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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Quem diria?

«Cristóvão Ferreira, antigo jesuíta português, que abjura sob tortura japonesa em 1614. Em 1636, o ano em que Descartes trabalha no Discurso do Método, o padre, cuja fé deveria ser muito fraca, a avaliar pela pertinência dos argumentos que dificilmente terá desenvolvido apenas no momento da abjuração, escreve de facto La Supercherie Devoilée, um pequeno livro explosivo e radical.


Em cerca de trinta páginas apenas, ele afirma: deus não criou o mundo; aliás, o mundo nunca foi criado; a alma é mortal; Inferno, Paraíso e predeterminação não existem; as crianças que morrem estão livres do pecado original que, de qualquer maneira, não existe; o cristianismo é uma invenção; o decálogo, uma loucura impraticável; o papa, um imoral e uma personagem perigosa; o pagamento de missas, as indulgências, a excomunhão, os interditos alimentares, a virgindade de Maria, os reis magos, outras tantas quimeras; a ressurreição, um conto nada razoável, risível, escandaloso, um logro; os sacramentos, a confissão, devaneios; a eucaristia, uma metáfora; o juízo final, um incrível delírio…(…) E então, ateu? Não. Uma vez que em momento nenhum, diz, escreve, afirma ou pensa que Deus não existe.»

Tratado de Ateologia, Michel Onfray, Ed. ASA, 2007, p.40.

1.2 Cristóvão Ferreira

Na composição do Kenkon Bensetsu tem um papel central o português Cristóvão Ferreira (1580-ca.1650), e sobre ele, portanto, alguns elementos biográficos devem ser dados. Cristóvão Ferreira nasceu por volta de 1580 na Zibreira, Torres Vedras, e entrou para a Companhia de Jesus nos finais do ano de 1596. Depois de cumprir os anos de noviciado, tomou os seus primeiros votos em Dezembro de 1598, em Coimbra, cidade onde estudou nos dois anos seguintes. A 4 de Abril de 1600 embarcou rumo à Índia, a bordo do S. Valentim, alcançando Goa alguns meses depois. Goa era apenas a primeira etapa na dura viagem até ao Extremo Oriente e depois de recuperar dos rigores desse trajecto, Ferreira, e todos os que tinham por destino a China e o Japão, partiu de novo, com destino a Macau. Uma vez aí chegado, retoma os seus estudos no Colégio da Madre de Deus. Em 1608 é ordenado presbítero e, finalmente, a 16 de Maio de 1609, o recém ordenado padre deixa Macau rumo ao Japão.

In scientia.artenumerica.org.

O primeiro tratadista anti-clerical foi português. Nascido em Torres Vedras. Quem o conhece? Quem publicou alguma vez o seu tratado? Quem sabe onde pára?

1 comentário:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Tenho de cá voltar com mais calma. Há tanto para ler...
E até há um poema!

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