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sábado, 8 de novembro de 2025

O novo colonialismo

 Por Fabiano Couto Corrêa da Silva

A pergunta Quem controla seus dados?,1 título do e-book que inspira este post, tornou-se uma das questões mais urgentes da ciência contemporânea. Longe de ser um mero detalhe técnico, a governança dos dados que produzimos, coletamos e analisamos define as novas fronteiras do poder, da soberania e da própria produção de conhecimento. Neste contexto, emerge um conceito fundamental para compreender a dinâmica atual: o colonialismo de dados.

Este fenômeno, que estabelece paralelos profundos com o colonialismo histórico, descreve uma nova ordem global baseada na apropriação e extração de dados como matéria-prima, gerando assimetrias profundas entre aqueles que controlam as infraestruturas e os que são, essencialmente, fontes de dados. Para a comunidade científica, especialmente em espaços como a rede SciELO, que lutam pela democratização e descolonização do conhecimento, entender e enfrentar este desafio é uma tarefa inadiável.

 

O colonialismo histórico não se baseou apenas na dominação militar e econômica, mas fundamentalmente no controle da informação. Mapas, censos e registros etnográficos foram ferramentas essenciais para administrar territórios e populações, impondo uma lógica externa sobre realidades locais.

Hoje, testemunhamos um processo análogo, mas em uma escala e intensidade sem precedentes. A extração não é de recursos naturais, mas da própria vida, sistematicamente convertida em dados (dataficação). Como aponta o e-book, “vivemos um momento histórico singular, em que a própria natureza da existência humana está sendo reconfigurada por processos de dataficação que alcançam os aspectos mais íntimos da vida cotidiana.”1

Se os censos coloniais eram periódicos e limitados, a coleta digital é contínua e onipresente, operando 24/7 através de plataformas digitais, redes sociais e dispositivos inteligentes. As grandes corporações de tecnologia (Big Tech) assumem o papel de novas metrópoles, concentrando o poder de coletar, processar e monetizar esses dados, enquanto os indivíduos e comunidades, especialmente no Sul Global, tornam-se fontes de matéria-prima digital, raramente controlando ou se beneficiando dos resultados dessa extração.

                      Como citar este post [ISO 690/2010]:

SILVA, F.C.C. Colonialismo de Dados na Ciência: uma nova forma de dominação epistêmica [online]. SciELO em Perspectiva, 2025 [viewed 08 November 2025]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2025/11/07/colonialismo-de-dados-na-ciencia-uma-nova-forma-de-dominacao-epistemica/ 
SILVA, F.C.C. Quem controla seus dados? Ciência Aberta, Colonialismo de Dados e Soberania na era da Inteligência Artificial e do Big Data. São Paulo: Pimenta Cultural, 2025 [viewed 07 November 2025]. https://doi.org/10.31560/pimentacultural/978-85-7221-474-2. Available from: https://www.pimentacultural.com/livro/quem-controla-dados/ 

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