforçou para executar a realização das “Índias Alemãs” no Leste Europeu, Hitler disse: “Nós teremos o nosso extremo oeste [far-west, faroeste] alemão no Leste Europeu”, ou seja, o clássico faroeste norte-americano, onde os brancos dizimaram os nativos, e onde os que sobreviveram estavam destinados a se tornarem escravos a serviço da classe de senhores, e portanto no Leste Europeu os bolcheviques, identificados com os judeus, estavam destinados a serem exterminados. Esse era o programa de Hitler.
Eu cito frequentemente [Heinrich] Himmler, que era um dos líderes do Terceiro Reich, e temos as conversas secretas dos nazistas, fechadas ao público, onde Himmler diz: “Agora que falo somente com nazistas, posso falar livremente. A Alemanha precisa de escravos” – no sentido literal da palavra – e diz que eles achariam seus escravos no Leste Europeu e, particularmente, na União Soviética. Ou seja, a luta da União Soviética foi até mesmo uma luta contra a tentativa de colonizar e escravizar os povos da União Soviética.
A essência do Terceiro Reich foi a ambição de desenvolver, radicalizar e expandir a tradição colonial. Portanto, a falha de Hitler de construir no Leste Europeu as “Índias Alemãs” foi o começo da libertação das Índias Inglesas, também. Mais tarde temos a Revolução Chinesa, que podemos considerar, talvez, a maior revolução anticolonial na história do mundo. E agora, a conclusão breve; a primeira contra-revolução colonial, a contra-revolução colonial de Hitler, é derrotada. Agora nós vemos outra tentativa de desenvolver uma contra-revolução colonial, imediatamente após a conclusão da Guerra Fria, nós vemos, por exemplo, o filósofo Carl Popper, que era o filósofo oficial da chamada “Open Society”, que disse abertamente que o ocidente “cometeu o erro de libertar esses povos muito cedo”, que os povos coloniais não estavam maduros o suficiente para serem livres.
E agora o perigo de uma grande guerra é o perigo provocado pela tentativa, por parte dos Estados Unidos, de bloquear a revolução anticolonial e de construir uma nova contra-revolução colonial, e o perigo da guerra, que é EUA contra a China, mas podemos até considerar a posição da Rússia… Em meus livros, eu insisto em um ponto que é, talvez, negligenciado: a história da Rússia em geral – não da Rússia Soviética, mas da Rússia em geral – é, de um lado, que a Rússia era, de fato, um poder imperialista, expansionista, mas que há só um aspecto da realidade histórica: por muito tempo a Rússia perigava de se tornar uma colônia.
Todos sabem da invasão de Hitler, de Napoleão, de Charles XII, dos mongóis. Por exemplo: se considerarmos o começo do século 17, em Moscou o poder era exercido pelos poloneses. Imediatamente após a 1ª Guerra Mundial, ou seja, após a derrota da Rússia Czarista, a Rússia estava em perigo de ser balcanizada, de se transformar em uma colônia, e eu cito em muitas vezes Stálin, que disse que para o ocidente a Rússia era como a África Central, e que o ocidente tentava fazer a Rússia entrar naquela guerra em nome do capitalismo e imperialismo ocidental.
Imediatamente após a conclusão da Guerra Fria, que foi um triunfo para o ocidente e para os EUA, a Rússia estava em perigo de se tornar uma colônia, porque a massiva privatização da colônia não era só uma traição contra as classes trabalhadores da União Soviética e da Rússia, mas também uma traição contra a nação russa, porque a perspectiva era de que o ocidente queria possuir imensos recursos energéticos no país. Os EUA estava a ponto de possuir esses recursos energéticos imensos.
Yeltsin foi o “grande campeão” dessa colonização da Rússia pelo ocidente. Putin, é claro, não é um comunista, mas ele queria evitar essa colonização e buscou reafirmar o poder russo sobre esses recursos energéticos. Ou seja, neste contexto, podemos falar de uma luta contra a nova contra-revolução colonial, podemos falar de uma luta entre os poderes imperialistas e colonialistas, principalmente os EUA, de um lado, e de outro lado nós vemos a China, o terceiro mundo. E desse grande terceiro mundo a Rússia é uma parte integral, porque estava em perigo de se tornar uma colônia do ocidente. Essa é minha filosofia da história mundial, a dizer. E eu peço desculpas pelo meu inglês [risos].
Revista Opera: Seu inglês é perfeito, professor, perfeito. Como dissemos, seria melhor que nós falássemos italiano ao invés de usar inglês, mas você fala desta contra-revolução colonial no momento…
Domenico Losurdo: É a segunda, talvez a terceira contra-revolução colonial…
Revista Opera: Como você descreveria a posição do imperialismo na política global de hoje? Essa luta contra a contra-revolução colonial é uma luta fundamental, porque temos até alguns pensadores e acadêmicos de esquerda que se dizem “pós-colonialistas”, que não dão este tipo de atenção à questão do imperialismo, porque para eles é algo ultrapassado.
Domenico Losurdo: Primeiro, podemos citar Lênin, que com uma visão muito clara fez uma distinção entre o colonialismo clássico e o neocolonialismo. Ele disse, no começo do século 20, que o colonialismo, no sentido clássico do termo, é a anexação política, ou seja, que um país ou um povo não tem independência política, que é não considerado digno para ser independente. Esse é o colonialismo clássico, com a anexação política de um país ou de um povo por um poder imperialista, colonialista e capitalista.
No entanto, Lênin disse também que há um outro tipo de anexação, que é a anexação econômica. E esse é o neocolonialismo. Hoje nós temos um exemplo do colonialismo clássico, que é a situação da Palestina. Lá vemos o colonialismo clássico. É claro, vemos Israel expandindo seus assentamentos, expandindo o território israelense, e vemos que o povo palestino como os índios no faroeste; eles são expropriados, deportados e, algumas vezes, mortos. Este é o colonialismo clássico.
Mas existe outra forma de colonialismo; o neocolonialismo. E nestes dias eu gosto de fazer duas citações; Mao [Tsé Tung], após conquistar o poder, que disse: “Se nós, os chineses, continuarmos dependentes da farinha americana para o nosso pão, nós seremos uma semicolônia dos EUA”, ou seja, a independência política será somente formal, não substancial. E eu cito outro clássico da revolução anticolonial, Frantz Fanon, que foi um grande campeão da revolução anticolonial da Argélia, e que disse algo muito importante: “Quando um poder colonialista e imperialista é compelido a dar a independência para um povo, este poder imperialista diz: ‘você quer é a independência? Então tome e morra de fome.” Porque os imperialistas continuam a ter o poder econômico, podem condenar o povo à fome, por meio de bloqueios, embargos ou pelo subdesenvolvimento.
Ou seja, Mao e Fanon são personalidades muito diferentes, mas os dois entenderam que a revolução anticolonial tem dois estágios; o primeiro, o estágio da rebelião militar, da revolução militar. O segundo; o desenvolvimento econômico. A chamada “esquerda” que não entendeu este segundo estágio não está em condição de entender a revolução anticolonial. O que vemos agora é o desenvolvimento do terceiro mundo, e esse desenvolvimento não é só um evento econômico, mas um grande evento político. A tentativa da China, hoje, de quebrar o monopólio ocidental da alta tecnologia é a continuação da revolução anticolonial.
E eu acredito, no sentido de que concordo totalmente com você, que essa esquerda conseguiu entender a revolução anticolonial quando os Estados Unidos bombardearam o Vietnã, mas não consegue entender a pretensão do imperialismo de exercer o poder econômico no mundo todo, e essa esquerda não consegue entender o segundo estágio da revolução anticolonial, que é feito por meio do desenvolvimento econômico e tecnológico.
Revista Opera: Também no que se refere ao imperialismo, alguns argumentam que a eleição de Donald Trump, nos EUA, representa uma virada na natureza do imperialismo norte-americano. Qual é a sua opinião?
Domenico Losurdo: Uma certa “esquerda” fala de Trump como uma mudança, mas essa esquerda dá a impressão de que considera Hillary Clinton uma representante da esquerda, ou da paz; isso é completamente errado. Hillary Clinton não é melhor que Trump e, talvez, seja pior. Ou seja, Trump, ao menos nas palavras, expressa sua intenção de melhorar as relações com a Rússia, e, no sentindo contrário, Hillary Clinton queria tensionar com a China e Rússia.
Para entender a profunda divisão na classe dominante e no imperialismo, talvez devamos seguir uma outra análise. Nos EUA há um debate: os Estados Unidos estão em condição de lutar, ao mesmo tempo, contra a Rússia e a China? É melhor para os EUA dividir a frente China-Rússia? Como podemos dividir essa frente? Talvez possamos – e essa é a posição de Trump – fazer as pazes com a Rússia para lutar melhor contra a China.
Outros têm a esperança – e talvez a ilusão – de que os EUA poderão realizar uma mudança de regime (regime-change) na Rússia e, se o fizessem, a China ficaria totalmente isolada. Ou seja, há estratégias imperialistas diferentes, não se trata de uma diferença entre “esquerda” e “direita”, ou a guerra, Trump, e a paz, Hillary. Isso é totalmente ridículo – Hillary Clinton é a pessoa que fez guerras cruéis nos EUA. Por exemplo, contra a Líbia, ela se disse muito feliz pela morte de Kaddafi, apesar do fato de que sua morte foi contra os direitos humanos, foi uma tortura terrível. Mas eu acredito que Hillary Clinton talvez seja a pior.
De qualquer forma, não podemos ter nenhuma ilusão no que se refere ao imperialismo americano, nós temos diferenças, mesmo grandes diferenças, em relação à estratégia, mas infelizmente até o momento eu não vejo um grande movimento pela paz nos EUA. Uma pequena demonstração: Trump tem sido criticado por tudo, tem sido criticado e condenado por sua tentativa de melhorar as relações com a Rússia, mas ninguém o criticou ou condenou pelo grande aumento no orçamento militar. Ou seja, eu acredito que, infelizmente, neste momento, o imperialismo norte-americano tem um grande consenso.
Opera Revista Independente
http://revistaopera.com.br/2017/03/31/losurdo-mundo-vive-luta-contra-nova-contra-revolucao-colonial-parte-13/

Losurdo: “Toda a história da guerra fria foi a luta entre a emancipação anticolonial e a reação colonialista”

imagemNa semana passada, o filósofo marxista italiano Domenico Losurdo esteve no Brasil para o lançamento de seu novo livro, Guerra e Revolução, publicado pela Boitempo Editorial, sobre o centenário da Grande Revolução Socialista de Outubro. Na oportunidade, Losurdo concedeu ao NOVACULTURA.info uma entrevista na qual discutimos temas candentes tais como a centralidade da questão colonial, a opressão da mulher como uma das formas de luta de classes, a reintrodução da Doutrina Monroe na América Latina, etc.
NOVACULTURA.info: Em seus escritos, você enfatiza muito o mérito histórico de Lenin na compreensão da luta de libertação nacional dos povos coloniais e semicoloniais como parte integral da revolução proletária mundial, e inclusive em seu último livro Guerra e Revolução, você coloca a revolução de Outubro como responsável por ter desencadeado a primeira etapa da revolução anticolonial mundial. Como você enxerga esse processo?
Losurdo: É claro. Lenin insistiu na importância da questão nacional. Temos a declaração de Lenin, onde segundo ele, sob o Imperialismo, a questão nacional tem enorme importância. Podemos dizer que Lenin, ainda que ele tenha morrido em 1924, antecipou a história do século XX. Por que isso? Temos ao menos três razões para isso. Primeiro, Lenin apreciou a revolução dos povos coloniais. Em Baku, no Congresso dos Povos do Oriente, em 1920, temos um grande salto na história da ideologia comunista, e mesmo na do movimento revolucionário, de modo que a conclusão do Manifesto Comunista: “Proletários de todos os países, uni-vos!” muda para Lenin. O novo lema era “Proletários de todos os países, e nações oprimidas do mundo, uni-vos!”. Com isso, nós temos não um sujeito revolucionário, mas dois sujeitos revolucionários. De um lado, o mundo capitalista, temos o proletariado como o dirigente da revolução anticapitalista, mas no Terceiro Mundo, no mundo colonial ou semicolonial, temos o segundo sujeito revolucionário, e este são os povos oprimidos. E desta forma, Lenin antecipou talvez a mais importante característica do século XX. Se considerarmos este século, o século anterior, podemos dizer que a revolução anticolonial foi o conteúdo mais importante dele, a revolução anticolonial mundial.
Imediatamente antes da Revolução de Outubro, vemos umas poucas potências capitalistas e imperialistas dominando a I Guerra Mundial. África era, claro, uma colônia. Índia era uma colônia. Indonésia era uma colônia. China era uma colônia. América Latina, como consequência da doutrina Monroe, era uma colônia. Com a Revolução de Outubro e com a revolução anticolonial, ligada a ela, tudo mudou. Tudo mudou. E Lenin corretamente antecipou que a revolução anticolonial seria o maior fenômeno do século XX. Mas Lenin antecipou as características do século XX de outra forma também. Por exemplo, após a revolução de Outubro, ele escreveu que talvez a URSS seria o objeto de uma série de guerras napoleônicas contra ela. E esta antecipação também foi muito correta. Porque imediatamente após a Revolução de Outubro, temos a invasão da Rússia Soviética por parte dos países ocidentais como a Grã-Bretanha, França, e da Ásia, do Japão. Depois, temos a invasão, claro, da Alemanha de Hitler. Após a derrota da Alemanha de Hitler, temos a guerra fria e a ameaça de uma nova invasão.
Neste sentido, também, Lenin compreendeu as características do século XX, e temos que considerar neste aspecto. Durante a I Guerra Mundial, por que o Exército alemão parece tão decidido em conquistar Paris? Lenin escreveu, nos anos da I Guerra, que “se esta guerra concluísse a conquista napoleônica da França por parte da Alemanha, veríamos mesmo na Europa uma grande luta de libertação nacional contra Alemanha pela França conquistada e pelo subjugado povo francês”, e durante a II Guerra, o que vemos a antecipação de Lenin. A Alemanha de Hitler havia conquistado a França, e mesmo na França, nos fins da II guerra Mundial, vemos uma Guerra de Libertação Nacional contra a Alemanha. Com isso, o século XX, foi um século, após I Guerra Mundial, onde as guerras de libertação nacional, as guerras contra a opressão colonial ou semicolonial era basicamente a regra. Lenin compreendeu isso, que sem entender a questão nacional e colonial, não somos capazes de entender o século XX e não somos capazes de entender o processo de emancipação revolucionária.
NOVACULTURA.info: No livro Fuga da História, você utiliza o termo “autofobia” para falar da postura da esquerda atual. Eu gostaria aqui de partir também da expressão de Lenin de “social-imperialismo”, ou “social-chauvinismo”. Aqui no Brasil, geralmente os setores da esquerda que tendem à certo tipo de autofobia sobre os processos históricos da construção do socialismo, também são acompanhados de certo “social-chauvinismo”, não apenas na importação de teorias eurocêntricas, de determinadas concepções ligadas ao que chamam de marxismo ocidental, mas na negação da questão nacional e colonial, e na eliminação das revoluções de libertação nacional do século XX da tradição histórica a ser reivindicada pela esquerda e pelas forças populares, mesmo que nós no Brasil também sejamos um país periférico. Gostaria de saber se você também traça uma relação entre tal autofobia, da negação do papel cumprido pelas experiências históricas do socialismo, e o chauvinismo, negando a centralidade questão nacional e colonial.
Losurdo: Sim, no que tange a autofobia, temos que falar de autofobia em certa esquerda porque se traçarmos um balanço correto e histórico do século XX, da história que se desenvolveu no despertar da Revolução de Outubro, temos que dizer, nós não podemos entender nem mesmo o avanço da democracia no mundo ocidental sem o papel dos Partidos Comunistas e sem a influência da Revolução de Outubro. Eu digo em meu livro Guerra e Revolução, que podemos falar de democracia apenas depois da derrubada das três grandes discriminações. Eu digo que o Ocidente Liberal, por séculos, foi marcado por três grandes discriminações. A primeira grande discriminação era, ou é, a discriminação contra mulheres, que por séculos, mesmo nos países mais liberais, eram excluídas dos direitos políticos, não tinham nem o direito ao voto como do direito de ser eleita nos órgãos representativos, como por exemplo o Parlamento. E o primeiro grande país que eliminou a discriminação contra as mulheres foi a Rússia Revolucionária, apenas um ano depois, a Alemanha, após a Revolução de Novembro, vemos a eliminação da discriminação contra as mulheres, e ainda mais tarde, nos EUA. Em países como a Itália, se viu a superação dessa discriminação contra as mulheres apenas depois da derrota do Fascismo, apenas depois da Rezistenza, a resistência antifascista, com o papel do Partido Comunista. Com isso, não podemos entender a completa eliminação da primeira grande discriminação contra as mulheres, sem a contribuição dos comunistas e sem a contribuição da Revolução de Outubro.
A segunda grande discriminação é a discriminação censitária, a discriminação baseada na renda. Nesse caso também podemos ver as limitações da Democracia Liberal. Por muito tempo, ou por séculos, apenas os proprietários possuíam o direito de votar ou de serem eleitos. Os pobres não tinham tal direito. E essa segunda grande discriminação também foi eliminada em consequência da Revolução de Outubro e do Movimento Comunista Internacional. Se você considerar um país como a Grã-Bretanha, o país clássico do liberalismo, neste país, vemos essa segunda grande discriminação, e Lenin em seu Estado e Revolução, polemiza com essa discriminação censitária. E mesmo se considerarmos um país como a Itália, sim, vemos que a Segunda Câmara, ou a Primeira Câmara, este é o Senado, o Senado era o monopólio da aristocracia e da Grande Burguesia. O povo era excluído desta câmara através da lei, não apenas na prática, mas já era uma exclusão censitária realizada através da lei. É claro, após a Resistenza, após a grande luta onde os comunistas frequentemente foram os líderes, a situação mudou.
Mas talvez, a mais importante grande discriminação a ser considerada é a discriminação contra pessoas de origem colonial. E essa grande discriminação se manifesta sob duas formas diferentes. Se nós pegarmos um país como os EUA, claro, os negros não tinham direitos políticos, e tenho que acrescentar, não tinham nem direitos civis também. Sim, todos sabem que os negros eram excluídos dos transportes públicos, eram humilhados, mas talvez o mais importante, eles eram o alvo de justiçamentos, esses eram uma tortura contra os negros, e tortura que ao mesmo tempo era um espetáculo de massas. Havia anúncios na imprensa onde o povo era chamado a assistir esse “espetáculo”. Com isso, o povo negro era excluído não só dos direitos políticos, mas também dos direitos civis. Mas essa terceira grande discriminação se manifesta em outra forma. Os países onde o povo negro ou onde os povos coloniais eram a maioria, esses países não tinham o direito de serem países independentes. Eles eram colônias ou semicolônias. Esta terceira grande discriminação, nestas duas formas, foi eliminada com a decisiva contribuição do movimento comunista.
Agora, a primeira conclusão. Assim, temos que reconhecer não apenas os comunistas, mas uma historiografia correta, deve reconhecer que o movimento comunista, apesar de seus erros e até crimes, tem um papel crucial no processo de emancipação. E não temos razão para sermos niilistas com relação à nossa história. O Niilismo é apenas consequência da autofobia. É claro que esta autofobia tem sido cultivada pela ideologia dominante, mas os comunistas que seguem essa ideologia dominante são responsáveis por um tipo de capitulação ideológica, e a autofobia de algumas forças de esquerda ou alguns comunistas é um tipo de capitulação ideológica que só pode ser entendida como capitulação, e não como resultado de uma correta análise histórica.
NOVACULTURA.info: Aquilo que convencionou a se chamar de “revoluções coloridas”, que você descreve em seu livro sobre a não-violência e que ocorreram no Egito, Tunísia, Ucrânia, Líbia, podem ser consideradas uma parte da contrarrevolução colonial?
Losurdo: É claro, em minha opinião, se considerarmos a história após o triunfo do Ocidente na guerra fria, podemos ver uma sucessão de guerras. A primeira contra o Iraque, contra a Iugoslávia, a nova guerra contra o Iraque, a guerra contra a Líbia, a guerra contra a Síria. E o que tem essas guerras em comum? Os alvos dessas guerras sempre eram países com um passado de revoluções anticoloniais e antifeudais. Os alvos nunca eram por exemplo, a Arábia Saudita, ou as monarquias do Golfo. Os alvos nunca foram países que não tiveram revoluções antifeudais e anticoloniais. Os alvos eram países com esse passado anticolonial e antifeudal semelhante. É claro que essas revoluções anticoloniais e antifeudais possuíam seus elementos de fraquezas, erros, e tudo mais, mas eram revoluções anticoloniais e antifeudais.
E agora, essas guerras são guerras neocoloniais, é claro! Países foram destruídos. A Iugoslávia foi destruída, a Líbia foi destruída, a Síria foi destruída. E há inclusive um regresso reacionário, se considerarmos por exemplo, a condição das mulheres. Na Líbia, com a derrubada de Gaddafi, temos a reintrodução da poligamia. Eu não acredito que a poligamia seja a ampliação da liberdade da mulher, é claro que não. Mas essa é a consequência dessa guerra neocolonial. Essa guerra mirou países com essas revoluções antifeudais e anticoloniais no passado. É claro que essas guerras podem ser levadas a cabo de diferentes maneiras, e talvez o melhor caminho para o Imperialismo seja a desestabilização desses países desde dentro, e podemos ver muitos exemplos, na Líbia e na Síria também. Sobre a Síria, hoje a imprensa burguesa demoniza Assad, mas essa é apenas a ideologia da guerra. Nós só precisamos ler o texto do jornal “The Neoconservative Revolution”, no começo do século XXI, no mínimo dez anos antes da eclosão da dita Guerra Civil Síria. Se lermos esse texto, falam abertamente que Assad era o culpado por Israel e o culpado pelos Estados Unidos, e esse texto do Neo Conservative Revolution chama pela derrubada de Assad. E vemos a destruição da Síria, milhões de pessoas estão mortas ou desalojadas, estão condenadas a voar como refugiados, a condição das mulheres é terrível, não apenas vemos a reintrodução da poligamia, vemos a reintrodução da escravidão doméstica da mulher. E é essa a realidade.
Este “regime change”, essas revoluções coloridas, é claro, são golpes organizados a partir de Washington ou de Bruxelas, particularmente de Washington. E os Estados Unidos tentou dar um golpe na China também. Na China, a dita “Primavera chinesa”, em 1989, na praça de Tiananmen, foi uma tentativa de realização de uma revolução colorida na China. Se essa revolução colorida tivesse sido bem-sucedida na China, o país mais populoso do mundo, a catástrofe teria sido bastante grande, e nesse caso também você pode ver a hipocrisia do Ocidente Liberal.
NOVACULTURA.info: Para se referir a esse processo da condição das mulheres com a reintrodução da poligamia e da escravidão sexual oriundas das agressões imperialistas recentes, em seu livro “Esquerda Ausente” você usa o termo “contrarrevolução neocolonial e antifeminista”. Em outra obra sua, você afirma que a luta das mulheres e a opressão contra a mulher também são formas das lutas de classes. Pode nos falar um pouco sobre isso?
Losurdo: Sim, claro. Eu já falei da segunda forma da luta de classes. A primeira forma, é claro, é a luta de classes do proletariado e das classes populares contra a burguesia e contra o capitalismo. A segunda forma, eu já disse. Eu me referi ao Congresso de Baku, onde o lema que conclui o Manifesto Comunista “Proletários de todos os países, uni vos”, e o novo lema após o Congresso de Baku “Proletários de todos os países, e nações oprimidas de todo o mundo, uni vos”. Neste caso, Lenin identificou dois sujeitos revolucionários, o proletariado, é claro, e as nações oprimidas. Mas temos que falar de outro sujeito revolucionário. Neste caso, eu estou falando das mulheres. Isso não é surpreendente. Primeiro, podemos falar da segunda forma de luta de classes, a luta das nações oprimidas. Se considerarmos justamente como luta de classes a luta dos operários em fábricas por melhores condições de trabalho e de vida, por que deveríamos negar o caráter de luta de classes se um povo em São Domingo, Haiti faz sua revolução contra a escravidão e a escravização? É claro que isso é luta de classes!
E sobre as mulheres, é claro, as mulheres por muito tempo, por séculos, foram excluídas dos direitos políticos, e algumas vezes até mesmo dos direitos civis. Elas eram forçadas a trabalhar, mas apenas em locais muito ruins, onde as condições de trabalho fossem muito ruins. As mulheres eram excluídas dos melhores locais de trabalho. Elas não tinham nem o direito à universidade, por exemplo. É claro que essa luta das mulheres por emancipação é outra forma de luta de classes. A minha visão é bem clara, eu acredito que é a visão de Marx e Engels não apenas porque Engels disse que a opressão da mulher foi, e eu cito Engels, “a primeira opressão de classe”. Engels já havia falado sobre a luta das mulheres contra a opressão e contra a escravidão doméstica e afins, como uma forma de luta de classes. Não apenas por essa razão, se considerarmos a teoria marxista, nós podemos traçar essa conclusão. A exploração tem a ver com formas de divisões injustas do trabalho. Esta divisão injusta do trabalho pode ser considerada a âmbito internacional, os povos coloniais que são frequentemente escravos ou semi-escravo, esta divisão injusta do trabalho pode ser considerada a âmbito internacional, como já disse; a âmbito nacional, essa sendo o proletariado e outras classes exploradas pela burguesia; e esta divisão injusta do trabalho pode ser considerada dentro das relações entre homens e mulheres. Temos que compreender as formas que a divisão injusta do trabalho seja considerada em três diferentes âmbitos.
NOVACULTURA.info: Outro perigo de guerra constante da época atual é o perigo de guerra na Península Coreana, que vive constantemente sob provocações por parte das bases militares dos Estados Unidos. O que você pens sobre isso, ainda mais considerando que também é um país que realizou uma revolução anticolonial vitoriosa e edificou seu socialismo sob estas bases, e sendo o primeiro país a desferir um golpe no Imperialismo norte-americano?
Losurdo: Em minha opinião, toda a história da Guerra Fria foi, ao mesmo tempo, uma história da luta entre a emancipação anticolonial e a reação colonialista. E a Coreia foi protagonista de uma grande revolução anticolonial, e, é claro, os Estados Unidos, sob todas as formas, tentou sufocar esta revolução anticolonial. Do outro lado, não podemos nos permitir ignorar os erros dos líderes da Coreia do Norte. Eles estão certos em temer ser derrubados como Gaddafi ou Saddam Hussein foram derrubados, e nesse sentido eu concordo com você, o principal responsável pela situação extremamente perigosa na Península Coreana são os Estados Unidos, quanto a isso, não restam dúvidas. Mas talvez as respostas da liderança norte-coreana não seja sempre a correta, porque agora os Estados Unidos e o Japão têm o pretexto de militarizar toda a península ao instalar o aparato antimísseis, e neste caso os Estados Unidos e o Japão têm o pretexto de preparar a guerra contra a China também.
NOVACULTURA.info: Você pode enviar aos leitores de NOVACULTURA.info uma mensagem de solidariedade ao povo brasileiro, que assim como você enfatizou a revolução anticolonial mundial, a revolução brasileira também é uma revolução dirigida contra as classes dominantes submissas às potências imperialistas, principalmente dos Estados Unidos?
Losurdo: No final da Guerra Fria, os EUA tentaram reintroduzir a Doutrina Monroe na América Latina. Eles estavam muito confiantes que iriam derrubar Castro em Cuba, e consolidar a dominação colonial ou semicolonial em toda a América Latina. Como vocês sabem, a história se desenvolveu de maneira muito diferente, a rebelião contra a Doutrina Monroe foi muito disseminada, não apenas em Cuba, mas Brasil, Venezuela, Nicarágua. Mas agora podemos ver a tentativa dos Estados Unidos em reintroduzir a Doutrina Monroe, e neste sentido vemos a nova tentativa do colonialismo e do neocolonialismo, os EUA tentam até mesmo reintroduzir na América Latina o dito Consenso de Washington, que é o Consenso do Neoliberalismo.
Foto: NOVACULTURA.info
Fonte: NOVACULTURA.info

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