Renascimento e Modernidade
Neste percurso dos materialismos que procuramos resumir, assinalamos alguns momentos fortes:
- A influência do pensamento de Averróis, comentador árabe de Aristóteles. O averroísmo difunde-se pela segunda metade do século XIII através de especulações que se não estão ainda dentro do materialismo moderno, abrem-lhe o caminho: a negação da imortalidade da alma humana (portanto, uma cerrada argumentação em favor da sua mortalidade, explorando habilmente a tese de Aristóteles), o mundo como coisa eterna e não criada (negação da criação divina).
-A continuação desta leitura, bem fundada, de Aristóteles, aprofunda-se com Guilherme de Occam no século seguinte: crítica que abala os alicerces do platonismo por meio das teses nominalistas (contra a teoria da realidade dos «universais», explicadas como meras ideias, sinais e nomes), empiristas.
-No século XVI acentua-se a crítica dos dogmas teológicos, a crítica ao sobrenatural. Entretanto, ao lado do mesmo aristotelismo que nega a imortalidade da alma e a ideia de criação divina, assiste-se ao reaparecimento em força do estoicismo e do epicurismo: é a ideia da «alma do mundo», são os panteísmos, a afirmação da Natureza como realidade autónoma, as novas filosofias da natureza, o imanentismo e o infinitismo, ideias que vão adquirir uma invulgar força poética na filosofia de Giordano Bruno 81548-1600). Com tais matérias-primas o materialismo vai rasgando caminho, inclusivamente com o regresso a fontes e autores antigos (Epicuro, Lucrécio, Estóicos) desprezados na filosofia teológica académica dominante na Idade Média.
-Contudo, a palavra «materialismo» ainda espera por uma formulação mais precisa: panteísmo? ou Natureza realmente separada de Deus (ou deuses)? Qual a relação entre matéria e espírito: realidades independentes ou uma dependente da outra? No século dezassete sob a influência da Física de Galileu Galilei e outros factores, ver-se-á surgir um materialismo moderno na filosofia de Hobbes (1588-1679), Pierre Gassendi (1592-1655), Bento Espinosa (1632-1677). O próprio Descartes (1596-1650), dualista, faz muito para minar o terreno às ontologias idealistas com as suas teses mecanicistas.
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